Os melhores episódios, séries, atrizes e atores do mundo seriático de 2013 e 2014
Da Redação
Nunca valeu tanto a pena ficar em casa assistindo TV ou logar no Netflix para assistir séries ao invés de ir ao cinema. Convenhamos, já faz algum tempo que isso vem acontecendo, mas acho que não houve uma época tão boa para a televisão quanto atualmente. É impossível apontar qual é a melhor série no ar, até porque são várias. Na temporada 2013/2014 tivemos seriados começando com o pé direito, outros se recuperaram depois de um declínio e uma em específico deu adeus à todos nós no seu auge. Entre 1º de junho do ano passado até o dia 31 de maio deste ano, milhares de episódios passaram e a equipe do Previamente acompanhou tudo de pertinho para elaborar pelo quarto ano seguido a lista com os melhores atores, atrizes, episódios (isso é novidade) e séries da temporada. Confie em nós, temos um gosto melhor do que o do Emmy. Confira abaixo o que houve de melhor no ano televisivo.
Melhores Atrizes Coadjuvantes
Bellamy Young (Scandal)
Scandal é uma série problemática, não só por seu roteiro, que se preocupa mais em fabricar reviravoltas do que em desenvolver boas histórias, mas também por seu elenco fraco. Mas enquanto Kerry Washington faz caretas e Tony Goldwyn interpreta o presidente mais apático da ficção, temos uma atriz que se destaca. Bellamy Young é Mellie, a primeira dama que deveria ser a mais odiada por estragar a alegria dos fãs do casal principal, mas se tornou uma das melhores (talvez a melhor) coisas da série. Ela dá vida a um personagem interessante, com motivações e interesses humanos. E a atriz consegue mostrar seu potencial, conseguindo se destoar no universo novelesco de Shonda, que ainda insiste em chamar seus personagens de “gladiadores de terno”. Merecia estar numa série melhor, Bellamy.
Uzo Aduba (Orange is the New Black)
Pagar-se se louco não é pra qualquer um. Conseguir equilibrar uma atuação a ponto de a loucura de um personagem não passar do limite, não sendo caricato, é dificílimo. Uzo Aduba, no entanto, tira a Carrie, de Claire Danes, em Homeland, do posto da melhor atriz surtada na TV ao colocar muita força no papel de Crazy Eyes em OITNB. Sua interpretação é extremamente convincente, seja nos momentos mais tenros (e embaraçosos) ou nos de ataques psicóticos com os olhos esbugalhados, ela é uma das personagens mais consistentes da série prisional.
Allison Tolman (Fargo)
Quem conseguiria imaginar que a minissérie Fargo, baseada no longa-metragem dos Irmãos Coen, funcionaria tão bem? A trama sofre modificações, a narrativa se torna maior, mas o humor peculiar dos irmãos está presente nos 10 episódios. Um dos atrativos na produção é trazer um elenco de ponta para interpretar os ingênuos personagens como é o caso da policial Molly. Sua interprete carrega o sotaque, traz consigo ingenuidade misturada com simpatia, é encabulada na hora de ter relações, e é determinada e persistente no trabalho – afinal, para ela, os crimes que acontecem na cidade tem uma clara conexão e ela é a única que acredita piamente nisso. Allison consegue expor na tela todos esses itens e é uma versão da policial tão boa quanto a feita por Frances McDormand no cinema.
Christine Baranski (The Good Wife)
As reviravoltas que marcaram a quinta temporada de The Good Wife fizeram com que seus atores tivessem que dar o melhor de si. Para Christine Baranski não foi diferente. Se Diane Lockhart sempre mostrara-se forte, ela precisou esforçar-se ainda mais nesta temporada. Nos momentos de fúria pela traição, na hora de esquematizar as estratégias para se proteger dos outros sócios, brigando como uma leoa nos tribunais, ou quando a morte bate à sua porta, Baranski mostrou-se mais uma vez firme em seu papel, dando ainda mais tridimensionalidade à personagem e fortalecendo sua série.
