Beyoncé, Kendrick Lamar, Lady Gaga, David Bowie e Robyn estão entre os donos dos melhores álbuns dos anos 2010.
Ao longo da década tivemos novas descobertas, ascendências, artistas chegando à maturidade musical e entregando seus melhores trabalhos, a música negra tendo cada vez mais espaço no mainstream e paradas de sucesso (apesar de o Grammy nunca ter dado o prêmio de melhor álbum para um negro durante toda a década), gêneros musicais sofrendo mutações e bebendo de influências atuais e do passado. Entre baladas poderosas de amor e coração partido, passando por músicas eletrônicas e pop sem medo de serem pura diversão, até bandeiras levantadas em defensa das minorias e crítica social, a década trouxe trabalhos que serão lembrados por muito tempo como os melhores de sua época. Tentando fazer um recorte do que foram os anos 10, o Previamente elegeu os 20 melhores discos da década de 2010 e você confere a lista completa agora.
20. Robyn – Honey (2018)
Depois de oito anos sem lançar nada próprio, Robyn reapareceu em 2018 e não decepcionou. Entre o lançamento do maravilhoso Body Talk até Honey, foram várias participações com outros artistas, em especial a parceria com o Royksopp, que rendeu ótimas músicas. A cada música nova, a expectativa de um lançamento próprio se reacendia. Então no meio do ano veio a confirmação e quando chegou o lançamento, depois de já ter morrido de amores pela faixas que já haviam sido lançadas (“Missing U” e a faixa-título), o resto do álbum é uma coletânea de faixas bem produzidas, com letras que formam um diário de um fim de relacionamento e a volta por cima. A própria Robyn contou em uma entrevista que a ordem das músicas no álbum foram escritas em ordem cronológica. E quem mais conseguiria fazer uma música dançante em um momento tão emocional quanto ela? “Dancing On My Own” do Body Talk está aí para mostrar do que ela é capaz. É um álbum repleto de pérolas como “Because It’s In the Music” e “Ever Again”, que tem uma batidinha anos 80 maravilhosa e extremamente nostálgica. Certamente valeu a pena esperar todo esse tempo. — Darlan Brandt
Faixas de destaque: “Missing U” / “Because It’s in the Music” / “Ever Again”.
19. Gal Costa – Estratosférica (2016)
Gal Costa é o tipo de pessoa que nasceu para brilhar. Há artistas e há gênios, e Gal está na segunda categoria. Mesmo não compondo, a cantora, atualmente com mais de 70 anos, ainda continua no auge do seu talento de interpretar as canções de forma ímpar. Com Estratosférica, de 2016, ela trouxe um trabalho arrojado, revisitando o suingue baiano, o tropicalismo, mas mergulhando no que há de novo, trazendo composições de Criolo e Mallu Magalhães. Ela se arrisca com arranjos eletrônicos, rock, metais, pop e balanço. Ela interpreta as baladas românticas como poucas pessoas, mas se sai muito bem também em faixas mais maliciosas como “Por Baixo”, de Tom Zé, assim como nas mais densas, a exemplo de “Dez Anjos”, de Criolo e Milton Nascimento. Mesmo com a idade avançada, Gal não quer viver no passado dos antigos sucessos, diferente de alguns companheiros de longa data, e mantém-se inovando, ousando, sofrendo uma metamorfose ambulante sonora, porém sem perder a identidade e singularidade. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “Sem Medo Nem Esperança” / “Estratosférica” / “Dez Anjos”.
18. Paul McCartney – Egypt Station (2018)
Talvez Egypt Station seja um 8 ou 80 para os fãs do ex-beatle. Isso porque, além de Paul McCartney permitir influências de produtores atuais na maioria das faixas – algo preocupante para fãs de longa data, no sentido de a “originalidade” de Paul não ficar tanto em evidência –, Egypt station é um álbum conceitual. Não à toa, a faixa de abertura é um prólogo de poucos segundos apenas com sons reais de uma estação de trem. Ou seja, conceitualmente Paul McCartney vai nos levar para uma viagem de trem, passando por diversas estações – e cada música seguinte representa uma delas. De início, “I don’t know” já mostra um McCartney a todo vapor, numa balada formada por voz e piano, para logo depois pararmos na estação “Come on to me”, um pop-rock chiclete, com direito a riffs viciantes e uma batida ritmada que dificilmente vai sair da cabeça depois de uma primeira audição. As duas músicas, inclusive, foram escolhidas para formarem o primeiro single do disco. Há, também, incursões mais, digamos, diferentonas para a carreira de Paul McCartney, como nas faixas “Who cares” e “Fuh you” – esta provavelmente enfureceu alguns fãs, já que possui uma letra bastante rasa, muito incomum na carreira solo do ex-beatle. Inclusive há uma parada no Brasil com “Back in Brazil”. É cheia de clichês musicais na visão do gringo que olha nosso país lá de fora? Sim. Mas dá para perdoar por ser Paul McCartney? Claro. — Ewerton Mera
Faixas de destaque: “Back in Brazil” / “I Don’t Know” / “Come on to Me”.
