Melhores Séries da Temporada 2022/2023

Melhores Episódios

Andor — 1×10: One Way Out

Direção: Toby Haynes | Roteiro: Beau Willimon
Exibido originalmente em 9 de novembro de 2022

ATENÇÃO, PAIS, COLOQUEM SEUS FILHOS NA AULA DE NATAÇÃO!

Com Andor, parece que a Disney encontrou seu lugar num novo nicho de mercado que tem se mostrado bastante lucrativo: o do anticapitalismo — RISOS PRA LÁ DE NERVOSOS. Mas incongruências e impossibilidades éticas sob o domínio do capital à parte, o episódio “One Way Out” é perfeito do início ao fim.

A escolha de ambientar numa prisão o maior ato revolucionário que vemos numa série que conta a história da construção de uma revolução maior é acertada e contundente: a injustiça e leviandade arraigadas no sistema judicial; a forma com que pessoas presas são sistematicamente punidas, torturadas e despidas de sua humanidade; a conclusão de que nunca serão de fato soltas ou absolvidas. Isso tudo diz respeito ao Império no universo de Andor, mas qualquer semelhança com a realidade certamente não é mera coincidência.

E aos esmagados por um sistema tirânico, só existe uma saída (como Kino repete ao longo do episódio): revolução. O episódio conduz magistralmente um crescendo de expectativa, tensão e catarse enquanto os presos se rebelam contra seus opressores. É ao mesmo tempo lindo, violento, emocionante e doloroso. A revolução não é feita sem perdas e sofrimento, e se apresenta como solução justo porque a alternativa é a morte.

A perda de maior magnitude vem ao final do episódio, em que os presos mergulham rumo à liberdade nas águas que cercam a prisão por todos os lados. Em meio à confusão, Kino se detém e, quando exortado por Cassian a acompanhá-lo, responde simplesmente “eu não sei nadar”. Entendemos então que Kino (que liderou os presos) sabia desde o princípio que nunca poderia sair com vida da prisão ao se rebelar, e escolhe a própria morte para que tantos outros possam viver. É um ato doído e abnegado ao qual o brilhante monólogo de Luthen que encerra o episódio faz eco.

“Queimo a minha vida para forjar um amanhecer que sei que nunca verei”. — Luiza Conde

(Disney+)

The Marvelous Mrs. Maisel — 5×09: Four Minutes

Direção & Roteiro: Amy Sherman-Palladino
Exibido originalmente em 26 de maio de 2023

A relação de Midge e Susie sempre foi o foco de The Marvelous Mrs. Maisel, então é natural que tenha se investido principalmente nisto em sua última temporada. Através de flashforwords, tivemos vislumbres sobre o sucesso de Midge, que finalmente havia alçado voos maiores. Ainda não sabíamos como, e é disso que trata o lindíssimo episódio final da série. Se não fosse por sua ousadia, Midge ainda seria uma dona de casa abandonada pelo marido com um casal de filhos e nada além disso. Quando a oportunidade aparece, ela agarra com todas as forças e encanta não só o relutante Gordon Ford, mas também uma grande audiência com sua primeira aparição na televisão, a maior vitrine do mundo na época. 

Naqueles quatro minutos, Midge faz rir e nos emociona com sua força e coragem. Seus pais, Joel e Susie também olhavam cheios de orgulho para ela, assim como nós que acompanhamos essa jornada de cinco temporadas. “O mundo pertence a quem se atreve”, já diria alguma frase do finado Orkut, e é o que quer dizer Midge naquele espetacular monólogo. 

É um episódio que exalta sua excelente protagonista e as relações que ela cultivou durante sua trajetória de uma forma bonita e genuína. Lenny Bruce não foi deixado de lado, e divide uma ótima cena com a moça, que nos faz pensar no que poderia ter sido, mas ao mesmo tempo entendemos que foi como teve que ser. A cena final se passa em 2005, com Midge e Susie já em uma idade avançada, assistindo a um programa por telefone e sendo as amigas e parceiras de sempre. A série se apoia em seu elenco impecável, incluindo os fantásticos Tony Shalhoub e Marin Hinkle, e a dupla Rachel Brosnahan e Alex Borstein, alma da produção, que dominam a tela e justificam os corriqueiros prêmios que recebem, como por exemplo na cena em que trocam olhares marejados de orgulho e gratidão. É de arrepiar e é impossível não se emocionar. Deixou um gostinho de quero mais, mas foi o final ideal. E foi de aplaudir de pé. — Fillipe Chaves

(Amazon Prime Video)

The Other Two — 3×05: Cary & Brooke Go to an AIDS Play

Direção: Chris Kelly | Roteiro: Chris Kelly & Sarah Schneider
Exibido originalmente em 25 de maio de 2023

Muito difícil falar bem sobre AIDS no audiovisual. Tarefa quase impossível falar sobre AIDS fazendo comédia. Apesar disso, é sobre isso que trata um dos melhores episódios de 2023. 

