Melhores Séries da Temporada 2021/2022

Succession, Severance, Abbott Elementary, Hacks e Evil estão entre os destaques da TV nos últimos 12 meses.

Com tanta oferta graças ao streaming, nunca foi tão fácil assistir séries de TV, seja via celular, tablet, notebook, PC, televisão. E, ainda assim, parece que nunca foi tão difícil selecionar conteúdo de qualidade pela quantidade exorbitante de produções.

Com milhares de seriados sendo lançados anualmente, é necessário ter foco para fazer o garimpo e não perder seu valioso tempo com maratonas que vão a lugar nenhum ou assinando serviços de streaming que lhe oferecem opções de qualidade duvidosa. Pois bem, o Previamente, pelo 12º ano consecutivo, mantém a tradição e traz os destaques de mais uma temporada televisiva.

Nosso júri traz o que houve de mais relevante e (subjetivamente) melhor entre 1º de junho de 2021 e 31 de maio de 2022, período de elegibilidade para o Emmy Awards, maior premiação da TV mundial.

Separamos as melhores performances de atores coadjuvantes e de protagonistas, bem como os principais episódios, séries de comédia e de drama.

Separamos as categorias em links individuais. O post completo estará disponível logo abaixo nesta página.

Melhores Atuações Coadjuvantes

Christina Ricci (Yellowjackets)

É impossível falar nos desvarios de Yellowjackets sem citar a responsável pela maioria deles: a jovem Misty Quigley, papel que é dividido entre Sophie Tatcher e Christina Ricci. Eterna Wandinha de A Família Addams e presença constante na produção infanto-juvenil da década de 90, Ricci aparece em Yellowjackets no seu modo full loucura. A natureza da personagem, uma mulher que, desde a juventude, vive à margem dos outros, tentando a qualquer custo obter um pouco de atenção e carinho, chegando às últimas consequências por isso, é, por vezes, irritante. Mas a veterana atriz morfa essa energia em algo completamente divertido. Se suas ações têm consequências nefastas, é ela também a única capaz de as salvar. Engenhosa e dissimulada, Misty é um misto de amiga devota e sanguessuga energética. Ricci retorna ao radar com toda a potência de uma grande atriz, capaz de se entregar totalmente às idiossincrasias de seus personagens, transparecendo sua diversão e mergulho na loucura, e nos cativar no processo. – Mariana Ramos

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Julia Garner (Ozark)

Podemos ser sinceros? O derradeiro ano de Ozark foi o pior da série. Episódios longuíssimos (problema constante das originais Netflix), falta de dinâmica nas tramas, fillers, personagens que perdem seu propósito. Enfim, um show de horrores e desperdício de talento. Porém, uma constante do seriado é Julia Garner, a única que ainda merece algum crédito por esta quarta temporada chocha.

Não, a melhor cena de Garner não é aquela dela se esgoelando e com as veias saltando, que ficou tão famosa na época do lançamento da primeira parte da quarta temporada. Pelo contrário, Garner tem êxito quando luta internamente com seus sentimentos, na relação conturbada e dúbia que possui com Marty (personagem de Jason Bateman), na fortaleza que se tornou ao longo de várias situações traumáticas. Sim, Garner grita bem e tudo mais, mas é na contenção de sua raiva que a atriz se mostra realmente digna de menção. – Rodrigo Ramos

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Gaia Girace (My Brilliant Friend)

Conforme Elena/Lenu vai ganhando mais espaço na trama, tomando para si o protagonismo da série, Lila é posta como uma coadjuvante, o que é reflexo até mesmo de como a primeira passa a enxergar a situação, se sentindo de fato mais dona da sua própria história. Ainda que esteja menos tempo em tela, Gaia Girace continua entregando uma performance pungente. Agora, Lila está em outra fase da vida, encontrando-se mais frágil e sem alternativas para sua vida. Enfraquecida, doente, desmotivada, porém não menos teimosa, com personalidade e opiniões fortes, e sabendo tocar na ferida alheia quando está a fim, sendo ainda mais implacável quando retoma seu poder, Girace é feroz e defende sua personagem com afinco. – Rodrigo Ramos

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Janelle James (Abbott Elementary)

Apostando num mockumentary em um ambiente escolar, Abbott Elementary é uma das comédias queridinhas do momento e uma das suas principais armas para este feito, com certeza, é Ava, a personagem vivida de forma brilhante por Janelle James. Lembrando um pouco Parks and Recreation, a série não aposta tudo na comédia, conseguindo construir ótimos momentos fofos entre seus personagens, mas com Ava há garantia de riso. A verdade é que Janelle precisa fazer muito pouco esforço para arrancar gargalhadas do público e aproveita o ótimo material lhe fornecido na série de forma estupenda. Muitas vezes, apenas de olhar para as caras e bocas de Janelle, eu já começo a dar risada sem parar. Sendo uma espécie de Michael Scott do mundo escolar, Janelle James apresentou muita competência para que andar na tênue linha entre o absurdo e o ridículo, nunca passando do ponto. Só podemos agradecer à atriz por entregar uma personagem tão deliciosamente errada e disfuncional, um contraponto maravilhoso com os demais personagens da excelente comédia da ABC. – Diogo Pacheco

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John Turturro (Severance)

Após longos anos dentro do seu cubículo, Irving, uma pessoa que segue todas as regras que lhe são impostas no trabalho, começa a se atrever driblar as regras, parte porque entra na onda da nova companheira, a insubordinada Helly, e principalmente para passar mais tempo com sua paixonite de outro setor.

Conforme a temporada se desenrola, John Turturro executa seu papel com sutileza e gentileza. Usando um tom bastante ameno, ele desenvolve seu personagem como uma pessoa livre das memórias do lado de fora, que descobre haver mais na vida do que somente o trabalho. O romance acaba norteando a maior parte de sua jornada, mas não é algo que apequena a personagem, e sim a engrandece. É uma performance contida, que entrega muito mais nos pequenos gestos do que na própria fala. É um trabalho minucioso e entregue com maestria pelo ator. – Rodrigo Ramos

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Hannah Einbinder (Hacks)

A segunda temporada de Hacks começa exatamente onde a primeira temporada parou: Deborah e Ava estão em turnê para trabalhar com material novo e mais pessoal. A dinâmica na tela de Smart e Einbinder foi inquestionavelmente o destaque do primeiro ano, e não é surpresa que continue atraente no segundo. Embora Jean Smart irradie em todas as cenas, Hannah Einbinder se destaca como Ava. Ela faz um trabalho muito melhor com seu desempenho do que na temporada anterior, já que suas brincadeiras e entregas com os outros colegas de elenco são mais naturais e autênticas. Einbinder retrata isso em pequenos monólogos pessoais, e extensas cenas hilárias que se faz notável o equilíbrio de ritmo e timing cômico. É um crescimento genuinamente gradual de atuação se contrastando e equiparando com desenvolvimento de sua personagem. – Isabela Cândido

(HBO Max)

Matthew Macfadyen (Succession)

Foi por volta do episódio cinco ou seis da terceira temporada de Succession que ficou claro que Matthew Macfadyen, intérprete de Tom Wambsganss, o marido abatido de Shiv Roy, estava emergindo a outro nível. O que é uma constante mudança em uma série com pesos pesados ​​como Brian Cox e Jeremy Strong, mas a essa altura já tínhamos visto Macfadyen muitas vezes usado como alívio cômico em duetos com o primo Greg ou como saco de pancadas para Shiv – desbloquear novos níveis de seu desempenho como Tom afundou para novas profundidades.

A emocionante jornada de Tom trouxe uma reviravolta ao jogo. Há um limite empolgante e chocante em acompanhar as novas escolhas e decisões do personagem, o excelente trabalho de Macfadyen e uma conclusão extremamente satisfatória para o arco da terceira temporada de Tom. – Isabela Cândido

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Sarah Snook (Succession)

Com a traição do irmão, Shiv tinha uma decisão a tomar. Kendall tentou angariar aliados para seguir na luta que travou contra o pai. Shiv encara o convite com cautela e quando ao lado do pai posa de fiel escudeira, enquanto tenta negociar a tão almejada posição de CEO caso decidisse apoiar o irmão. A personagem decide seguir ao lado do patriarca e tenta, mais uma vez, sem sucesso, assumir o controle da situação, sendo preterida até mesmo por Tom durante o surto de Logan.

Sarah rendeu instantes divertidíssimos como a Shiv desconcertada enquanto toca “Rape Me” do Nirvana ou dançando de forma inesperada em que se desprende da pose que quase nunca perde, motivada por mais uma confirmação de que o pai não deposita nela o menor respeito.