Kate Mulgrew (Orange is the New Black)
A televisão está inflada de personagens masculinos fortes com histórias de fundo complicadas – o que já está bem cansativo. Então quando Orange is the New Black apareceu apresentando um extenso panorama de personagens femininas e igualmente fortes, foi um grande alívio. Nesse grande e talentoso elenco é difícil indicar quem é o maior destaque. Mas caso eu tivesse que apontar somente um deles, minha escolha seria a chefe de cozinha de Litchfield Galina Reznikov, ou simplesmente “Red”. O que faz de Red tão excelente é que a atriz Kate Mulgrew sabe muito bem diferenciar a linha entre “esteriótipo” e “arquétipo”. Não é só o sotaque russo e carregado que faz de Red uma autêntica soviética, mas a humanidade que Mulgrew traz ao papel é fundamental para tornar a russa badass uma personagem autêntica. Seu cabelo vermelho e personalidade igualmente quente torna Mulgrew quase irreconhecível no papel. Tentem encontrar alguma entrevista com a atriz. Parecem duas pessoas completamente diferentes. Isso sim é atuação.
Anna Gunn (Breaking Bad)
Quando me recordo do drama de Skylar na segunda metade da última temporada de Breaking Bad, começo a sentir umas sensações horríveis. O que ela passa com os filhos nas mãos de Walter não é brincadeira, minha gente. Ela é parcialmente culpada, pois nunca denunciara seu marido – fora cúmplice. Depois era tarde demais. Virou submissa, amedrontada, e fugiu para longe do companheiro em algum ponto. Diante de seus olhos, viu Walter se transformar em alguém que não conseguia mais reconhecer. Anna Gunn se entregou de tal maneira que é impossível não sentir o ódio, a dor, o medo que ela sente. Seus pontos altos são quando Walter pira de vez, aterrorizando-a, frustrando seu filho e sequestrando sua filha. Que banho de atuação de Gunn. Os minutos em que aparece no finale lhe dão a chance de apenas comprovar como a série precisou dela para ser grandiosa – também nos comprovando como ela mesmo cresceu ao longo dos anos junto com o seriado. Essa merece cada prêmio que receber.
Melhores Atores Coadjuvantes
Adam Driver (Girls)
Se Girls foi considerada uma das melhores séries da temporada, parte de seu sucesso se deve ao Adam, de Adam Driver. O crescimento do personagem ao longo da série é – de longe – um dos arcos mais interessantes do seriado de Lena Dunham. Adam começou como um cara extremamente creepy e misógino, e aos poucos foi se transformando em um cavalheiro gentil e carismático (embora ainda um creepy – e talvez esse seja seu charme). Na terceira temporada, Adam foi ficando cada vez mais importante para a série, praticamente dividindo os holofotes com Lena. Devo assumir que os dramas infantiloides das tais “garotas” pouco me importam, o que gosto mais de assistir é Adam (e até mesmo o Ray) lidando com seus problemas com a Hannah, tentando crescer na Broadway e conhecendo novas partes de si mesmo. É uma performance tão única, estranha e tão memorável em uma comédia que seria injusto não tê-lo nessa lista.
Tony Hale (Veep)
Ser um capacho não é fácil, mas Tony Hale consegue fazer o tipo escravo com muita facilidade como já vimos em Arrested Development e nos últimos três anos em Veep. Gary é o assistente que faz de tudo para vice-presidente Selina Meyer. Entre servir de carregador de bolsas e afins, ser atendido por um massagista, ter sua orientação sexual questionada, dar várias bolas fora, sofrer de dores no ombro e se frustrar ao achar que a chefe lhe ama, Hale faz perfeitamente o papel de tapado.
Peter Sarsgaard (The Killing)
Ray Seward é um condenado no corredor da morte, esperando sua execução por conta do assassinato de sua esposa. A detetive Linden foi quem o colocou lá, mas como de costume, nada é o que parece em The Killing e as pistas podem nos enganar. O personagem de Peter Sarsgaard é aparentemente durão e tem pinta de culpado, com toda sua atitude de psicopata, mas pouco a pouco percebe-se que tem mais ali debaixo dessa máscara e que ele pode não ser culpado. Entre dor, culpa, ironia, insanidade e duplicidade, Sarsgaard faz deste o melhor papel de sua carreira até aqui. Brilhante.