17. Sharon Van Etten – Are We There (2014)
A música é a arte que possui a mais alta permissão para o artista se expôr, se assim ele desejar. Sharon Van Etten constantemente busca essa libertação de seus sentimentos. Suas composições são repletas de narrativas de amores que lhe desgastam, marcam, machucam, matam, fazem com que ela seja quem é. O clima de melancolia permeia Are We There do começo ao fim. Na interpretação de Sharon, sente-se as variações emocionais. Belamente construído, o disco tem uma produção impecável, com extrema sutileza nos acordes, combinando perfeitamente com os vocais da cantora. Are We There é um álbum visceral, em que Sharon se expõe por completo emocionalmente. Com isso, nós é que ganhamos o presente, tendo a oportunidade de ouvir um dos discos mais belos, poéticos e irretocáveis da década. — Rodrigo Ramos
Faixas de Destaque: “Your Love is Killing Me” / “I Love You But I’m Lost” / “Our Love”.
16. Frank Ocean – channel ORANGE (2012)
Quando ouço Frank Ocean, vários artistas me vêm à mente. Nas, Jamie Foxx, Kanye West, Pharell, Usher, Robin Thicke. Ocean é um pouco de cada. Ele não é o tipo de rapper que faz rimas eletrizantes e coloca todos para pular. Tampouco ostenta sua condição financeira ou trata as mulheres de forma pejorativa. Seu disco de estreia, channel ORANGE, é um disco sobre dor, coração partido, histórias de amor, sexo, religião e drogas. Com melodias calmas e performances que o deixam nu perante o ouvinte, Ocean honra o R&B ao falar de amor de coração aberto (“Thinkin Bout You”). Também fala de sexo de maneira sutil e até bonita (“Pyramids“), critica a religião (“Bad Religion“) e mostra a decadência humana (“Sweet Life”). Contando com ritmos hipnotizantes e sensuais, Ocean se mostra um compositor de mão cheia e um cantor competente. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “Thinkin Bout You” / “Pyramids” / “Bad Religion”.
15. Queens of the Stone Age – …Like Clockwork (2013)
Um álbum com canções de certa forma diferentes do que o que Queens of the Stone Age costuma fazer. Bem mais intimista e reflexivo. Um disco contemplativo, que mostra outro momento da banda, deixando um pouco os hits de lado e pegando pesado na introspecção. A bela “I Appear Missing” é um misto dessas duas coisas. — Ruca Souza
Faixas de Destaque: “…Like Clockwork” / “I Appear Missing” / “If I Had a Tail”.
14. Kanye West – My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010)
Atualmente, estou tentando falar o mínimo de Kanye West. Porém, não tem como debater a década sem comentar, nem que rapidamente, de My Beautiful Dark Twisted Fantasy. Esta é a obra prima do esposo de Kim Kardashian e mostra a capacidade que ele tem (ou teve um dia) de se reinventar, rimar, compôr e surpreender. Cada faixa te transporta para um mundo paralelo, com extremo cuidado em cada música e o cantor realmente contando histórias, sem necessariamente (às vezes sim, mas nem tanto quanto em álbuns futuros) ofender terceiros (lembra quando ele era capaz disso?). Seu ego ainda não tinha saído completamente de controle e talvez seja o último álbum dele que ele conseguiu equilibrar seus devaneios. O disco é foda e sobreviveu bem ao tempo mesmo após 10 anos de lançamento. Pena que, em contrapartida, o rapper envelheceu mal como pessoa. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “Runaway” / “Monster” / “POWER”.