Outro de seus pontos altos na temporada foi a conversa extremamente sincera com Caroline, em que a mãe despeja, sem arrodeios, uma série de defeitos que enxerga na filha, que, por sua vez, aproveita a oportunidade de retribuir a sinceridade da mãe no discurso de casamento em mais uma amostra da frieza que herdou dos genitores. Frieza essa que também aparece no repetido descaso com que trata a possível prisão de Tom – e que acaba por culminar no ponto de virada da season finale. E aqui, Shiv encerra a terceira temporada de Succession em um dos raríssimos momentos em que vimos a personagem se permitir demonstrar um discreto vislumbre de vulnerabilidade, de forma comedida, com a sutileza que só a Sarah Snook pode entregar. – Valeska Uchôa

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Kieran Culkin (Succession)

Num elenco com interpretações que ao mesmo tempo entendem as particularidades únicas dos seus personagens e a dinâmica específica que também cerca a família Roy, o elenco de Succession acaba sendo um terreno frutífero para grandes atuações de Brian Cox, Jeremy Strong, Sarah Snook, Matthew Macfadyen e outros. Kieran Culkin, que usa de uma caracterização quase circense com a sua voz, os seus gestos e o seu corpo como Roman Roy, é um grande exemplo de como tudo que a família Roy representa acaba sendo extrapolado e exposto por alguém que não tem nenhuma pretensão de fazer nenhum disfarce. Isso faz com que a extravagancia e o jeito debochado do seu personagem deem conta dos seus momentos mais desprezíveis, a relação de morder e assoprar com os irmãos, os mais estranhamente engraçados na dupla que forma com Gerri (J. Smith-Cameron) e a sua busca desesperada e insegura com altos e baixos em busca da aprovação do seu pai manipulador e abusivo. A exposição do seu relacionamento com o Gerri e o seu embate com o pai no final da temporada expuseram o quão Roman não é um mero palhaço, mas também um personagem muito especial na sua série de contradições. – Diego Quaglia

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Rhea Seehorn (Better Call Saul)

O primeiro comentário no tweet da Rhea Seehorn em que ela agradece a indicação ao Emmy é algo como “já não era sem tempo”. Acho que essa é a sensação de todo mundo que acompanha a série e vê, semana sim, semana não também, uma das atuações mais consistentes e complexas da atualidade. Uma que, até então, tinha sido, também de forma bastante consistente, esnobadíssima pela Academia.

Eu sempre digo que Kim Wexler foi a redenção do Vince Gilligan pelo que ele fez com Skyler White. Onde Skyler foi diminuída e vilanizada para que Walter pudesse brilhar, Kim, por outro lado, cresceu até se tornar gigante, uma força da natureza que atua lado a lado a Jimmy McGill: mais forte e implacável do que ele, mas também mais empática e vulnerável, os personagens não são nem o vilão, nem o herói um do outro aqui. Eles erram juntos, colocam um pezinho (e às vezes um pézão) para fora da lei juntos, se ajudam, se arrependem.

Onde a vida pessoal de ambos se entrelaça, a profissional, por outro lado, diverge cada vez mais: Kim advoga pelos mais necessitados e Jimmy (já sob a alcunha de Saul Goodman) pelos mais… Obviamente culpados. Em sua profissão, Kim é correta e dedicada, enquanto Saul segue a linha de que os fins justificam os meios. E só mesmo uma atuação como a de Rhea Seehorn (e uma química tamanha com o igualmente brilhante Bob Odenkirk) poderia traduzir uma personagem com tantas nuances e uma relação tão cheia de meandros.

Ainda mais levando em consideração que Kim e Jimmy são, para todos os efeitos, um casal comum. Não tem discussão com gente esmurrando parede, ninguém taca um copo em ninguém e muito menos faz sexo no chão do corredor. E, sinceramente, é muito mais difícil passar uma gama tão complexa de emoções quando o seu personagem está lavando louça ou assistindo a um filme do que quando ele berra, soca ou se debulha em lágrimas o tempo todo.

Mas não se enganem: Rhea Seehorn é uma atriz tão potente que ela consegue ir da mais pacata rotina às emoções mais extremas quando se torna impossível separar Saul Goodman de Jimmy McGill e o casal comum recebe visitas bastante incomuns no meio da noite. – Luiza Conde

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Menções honrosasMolly Shannon (The Other Two), Jennifer Coolidge (The White Lotus), Sarah Goldberg (Barry), Harvey Guillén (What We Do In The Shadows) e Mandy Patinkin (The Good Fight).

Melhores Atuações Principais

Melanie Lynskey (Yellowjackets)

Como Shauna Sadecki, Melanie Lynskey representa o instável coração de Yellowjackets. Seu personagem é uma dona de casa frustrada, uma mulher que poderia, e deveria, ter sido muito mais do que acabou se tornando: uma sombra de passividade e insatisfação no subúrbio americano. No entanto, o que seria apenas mais uma mocinha sem graça, ganha vida nas mãos habilidosas de Melanie Lynskey.

A atriz injeta com maestria um misto de sensibilidade, vulnerabilidade e insanidade na personagem. A Shauna do presente é uma mulher que suprime seus desejos e instintos em nome de uma mentira pactuada há mais de 20 anos. Mas, sob a superfície, ela está prestes a explodir, deixando em seu caminho um rastro de destruição que só a liberdade tardia tão esperada é capaz de alcançar. Com uma carreira de quase 30 anos, composta em sua maioria de personagens secundários e coadjuvantes, muito por não se encaixar a um padrão de beleza restritivo e doentio, é uma delícia poder ver Melanie mostrar todo seu poder e carisma, nos envolvendo nessa história com seu jeito encantador. – Mariana Ramos

(Showtime)

Colin Firth (The Staircase)

Eu sempre gostei muito de Colin Firth. Na comédia ou no drama, ele sempre mandou muito bem. No entanto, o que o ator faz na pele de Michael Peterson é outro nível. O personagem é baseado em um homem real, o que já não é fácil para um ator. Firth traz sua assinatura, incorporando um homem mesquinho, mentiroso, manipulador, mas que possui certo carisma que causa empatia nas pessoas e faz o telespectador (e demasiados personagens) se questionar: será que ele um assassino? A resposta não é exatamente o ponto. Não há uma falha a ser apontada aqui. As falas, a postura e os trejeitos são partes fundamentais, seja quando ele mostra raiva ao dizer as coisas mais absurdas para alguém ou quando parece um animal indefeso acuado. Firth conseguiu torná-lo extremamente humano e o fez com maestria. Parece redundante falar isso quando é um homem que realmente existe. Porém, o objetivo não é imitá-lo, é existir a partir dele e dominá-lo como um bom ator faz com um personagem. Não à toa, é uma das melhores atuações da temporada. – Filipe Chaves

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Mackenzie Davis (Station Eleven)

Apesar de já ter se destacado bastante anteriormente em Halt and Catch Fire, drama da AMC, em Station Eleven, Mackenzie Davis mostra que é capaz de segurar o protagonismo com uma personagem complexa, forte e traumatizada. A narrativa não-linear da série distópica poderia ser um problema nas mãos de outra atriz, uma vez que durante boa parte da jornada de Kirsten não sabemos todos os acontecimentos que a moldaram. Com bastante delicadeza e carisma, Mackenzie nos convida para, aos poucos, descobrir todas as nuances da personagem e sua luta para manter próximas e seguras as pessoas que ama. Uma atuação linda, honesta, lúdica e essencial para que o público se emocionasse com o poder transformador da arte, visto que Kirsten nada mais era do que uma atriz que, de forma itinerante, levava cultura, esperança e emoção para um mundo despedaçado. Se Kirsten emocionou o seu público dando vida à peça de Shakespeare, o mesmo pode ser dito de Mackenzie Davis. – Diogo Pacheco

(HBO Max)

Bob Odenkirk (Better Call Saul)

No metade inicial do sexto ano de Better Call Saul, pela primeira vez vemos Jimmy/Saul e Kim se juntarem com um objetivo em comum ao criarem um plano contra a reputação de Howard. Através dos episódios, vemos uma Kim supermotivada em planejar e executar o esquema, o que deixa Jimmy um tanto desconfortável e receoso com toda a situação. Isso dá margem para que Bob Odenkirk possa atuar de uma forma mais sútil. Ele é muito mais quieto nesta temporada, trabalhando com expressões faciais para transmitir um visível incômodo que o personagem sente com o plano e a forma como Kim vai ficando mais imoral. Ainda temos os momentos sagazes de Saul soltando frases cômicas e o jeito malandro/trambiqueiro pelo qual o protagonista ficou conhecido, mas Odenkirk brilha mesmo é nas cenas contemplativas em que diz poucas palavras enquanto observa a Kim de Rhea Seehorn crescer e ser a parte mais ativa da relação dos dois, o que muda a dinâmica do casal, mas também como estes dois atores contracenam um com outro. – Rafael Mattos

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Britt Lower (Severance)

É inquestionável o fato de que Severance é a maior surpresa de 2022 no grupo de séries dramáticas estreantes. O que não se fala com tanta frequência é que parte desse sucesso se deve à entrega magistral do seu elenco, principalmente a da nossa coprotagonista Helly R.

Britt Lower é uma atriz conhecida por quem curte séries subestimadas. Particularmente, o primeiro trabalho da atriz que eu conferi foi a excelente Man Seeking Woman, em que ela era um dos grandes destaques, ganhando, inclusive, episódios stand-alones, que costumavam ser o ponto alto da temporada em si.

Felizmente, em Severance, Lower ganha o protagonismo merecido ao dar vida à personagem que acaba sendo a porta de entrada para o universo perturbador de outies e inners da Lumus. A atriz segura não só as sequências mais cômicas, com o humor ácido de Helly, como também as mais dramáticas e potentes. Não é à toa que dois dos melhores ganchos do ano (a angustiante cena do elevador e aquele discurso na finale), tiveram a personagem de Lower como o foco central.

Torço muito para que esse seja o “começo” de uma carreira no mainstream que a atriz merece. A julgar pela presença quase que unânime em listas de Melhores da Temporada, acho que teremos mais uma atriz para ficar de olho em grandes e promissores projetos. – Zé Guilherme

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Margherita Mazzucco (My Brilliant Friend)

Como Elena Greco, vimos Margherita Mazzucco crescer em nossas telas. De adolescente envergonhada, transformou-se em mulher, escritora, esposa e mãe. E nesta terceira temporada ela toma as rédeas e o protagonismo de A Amiga Genial. Com Lila quase ausente, temos a chance de acompanhar mais de perto a jornada de Lenù por sua vida adulta. De forma surpreendente, percebemos o crescimento de Margherita como atriz. Muito mais desenvolta, ela consegue imprimir toda a ebulição interior da personagem. Aqui a vida pessoal de Elena se impõe. Em um misto de resignação preguiçosa e efervescência latente, ela assiste seus amigos se envolverem na luta política e se sente deixada para trás. Não mais a Elena Greco do bairro, agora ela é a Sra. Airota, esposa de um promissor professor universitário de grande nome. Mais uma vez na sombra dos acontecimentos, e se vendo de um lado da história que parece, no mínimo, desinteressante, Elena passa a se rebelar, com pequenas e grandes transgressões. Ao mesmo tempo, ela ganha força e solidez, comandando, pela primeira vez, respeito e admiração.