Josh Charles (The Good Wife)
O romance entre Will e Alicia nunca mais irá acontecer. Pobre, Will. Josh Charles quis sair da série, mas ficou tempo o suficiente ainda no quinto ano da produção para integrar vários dos momentos marcantes da temporada. Charles mostrou um lado mais sensível de Will, assim como também atingiu o ápice da raiva depois da “traição” da mulher que mais ama e ajudou. Os duelos de atuação entre Charles e Julianna Margulies são fantásticos, seja no momento de ira, durante julgamentos, na conversa em uma lanchonete e até mesmo no telefonema que nunca terminou.
Peter Dinklage (Game of Thrones)
Tyrion Lannister é o personagem mais ferrado de Game of Thrones. Ok, toda a família Stark é amaldiçoada (o que restou dela), mas Tyrion sofreu do dia em que nasceu até os dias atuais. Como se não bastasse ficar sem seu amor e ter que casar contra sua vontade, Tyrion fez o que o pai mandou. Não foi o suficiente. O pai Tywin e a irmã Cersei querem sua cabeça. Mais do que nunca, Peter Dinklage mostra sua ira e indignação diante de sua família após uma vida inteira sendo acusado, pagando os pecados por simplesmente ter nascido um anão. Tyrion passa pelas piores experiências até aqui, em mais uma atuação implacável e marcante de Dinklage, que dá um banho de interpretação durante seu julgamento, um dos pontos altos da temporada.
Aaron Paul (Breaking Bad)
Jesse Pinkman foi um dos cúmplices ativos de Walter White e que acompanhou a estrada de degradação do companheiro de trabalho. Enquanto White foi se revelando o rei da falta de caráter, Pinkman foi na contramão e foi adquirindo consciência conforme viu as consequências de seus atos. A ideia era só ganhar dinheiro no começo e nunca fora intenção de Jesse machucar pessoas, especialmente as inocentes. Aaron Paul tem o desafio de desenhar um personagem que está traumatizado com o que presenciou e está arrependido por seus pecados. É de partir o coração quando Walter o abraça e mente em sua cara. É de ficar alucinado com o plano de vingança quando Pinkman vira a mesa. Dá pena ver o que acontece com ele quando Walter o entrega para os bandidos. O que ocorre é uma espécie de carma e Jesse sofre como nunca sofreu. Paul passou por situações extremas e entregou novamente uma atuação memorável, combinando com o desfecho excepcional da série.
Melhores Atrizes
Elisabeth Moss (Mad Men)
Não deve ser fácil interpretar um dos personagens femininos mais importantes de Mad Men. Mas Elisabeth Moss não parece ter nenhuma dificuldade. Com as mudanças na agência, seu personagem ganhou um grande destaque, assumindo a função do genioso Don Draper. E, ao lado de Jon Hamm, foi responsável pelas melhores histórias da temporada – destaque para a apresentação ao Burger Chef, cena nível Don Draper falando sobre o Carrossel para a Kodak na primeira temporada. Elisabeth Moss interpreta perfeitamente uma Peggy com o coração partido, insegura ao fazer uma apresentação importante, sofrendo por ser mulher exercendo uma posição de liderança e sendo um dos personagens mais queridos de Mad Men. Por isso ela está nessa lista.
Robin Wright (House of Cards)
Claire Underwood é um exemplo de mulher independente. Apesar de estar ao lado do marido para tudo, ela utiliza o casamento com Frank para benefício próprio. Ela é capaz de passar por cima de tudo e de todos para conseguir o que quer. Manipular é seu ofício. Apesar de ser durona, Claire também tem um lado mais sensível. Robin Wright é perfeita ao administrar todos esses lados de sua personagem, com sua cara blasé e o sorriso falso o tempo todo. Destaque para seu desempenho desigual em “Episode 17”, em que dá uma entrevista e faz fortes revelações.
