Os 20 anos de Pokémon

Relembramos a trajetória da franquia em seu vigésimo aniversário

Hoje, dia 27 de fevereiro, lá em 1996, o mundo estava prestes a mudar. Ok, talvez eu esteja exagerando um pouco. Mas pelo menos para uma boa quantidade de pessoas, o mundo mudou sim. Neste dia, eram lançados no Japão os games Pokémon Red e Pokémon Green. Por causa disso, o Previamente preparou essa pequena coluna especial em comemoração aos 20 anos da franquia.

O criador Satoshi Tajiri, com uma equipe de menos de 10 pessoas, jamais imaginaria o sucesso que os games teriam. Para mim, o fator chave do sucesso da franquia de lá e até hoje tem nome: comunicação. Desde o começo, numa era em que a internet ainda estava engatinhando, Pokémon sempre a teve como pilar principal. Por quê? É só analisar: dois jogos. Cada um com minúsculas diferenças entre si. Alguns Pokémon só estão presentes no primeiro, outros, no segundo. Além destes, ainda tinham criaturas que só conseguiam evoluir – passar para o próximo estágio – se trocadas com um coleguinha. E foi com esse princípio que a franquia explodiu.

O jogador, se quisesse completar 100% do jogo, era obrigado a sair de casa. A falar com pessoas. E, por que não, fazer amigos. Você fala com um amigo, que fala com outro, e com outro, e com outro, e no fim tá todo mundo jogando.

E nesse sucesso todo, seguindo um certo padrão do Japão, surgiu o anime. Ou desenho, como preferirem. Também um tremendo sucesso na terra do sol nascente, a animação ia bem até um certo acontecimento fazer o mundo inteiro conhecer a série – da pior forma. O famigerado episódio 38, graças a luzes fortes e piscantes, causou ataques de epilepsia em diversos espectadores japoneses. O ocorrido, noticiado no mundo todo e inclusive no Jornal Nacional, causou um impacto tremendo – de referências ao ataque em diversas áreas da cultura pop (Os Simpsons, por exemplo) à avisos de atenção com a luz em praticamente todos os animes e jogos japoneses desde então.

O que certamente abalou o sucesso da franquia não foi o suficiente para a derrubar. Depois de alguns meses de hiato, o anime retorna com força total às telas japonesas – e parte para o mundo. Com lançamento em 1999 no Brasil, na Rede Record (sim, lançou na TV aberta primeiro!), começou uma febre. Era Pokémon pra lá, Pokémon pra cá. De repente todo mundo sabia quem era o Pikachu. Tendo como embaixadora a apresentadora Eliana – com direito a clipes e músicas bizarras abordando o tema –, toda criança no Brasil queria pegar 150 (Pokémon, risos). Os filmes da franquia levaram milhares ao cinema, sendo grandes lançamentos. Eu mesmo fui pela primeira vez ao cinema para assistir Mewtwo VS Mew.

A segunda geração – Gold e Silver – foi marcada por um grande esfriamento dessa mania, pelo menos aqui no Brasil. No Japão, os jogos continuaram bombando. A segunda geração nos trouxe uma história mais profunda, a possibilidade de revisitar o continente da primeira e – o que mais animou todo mundo – 100 novas e fresquinhas criaturas. Sempre com a comunicação em mente, a versão japonesa de Pokémon Crystal até mesmo ensaiou um centro de comunicação global no jogo, onde conectando seu Game Boy Color com um celular, era possível trocar Pokémon com pessoas em qualquer lugar do Japão. Mas, por ser uma tecnologia muito cara para a época, não vingou.

No Brasil, a segunda geração foi marcada por uma certa decadência da marca. A Globo conquistou as crianças com a franquia rival – Digimon – e Pokémon se apagou. Mas não por muito tempo. Veio a terceira geração, em 2002. Uma das mais controversas. Trouxe inúmeras mudanças. Algumas muito bem recebidas, outras nem tanto. O esquema de ataques físicos ou especiais e EVs/IVs trouxe um mundo totalmente novo para quem gostava de treinar e batalhar com os monstrinhos, enquanto as duas versões foram as primeiras a ter diferenças na história entre si. Ironicamente, enquanto essa geração era a vigente, a Globo – a mesma que fez Pokémon apagar alguns anos antes – adquiriu os direitos sobre algumas temporadas, iniciando com a reta final da segunda geração. Exibindo no bloco final da TV Globinho e com uma certa divulgação, este lançamento trouxe um novo ar para a franquia aqui no Brasil depois de algum tempo apagada.