Se sempre fomos acompanhados pelo olhar e narração de Elena, aqui ela deixa de ser coadjuvante e trilha um caminho próprio. Margherita, por sua vez, abraçou por inteiro seu papel, tornando-se, se ao menos por uma temporada, a Elena que nos fala. Será uma pena abandoná-la, em seu ápice, para acompanharmos a nova fase da personagem. Mas, se essa temporada de A Amiga Genial serve de indício, a sua carreira só tem a crescer. – Mariana Ramos

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Katja Herbers (Evil)

Como um todo, o elenco de Evil parece estar sempre se divertindo em cena. Empatado com Succession, esta é a coleção de atores mais deliciosa de assistir em tela. E se tem alguém que está curtindo cada cena, cada fala, é Katja Herbers. Com os rumos de sua personagem no segundo ano da série, o talento da holandesa é desafiado e a atriz destaca-se, indo muito além do que lhe foi pedido na temporada anterior. Carregando uma energia de perturbação, raiva, talvez possuída, e sempre pronta para debochar do próximo (ou até mesmo agredi-lo), Katja atinge todas as notas. Ela é convincente seja como a mãe disposta a fazer tudo pelas quatro filhas, como uma assassina (quase) de sangue frio, como investigadora, psicóloga empática (é a formação da personagem, afinal), mentirosa deslavada, potencial amante, amiga farofeira e, acima de tudo, como uma mulher que não leva desaforo para casa.

Os Kings, criadores e showrunners da série, exigem elasticidade de Katja em cena e, toda santa vez, ela vai lá e nos surpreende com sua performance. Ela traz simpatia, ternura, diversão e gravidade para o mundo de Evil. É um ano irretocável da atriz. E, se praticamente 13 episódios inteiros não fossem o suficiente, nos últimos cinco minutos catárticos da temporada Herbers carimba de vez suas credenciais como uma das melhores performers da TV na atualidade. – Rodrigo Ramos

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Brian Cox (Succession)

Completamente comprometido à paródia assumida que Succession se tornou a partir da segunda temporada, Brian Cox invoca o Rei Lear de Shakespeare mesclado em uma gama de deboche para dar vida ao patriarca Logan Roy. O vovocito está em pé de guerra com o filho mais velho, Kendall, e constantemente está à beira de um ataque cardíaco. Entre os surtos, o tom de ameaça único, a capacidade de tocar o terror em seus filhos somente com uma caixa de donuts, o sarcasmo, a boca suja e os momentos em que se encontra catatônico (o quinto episódio da temporada é simplesmente hilário), Cox prova ser um ator de alto calibre, pronto para qualquer tarefa que os brilhantes roteiristas de Succession lhe pedirem para executar. – Rodrigo Ramos

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Jeremy Strong (Succession)

Depois do final arrebatador da segunda temporada de Succession, parecia que o primogênito dos Roy (Connor, ninguém lembra de você) ia finalmente ter a posição de destaque por qual há tanto tempo lutava. Porém, o que presenciamos foi uma sequência de fracassos, já que a ação de Kendall contra a Waystar RoyCo logo não se mostrou forte o suficiente.

Ao longo da temporada, Jeremy passeou pela versão autoconfiante do Kendall, o lado progressista (mais feminista que ele??), tuiteira, o breve momento de glória, seu delírio de grandeza, rendendo cenas constrangedoras como o maravilhoso conceito da performance planejada para a sua festa de aniversário, e aquela, que pra mim, é a sua melhor face, o fracassado. Ninguém consegue transparecer tamanho sofrimento e suscitar tanta pena como o Jeremy Strong faz nos 40 segundos que seguem a matéria sobre Kendall no jornal.

A partir desse ponto, Kendall é derrotado episódio após episódio, com destaques para o desastre que sua festa de aniversário e atinge o nível mais baixo quando faz a confissão de culpa pelo homicídio do garçom para os irmãos numa cena que poderia facilmente estar exposta no Louvre. E por mais que Sarah e Kieran sejam excelentes parceiros de cena para o Jeremy, não há como negar que o duelo de gigantes acontece mesmo quando esse contracena com Brian Cox como na pesada cena de jantar.

Se você acompanha notícias relacionadas à TV estadunidense, é bem provável que tenha ficado sabendo do perfil da revista New Yorker sobre o ator e o controverso method acting. Mas, polêmicas à parte, o que quer que Jeremy Strong esteja fazendo para entregar a sua composição de Kendall Roy, desejo que continue. – Valeska Uchôa

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Jean Smart (Hacks)

“How many women do you have to care about to be a feminist? I mean, what if I only care about one woman? Me!”. Quem diria que por dois anos um dos melhores privilégios de se acompanhar TV seria assistir à jornada de altos e baixos de uma comediante de Las Vegas, Deborah Vance. Mas, o privilégio ainda maior é ter a personagem sendo defendida por uma, em minha humilde opinião, das melhores escolhas de elenco dos últimos anos, a veterana da televisão norte-americana, Jean Smart.

Dona de um talento sem igual, Jean Smart, 70 anos, assim como sua personagem, é uma lenda da comédia, tendo vencido prêmios Emmys para cada uma das categorias de atuação em comédia (principal, coadjuvante e convidada). Com uma carreira de mais de 40 anos, que transita entre teatro, televisão e cinema, ela também brilha no drama, em séries como 24 Horas e FargoWatchmen.  Essa experiência em ambos os gêneros faz com que a atriz entregue uma atuação que transborda nuances ao mostrar, de maneira harmoniosa e fascinante, o lado desagradável e arrogante da personagem principal de Hacks, mas também as qualidades inspiradoras e determinadas de uma mulher que precisou encontrar sua própria voz numa profissão dominada por homens.

Nessa segunda temporada, Jean Smart parece ainda mais confortável na pele de Deborah Vance, nos fazendo rir, chorar, sentir admiração, raiva e vergonha alheia (eu não sabia onde me esconder assistindo à apresentação no cruzeiro, em “The Captain’s Wife”). Até cantar nessa temporada, ela cantou, e estou em campanha para termos grammy winner Jean Smart! E a cumplicidade em cena com sua colega de elenco, Hannah Einbinder, também maravilhosa, foi ainda mais intensa de se acompanhar. Numa das relações de amizade e mentora/aprendiz mais divertidas e desafiadoras da TV, vemos o quanto Jean e Hannah se completam e como cada atriz parece trazer o que há de melhor na outra como profissionais. 

Em um segundo ano em que Hacks explorou ainda mais as contradições de Deborah Vance, com a personagem procurando ir mais fundo no processo de se reinventar e, ao mesmo tempo, de se reencontrar como comediante, foi um presente poder assistir Jean Smart nos presentear com novas leituras de textos maravilhosas, mudanças de expressões sutis e um carisma e presença de cena invejáveis. Que venha mais um Emmy! – Geovana Rodrigues

(HBO Max)

Menções honrosasMandy Moore (This is Us), Martin Short (Only Murders in the Building), Laura Linney (Ozark), Adam Scott (Severance) e Steve Martin (Only Murders in the Building).

Melhores Episódios

Station Eleven – 1×10: Unbroken Circle

Direção: Jeremy Podeswa | Roteiro: Patrick Somerville
Exibido originalmente em 13 de janeiro de 2022

Quem for atrás de Station Eleven como uma história de sobrevivência no pós-apocalipse cheia de ação e busca por mantimentos, vai encontrar outra coisa. Irá se deparar com algo mais intenso, que é o que realmente nos move: as conexões que fazemos uns com os outros enquanto humanos. Os 10 episódios da minissérie são pautados por essa ligação e em como é viver em um mundo que acabou. Ninguém vive sozinho. O belíssimo episódio que encerra a trama referencia em seu título o círculo que contém o trajeto inquebrável da Sinfonia Itinerante, mas é uma clara alusão ao ciclo da vida, onde há perdas, onde há reencontros.

A maior expectativa para o episódio não era se o plano de Tyler (Daniel Zovatto) com as crianças seria bem-sucedido. Óbvio que importava e criava uma tensão, porque não há nada aqui que não funcione. No entanto, sobre o personagem, aguardado mesmo era o reencontro com sua mãe, Elizabeth (Caitlin Fitzgerald), o que nos leva à brilhante sequência da peça em que há o “confronto” com Clark (David Wilmot). Porém, é necessário dizer que o reencontro de Kirsten (Mackenzie Davis) e Jeevan (Himesh Patel) era o momento pelo qual eu estava mais ansioso. A bonita construção da relação que a gente acompanha desde a infância dela, a eventual separação dos dois, tudo culminou para o arrebatador momento em que eles se reveem. A música que estão tocando silencia para mostrar que nada mais importa naquele instante. Eles não precisam falar nada porque os olhares quase gritam. A atuação de Davis e Patel é simplesmente fenomenal, a direção é fantástica. O episódio todo é espetacular, mas esses dois mereciam uma atenção especial. A cena final da separação por diferentes caminhos com a promessa do reencontro pode ser óbvia, mas não deixa de ser bela e encerra a minissérie de maneira irretocável com esse belíssimo episódio, que mostra bem a arte de fazer TV em seu melhor. – Filipe Chaves

(HBO Max)

My Brilliant Friend – 3×06: Diventare

Direção: Daniele Luchetti | Roteiro: Elena Ferrante, Francesco Piccolo, Laura Paolucci, Saverio Costanzo
Exibido originalmente em 20 de fevereiro de 2022

Tornar-se. Esse é o título e o mote do sexto episódio da terceira temporada de A Amiga Genial, série italiana baseada na tetralogia napolitana, obra da misteriosa Elena Ferrante. A história de uma amizade conturbada entre duas jovens de um bairro pobre de Nápoles, cuja vida se entrelaça desde a infância, entre amor e rivalidade, mas cujos rumos da vida adulta as separam, se mostra há alguns anos o que tem de melhor na televisão mundial. E, nesse episódio, chegamos, finalmente, a um ponto de inflexão na relação entre essas duas mulheres.