Julianna Margulies (The Good Wife)
Passados cinco anos esnobando The Good Wife, em poucos meses assisti as cinco temporadas da série e vi que burrada eu fiz ao deixar Julianna Margulies de lado. Que mulher! Detentora de uma das melhores personagens hoje na TV, no quinto ano da série Julianna enfrenta novos desafios na pele de Alicia Florrick. Os altos e baixos de seu casamento, a concepção até a mudança e consolidação de sua nova firma ao lado de Cary, além dos problemas políticos, familiares, os confrontos com Will e Diane, e por aí vai. Caramba, Alicia não conseguiu respirar e Julianna, com muita classe e talento, mostrou como uma mulher deve se portar, tomando as rédeas do seu futuro. Julianna é a alma da série e ela está melhor a cada episódio. Sua atuação é um verdadeiro deleite.
Mireille Enos (The Killing)
A detetive Linden está fadada a nunca ser feliz. Ela e o companheiro de trabalho, Holder, têm uma espécie de maldição que impede de a felicidade conviver com eles. Na terceira temporada de The Killing (a melhor até aqui), Mireille Enos mais uma vez consegue com sutileza ímpar e seriedade conduzir com impecabilidade sua personagem. Durona como policial, ela esconde por trás de sua armadura uma pessoa que também tem fraquezas, e por isso ela paga muito caro. Pobre, Linden. Nos últimos três episódios da temporada Enos mostra todo o seu poderio cênico e nos faz notar que um Emmy é pouco para ela.
Tatiana Maslany (Orphan Black)
Uma Tati é pouco. Duas é bom. Três ainda está longe de ser demais. São umas oito personagens com diferentes personalidades, visuais, tiques e sotaques distintos. Não dá pra entender as esnobadas do Emmy em relação à Tati. Afinal, ela é fácil uma das melhores atrizes em atividade hoje no meio audiovisual. Ela faz parecer fácil interpretar essa penca de papeis, contracenando consigo mesma diversas vezes. Como manter a naturalidade e a originalidade? Dos momentos cômicos com Alison, aos mais assustadores com Helena até os mais chatos com Sarah (ah, vai, ela é menos interessante de todas), Tati dá show em tela e é o que mantém o público ainda interessado em Orphan Black.
Julia Louis-Dreyfus (Veep)
Com quatro prêmios Emmy no currículo por três personagens diferentes, Julia já não tem mais nada para provar para ninguém. Ainda assim, ela continua surpreendendo e se superando como a vice-presidente dos EUA em Veep. A série só melhora e muito é devido à sua atuação. Nesta terceira temporada, ela passa por novas situações embaraçosas enquanto tenta arranjar apoio para se candidatar à presidência. Ela se humilha, quase cai em depressão, arranja autoconfiança e precisa se virar aos 44 do segundo tempo quando sua equipe acaba pisando na bola. Suas caretas são as melhores do universo, o modo como dispara palavrões em frases nunca antes de pensadas é sensacional e o seu timing cômico é impecável. Julia é unanimidade entre nossos votantes e não é por menos. Em questão de comédia, ela é a melhor atriz em atividade.
Melhores Atores
Louis C.K. (Louie)
Algumas pessoas subestimam a capacidade de atuação ao assistirem Louie, frequentemente questionando que o protagonista não requer muito trabalho e se resuma a retratar derrotismo. Louie não é um personagem que depende apenas disso e Louis C.K. está longe de ser um ator que somente faz isso. Em uma temporada onde presenciamos inúmeros instantes da vida jovem de Louie, interpretado por outros atores, o ator maximizou os seus momentos minutos em cena e permitiu que dezenas de outros intérpretes compartilhassem do holofote sem que ninguém ficasse prejudicado. Demonstrar uma postura passiva para retirar o máximo das histórias que ele mesmo escreve não é o problema, é o trunfo. Na quarta temporada de Louie, podemos acompanhar um protagonista em um eterno ciclo de felicidade e tristeza que se intercalam perfeitamente com a narrativa da série. Ele é um homem mais reage do que age, uma linha que ficou cada vez mais embaçada nessa temporada em que ele sofreu com um dos sentimentos mais complicados do homem: amor.
