Com a ausência de negros entre os indicados ao Oscar, fizemos um levantamento para mostrar como a indústria cinematográfica tem retrospecto em escalar atores caucasianos em papeis de negros, asiáticos e latinos
Apesar de ter premiado Lupita Nyong’o como melhor atriz coadjuvante em 2014, o Oscar nem sempre indica atores e diretores negros para a sua noite de premiações. Tendo como exemplo as duas últimas edições, em que profissionais negros ficaram de fora, apesar de excelentes representantes. Samuel L. Jackson, grande destaque em Os Oito Odiados, de Quentin Tarantino, Michael B. Jordan, em Creed: Nascido Para Lutar (Sylvester Stallone, um dos poucos atores brancos do filme, está indicado) e Idris Elba por Beasts of No Nation (ganhador o SAG de melhor ator coadjuvante) poderiam ter sido facilmente lembrados pela Academia neste ano. A maior ausência da edição anterior foi a diretora de Selma, Ava DuVemay. Teríamos a primeira indicação à uma diretora negra na história do Oscar.
O espaço dado para atores não-brancos é bem restrito na indústria cinematográfica, principalmente quando falamos dos blockbusters. O que amplia essa problemática é a utilização de atores brancos para representar personagens de outras etnias. O exemplo mais recente dessa questão veio com a divulgação do longa Deuses do Egito, que estreou nesta semana no Brasil e nos EUA. Na produção, que como indica o título se passa no Egito, tem os europeus Gerard Butler e Nicolaj Coster Waldau interpretando deuses da mitologia egípcia. Chadwick Boseman, único negro do elenco, criticou explicitamente a situação. Boseman deu ênfase a falta (ou quase inexistência) de filmes com orçamento alto protagonizados por atores negros. Após a série de comentários negativos na internet, a produtora Lionsgate enviou uma declaração para a imprensa estadunidense:
“Nós reconhecemos que é nossa responsabilidade ajudar a garantir que as decisões de elenco reflitam a diversidade e a cultura dos períodos retratados. Neste caso, nós não conseguimos fazer jus aos nossos próprios padrões de sensibilidade e diversidade, pelo qual pedimos sinceras desculpas. A Lionsgate está profundamente empenhada em fazer filmes que refletem a diversidade das nossas audiências. Na próxima, faremos melhor”.
Lançado em 2014, Êxodo: Deuses e Reis, do renomado diretor Ridley Scott, também utilizou brancos para representar egípcios. Entre eles, Christian Bale, Joel Edgerton, Aaron Paul e Sigourney Weaver. Há também exemplos do século XX. Em A Estirpe do Dragão, de 1944, Katharine Hepburn, vencedora de quatro estatuetas douradas, interpreta uma chinesa, mesmo não sendo descendente de asiáticos. Já em 1965, o britânico Laurence Olivier interpreta Othello na produção homônima. O personagem adaptado da obra de Shakespeare é negro, mas seu intérprete é caucasiano. Para interpretá-lo, a produção simplesmente o pintou de preto, o que deixa a situação ainda mais absurda.
Toda a história do cinema demonstra o problema da falta de diferentes etnias em cena, mas alguns sucessos recentes esboçam mudanças. Grande parte dos personagens da franquia Velozes e Furiosos são negros e hispânicos. No mais novo longa da saga Star Wars, O Despertar da Força, temos um personagem negro que é central na história. Na TV o cenário é menos preocupante. Empire, uma das séries de maior sucesso nos EUA, possui um elenco composto em sua maioria de negros. Nas premiações televisivas, o reconhecimento vem aparecendo também. As últimas atrizes vencedoras do prêmio de melhor atriz em série no Globo de Ouro são respectivamente Viola Davis (How to Get Away with Murder) e Taraji P. Henson (Empire). Davis também conquistou um Emmy na mesma categoria por sua atuação no seriado.
Como já falamos neste texto e em outro artigo, o problema não é o Oscar em si, mas a indústria como um todo. Atores caucasianos vêm interpretando papeis de outras etnias desde que o cinema iniciou. Para ajudar a ilustrar isso, o site ScreenCrush montou um vídeo com quase 60 interpretes que viveram na telona personagens incompatíveis com sua origem e cor da pele. Entre eles estão Marlon Brando, Richard Gere, Elizabeth Taylor, Al Pacino, Rooney Mara, Jake Gyllenhaal, Russell Crowe e Ben Affleck. Confira a seguir.
Por Mikael Melo