Com tensões acirradas em casa e fora dela, Elena precisa retornar à Nápoles. E lá, de cara, ela se vê mergulhada em velhos padrões. De imediato, é tomada pela irracionalidade que parece dominar o lugar, parte intrínseca de si que ela tanto lutou para esconder, mas que parece surgir das profundezas como um monstro terrível e assustador. Certa de que se mantém em um pedestal de moralidade que ainda a separa dos demais, a notícia de que sua irmã mais nova está morando, sem ter se casado, com um Solara e com a aprovação de seus pais, causa-lhe indignação. Mas nem essa surpresa desagradável a prepara para o choque sísmico que virá a seguir. No opulento apartamento de sua irmã, Elena se vê encurralada a participar de um evento que parece materializar-se diretamente de seus pesadelos: uma comemoração em sua homenagem que ela precisa dividir com o aniversário de 60 anos de Manuela Solara, a terrível agiota e matriarca da família Solara.

Em uma sequência primorosa, cada pessoa que chega à residência parece uma nova facada contra Elena. Mas nenhuma é tão profunda como a chegada de Lila. Afeita à casa de seus antigos inimigos, Lila mal dirige palavra ou olhar à antiga amiga. Ao redor da mesa, o clima é de guerra fria. Sorrisos hostis, tensão total. O destaque fica, mais uma vez, para Gigliola. A triste esposa de Michele Solara, que precisa engolir toda sorte de insultos, inclusive as bufonices de seu marido, e os elogios deste à sua eterna rival. À beira do abismo, ela fornece uma dose revigorante de sinceridade e vulnerabilidade.

A bela poesia dos momentos cotidianos se expõe nesse episódio. A música, a dança, tudo capturado na eteriedade evanescente de um momento de paz que segue a tormenta. Em uma conversa posterior, Lila e Lenù parecem mais distantes que nunca, um confronto que há muito se anunciava no horizonte. Ainda incapaz de romper o laço, Elena abraça a amiga. Mas logo percebe que, para crescer e tornar-se alguém com mérito próprio, alguém que não possa ser deixada para trás, precisa se descolar da amiga e trilhar um caminho seu. Sair dali, de uma vez por todas. – Mariana Ramos

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The Other Two – 2×09: Chase and Pat are Killing It

Direção: Kim Nguyen | Roteiro: Chris Kelly, Sarah Schneider
Exibido originalmente em 23 de setembro de 2021

Em seu penúltimo episódio da sua segunda temporada, a comédia, que satiriza Hollywood e o circo midiático em que o planeta Terra se transformou com as redes sociais, chega ao seu ápice. Com uma história ágil, ácida e cheia de reflexos da nossa sociedade, The Other Two entrega o seu melhor episódio até aqui quando uma foto do ânus de Cary Dubek, enviada para um match no aplicativo de namoros gay Grindr, viraliza na internet. A já hilária situação desde o seu início só escala ao longo do episódio, gerando uma verdadeira comoção, iniciada por ninguém menos que Busy Philipps, no mundo das celebridades, capaz até de ressuscitar o primeiro filme no qual Cary atuaria, Night Nurse.

Além de ser uma das comédias mais engraçadas e afiadas da atualidade, com este tipo de história ela demonstra que entende muito bem o mundo no qual estamos inseridos e por isso consegue nos fazer rir tanto dele. Durante a segunda temporada, a exemplo de Arrested DevelopmentThe Other Two apostou muito em autorreferências, piadas que ao longo dos episódios vão ganhando mais tração e mais graça. Como se “Chase and Pat are Killing It” já não estivesse bom demais apenas com a história de Cary, nele a piada mais longa e mais revisitada da série chegou ao seu clímax com uma hilária e divertida participação especial de Alessia Cara, anteriormente tão referenciada na série. Assim, “Chase and Pat are Killing It” com certeza foi um dos melhores episódios da última temporada, não podendo faltar em qualquer lista que se preze. – Diogo Pacheco

(HBO Max)

Station Eleven – 1×07: Goodbye My Damaged Home

Direção: Lucy Tcherniak | Roteiro: Kim Steele
Exibido originalmente em 30 de dezembro de 2021

Uma série sobre o que resta de uma sociedade após um mundo pós apocalíptico se instaurar por conta de um vírus mortal em plena pandemia poderia ser uma péssima ideia. Entretanto, Station Eleven se provou muito mais do que isso, especialmente em seu melhor e mais comovente episódio, “Goodbye My Damaged Home”. O passeio de Kirsten ao seu passado traumático com certeza rendeu uma das horas televisivas mais bonitas dos últimos anos, nos contanto uma importante parte para entendermos quem a personagem se tornou neste mundo distópico. Uma história sobre esperança, luto e culpa capaz de emocionar até mesmo o mais frio dos seres humanos. Como não se emocionar com a morte de um personagem tão querido? Como não se emocionar com o fim da infância de uma menina diante da cruel realidade? Como não se emocionar com o show de roteiro, direção e atuações que só um dos melhores episódios de todos os tempos é capaz de apresentar? Obviamente, não sei a resposta para essas perguntas, já que “Goodbye My Damaged Home” me emocionou do começo ao fim. – Diogo Pacheco

(HBO Max)

Hacks – 2×04: The Captain’s Wife

Direção: Lucia Aniello | Roteiro: Ariel Karlin, Pat Regan
Exibido originalmente em 19 de maio de 2022

“The Captain’s Wife” é, para mim, uma aula de como sujar seu personagem sem torná-lo irrecuperável. É um episódio que se equilibra perfeitamente no fio da navalha de não passar pano para uma protagonista cheia de defeitos, hipocrisias e incongruências, sem nunca perder o público. Muito pelo contrário, só me faz querer acompanhar ainda mais de perto cada passo da jornada de Deborah Vance (interpretada brilhantemente por Jean Smart), mesmo quando ela fala absurdo atrás de absurdo no palco e eu tenho vontade de ligar para o SAMU de vergonha alheia.

Não é à toa que, pouco depois de “The Captain’s Wife”, Deborah chega à mesma conclusão que os roteiristas colocaram em prática desde o primeiro episódio em relação à personagem: ela é oprimida por ter sido uma das primeiras mulheres a desbravar um meio dominado por homens, mas também é opressora em inúmeros sentidos, colocando suas vontades acima de todos à sua volta, e muitas vezes humilhando e machucando quem tanto faz por ela. Tentar reduzi-la a somente uma das duas coisas é torná-la menor e menos interessante (aprende aí, The Marvelous Mrs. Maisel). 

O clímax do episódio, em que Deborah rola ladeira abaixo depois de uma construção narrativa minuciosa para que ela fosse escalando essa ladeira aos poucos, acerta no tom e no conteúdo: as piores piadas de Deborah, que fazem a plateia se voltar contra ela de vez sob vaias, não são os clichês com as lésbicas, mas sim os estereótipos contra as mulheres, a colocando num papel de pertencimento, não de opressão. Mas onde uma plateia de homens teria se esbaldado de rir, ainda mais ratificada por ser uma mulher contando aquelas piadas, uma de mulheres simplesmente não é obrigada. Não é à toa que Deborah prefere os gays.

Há também uma inversão na dinâmica entre Ava e Deborah muito interessante em “The Captain’s Wife”: pela primeira vez, Deborah é quem está perdida, e Ava é a voz da experiência e da razão (ela, afinal, é bissexual, enquanto Deborah repete o tempo todo que detesta lésbicas, porque as lésbicas a detestam também). A conversa entre as duas sobre sexualidade é uma das mais bonitas e emocionantes da temporada inteira, e é uma das poucas vezes em que Deborah escuta mais do que fala, reiterando outra máxima da relação entre as duas personagens estabelecida logo de cara em Hacks: uma tem muito a aprender com a outra, ainda que as duas resistam aos aprendizados. – Luiza Conde

(HBO Max)

Only Murders in the Building – 1×07: The Boy From 6B

Direção: Cherien Dabis | Roteiro: Stephen Markley, Ben Philippe
Exibido originalmente em 28 de setembro de 2021

O conceito de “episódio mudo” não é algo novo nas séries, de Buffy: A Caça–Vampiros até Evil, esse tipo de episódio já foi usado diversas vezes paras as mais diversas experimentações com um tipo de narrativa e brincadeira audiovisual para se experimentar novas formas de se contar uma história. No episódio “The Boy from 6B”, de Only Muders in the Bulding, focado em Theo Dimas (James Caverly), o personagem surdo da série, o espectador é colocado em sua perspectiva para justamente estabelecer um elo ainda mais intenso com o seu personagem com o momento derradeiro que ele está passando e, ao mesmo tempo, envolve isso com uma das grandes revelações da série, rendendo momentos muito bonitos, emocionantes e grandes interpretações de Caveryl e Nathan Lane. – Diego Quaglia

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Better Call Saul – 6×07: Plan and Execution

Direção & Roteiro: Thomas Schnauz
Exibido originalmente em 23 de maio de 2022

Desde o início da temporada de Better Call Saul, estamos acompanhando duas tramas em paralelo: a de Jimmy e Kim tentando aplicar um golpe em Howard para se vingar dele, mais leve e cômica, e a do último confronto entre Lalo e Gus, cheia de consequências sangrentas e terríveis.