Usando o tema sensível da AIDS como exemplo de algo maior e partindo para o completo nonsense, The Other Two conseguiu quase sem esforço algum arrancar risadas de algo tão sério. Qualquer pessoa que anda por redes sociais, tipo o Twitter (não, Elon Musk, não vou chamar de X), sabe que é muito difícil falar que acha que algo considerado socialmente importante ou relevante é ruim. Há um certo desconforto e um policiamento constante por grande parte das pessoas em apontar alguém como preconceituoso por não ter gostado de alguma obra (obviamente não me refiro aqui a quem usa de racismo, misoginia, homofobia, entre outros para desqualificar uma obra ou seus realizadores). Assim, The Other Two brinca com essa vigilância constante do público — para os outros e para si mesmo — colocando os personagens em uma peça que dura dias (sim, DIAS) sobre a crise da AIDS. A peça é claramente muito entediante, aborrecida e… bem… ruim, mas nenhum personagem ali tem coragem de dizer isso com medo de ser “cancelado”. É muito engraçado como as pessoas começam a levar travesseiro, laptop e outros objetos mundanos para o teatro simplesmente porque não podem não comparecer àquilo. Pontos para os roteiristas por terem feito uma crítica tão boa sem didatismo e com muita piada. — Breno Costa

(HBO Max)

The White Lotus — 2×07: Arrivederci

Direção & Roteiro: Mike White
Exibido originalmente em 11 de dezembro de 2022

Mistérios, expectativas e frustrações. Estes são os temas trabalhados no final de temporada de The White Lotus, que finalmente se encontrou no segundo ano, trabalhando temáticas mais sérias e, ao mesmo tempo, sendo mais cômica, porém, de maneira assertiva. 

Em “Arriverdeci”, vemos os personagens envoltos em situações delicadas, se relacionando com pessoas das quais não se sabe as intenções, desde os mais recentes até os mais íntimos. E a pergunta que surge no meio disso é: nós verdadeiramente conhecemos alguém? Conviver com o outro é um mistério. Para alguns, o mistério pode ser um atrativo, afinal, saber tudo também pode tornar a coisa monótona. Para outros, o fato de não saber pode causar uma sensação de desconfiança, e não há certezas, apenas presunções, seja a visão otimista (“não, ela não está me usando”) ou pessimista (“você transou com ele?”). E é aquilo, o golpe está aí, cai quem quer. É nesse devaneio descrito que as narrativas chegam ao fim na série, com momentos que vão ficar na memória dos espectadores, como a icônica frase “these gays are trying to murder me” (“esses gays estão tentando me matar”), em que o twist de quem morreu é o que menos estamos interessados neste ponto, mas, de qualquer forma, a resposta é satisfatória e digna da melhor comédia pastelão. — Rodrigo Ramos

(HBO)

The Bear — 1×07: Review

Direção: Christopher Storer | Roteiro: Joanna Calo
Exibido originalmente em 12 de outubro de 2022

Durante todo o seu primeiro ano, The Bear colocou seus personagens em situações que demandavam não só inteligência emocional (algo que os funcionários do The Original Beef of Chicagoland não possuem), como organização. Assim, quando o showrunner Christopher Storer e a roteirista Joanna Calo decidem colocar o pânico que só os altos níveis de adrenalina de uma reabertura podem trazer, somos confrontados com o desesperador “Review”. 