13. David Bowie – Blackstar (2016)
Não há dúvidas de que 2016 foi um ano de perdas irreparáveis em todas as áreas da cultura pop. Nos últimos dias perdemos uma mãe e uma filha, Debbie Reynolds e Carrie Fisher, e dias antes se foi George Michael. Ao longo dos 12 meses, outros monstros da música como Prince e Leonard Cohen se despediram. David Bowie foi o primeiro a viajar para uma dimensão distinta, talvez o local onde realmente pertença, já que a Terra é careta demais para tanta excentricidade e imaginação. Em seu 25º álbum de estúdio, Bowie mostrou que ainda tinha muito a contribuir para a música. Blackstar, por si só, já seria um grande disco, trazendo canções menos radiofônicas do que em The Next Day, deixando o puro rock um pouco de lado e trabalhando com mais elementos do jazz e dramaticidade. Porém, a obra cresce quando se ouve com a consciência de que Bowie fez de Blackstar seu epitáfio, seja estampado no encarte do LP, no vídeo de “Lazarus” ou nas entrelinhas de diversas faixas do disco. Mesmo batalhando há 18 meses contra um câncer que lhe tirou a vida, Bowie parece mais vivo do que nunca em cada faixa, se entregando ao máximo, algo que é notável na carga sentimental injetada nos versos, na (incrível) elasticidade de sua voz ou até mesmo nos longos solos de percussão e saxofone. Até o último instante, Bowie exibe versatilidade, sarcasmo e escreve uma incrível carta de despedida, uma obra devastadora e extasiante. Bowie em toda sua essência. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “Lazarus” / “Blackstar” / “Sue (Or In a Season of Crime)”.
12. Silva – Brasileiro (2018)
Aparentemente os dias de synth pop alternativo do nacional Silva acabaram. O cantor, que começou de maneira tímida no cenário musical brasileiro, alçou voos cada vez maiores, saindo do introspectivo Claridão, de 2012, para o mais conceitual e alegre Vista Pro Mar, de 2014. Em 2015, tornou o simples uma virtude com o econômico em arranjos Júpiter. Parou um tempo para se dedicar ao projeto de covers Silva canta Marisa, o que já demonstrava sua inclinação para caminhos de MPB. E por ali ficou. A prova física é seu novo álbum, Brasileiro. Do nome e da capa às músicas, com suas letras que voltam a atenção para o nosso Brasil e arranjos que gritam Caetano, Gal, Bethânia e Chico Buarque, Brasileiro parece ser uma marca para um artista em constante ebulição. A diferença, agora, é que muito provavelmente não teremos mais um Silva mergulhado nos sintetizadores da era Claridão, já que o nome da primeira faixa indica que “Nada será mais como era antes”. Se isso é algo bom ou ruim, só o tempo dirá. Por enquanto, dá para aproveitar a beleza sem medidas de músicas como “Prova dos Nove”, “Milhões de vozes” (esta em parceria com Arnaldo Antunes na composição) e “Guerra de amor”. O misto do Silva de Vista Pro Mar com o de Brasileiro surge no principal single do disco, “A Cor é Rosa”. Há, ainda, surpresas instrumentais com “Sapucaia” e “Palmeira”. — Ewerton Mera
Faixas de destaque: “Prova dos Nove” / “Milhões de Vozes” / “A Cor é Rosa”.
11. Elza Soares – Deus é Mulher (2018)
Com mais de 65 anos de carreira, considerada a cantora do milênio passado pela Rádio BBC e vencedora do Grammy Latino, a carioca Elza Soares já recebeu todo o reconhecimento que poderia, sendo redescoberta por uma nova geração ainda nesta década. Com 81 anos (ou 88, pois ela possui um segundo registro de nascimento, mas se recusa a afirmar qual é a sua verdeira idade — “Não tem idade, cara. Sou atemporal.”) na época do lançamento de Deus É Mulher, a cantora não mostra cansaço e nem sua música demonstra degaste. Pelo contrário. Elza se mantém tão atual quanto em outrora. Se com A Mulher do Fim do Mundo ela veio “denunciar tudo que não presta”, Deus É Mulher vem com a mesma pegada, porém dando mais evidência e empoderamento às mulheres.