Os episódios foram se sucedendo ora com preponderância de uma, ora de outra, e pouquíssima, quase nenhuma, comunicação entre ambas. Realmente, de que forma uma trama de dois homens tentando se matar e tomar para si o controle do tráfico local poderia conversar com uma aparentemente inofensiva de duas pessoas devolvendo na mesma moeda a babaquice da qual foram vítimas diversas vezes na mão de um cara cheio de privilégios?

Acho que essa foi a pergunta que eu e tantos outros nos fizemos algumas vezes ao longo da temporada. E em “Plan and Execution” ela finalmente é respondida. Num episódio dominado pela trama de respiro de Jimmy e Kim, o final é de deixar qualquer um sem ar quando ambas as tramas se cruzam finalmente, não de forma lógica, ou organizada, mas sim de uma maneira caótica, aleatória e com a violência se impondo irremediavelmente sobre a leveza.

O tempo todo estávamos, na realidade, acompanhando não a trama de Lalo e Gus, mas sim a de Saul Goodman. Enquanto em sua vida pessoal Jimmy hesita em seguir adiante com o plano contra Howard (de consequências calculadas e sem dúvida reversíveis), na profissional ele cruza limites éticos e legais sem pensar duas vezes, indiferente quanto às consequências de suas ações, e usando descaradamente o fato de ter tirado Lalo da cadeia para atrair uma clientela, digamos, duvidosa. Para demarcar a diferença e evitar que as coisas se misturem de forma tão desastrosa, como em “Bagman”, Jimmy se fragmenta de vez e assume a identidade de Saul Goodman para os negócios.

E tal como o espelho das tramas da temporada, as personas seguem em paralelo quase sem comunicação alguma. Mas as ramificações de Saul Goodman são muito mais profundas e graves do que sua leviandade permite enxergar, e é impossível mantê-lo à margem, da mesma forma que, em algum momento, seria inevitável que as tramas se cruzassem. Quando Saul bate à porta de Jimmy de novo em “Plan and Execution”, o desastre é ainda maior, e fica evidente qual persona sairá vencedora. – Luiza Conde

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Evil – 2×07: S is for Silence

Direção: Robert King | Roteiro: Robert King, Michelle King
Exibido originalmente em 29 de agosto de 2021

Neste ano, temos dois episódios que giram em torno do silêncio nesta lista; não dá para dizer que são episódios silenciosos ou mudos, porque existem momentos de diálogos e diversos sons envolvidos, seja por trilha, som ambiente ou mesmo diálogos. Porém, ambos abordam de sua própria maneira.

Em “S Is For Silence”, Robert e Michelle King constroem um episódio que tem o silêncio como parte da narrativa, não somente um recurso para mostrar como eles são artísticos. Como é usual para o casal em suas séries, não há ideia maluca o suficiente que não possa ser executada com brilhantismo por eles. Não apenas o recurso do silêncio é justificável, como a dupla brinca no roteiro com esse impedimento, o que permite extrair outras vertentes do seu elenco, como o humor físico (Kristen na cena do jantar, Kristen limpando o barril, Kristen… Bem, basicamente, Kristen em todos os momentos), mas também abordar outras opções visuais, a exemplo da cena do David tentando se concentrar dentro da igreja com as legendas.

Há aqui todas as qualidades que Evil carrega consigo, como o debate entre o real e o imaginário/fantástico, a crítica à misoginia dentro do catolicismo, as piadas mais engraçadas e certeiras dos locais mais inesperados e um elenco comprometido com cada situação, por mais insana que seja. “S Is For Silence” é o episódio perfeito de Evil e que resume bem o excelente trabalho dos Kings, que continuam fazendo algumas das melhores séries da TV, mas não ganham o devido crédito e atenção – exceto por nós, do Previamente, que sempre reconhecemos isso. – Rodrigo Ramos

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Severance – 1×09: The We We Are

Direção: Ben Stiller | Roteiro: Dan Erickson
Exibido originalmente em 8 de abril de 2022

Em quanto tempo você consegue entrar pra história da TV? Severance provou que precisa apenas de 40 minutos. O finale de sua primeira temporada, “The We We Are”, dirigido por Ben Stiller (quem diria né), é o melhor exemplar de que, às vezes, menos é mais. Se poupa na duração, o episódio não economiza na tensão, nas revelações, na condução emocional, na construção de seus personagens, costurando tudo o apresentou na temporada com muito cuidado e elegância, culminando em um dos plot twists/ganchos mais desgraçados (no sentido positivo, claro) da TV desde “Not Penny’s Boat”, no final da terceira temporada de Lost. É esse o auge que Severance alcançou. – Rodrigo Ramos

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Succession – 3×09: All The Bells Say

Direção: Mark Mylod | Roteiro: Jesse Armstrong
Exibido originalmente em 12 de dezembro de 2021

Enxergar Succession como uma comédia é apenas natural, algo que seu criador, Jesse Armstrong, não encararia como demérito, até por ter vindo do ramo (Peep ShowThe Thick of ItVeep e até Fleabag). O roteirista se nega a deixar o dramalhão se sobressair, até porque entende que essas pessoas ricas não merecem tanta empatia assim.

Se no episódio antecessor, Kendall quase morreu afogado, o início da finale da temporada não tem o menor pudor de logo de cara zombar do personagem. Succession não tem dó nenhuma dessas pessoas, o que é reiterado na roda de conversa no começo do capítulo, seja no brinde do casamento da mãe dos irmãos Roy (Shiv não consegue dizer uma frase sequer sem cutucá-la), mesmo em momentos mais trágicos, como no desabafo de Kendall (os irmãos simplesmente não sabem como reagir a sentimentos), ou nos mais tensos, como o confronto direto dos irmãos com o pai.

O roteiro de Succession deixa diversas cenas desconfortáveis por tamanho a vergonha alheia que proporciona, seja Kendall falando da entrevista para a Vanity Fair (que não haverá, foi ele que ligou pra revista pedindo) ou Greg falando mal do Greenpeace. O finale é craque nisso. Porém, o roteiro não acerta somente nas tiradas; ele é certeiro também na construção e resolução do arco narrativo da temporada. É possível notar as engrenagens girando, especialmente pela ausência de Logan no casamento da ex-esposa. É o receio do golpe do pai que faz com que os irmãos tenham um belo momento juntos e retomem uma relação mais saudável (ou dentro do possível que Succession permite) desde que a série começou.

O fortalecimento do trio Kendall, Shiv e Roman ao longo do episódio é o que faz com que o desfecho doa tanto. Sim, era, em certa escala, bastante óbvio que Logan iria encontrar (mais uma vez) um caminho para passar a perna nos filhos. Entretanto, é o modo como a traição se formou que arrebata o espectador nos últimos instantes da temporada – isto, sim, inesperado, mas que faz completo sentido dentro do que se construiu durante o terceiro ano. O episódio é conduzido como uma orquestra por Mark Mylod, que conta com a entrega completa de todo o elenco, no pico de suas performances na temporada. É simplesmente a TV no seu auge. – Rodrigo Ramos

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Menções honrosasThis is Us – 6×17: The Train, Yellowjackets – 1×09: Doomcoming, Succession – 3×08: Chiantishire, Better Call Saul – 6×03: Rock and Hard Place e My Brilliant Friend – 3×08: Chi fugge, chi resta.

Melhores Séries de Comédia

The Sex Lives of College Girls (HBO Max) – Primeira Temporada

Mindy Kaling parece entender bem como é ser mulher, independente da orientação sexual, da origem ou da cor da pele. Se em Never Have I Ever ela demonstrou entender a juventude escolar, agora é a vez de exibir o talento em escrever quatro personagens femininas, bastante diferentes entre elas, no primeiro ano da faculdade. Não tem problema, mesmo neste ambiente distinto, Kailing consegue desenvolver as quatro protagonistas com situações diversas (vergonhosas, engraçadas, densas e tensas), sem exagerar na dose, sabendo exatamente o que fazer para que elas sejam críveis e façam o espectador querer saber o que irão fazer de suas vidas, sejam as escolhas ruins ou sábias. É daquelas séries divertidas, sem intenção de hitar, mas que cresce com você a cada episódio. Felizmente, devidamente renovada para mais uma rodada. – Rodrigo Ramos.

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Better Things (FX) – Quinta Temporada

Em 2016, Louis C.K. (então no auge de seus poderes) e sua parceira profissional Pamela Adlon criaram Better Things, que trata da experiência pessoal compartilhada de ambos. As duas primeiras temporadas são muito boas (incluindo um episódio com um subtexto do tipo “filhas, um dia vocês vão descobrir que seus pais não são seres perfeitos” – que se tornou premonitório pouco tempo depois). No final de 2017, após os escândalos de assédio envolvendo C.K. virem à tona, ficou a dúvida: a série tem força criativa pra ir em frente? Afinal, apesar da maior inspiração do programa ser a vida familiar de Adlon, ele havia coescrito todos os vinte episódios até ali. Mas Pamela foi lá e dobrou a aposta. A série se tornou ainda mais pessoal, mais profunda e mais experimental a partir dali. Dirigindo todos os episódios desde a segunda temporada (e quem conhece o funcionamento de produção de TV, sabe que isso é um inferno logístico, tem que se ter muito apreço pelo material), Pamela nos brindou com lindas histórias sobre sua família estendida (o casting de Mikey Madison e Hannah Riley lá atrás foi uma tacada de mestre). Um exemplo didático do controle foi a personagem da Alysia Renner, que só precisou aparecer em uma cena nos primeiros nove episódios da quinta temporada para preparar o terreno para finale. E encerrar uma série com aquela música nunca será uma má ideia. Coisa de quem sabe o que está fazendo. – Juliano Cavalca

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Sex Education (Netflix) – Terceira Temporada

Sem medo de transmitir vergonha alheia, Sex Education volta para o seu terceiro ano na mais alta forma, de maneira honesta, pé no chão, representativa e se negando em ser um tutorial de maquiagem. Com uma porrada de novas adições ao elenco, a série mostra-se apaixonada por cada personagem e dá conta de todos eles. Laurie Nunn, criadora e showrunner da série, faz o possível para mostrar a humanidade em cada um, buscando destacar as virtudes e defeitos de todos, mesmo naqueles que parecem ser antagonistas binários, porém não o são. A tridimensionalidade ao abordar assuntos, dos mais delicados até os mais corriqueiros, sem se preocupar com tabus, mas em momento nenhum querendo chocar o espectador, catapulta Sex Education ao posto de melhor série adolescente da atualidade. – Rodrigo Ramos.