Filmado com a câmera do próprio Storer para emular um plano sequência (aqui justificado em cada um dos seus magistrais minutos), nos encontramos num borbulhante caldeirão de emoções, que transborda em verdades e sentimentos segurados por tempo demais por cada uma daquelas pessoas. Carmy, Syd, Richie, Marcus, Tina, Ebraheim e Sweeps são colocados numa pressão tão acachapante que é impossível não explodir num pesaroso suspiro quando tudo se encaminha para uma quase trágica conclusão. Um dos maiores exemplos de boa TV da temporada. Coroando a maior estreia desse ciclo. Impressionante. — Zé Guilherme

(FX/Hulu)

Better Call Saul — 6×12: Waterworks

Direção & Roteiro: Vince Gilligan
Exibido originalmente em 8 de agosto de 2022

“Waterworks” é um episódio para saudar todo o talento de Rhea Seehorn, que durante seis temporadas provou ser uma das maiores intérpretes da TV na atualidade com sua Kim Wexler, a melhor personagem feminina (quiçá, a melhor personagem, independente do gênero, de todo o universo de Breaking Bad?) que Vince Gilligan e Peter Gould já escreveram. Neste episódio em específico, a série nos conta o que aconteceu com Kim após os acontecimentos de Breaking Bad. Era uma grande curiosidade e até alguns apostavam na morte da lenda, contudo, ela segue vivíssima. Apesar de ser excelente advogada, ela deixa o ofício do Direito para trás e opta por uma vida mais pacata. Um trabalho sem graça, conversas vazias com as amigas, um casamento sem emoção. Kim tenta se adaptar, pois entende que precisa se manter distante daquele universo envolvendo Jimmy/Saul e precisa ser punida de alguma forma.

Com maestria, Rhea Seehorn e a câmera consolidam essa sensação de crime e castigo. Cada frame é pensado (o que é usual em Better Call Saul, mas é essencial para contar esta história), e a performance da atriz no episódio é para marcar a história da televisão. Mesmo com o passar do tempo, é evidente que Kim ainda carrega a culpa resultado da morte de Howard, motivo pelo qual precisa dizer a quem importa o que fez e aceitar seu destino, seja qual for. Na cena do ônibus, Seehorn chora de maneira tão genuína, parecendo não ser capaz de controlar as lágrimas e as emoções. Ali, é possível sentir a imensidão da culpa e o peso que sai do peito após finalmente dizer a verdade. É uma cena crua e emblemática, que traz todo o significado da série. É impressionante, é brilhante, é a mais pura arte televisiva. — Rodrigo Ramos

(AMC)

The Last of Us — 1×03: Long, Long Time

Direção: Peter Hoar | Roteiro: Craig Mazin
Exibido originalmente em 29 de janeiro de 2023

Após somente dois episódios exibidos, The Last of Us parte para uma escolha inusitada: fazer um episódio focado em dois personagens dos quais [spoiler!] já estão mortos na narrativa e, a longo prazo, não terão influência em nada. 

À primeira vista, pode parecer uma atitude equivocada, quando ainda está se moldando toda uma construção narrativa dos dois protagonistas. Porém, o único capítulo que é totalmente alheio ao que se passa no jogo (inclusive, eis aqui uma grande mudança no curso de um dos personagens do game), é também aquele que demonstra a capacidade do belo surgir em meio aos horrores do mundo. 

Focado nos personagens Bill e Frank (interpretados brilhantemente por Nick Offerman e Murray Bartlett), o episódio desenvolve essa relação, iniciada por acaso, e que aos poucos vai evoluindo para um dos maiores romances já vividos na televisão — ainda que breve, pois dura somente este episódio. 

Com uma direção segura e sensível de Peter Hoar (da minissérie It’s a Sin), e escrito com muito esmero pelo co-criador da série, Craig Mazin (da minissérie Chernobyl), o episódio nos tira a sensação de estarmos inseridos em um mundo cercado por morte e destruição e foca na construção de um romance improvável, mas bastante realista, exibindo as diferentes características de cada um, incluindo defeitos e virtudes, e como lidam com elas dentro da relação. Para eles, são os dois últimos sobreviventes do planeta, mas ainda que assim seja, não gostariam de passar os últimos minutos de vida sem um ao outro mesmo que existissem mais pessoas por aí. É uma grande virtude uma série pós-apocalíptica conseguir nos transportar para outra realidade e, mesmo com a inevitável morte dos personagens, fazer com que isso seja algo belo e não uma tragédia. Lamento quem preferiria sangue para todo lado e zumbis arrancando as tripas dos personagens, porém, The Last of Us, especialmente aqui, segue pelo caminho do drama humano, das relações que construímos e das escolhas que fazemos. E, nesse caso, Bill e Frank escolheram construir, amar e viver no tempo deles. — Rodrigo Ramos

(HBO)

Succession — 4×10: With Open Eyes

Direção: Mark Mylod | Roteiro: Jesse Armstrong
Exibido originalmente em 28 de maio de 2023

Durante a quarta temporada de Succession, cada episódio se tornou um grande evento no aguardo dos próximos acontecimentos. Com excelentes exemplos ao longo do seu derradeiro ano, fica até difícil elencar qual é o melhor. Particularmente, o que mais me satisfez foi justamente o último. Conseguir dar conta de amarrar a história desses personagens de maneira satisfatória era um desafio e tanto, todavia, Jesse Armstrong e seu afinado elenco deram jeito. 