O disco, o 33º em sua discografia, joga Elza em nova vertente, trazendo os elementos eletrônicos para suas músicas, incorporando-os aos ritmos típicos brasileiros com até mesmo inserções sinfônicas. Nas composições, que vão de canções escritas por Tulipa Ruiz até Rômulo Fróes e Alice Coutinho (com quem trabalhou em A Mulher do Fim do Mundo), Elza coloca os holofotes para falar sobre a vida do negro, critica as hienas da televisão, fala sobre o desejo sexual da mulher, explora o verdadeiro sentido da fé, dá voz às vítimas de abuso e violência, examina a hipocrisia do estado que se diz laico mas na prática faz o oposto — e, inclusive, certamente hoje Jesus teria sido morto por essas mesmas pessoas que crucificam terceiros por suas crenças discrepantes. Em suma, Elza fala sobre tudo o que vivemos no Brasil. Sua voz e suas letras ecoam neste país problemático. É um disco essencial e que representa com exatidão o Brasil de hoje. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “O Que Se Cala” / “Exú nas Escolas” / “Dentro de Cada Um”.
10. Beyoncé – Lemonade (2016)
Foram necessárias quase duas décadas de sucessos (com as Destiny’s Child e em carreira solo) para Beyoncé deixar de ignorar os problemas vividos pelos negros nos Estados Unidos. Em um momento crucial na batalha pelos direitos humanos, em meio a violência policial e o preconceito de sempre, Lemonade tem um gosto delicioso. Está longe de ser um álbum altamente politizado de ponta a ponta — “Freedom” e “Formation” são as que tocam em tal ponto –, bem diferente do tom mais incisivo nesta questão adotado por Kendrick Lamar em To Pimp a Buttlerfly, por exemplo. O disco, o sexto da carreira solo e o segundo conceitual, é uma experimentação para Beyoncé. Ela transita entre gêneros, debutando suas primeiras canções de rock (“Don’t Hurt Yourself”) e de country (“Daddy Lessons”), e faz colaborações com vários artistas renomados (Jack White, Frank Ocean, Kendrick Lamar, The Weeknd, James Blake, Father John Misty). Foram necessários 61 (!) compositores, sem contar os produtores, para moldar o trabalho mais bem acabado e interessante de Beyoncé. Poderia ter sido um desastre, mas a cantora toma os devidos cuidados para não se perder no meio de um trabalho tumultuado de gente. No fim das contas, Lemonade é acima de tudo um álbum sobre os sentimentos de Bey em relação ao maridão Jay-Z, desde as traições, as amantes (a Becky do cabelo ruim de “Sorry”), as mentiras e a vontade de fazer tudo diferente juntos (“Love Drought”), a lamentação pela situação em que a relação está, até o perdão (“All Night”). O álbum mostra que há versatilidade em Beyoncé, que definitivamente não é apenas uma cantora pop de singles chicletes. Ela é muito mais do que isso e Lemonade a põe no auge de sua carreira. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “Formation” / “Don’t Hurt Yourself” / “Freedom”.
9. Lorde – Melodrama (2017)
A evolução sonora de Lorde e a maturidade em suas letras ficam evidentes em seu segundo álbum. Indicado ao Grammy de álbum do ano, Melodrama pode ser conceituado como uma jornada de coração partido disfarçado de disco de música pop para festas e vice-versa. As canções nos levam para uma aventura na noite, começando com a empolgante “Green Light”, o tipo de faixa que dá vontade de sair cantando no meio da rua com o fone no ouvido, como se não houvesse ninguém ao redor. Noite adentro, passamos pelos agitos de “Sober” e “Homemade Dynamite”, até que a bad começa a bater com “The Louvre” e “Liability”, afinal o crush de uma noite normalmente não é para sempre, não é mesmo? A partir de “Sober II (Melodrama)” é como se Lorde analisasse a noite anterior sob efeito da ressaca, moral e física. Ela consegue fazer uma balada pop grudenta e viciante, ao mesmo tempo que aposta em algo mais cru, com voz e piano (“Writer in the Dark”). Por fim, como é de se esperar, o ser humano volta à procurar os lugares perfeitos na noite, como ilustra “Perfect Places”, apesar de ter a ciência que é apenas uma forma de preencher o vazio — mas pode também ser apenas uma maneira de extravasar, numa noite deselegante. Em suma, Melodrama é um discão da porra. David Bowie parece estar coberto de razão, de fato. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “Green Light” / “Sober” / “Perfect Places”.