Kevin Spacey (House of Cards)
Esta lista de atores é quase que repleta por anti-heróis, não sendo exatamente os exemplos perfeitos a serem seguidos. Frank Underwood é um desses casos. O político volta para a segunda temporada provando desde o primeiro episódio que é implacável e não está aí para brincadeira, matando com as próprias mãos, enganando, mentindo, conspirando, enfim, fazendo o que um político sacana sabe fazer de melhor. Ninguém é mais recomendado do que Kevin Spacey para interpretar este ser asqueroso e ao mesmo tempo impossível de ser odiado por nós. Conversando com o público, travando diálogos fervorosos ou dando apenas aquele olhar fatal, Spacey encontra-se como há anos não conseguia no cinema. Obrigado pelo presente, Netflix.
Michael Sheen (Masters of Sex)
Foi uma surpresa não ver Michael Sheen entre os indicados ao Emmy deste ano, uma das maiores da premiação. Isso porque Sheen fez um trabalho excepcional como o ginecologista William Masters, pioneiro nos estudos sobre o sexo numa época arcaica em relação ao tópico. Sheen tem a sutileza costumeira, aliada a muita disciplina, qualidade para aparentar contido com seus desejos, frustrações e limitações, além de conseguir demonstrar emoção e explosão com excelência, como fica claro no episódio “Catherine”, o melhor da primeira temporada da série. É um trabalho difícil e extremamente bem efetuado.
Jon Hamm (Mad Men)
Don Draper é possivelmente o personagem mais interessante da história da TV. O personagem é mistério puro, ao mesmo tempo que reflete tão bem a nossa sociedade, as mudanças dos tempos e até nós mesmos. Nesta meia temporada, Jon Hamm novamente destrói na pele de Draper. Ele sofre, enche a cara, passa finalmente por cima do seu orgulho, tenta recuperar seu casamento (sem sucesso, como de costume), até mesmo se humilha e chora – e quando ele o faz, a gente quer chorar junto, de tão espetacular que é Hamm. A atuação de Hamm é tão incrível que em uma cena em específico, quando lhe é perguntado se ele aceita tal acordo, ele responde o “ok” mais significativo e carregado de emoções e nuances já presenciado por nós, humanos. Jon Hamm é assim bom!
Matthew McConaughey (True Detective)
True Detective entrega tudo de bandeja para Matthew McConaughey. Ele tem todo o espaço que desejar para entregar monólogos reflexivos, atirar olhares profundos para as paisagens, ter uma linguagem corporal morosa, esbravejar com o seu sotaque e, lógico, como todo bom agente da lei, chutar bundas. E isso não é ruim! Na realidade, McConaughey não desperdiça a oportunidade. Entregando-se ao papel com uma intensidade assombrosa, o ator sabe usar as centenas de ferramentas que lhe são oferecidas. Por mais que True Detective possua seus críticos, é difícil não reconhecer que Matthew McConaughey foi uma bela adição
Bryan Cranston (Breaking Bad)
Que tipo de emoção Bryan Cranston não passou na reta final de Breaking Bad, talvez a melhor série já vista na TV? A transformação de Walter White em Heisenberg foi completada com sucesso e com isso Cranston teve a possibilidade de destruir mais uma vez em cena e superar seus níveis de atuação, seja com muita cara de pau e falsidade, lamentação verdadeira, até mesmo nos extremos de vingança, arrependimento, raiva e maldade. Não dá pra explicar em poucas palavras o que Cranston faz com seu personagem nos últimos 8 episódios da série, mas o que dá pra afirmar é que poucas vezes vimos alguém tão comprometido com um papel em uma produção audiovisual, e tampouco um personagem tão fascinante quanto Walter White (talvez perdendo só para Don Draper mesmo). Merece todos os prêmios do mundo ao fechar sua carreira em Breaking Bad no seu ápice.