Terceira geração correndo, novas empresas se interessam nos filmes da franquia. Os filmes 4, 6 e 7 vêm para o país aos trancos e barrancos, enquanto o SBT exibe os três primeiros – graças a sua parceria com a Warner – a torto e a direto aos sábados de manhã. Nessa época turbulenta houve o lançamento da quarta geração, em 2006.

Os jogos Pokémon Diamond e Pokémon Pearl também trouxeram uma grande revolução: a internet. Agora, era possível trocar e batalhar com amigos ao redor de todo o globo. Foi uma explosão para a época. Era surreal. Mais uma vez, a comunicação foi o pilar do sucesso. Quem não queria trocar com aquele amigo que mora longe? No auge do crescimento da internet, esse tipo de adição fez com que o engajamento e a discussão sobre a franquia se tornasse onipresente.

Enquanto isso, no Brasil, a RedeTV deu a louca e resolveu que queria passar Pokémon. Desde o começo. A atração, que serviria de tapa buraco na programação até outro programa ficar pronto, fez tanto sucesso que fixou-se no horário. Com dois episódios por dia, a emissora rapidamente limou tudo o que havia disponível e, sem querer, reacendeu uma chama e criou uma nova geração de fãs aqui nas nossas terras.

A quinta geração, Black & White, também veio com uma grande dose de controvérsia. Vários Pokémon de qualidade duvidosa – incluindo sorvetes e sacos de lixo – levaram alguns fãs ao delírio, no mau sentido. No entanto, os jogos nos trazem muitas coisas boas. A história, por exemplo, abordada nos jogos é de longe a mais profunda de todas as gerações, inclusive a que sucede. Quanto a inovação, os jogos trouxeram gráficos mais bonitos e de encher os olhos, junto com novas e facilitadas formas de se comunicar com os amigos no jogo ou fora dele através do Dream World, um site em que era possível conectar suas informações.

Por aqui, graças a globalização – talvez – a franquia ganhou um certo crescimento quanto a produtos licenciados e vendidos por aqui por essa época. A Copag, empresa especializada em jogos de cartas, tomou a frente para trazer o card game à tona de volta no Brasil. Embora nunca tivesse saído, o jogo estava apagado por aqui, recebendo apenas versões importadas – e caríssimas. A Copag trouxe um novo ar, traduzindo novamente as cartas para o português, fazendo uma distribuição digna e lançamentos com preços super acessíveis. E deu certo. Hoje em dia virou uma cena comum as crianças levarem suas cartas para trocar na escola.

E, por (quase) fim, chegamos a geração atual. Já quase no fim, a geração de Pokémon X e Pokémon Y elevou a franquia no mundo como um todo de uma forma que não se via há anos. Em primeiro lugar, a divulgação ficou globalizada. Antes, era tudo anunciado no Japão primeiro, e inclusive os jogos lançavam antes por lá. Agora, todas as novidades foram contadas em tempo real para o mundo todo, e os jogos tiveram uma data de lançamento global. Isso deu muito certo, pois trouxe muita gente antiga de volta e gente nova para a franquia, jovens ou adultos. Os jogos catalisaram ainda mais a comunicação global. Agora você pode jogar com qualquer pessoa, mesmo que você não conheça. Além de tudo isso, os gráficos totalmente em 3D trouxeram um frescor totalmente novo.

E eu nem tive tempo de falar dos remakes, me aprofundar no TCG ou sequer citar algum dos mangás. Com esse breve histórico, encerro minha coluna em comemoração aos 20 anos da franquia do Pikachu. Fazendo ou não parte da sua vida de diferentes formas, todo mundo tem que reconhecer o impacto que o monstrinho causou no mundo.

Por Paulo Henrique Testoni

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