8. Florence + the Machine – Ceremonials (2011)
Florence Welch é uma cantora talentosa e, mesmo com o sucesso de Florence + the Machine nos Estados Unidos, ela lutou para ficar na Inglaterra e gravar seu segundo disco da forma que achasse melhor. Bem que ela fez. Com isso, quem ganhou foi o ouvinte. Ceremonials é um disco mais expressivo, atraente e competente do que o antecessor, Lungs. A voz de Florence é poderosa a ponto de tocar no fundo da alma quando está num tom mais baixo, passando calmaria, ou alcançando notas altas e arrepiando cada pelo do corpo. Com um trabalho instrumental sensacional, contando com toques de harpas, sinos de igreja, cantos africanos, e a orquestra de cordas do Arcade Fire, Ceremonials é um dos álbuns mais completos da década e o melhor lançado por Welch até aqui. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “Shake it Off” / “Only If For a Night” / “No Light, No Light”.
7. Robyn – Body Talk (2010)
Robyn surgiu na cena musical com seu primeiro grande sucesso, “Show Me Love”, presente na trilha sonora do filme Show Bar. Anos depois, com seu álbum homônimo, em 2007, fiquei encantado com o trabalho dela e como ela tinha se tornado uma grande artista. No entanto, não estava preparado para o seu melhor trabalho, lançado em 2010. No lançamento do primeiro single “Dancing On My Own”, ela já havia indicado que o que viria pela frente seria grandioso. E Robyn não decepciona. Tenho uma relação muito pessoal com esse álbum, pois ele foi a trilha sonora de um ano cheio de problemas e desafios. É um disco que varia entre estilos diferentes (incluindo dancehall, pop, electro), sem perder a coesão, com ótimas produções músicas, temas variados, tendo o amor e relacionamentos como ponto central, porém ser ser piegas ou apelas para um sentimento exagerado. Lançado no começo da década, foi uma bela forma de abrir os caminhos para ótimos trabalhos do mundo pop que seguiram nestes últimos 10 anos. Com letras inteligentes e produção impecável, Body Talk é o pop na sua melhor forma! — Darlan Brandt
Faixas de destaque: “Dancing On My Own” / “Call Your Girlfriend” / “Indestructible”.
6. Adele – 21 (2011)
O maior destaque na música mundial em 2011 foi, disparado, Adele. Eleita a artista número 1 do ano pela revista Billboard, a garota de 23 anos provou ao mundo, na ocasião, que merece respeito — e o resto da década apenas concretizou todo o potencial da britânica. Com o álbum mais vendido em 2011 e o mais vendido do século no Reino Unido (batendo Back to Black, de Amy Winehouse), 21 tem o seu charme. Apesar de não ousar em muitos momentos, Adele faz o que sabe fazer de melhor: cantar. Ela não precisa de rodeios ou efeitos. Todo o seu talento é posto à prova em canções com notas inalcançáveis por 90% dos artistas do cenários fonográfico de hoje. O ouvinte facilmente se identifica com as dores sentidas pela cantora e o pé na bunda que ela levou, o que faz com que o disco se torne ainda mais relevante. Sentimento e voz. É tudo isso que a londrina Adele precisou para conquistar o mundo. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “Rolling in the Deep” / “Someone Like You” / “Set Fire to the Rain”.
5. Carly Rae Jepsen – EMOTION (2015)
Após lançar uma das músicas mais marcantes e bem sucedidas dos anos 2010, Carly Rae Jepsen, tendo a liberdade de fazer o que queria após conseguir muita grana para a gravadora, surpreendeu a todos — eu estou incluído nessa — com EMOTION, um álbum completamente diferente do que se esperava do sucessor de Kiss. Com notáveis referências dos anos 80, Jepsen cria aqui um disco que traz uma vibe ensolarada. É um trabalho que não tem vergonha de soar pop — são 15 faixas que trazem o pop raiz em seu DNA. Há faixas para os corações partidos, outras que pedem uma pista de dança com os amigos, e também há aquelas que te dá vontade de cantar bem alto. É um verdadeiro hinário pop, o tipo de disco que a indústria passou a valorizar menos ao longo dos anos 10, mas Jepsen representou com gosto o gênero. Nas canções, não há tragédias, grandes amores perdidos ou comentário social. E nem sempre é necessário tê-los. As canções amorosas parecem falar de crushs, tudo efêmero. E nessa efemeridade é que Jepsen se diverte relatando seus casos, mas sem soar deprimente — ao menos, não por muito tempo. EMOTION é um verdadeiro álbum pop, e de qualidade. Por isso vem recebendo tanto amor da crítica e dos amantes do gênero com o passar dos anos, motivo pelo qual está aqui nesta lista. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “Run Away With Me” / “EMOTION” / “Your Tipe”.