Melhores Episódios
The Killing – S03E10: Six Minutes
Direção: Nicole Kassell – Roteiro: Veena Sud
Exibido originalmente em: 28 de julho de 2013
The Good Wife – S05E05: Hitting the Fan
Direção: James Whimore – Roteiro: Robert King & Michelle King
Exibido originalmente em: 27 de outubro de 2013
Louie – S04E03: So Did the Fat Lady
Direção: Louie C.K. – Roteiro: Louie C.K.
Exibido originalmente em: 12 de maio de 2014
Mad Men – S07E07: Waterloo
Direção: Matthew Weiner – Roteiro: Carly Wray & Matthew Weiner
Exibido originalmente em: 25 de maio de 2014
Breaking Bad – S05E14: Ozymandias
Direção: Rian Johnson – Roteiro: Moira Walley-Beckett
Exibido originalmente em: 15 de setembro de 2013
Melhores Séries (Comédia)
Girls
Parece que Girls estreou ontem, mas em 2014 a série escrita e criada por Lena Dunham chegou a sua terceira temporada com uma aura muito mais juvenil e leve. Depois de uma segunda temporada bastante autoral e experimental, o terceiro ano da trajetória de Hannah Horvath apostou em mais sorrisos e mais desenvolvimento de histórias a longo prazo. Exploramos mais o universo de Jessa e sua luta para se manter sóbria, as crises existências de Shoshana, a depressiva nova vida de Marnie, e a mais nova jornada de Hannah para publicar seu livro. Tivemos excelentes momentos, como o divertidíssimo episódio “Beach House” (escrito pelos três chefões da série: Lena, Judd Apatow e Jenni Konner), já cimentado como um clássico; e os desconfortos familiares promovidos por “Flo” (também graças a excelente participação da atriz June Squibb). O que mais ficou claro na terceira temporada foi que Lena finalmente encontrou o balanço ideal entre a comédia escancarada e a melancolia iminente presente em todos os momentos da vida.
Broad City
Abbi Jacobson e Ilana Glazer, duas melhores amigas e comediantes, iniciaram as aventuras de Broad City muito antes da exibição do primeiro episódio na TV. A dupla escrevia, filmava e chamava amigos para participar de uma séries com vários esquetes produzidas pelas duas no Youtube. Até que a genial Amy Poehler assistiu aos vídeos e se apaixonou, transformando o hobby da dupla em uma comédia do Comedy Central. A série explora o relacionamento entre duas amigas slackers de vinte e poucos anos, que elevam o conceito de relaxar nas horas vagas à enésima potência. A premissa não anda muito para a frente. Cada episódio nos convida a assistir as situações nada glamourosas nas quais as duas se envolvem. O humor mistura toques de Louie e It’s Always Sunny in Philadelphia, introduzindo semanalmente momentos guiados pela Lei de Murphy. Nessa maré que inunda a televisão com ótimas comédias estreladas e/ou escritas por mulheres, as desventuras de Abbi e Ilana se destacam pelo charme e personalidade “caseira” da coisa. É refrescante ter no ar uma comédia com duas mulheres que não se levam a sério simplesmente porque não querem, ou uma série que vai te dar boas gargalhadas e pouca reflexão.
Silicon Valley
Esta não é uma daquelas comédias hilárias ou com piadas prontas. Nada disso. Criada por Mike Judge, a série veio devagarinho, quase que sem graça em seu piloto – que honestamente quase me fez desistir. Mas a cada episódio, o seriado foi se firmando como um retrato perfeito (presumo) e muito bem humorado do funcionamento do Vale do Silício e como é um campo disputadíssimo, lotado de muitos querendo faturar milhões com a nova invenção tecnológica e também de gente que não tem uma ideia muito clara do que está fazendo. A linguagem um tanto específica utilizada na série acaba sendo facilmente aceita porque os personagens são ótimos e as situações são ao mesmo tempo bizarras, vergonhosas e difíceis de crer. Os verdadeiros nerds são esses! Além do mais, a série tem a piada mais genial de todos os tempos envolvendo pênis e masturbação. Vale totalmente a pena.