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We Are Lady Parts (Peacock/Channel 4) – Primeira Temporada

Curioso para saber como foi vender a ideia de uma série sobre uma banda de punk formada somente por muçulmanas. Seja lá como tenha sido a abordagem, fico feliz que ela tenha ocorrido. Extremamente original, com uma linguagem visual e narrativa altamente criativa, a série aborda personagens que raramente veríamos em tela, mas temos o privilégio de ver aqui, fugindo de todos os estereótipos. Há muito cuidado ao retratar o islamismo e a influência na vida dessas jovens (evidentemente, não foi feito por estadunidenses), bem como ao abordar como elas enxergam o mundo de maneira diferente, lembrando sempre que cada ser humano tem suas particularidades, mesmo que a fé, inicialmente, seja a mesma. – Rodrigo Ramos.

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Barry (HBO) – Terceira Temporada

Tudo que Bill Hader e Alec Berg haviam construído nas temporadas anteriores de Barry culmina no seu ápice na sua terceira temporada, em que o humor nonsense, o drama trágico, as cenas de ação, os momentos de tensão e praticamente de terror ao redor do seu protagonista chegam no seu auge em uma sequência invejável de episódios que levam tudo que a série havia feito de bom antes só que ainda melhor, elimina ou corrige qualquer limitação que ela tenha apresentado antes e leva os personagens para caminhos ousados e totalmente desafiadores, extraindo interpretações fantástica de Hader, Henry Wilker, Sarah Goldeberg, Stephen Root e Anthony Carrigan. – Diego Quaglia

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Abbott Elementary (ABC) – Primeira Temporada

Criado por Quinta Brunson, o programa de 13 episódios é uma masterclass em cinema pseudodocumentário e oferece uma visão brilhante do que está por trás das portas de uma sala de professores. Algo que geralmente é envolto em mistério, o programa desmistifica com sucesso as pessoas que se tornam professores em uma classe regular enquanto tentam resolver problemas da vida real como uma pessoa comum. Desde professores que se juntam por conta própria por não gostarem de pizza, até a diretora assumindo que o novo professor substituto é uma stripper, os professores da Abbott Elementary servem a você uma verdadeira gargalhada.

O conjunto é a maior força da Abbott Elementary. Janelle James como Ava Coleman, a diretora não qualificada, e Tyler James Williams como o inabalável substituto Gregory, estão em uma liga própria. Os personagens são fáceis de amar e crescer em você à medida que a temporada continua; até Tariq (Zack Fox), que se diz feminista, porque consegue que sua namorada pague por todas as suas coisas, chega ao seu coração.

O programa traz de volta o olhar lateral para a tela, que, se você é fã da série, provavelmente o encherá de alguma nostalgia por uma comédia clássica. Abbott Elementary é uma crítica afiada da raça na América. Quase todas as crianças da escola são negras ou pardas, assim como os professores. A versão do programa sobre a aliança dos brancos – uma piada recorrente – é muito bem-feita. Jacob, um dos dois únicos professores brancos da escola, sempre é visto trazendo à tona o aspecto da raça em conversas cotidianas no refeitório apenas para provar sua aliança.

A série dá ao público algo com o qual realmente se relaciona. Focar nos professores, um grupo que até agora foi relegado a segundo plano na televisão, é como uma lufada de ar fresco. Esta temporada preparou o palco e com a série sendo renovada para uma segunda temporada, mal podemos esperar para que a peça comece! – Isabela Cândido

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Only Murders in the Building (Hulu) – Primeira Temporada

Only Murders in the Building é uma comédia despretensiosa, que traz consigo uma análise sobre a solidão da existência humana por diversas óticas, sendo as que mais chamam a atenção, naturalmente, são as dos protagonistas de terceira idade. O mistério faz parte do charme da produção, porém o que realmente salta aos olhos é o entrosamento entre o trio de protagonistas formado por Steve Martin, Martin Short (impecável!) e Selena Gomez. Todo o elenco é formidável e encaixa na proposta da série, que é séria quando precisa, mas está constantemente buscando formas de tirar uma risada do espectador. É esse grupo de atores, performando em alto nível, que faz com que a série seja um dos ápices desta temporada na TV. – Rodrigo Ramos.

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What We do In The Shadows (FX) – Terceira Temporada

A maior virtude de What We Do In The Shadows é negar tornar-se soturna e transformar-se em uma dramédia. Já temos o suficiente dessas séries inimigas do riso – a última temporada de Atlanta que o diga. Mais afiada do que nunca, a terceira temporada da série vampiresca amplia sua mitologia, torna seus personagens mais carismáticos e humanos (irônico, né?), e em nenhum momento abdica das boas piadas. Alguns dos momentos mais icônicos da TV vieram desta temporada, que cultuou Crepúsculo da maneira brilhante, explicou o negacionismo em voga de modo objetivo e mais certeiro do que as quase duas horas e meia de Não Olhe Para Cima, e ainda fez com que The Big Bang Theory realmente fosse engraçada, nem que por pouco mais de 20 minutos. – Rodrigo Ramos.

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The Other Two (HBO Max) – Segunda Temporada

A espera de quase dois anos e meio valeu a pena já nos primeiros minutos da magistral segunda temporada de The Other Two. A atração por produções que satirizam o universo de Hollywood é uma máxima que sempre existiu, mas que felizmente nos últimos anos vem ganhando excelentes substitutos para a ainda saudosa 30 Rock. Porém, se os limites da TV aberta tornavam a obra definitiva de Tina Fey em uma série que ainda tinha certos limites no que criticar, com The Other Two todas essas barreiras vieram abaixo.

Retomando a eterna busca dos irmãos Brooke e Cary Dubek por deixarem de serem simples extras numa família que continua sendo alçado ao estrelato inesperado, acabamos entrando num mundo de burnouts causados por programas matinais; na essência do queerbating em produções que querem ganhar o Oscar; em como conseguir agenciar a superestrela Alessia Cara e, claro, o que fazer para resolver uma nude vazada quando se está num elenco de um filme que acabou de ter o financiamento cortado.

Parece um monte de plot impossível de ser traduzido para a tela com unidade, mas os showrunners Chris Kelly e Sarah Schneider fazem isso com uma perfeição que chega a ser invejável. O melhor de tudo é que raramente caímos na caricatura e, felizmente, todos os absurdos apresentados têm coração. Vez ou outra a gente se pega lacrimejando com as relações e o amor que a família Dubek sente um pelo outro. Vale destacar também que a representação da sempre ótima Heléne Yorke acaba sendo o centro de uma série que possui muito nomes já firmados da comédia americana recente (sim, estou falando da rainha Molly Shannon).

Já renovada para um vindouro terceiro ano (apesar de temermos seu futuro após as notícias recentes sobre mudanças na HBO Max), The Other Two possui as melhores punchlines das séries de comédia no ar e é um retrato quase que documental da Hollywood Milllenial. Indispensável para qualquer fã de TV. – Zé Guilherme

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Hacks (HBO Max) – Segunda Temporada

Após uma primeira temporada aclamada, premiada e bem-sucedida, os responsáveis por Hacks tinham todos os motivos do mundo para jogarem seguro no segundo ano. Porém, o trio de criadores e responsável por Broad City, formado por Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky, escolheu seguir outro caminho. Saindo do lugar comum, a segunda temporada da série muda a dinâmica e o cenário (não é mais Las Vegas, e sim a estrada) para levarem suas protagonistas a um novo rumo.

Convencionalmente, as comédias costumam manter-se no mesmo local, criando um ambiente de acolhimento e conforto para que os espectadores se sintam mais à vontade e familiarizados para poderem rir e se divertir. Mas Hacks não quer saber disso. Inclusive, a série se recusa a cair nas conveniências do gênero. O gancho deixado no final do primeiro ano, criticado por meia dúzia de pessoas, é rapidamente adereçado, trabalhado e superado, ajudando a construir uma narrativa ainda mais sólida e que não se segura por conta de plot twist desnecessário ou que fica o suspense pairando no ar de que irá explodir para eventualmente terem de lidar com aquilo.

Pode parecer tudo muito simples, porque os roteiristas e elenco (e toda a equipe) fazem parecer fácil e natural, mas não é. Hacks joga as convenções pro alto, arrisca nas piadas, fortalece as relações entre seus personagens, amplia o universo em que está inserido, sem nunca deixar a dignidade e a identidade pra trás. É uma série que não tem a menor vergonha de ser uma comédia, e nem por isso deixa de explorar, por meio de um trabalho magistral de desenvolvimento de personagens, a parte emocional.