4. Arcade Fire – Reflektor (2013)
Apesar de muito fã ter nascido com o disco Funeral, foi com The Suburbs que nasceu minha admiração pelo Arcade Fire. As composições daquele álbum ainda me seguem e é certamente um dos melhores discos da história da música. Com um Grammy de melhor disco nas mãos, a banda tinha muita responsabilidade nas costas para seu retorno. Reflektor ganhou vida e alguns desconfiaram do trabalho. Talvez eles estivessem se esforçando demais para se provar uma das melhores bandas da atualidade. Pode até ser. Em alguns instantes, Reflektor soa um pouco presunçoso demais, mas as intenções do Arcade Fire são genuínas. Eles largaram mão de tentar abraçar um público maior e investiram em uma experimentação completa.
Os vocais continuam arrepiando e as letras não se encaixam na mesmice do universo musical atual. No meio disso, a inovação sonora da banda é evidente. São coisas malucas. De ritmos eletrônicos passa-se para um batuque que parece que o Olodum está presente na canção. O som do baixo mescla-se com as teclas do piano, a batida enfurecida da bateria e flutuamos com o arranjo eletrônico. São coisas que somente Reflektor pode nos oferecer. É um disco que tem licença para fazer o que bem entender e o resultado é mais uma obra de arte de Arcade Fire, com seus defeitos e qualidades. — Rodrigo Ramos
Faixas de Destaque: “Afterlife” / “We Exist” / “Porno”.
3. Lady Gaga – Born This Way (2011)
Após se tornar o principal nome da música pop com The Fame e The Fame Monster, que originaram singles como “Poker Face” e “Bad Romance”, Gaga se aventurou em um álbum bem mais arriscado e experimental, puxando outras vertentes sonoras dentro de seu pop afiado e marcante. Em primeiro lugar, deve ser dito que o álbum ecoa Madonna e sem ela não existiria Lady Gaga. Dito isso, Gaga faz aqui um trabalho mais competente do que a própria rainha do pop ao longo da década. Stefani Germanotta traz para dentro do álbum techno, synthpop, dance, música eletrônica, mariachi, glamour rock, darkwave, jazz, country. As inspirações vêm de Queen (tem até sample de “We Will Rock You” em “Yoü and I”), KISS, Bruce Springsteen, além da própria Madonna. No meio disso tudo, a cantora brinca e diverte-se com letras (“Judas” e “Blood Mary” podem ser hereges, mas são deliciosas), representa minorias (os LGBTQ+s podem se ver representados principalmente em canções como “Born This Way” e “Hair”) e dá aquela vontade louca de sair para dançar com os amigos. Ela fala em inglês, em espanhol, em alemão. E ainda tem a contribuição da guitarra elétrica de Brian May, do Queen, e do saxofone de Clarence Clemons, da E. Street Band. O álbum é criativo, sensual, estranho, libertador, divertido, empoderador e até emocionante. Certamente, inesperado pelo o que vimos antes de Gaga, que continuou se reinventando ao longo da década. Entretanto, Born This Way, até então, continua sendo sua obra principal e que deixa o maior legado. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “Marry the Night” / “Born This Way” / “The Edge of Glory”.
2. Daft Punk – Random Access Memories (2013)
Random Access Memories trouxe a dupla formada pelos franceses Thomas Bangalter e Guy Manuel de Homem-Christo de volta aos holofotes. O retorno foi triunfal. O disco é uma grande homenagem às eras que deram o pontapé na música eletrônica e, graças àqueles anos, hoje existe o Daft Punk. O disco começa com “Give Life Back to Music“, uma faixa que soa irônica (música eletrônica dando vida à música?) e um tanto egocêntrica – mas é o que a dupla faz aqui. Aí então começa o aquecimento do que vem pela frente. A faixa “Giorgio by Moroder” é um depoimento de Giorgio Moroder, pioneiro da música eletrônica e conhecido por difundir o uso de sintetizadores. Conforme o disco vai decolando, parece uma subida pelos anos da discotecagem.