Orange is the New Black
Uma série sobre um presídio de mulheres. Tudo poderia dar errado se isso fosse feito pelas pessoas erradas. Poderia ser apenas um atrativo para homens assistirem mulheres se pegando. Mas não é nada disso que acontece. OITNB mostrou-se uma série muito competente ao ir além dos estereótipos tanto de prisão quanto de mulheres. Mesmo todas uniformizadas, as personagens têm suas diferenças e personalidades muito peculiares, sendo fácil identifica-las. Elas vão além de suas aparências e a série é craque em mesclar os dramas de cada uma dessas mulheres, sem julgá-las por seus atos ou passado, injetando humor em doses nada homeopáticas a partir de ótimas personagens e uma estupenda narrativa. Sem dúvida, umas das melhores séries da TV (ou da internet, como preferir).
Louie
Veep
Lembram de como The West Wing mostrou, de forma séria, como funcionam as coisas dentro da Casa Branca? Então, Veep faz isso, mas da forma mais satírica possível – ou talvez a mais realista de todas. Se no Brasil temos políticos como Tiririca e neste ano há candidatos como Kid Bengala, Kleber Bambam e Dr. Rey, por que nos EUA as pessoas levariam a política a sério? Selena Meyers gostaria de ser levada com mais seriedade, porém sua tentativa de ser a nova presidente dos EUA acaba sendo mais complicada do que parece, afinal sua equipe é composta por muita gente que não sabe o que fazer exatamente. Como jornalista, me envolvo um pouco no meio político e sei que essa realidade apresentada na série não foge muito da realidade. Enfim, Veep é uma grande série por apresentar esse cenário com um timing cômico perfeito, cheio de situações embaraçosas, atuações acima da média, uma narrativa bem estruturada, além de apresentar o melhor debate político da história.
Melhores Séries (Drama)
Masters of Sex
Com o fim de Dexter (graças ao bom Deus) e a decadência de Homeland, o canal Showtime teve que colocar alguma coisa que prestasse no ar. Pois bem, a decisão de contar a história real de William Masters e Virginia Johnson, os precursores dos estudos sobre o sexo nos EUA, não poderia ter sido mais certeira. O assunto é tratado com sutileza pelos roteiristas, da mesma forma que a dupla o tratava. A abordagem é interessante por trazer o olhar das pessoas da época sobre o sexo, como havia preconceito com ele e desinformação sobre – algo que ainda ocorre. A ambientação de época é perfeita, os dramas intimistas também são excelentes e o elenco é fantástico. Esta é uma série que só tende a melhorar – ao menos, é o que se espera.
Game of Thrones
Confesso que Game of Thrones nunca esteve entre minhas séries favoritas e tampouco uma das mais aguardadas a cada temporada. Porém, seu quarto ano fez com que eu realmente me apegasse à ela. Pra variar, existem várias mortes inesperadas e impactantes, mas o que ganha força aqui é a jornada de seus personagens principais, Tyrion, Cersei, Jaime, Sansa, Arya, Daenerys, Jon e Brienne. Diferente das temporadas anteriores, parece que a série conseguiu dar uma enxugada em tantas tramas paralelas. Elas existem, no entanto os roteiristas encontraram uma maneira de conta-las sem prejudicar o ritmo narrativo, que não parece mais ser cortado a cada cinco minutos para contar sobre um núcleo de cada vez e de forma superficial. A história em si começa a ficar bem mais interessante e o elenco continua mandando bem em cena, além de a produção se manter impecável.
The Good Wife
Quando se questiona sobre a temporada de alguma série, geralmente se pergunta “o que aconteceu até agora?”. Sobre a quinta temporada de The Good Wife a pergunta deveria ser “o que não aconteceu?”. A qualidade da série sempre fora alta, porém neste quinto ano TGW se arriscou como nunca colocando dois pontos de reviravolta geniais na trama, com a mudança de firma e a morte de um personagem central sem nem ao menos dar um aviso prévio de que isso ocorreria. Todos os personagens tiveram seus momentos de destaque, contando com algumas das figuras femininas mais fortes da TV, mas a série é todinha de Alicia Florrick e suas mudanças. TGW ficou no mesmo patamar dos seriados da TV paga, o que é dificílimo quando se tem 22 episódios para a temporada ser destrinchada. Mesmo assim, não há um episódio sequer avulso, só para encher linguiça. The Good Wife é uma baita série que você deveria assistir desde ontem.