O segundo ano de Hacks é totalmente diferente daquela primeira temporada e, ainda assim, é a mesma série. Extremamente redondinha, ela poderia tranquilamente ser o último ato de Deborah Vance, contudo, com a renovação já garantida, o que nos resta é aguardar ansiosamente para saber que surpresas esse grupo brilhante de realizadores irá nos oferecer. Para concluir, caso não tenha ficado claro, Hacks é excelência televisiva e merece todo o amor que recebe. – Rodrigo Ramos

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Menções honrosasCobra Kai (Netflix) – Quarta Temporada, Ted Lasso (Apple TV+) – Segunda Temporada, Reservation Dogs (FX) – Primeira Temporada, The White Lotus (HBO) – Primeira Temporada e The Great (Hulu) – Segunda Temporada.

Melhores Séries de Drama

Pachinko (Apple TV+) – Primeira Temporada

Como traduzir um dos romances de jornada mais cultuados da atualidade? Como fugir dos clichés de representação oriental que continuam sendo reforçados por Hollywood, mesmo depois das constantes provas do magistral audiovisual coreano? Bem, esses dois questionamentos estiveram na minha mente quando foi anunciada a adaptação de Pachinko pela Apple TV+, e já adianto que nenhum deles foi um problema, já que a adaptação é facilmente uma das melhores séries de drama de 2022.

Dirigida, escrita e produzida por realizadores coreanos (dentre eles, os ótimos diretores Kogonada e Juntin Chon), a saga da jovem Sunja e sua família desde a ocupação japonesa na Coreia até a década de 90 num Japão cosmopolita, emociona não só pela sensibilidade dos eventos que acompanhamos em tela, mas pela verdade demonstrada pelos atores. Encabeçada pela vencedora do Oscar, Youn Yuh-jung e pela estreante Kim Min-ha, passeamos por décadas e momentos diferentes numa verdadeira saga de superação e resiliência que nunca se torna exploratória.

O ritmo é lento, os episódios apostam numa atmosfera mais contemplativa, mas são nos olhares e marcas do tempo que Sunja viveu que acabamos descobrindo o quão difícil foi a luta das mulheres coreanas para manter sua cultura viva e até mesmo a sanidade num país hostil e absurdamente preconceituoso como o Japão. A abordagem do imaginário coreano vem ganhando cada vez mais espaço com a expansão do k-pop nos últimos anos, mas aqui acompanhamos outra visão da nação e seus representantes.

Admirável em escopo, magistral na sua construção e genuinamente emocionante no componente humano, Pachinko é tudo o que eu esperava de uma adaptação que já se mostrava promissora desde o seu material promocional. Inclusive, desafio qualquer um a não esboçar um sorriso no rosto no momento em que a abertura da série começa a tocar. Realmente um deleite. – Zé Guilherme

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This Is Us (NBC) – Sexta Temporada

O cenário para dramas de TV aberta nos EUA é desolador. Parece que só existe NCIS, coisas do Dick Wolf e clones de Lost. Depois do final de The Good Wife, parecia não haver maiores esperanças. Eis que surge Dan Folgelman contando a história de uma família ao longo de mais de aproximadamente um século. Um novelão atravessando diferentes gerações, com diversas reviravoltas.

Um dos charmes de This Is Us é a convivência de três linhas do tempo principais, além dos diversos flashbacks e flashforwards. Embora a série escorregue de vez em quando no excesso de lições de moral, os diálogos conseguem ser muito bons e críveis, entregues por um elenco de primeira (Mandy Moore não ter sido indicada ao Emmy de melhor atriz neste ano é motivo de pegarmos em armas e criarmos motim). Mas ao longo dos anos, o ponto mais alto da série foi a concisão com que ela conta as suas histórias, sendo obrigada a respeitar os 40 minutos protocolares da TV aberta. O penúltimo episódio (“The Train”, o melhor dessa reta final) é o argumento definitivo: certamente o roteiro original devia beirar as 100 páginas (e, consequentemente, os mesmos números de minutos em seu corte bruto). Passaram a faca sem dó, deixando apenas as melhores cenas (como a linda sequência com o Gerald McRaney) e cortando toda a gordura, com coisas que soaram ainda mais cruéis justamente pela sua brevidade (coitado do Miguel, risos). Certamente mais emocionante do que a hipotética versão de 85 minutos que seria exibida numa Netflix da vida. – Juliano Cavalca

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The Good Fight (Paramount+) – Quinta Temporada

Desgaste? Jamais. Mesmo sem Trump no poder lá nos EUA, papai e mamãe King conseguiram mais uma vez reinventar The Good Fight ao colocarem em xeque até que ponto as pessoas estão dispostas a irem por suas posições ideológicas e como a disruptura total pode ser perigosa – quem acha que anarcocapitalismo funcionaria, boa sorte, vão trocar uma ideia com o Fogaça. Como de costume, a série faz questionamentos difíceis. E, em meio a reflexão, os Kings entregam mais um ano impecável de entretenimento inteligente. Ninguém faz igual a eles, essa é a verdade. E quanto à escalação do elenco? Novamente, eles acertam em cheio com as novas adições, principalmente a de Mandy Patinkin, que rouba a cena, ao lado de Sarah Steele, a nossa querida Marissa Gold, que finalmente ganha seu momento de protagonismo nesse universo televisivo, não tendo mais como função ser o alívio cômico (algo que sempre fez com maestria, diga-se de passagem) ou estando numa trama de segundo plano. – Rodrigo Ramos.

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Yellowjackets (Showtime) – Primeira Temporada

Poucas coisas me fizeram feliz em 2021/2022, mas uma delas foi redescobrir, em certa medida, o prazer de acompanhar séries semanalmente. É um engajamento único, mais duradouro, que exige nervos e paciência e nos permite o tempo ideal para maturar a experiência de espectador e compreender as grandes amarras narrativas que fazem da televisão esse meio encantador. E, sem sombra de dúvidas, uma das séries que mais me capturou em seu desenrolar semanal foi Yellowjackets. Cheguei alguns episódios atrasada para a festa, mas fui capturada instantaneamente.

Desde o primeiro plano, da primeira cena, Yellowjackets mostrou ao que veio. O uso preciso de tropos de gênero misturados a elementos pop, uma certa virada de expectativas e uma estrutura narrativa ficcionada são alguns dos fatores que lhe destacam. Mas, como toda boa série, se chegamos nela pela premissa e pelas promessas, permanecemos com ela por seus personagens cativantes e envolventes. Distribuindo ao longo de suas duas temporalidades um elenco de estrelas consolidadas como Melanie Lynskey, Christina Ricci e Juliette Lewis, e jovens atrizes como Sophie Tatcher, Samantha Hanratty, Jasmine Savoy Brown e Sophie Nélisse, a série constrói cada um de seus momentos narrativos como um cosmos próprio.

O passado tem um tom mais sombrio e sério, imerso em uma estética punk rock feminista típica da década de 90, preenchida pela clássica angústia adolescente, mas com toques de sensibilidade que lhe fazem fugir de certos lugares comuns. Já o presente é quase farsesco. Uma escolha no mínimo corajosa para uma série que lida com temas, digamos assim, delicados. A vida dessas mulheres – antes apenas garotas, inseridas por uma tragédia em uma situação limite e que precisam redescobrir como viver, sobreviver e criar sua própria forma de sociabilidade na natureza selvagem – se mostra algo patético e mundano, não fosse o fato de terem vivido, e partilhado, algo completamente fora do comum. Algo que elas próprias decidiram esquecer e relegar ao passado, na esperança de que algum resquício de vida normal ainda lhes fosse possível. No entanto, quando tal passado quase que literalmente bate na porta delas, elas o agarram como um segundo chamado à aventura, algo que lhes dá, novamente, propósito.

Acompanhar o descortinar dessa jornada me gerou uma ansiedade (do tipo bom) semanal. E descobrir que a série se propõe a realmente resolver os mistérios que coloca foi um alívio enorme. Yellowjackets foi um oásis de girl power, energia e loucura que todos estávamos precisando nesse último ano. – Mariana Ramos

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Evil (Paramount+) – Segunda Temporada

Robert e Michelle King são, hoje, os melhores showrunners da TV. Na segunda temporada de Evil, eles apostam alto e ousam como poucos (ou melhor, como ninguém tem a audácia hoje na TV). Em tempos em que o público quer todas as respostas mastigadas, Evil brinca com os mistérios, raramente responde as questões levantadas e tá tudo bem com isso. Lembram quando Lost não oferecia algumas respostas e o público ficava enfurecido? É só entrar numa página de comentários de Evil, num TV Time ou Banco de Séries, para ver como tem gente que ainda não entendeu o conceito de você não ter que explicar tudo tintim por tintim, afinal não é um roteiro assinado pelos Nolan. A beleza de Evil está na experiência que a série proporciona. E não teve uma série que causou mais emoções, gargalhadas e arrepios do que ela durante a temporada 2021/2022. Não há nada igual a ela. A sucessora natural de Arquivo X e Fleabag ao mesmo tempo. E como o Emmy não cansa de esnobá-la (Jodie Comer, Sandra Oh e Reese Whiterspoon indicadas à categoria de melhor atriz na premiação, enquanto Katja Herbers é ignorada, é inexplicável), cabe a nós ressaltarmos que Evil é uma das maiores hoje no ar. – Rodrigo Ramos.