Tem de tudo aqui. Voltamos ao tempo da disco music, com direito ao verdadeiro funk, e logo somos transportados para as discotecas lotadas dos anos 80, com a ajuda da guitarra e todo o groove de Nile Rodgers, que ajudou a transformar “Get Lucky” – ao lado de Pharrell Williams – numa das músicas mais bem sucedidas da década. É tarefa difícil não querer regredir ao passado para curtir a época de dancinhas coreografas, permanentes e pistas de dança cheias. O disco é uma verdadeira jornada que deve ser experimentada sem interrupções, para acompanhar cada nuance desta viagem musical intergaláctica, que homenageia com sucesso o passado e abre as portas para um futuro belíssimo para a música eletrônica. Afinal de contas, o Daft Punk prova que é possível fazer música autoral dentro do gênero – com qualidade, quebrando paradigmas e inovando. — Rodrigo Ramos
Faixas de Destaque: “Get Lucky” / “Giorgio by Moroder” / “Instant Crush”.
1. Kendrick Lamar – To Pimp a Butterfly (2015)
Kendrick Lamar soube a hora certa para lançar seu terceiro disco de estúdio. To Pimp a Butterfly é uma narrativa sobre a vida do rapper, porém não serve apenas como diário pessoal. Do início ao fim dos 88 minutos de duração, o LP é um atestado de insatisfação, de luta interior e exterior, um relato do racismo, do preconceito e da violência com os negros. Apesar de o calendário marcar 2015 na época de seu lançamento, o embate racial continuava em alta na ocasião e ainda está em vigor. Por mais que em países como o Brasil ainda exista gente que diga que preconceito não existe, na prática ele continua gritante, a exemplo dos vários casos de abuso policial e até de mortes de negros inocentes pelas mãos dos oficiais nos EUA – não que faltem exemplos do tipo por aqui também. Lamar fala sobre a fama e a exploração que vem com ela, e as formas como tentou escapar das amarras do dinheiro, tentando balancear a sua vida pessoal com o deslumbre causado pela exposição. Nem sempre teve sucesso, como ele descreve na emocionante “u”, sobre a ausência dele enquanto a irmã engravidava e um amigo morrera. “Abusando o meu poder cheio de ressentimento, ressentimento que se transformou em uma depressão profunda, me encontrei gritando em um quarto de hotel” é uma frase recorrente em várias faixas ao longo do álbum.
Enquanto luta com o seu interior e recusa a ser alcovitado pelo dinheiro e a fama, Lamar parte em busca de Deus e tenta fugir de Lucy (apelido carinhoso para Lúcifer). Em paralelo, o rapper preocupa-se em estabelecer a gravidade da questão da racial, inclusive declarando guerra àqueles que não são negros na explícita e fantástica “The Blacker the Berry”. “Você me odeia, não é? Você odeia o meu povo, seu plano é exterminar minha cultura. Você é mau pra caralho, eu quero que você saiba que eu sou um macaco com orgulho”, dispara Lamar.
To Pimp a Butterfly é um dos álbuns definitivos do gênero, trazendo à tona assuntos difíceis de serem engolidos pela grande massa, espinhosos. Diferente do trabalho anterior, este não faz a mínima questão de agradar o público em geral. Com influências de funk e jazz, e uma mãozinha de Flying Lotus na produção, Lamar transforma-se no maior representante do gênero, com um disco denso e urgente. Cru, poético e realista, o disco é incontestavelmente o melhor da década. — Rodrigo Ramos
Faixas de destaque: “u” / “The Blacker the Berry” / “Alright”.
Fizeram parte desta eleição:
Caio Coletti, jornalista e colaborador do site UOL.
Léo T. Motta, publicitário, supervisor musical, tradutor e redator.
Ewerton Mera, bacharel em Letras, mestre em Semiótica, professor de português.
Miro Lemos, publicitário, profissional de marketing e DJ.
Darlan Brandt, bacharel em Letras, estudante de Sistema de Informáticas, programador e DJ.
Eliza Doré Milanezi, jornalista e produtora de conteúdo.
Paulo Henrique de Moura, jornalista, diretor da Milk Conteúdo, professor no Senac São Paulo e no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
Rodrigo Ramos, jornalista, editor do site Previamente, foi programador de cinema na Cineramabc Arthouse.
Textos por Darlan Brandt, Ewerton Mera, Ruca Souza & Rodrigo Ramos
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