True Detective
Mad Men
A primeira parte da sétima e última temporada de Mad Men foi nada menos do que espetacular. Se havia alguma dúvida sobre o desenvolvimento da história em tão poucos episódios, logo tivemos a confirmação de que o drama continua sendo uma das melhores produções atualmente. Repleta de momentos marcantes, desde a nova estruturação da agência até a despedida de um personagem querido ou a pequena (e importante) participação de Sally, a série teve tudo o que precisávamos. Iniciando com a infelicidade de Don, logo tivemos o seu retorno à agência para ser subordinado de Peggy, proporcionando as melhores cenas de interação da dupla (incluindo a icônica dança ao som de My Way). Nada mais justo, afinal, assistirmos a aclamada apresentação para a Burger Chef junto com um orgulhoso diferente Don. No meio disso, aquele suspense sobre o futuro da agência com decisões, a chegada do homem à lua e uma música de despedida. É, Mad Men, sentiremos sua falta.
Breaking Bad
Nessa altura do campeonato vocês já viram tudo o que tinha pra ver de Breaking Bad. Caso não tenham o feito, saibam que vocês estão perdendo a melhor série da vida. Os últimos episódios marcam a TV por trabalhar brilhantemente com a face de um homem que carece de moralidade e perde todos os seus valores ao longo de seu percurso. O seriado sempre abordou essa quebra de ética do ser humano e costumeiramente colocava à prova seus personagens, com Walter sendo o símbolo máximo da ruptura com o bem, apesar de Skylar e Jesse terem ido pelo mesmo caminho, mas no meio do percurso acabaram se reencontrando, de um jeito ou de outro. Walter sempre fora um homem que só se importava consigo mesmo – apesar de ele discursar durante as cinco temporadas o oposto –, tornando-se um monstro, como ele mesmo se refere no final da temporada. Ao longo dos anos Breaking Bad foi inovando a TV, principalmente por se aproximar e até superar o cinema em termos técnicos e cênicos. Breaking Bad nunca subestimou a inteligência do público e por isso ela hoje é tão reconhecida, porque nunca deixou de aposta na qualidade máxima. É triste deixa-la ir, mas também sentimos satisfação ao nos despedirmos da série no seu auge.
Todos os textos por Rodrigo Ramos, exceto “Bellamy Young (Scandal), Elisabeth Moss (Mad Men) e Mad Men” por Dierli Santos; “Kate Mulgrew (Orange is the New Black), Adam Driver (Girls), Girls e Broad City” por Flávio Augusto; e “Louis C.K. (Louie), Matthew McConaughey (True Detective), Louie e True Detective” por André Fellipe.
Fizeram parte desta eleição
Dierli Santos, jornalista, colaboradora do site Ligado em Série
Flávio Augusto, jornalista, editor do site Bolas na Parede
Rodrigo Naressi, colaborador do site Box de Séries
Rodrigo Ramos, jornalista, editor do site Previamente
Fillipe Queiroz, aficionado em séries
Também colaboraram
André Fellipe, aficionado em séries, colaborador dos sites Previamente e Série Maníacos
Mateus Borges, aficionado em séries, colaborador do site Série Maníacos
Fotos: AMC, HBO, CBS, Showtime, Netflix, Comedy Central, FX, BBC America, ABC.
Confira também as listas dos anos anteriores
Melhores da TV na Temporada 2012/2013
Melhores da TV na Temporada 2011/2012
Melhores da TV na Temporada 2010/2011
Acertaram em quase tudo novamente. Só lamento uma ausência injustificável: Hannibal tanto para melhor drama, bem como para o seu incrível elenco. Só posso entender que ninguém a tenha visto, do contrário, é incompreensível. De toda forma, meus parabéns pelas demais escolhas.