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Better Call Saul (AMC) – Sexta Temporada – Parte 1

A melhor série da atualidade chega perto do seu final e está prestes a confirmar que realmente pode ter superado a sua série mãe, Breaking Bad. O requinte audiovisual presente na execução de Better Call Saul já é conhecido e aqui vemos a série oferecendo os pontos para estabelecer os seus derradeiros momentos finais de uma forma que nunca pareça que estamos sendo enrolados. Pelo contrário, já que somos oferecidos com despedidas tensas e comoventes de personagens icônicos na série, Jimmy e Kim se tornando mais Bonnie e Clyde do que nunca, uma simetria total da trama de Jimmy com a de Gus/O Cartel, e uma série de promessas que o programa sabe ir oferecendo e desenhando como ninguém. – Diego Quaglia

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Station Eleven (HBO Max)

Uma série que aborda um mundo pós-apocalíptico onde uma gripe mortal mata grande parte da população mundial, sendo exibido em plena pandemia da Covid-19, tinha muitas chances de soar ofensivo ou simplesmente ser deslocado, com um timing infeliz. Entretanto, Station Eleven aborda a temática de uma maneira que, talvez, sirva de inspiração para nós (ao menos, aos sortudos que assistiram).

Com uma narrativa dividida em vários arcos, seguindo os personagens sobreviventes da pandemia, a série lembra os bons tempos de The Leftovers (não é a toa, pois seu criador, Patrick Somerville, trabalhou no seriado mencionado). Sim, tem muito sofrimento pela frente (como não poderia deixar de ser), mas a série consegue trabalhar sem parecer exploratório ou insensível. Pelo contrário, Station Eleven não foca suas atenções no que causou a destruição da humanidade como conhecíamos, e opta por trabalhar as relações humanas e nos lembra de que, no fim do dia, o que nós temos é apenas um ao outro.

Exatamente pelo fato de se preocupar com o fator humano, a série não julga seus personagens, não havendo um vilão. Antagonista? Talvez. Mas os responsáveis pela produção estão mais preocupados em abordar o que há por trás das ações ruins e não julgá-las.

Ironicamente, apesar de sua temática, no fim, é uma série otimista. Queria eu ter tanta fé na humanidade quanto Patrick Somerville, pois, mesmo com a nossa pandemia real, que ainda vivemos, não melhoramos como pessoas. – Rodrigo Ramos

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My Brilliant Friend (RAI/HBO) – Terceira Temporada

A terceira temporada desta adaptação impecavelmente estilosa dos romances de Elena Ferrante é sedutora, cinematográfica e tece um feitiço diferente de tudo. A série, assim como o livro, oferece um tratamento vívido e próximo da amizade feminina. A relação entre Lenu e Lila permanece constante em sua inconstância, sustentada pela curiosidade ciumenta ao lado do afeto. Nesta temporada, são as interações entre Lenu e sua mãe Immacolata (Annarita Vitolo) que me pareceram novas e edificantes.

O assunto da série continua sendo o doméstico, mas nos lares italianos, com suas janelas de vidro abertas, a política vem com a brisa. No início da temporada, Lila se vê como um avatar da revolução comunista em Nápoles, enquanto Lenu se junta ao movimento feminista, mesmo assumindo os papéis estereotipados de esposa e mãe em casa. Nenhuma delas tem muito foco como ativista, embora seja mais difícil dizer no caso de Lila.

E esse assunto do cotidiano doméstico para Lila e Lenu é a claustrofobia da feminilidade e da maternidade, assim como foi para Immacolata. “Para escapar deste bairro, você precisa de dinheiro”, diz Lila na primeira temporada de My Brilliant Friend. Lenu tem uma profissão e uma nova vida em uma cidade da moda, mas ainda assim ela é atraída por uma afinidade constante pelas pessoas que ela conhece há mais tempo: Pasquale, Nino, Enzo, Lila. Ela é mais generosa quando está acomodando as necessidades deles; ela tem mais certeza de quem é na presença deles. My Brilliant Friend apresenta uma teoria convincente do lar como uma esfera de competência em vez de um lugar de conforto. Para escapar dessa vizinhança, você precisa da vontade de renunciar à lasca estreita do mundo que você entende de maneira confiável. Até aqui, e uma quarta temporada está garantida e já está em andamento, então estaremos dispostos a muita emoção, drama, amizade, romance, desgosto e tudo mais está no horizonte. Por enquanto, certifique-se de aproveitar a grandeza que foi a terceira temporada de My Brilliant Friend. – Isabela Cândido.

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Severance (Apple TV+) – Primeira Temporada

Todos irão concordar que criar ideias originais inovadoras, em pleno 2022, parece uma coisa difícil no audiovisual. É só ver a penca de adaptações literárias, de HQs, de games, de filmes e séries antigos (entram aí os revivals, os reboots, os spin-offs). Parte do charme de Severance (Ruptura, no português) é exatamente partir do nada, tendo como plot uma ideia brilhante. Na trama, uma empresa tem a tecnologia de implantar em seus funcionários uma função em que seus cérebros simplesmente esquecem da vida do lado de fora enquanto estão trabalhando; quando o expediente acaba e eles saem do local de trabalho, as memórias do que viveram no turno não se mesclam com as demais da vida externa.

É uma ideia genial? Sim. Horripilante? Com toda certeza. Se houvesse a tecnologia para tal, certamente as empresas no capitalismo atual iriam aplicá-la? Não tenho dúvidas. E talvez não estejamos tão longe dessa possibilidade, o que faz com que o conceito da série seja realmente assustador. É algo que Black Mirror gostaria de ter feito, mas não o fez.

Claro, uma boa ideia nem sempre rende uma série de longa data (ou, ao menos, mantendo a qualidade). Porém, Severance tem tudo a seu favor. Ela tem um elenco perfeitamente escalado (Adam Scott está surpreendente num papel mais sóbrio do que o comum, por exemplo), um roteiro inteligente, sagaz, que nos deixa exatamente as peças que precisamos para montarmos o quebra-cabeça, sem sobras, e uma direção formidável e criativa. Desde o aspecto da concepção até a execução (o visual da série é, simultaneamente, belíssimo e apavorante, a exemplo dos corredores intermináveis), Severance é uma obra feita por gente que entende o conceito televisivo, respeita o formato (não é um filme de nove horas), sabendo quando precisa usar os benefícios do streaming, porém, sem abdicar do que mais importa: contar uma história concisa, coesa e sem arestas (o finale ter apenas 40 minutos é a prova de que uma série não precisa forçar a barra na duração para ter qualidade).

Severance oferece uma jornada claustrofóbica, excêntrica, crítica ao capitalismo, misteriosa e emocional. É TV sem vergonha de ser TV. – Rodrigo Ramos

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Succession (HBO) – Terceira Temporada

Jesse Armstrong mostra que não tem problema nenhum em colocar os ricos para sofrerem e se humilharem. Em meio a uma trama que não muda tanto assim a dinâmica até os 45 do segundo tempo, o que faz de Succession uma das melhores séries dos últimos anos é a capacidade de nos segurar por um roteiro lapidado minuciosamente com situações que nos fazem ter pena de gente rica, mimada e fascista, criar insultos criativos (a melhor nisso desde Veep) e mostrar que mesmo revivendo algumas situações anteriores, não demonstra nenhum desgaste, inclusive por conta do altíssimo nível das atuações de seu elenco, perfeito em todos os instantes. É sobre ricos brigando entre si? Sim. Mas é também sobre os traumas causados por uma família que tem o abuso impresso em todas as suas camadas e o reflexo disso. Hoje, é a melhor que temos na TV. – Rodrigo Ramos.

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Menções honrosasMidnight Mass (Netflix), Maid (Netflix), The Staircase (HBO Max), Landscapers (HBO/Sky Atlantic) e Heartstopper (Netflix) – Primeira Temporada.

Fizeram parte do júri
Angelo Bruno
, formado em Letras — Licenciatura em Português.
Breno Ribeiro, roteirista.
Cid Souza, criador e host do SeriousCast.
Diego Quaglia, cineasta, pesquisador, roteirista e crítico de cinema e audiovisual.
Diogo Pacheco, advogado, sommelier de séries, ex-colaborador do Série Maníacos.
Filipe Chaves, servidor público, pós-graduado em Direito Processual Penal, dono do Instagram O Que Assistir Hoje?.
Geovana Rodrigues, sommelier de séries.
Isabela Cândido, diretora de arte, criadora e host do podcast Próximo Episódio.
Juliano Cavalca, bacharel em Economia e pai babão, escreve sobre seriados na internet desde 2005.
Luiza Conde, roteirista.
Mariana Ramos, roteirista, mestre em Cinema e Audiovisual, host do podcast Isso Não É Um Filme.
Mateus Santos, engenheiro mecânico, humildemente viciado em séries.
Mikael Melo, jornalista, repórter na NDTV Record.
Rafael Mattos, estudante de Jornalismo e que acha BoJack Horseman a melhor série da década de 2010.
Rafaela Fagundes, sommelier de séries.
Rodrigo Ramos, jornalista, assessor de comunicação na Prefeitura de Navegantes, editor do site Previamente, foi programador de cinema na Cineramabc Arthouse.
Tammy Spinosa, host, mídias sociais, redatora e editora de som do podcast SeriousCast.
Thiago Silva, host e editor do SeriousCast e amante da TV.
Valeska Uchôa, cientista da computação, ex-colaboradora do Série Maníacos e do falecido Lizt Blog.
Zé Guilherme, farmacêutico generalista, mestre em Ciências Fisiológicas, e doutor em Farmacologia de Produtos Naturais Sintéticos e Bioativos, já colaborou nos sites LoGGado e Cine Alerta.

Confira também as listas anteriores
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Melhores Séries da Temporada 2012/2013
Melhores Séries da Temporada 2011/2012
Melhores Séries da Temporada 2010/2011

Textos por Diego Quaglia, Diogo Pacheco, Filipe Chaves, Geovana Rodrigues, Isabela Cândido, Luiza Conde, Mariana Ramos, Rafael Mattos, Rodrigo Ramos, Valeska Uchôa e Zé Guilherme

Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos

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