O series finale respeita toda a história da série, permanecendo fiel a si mesma até os últimos segundos. Entre as tramoias, traições, ofensas e um quê de ranço aos direitos humanos, os irmãos são humanos, no fim das contas. Aqui, eles se deparam com a grande questão “quem será o sucessor?”, que permeia a narrativa dos quatro anos, mas que parece mais próxima a ser respondida a cada minuto. E tudo pode mudar em questão de instantes. 

De início, o episódio celebra essa união, baixa o tom e aproveita essa relação quebrada. Ali há amor de fato. As cenas na cozinha e na água comprovam isso. Porém, no decorrer do episódio, ele vai aumentando o tom, chegando ao seu ápice, altamente eletrizante, numa sensação de que tudo pode acontecer — até, talvez, homicídio?. A troca entre Shiv e Kendall traz aquilo que já sabíamos, mas que, talvez, pela primeira vez, eles também passam a entender: eles são péssimas pessoas. 

O futuro, então, é melancólico e sombrio para esses personagens. Não há uma saída visível da miséria pessoal e profissional. Fica claro que jamais alcançarão o que o pai alcançou. Frustração toma conta. Não há espaço para o amor, somente a amargura. Não há final feliz para eles. Contudo, para o espectador, é o final perfeito. — Rodrigo Ramos

(HBO)

Better Call Saul — 6×13: Saul Gone

Direção & Roteiro: Peter Gould
Exibido originalmente em 15 de agosto de 2022

A sensação nesta última parte da temporada final de Better Call Saul era a de que a história já havia se encerrado. Estávamos, portanto, diante de um epílogo. Este que encerra não somente a história de Saul Goodman, mas também de todo o universo de Breaking Bad. Era a hora da despedida e quando o episódio começa só há uma coisa que pode acontecer. Não eram mais reviravoltas que esperávamos ou até mesmo precisávamos, mas sim uma conclusão que permitisse a Saul Goodman e Kim Wexler terem o adeus que ambos mereciam. É bonito, então, vermos um episódio que traça tantas conexões com o que assistimos ao longo dos anos, seja imagéticamente, fazendo menção direta a momentos anteriores da série, ou com participações especiais. Os enquadramentos que trazem a memória “Chicanery”, mas agora com papéis quase que praticamente invertidos. O heroísmo canastrão de Saul Goodman, presente desde o começo da série, sendo devidamente reconhecido por seus pares, aqueles que ele fez questão de defender. E, finalmente, o momento da despedida entre Kim e Saul, o cigarro compartilhado, o jogo de luz e sombra. Visualmente, Better Call Saul sempre foi deslumbrante, com escolhas estéticas que se justificaram e meticulosamente funcionaram para reforçar uma variedade de emoções, muitas das quais vêm atingir o espectador todas juntas, de uma vez só, cena a cena, do finale de uma das séries mais bem feitas e conduzidas nas últimas décadas. “Peak TV”, “Too Much TV”, “Era de Ouro”, expressões usadas para se referirem ao tempo que vivemos entre as séries, mas a certeza é uma só: Better Call Saul será atemporal, e sua despedida estará sempre entre os grandes momentos da televisão. O retorno tão breve de Michael McKean como Charles McGill é um golpe tão baixo, e tão bem-vindo, que prepara o terreno para o final, e é impressionante o quanto a série consegue comover em pouco mais de três minutos de cena. Uma simplicidade que conecta todos os temas da série e traduz tão bem seus personagens, deixando-nos prontos para o ponto final. Estará Saul Goodman pronto para o bom comportamento? Só o tempo dirá. Os momentos finais, portanto, não podiam ser diferentes: Saul e Kim, Kim e Saul. Compartilhando juntos tudo que desfrutaram durante a série, o prazer em poder vencer e a consciência de quando parar. Jimmy devia algo a Kim, e ele paga com juros. É a redenção, se ela que é possível, para o protagonista. E a emoção dos breves reencontros é de aquecer o coração, é de fazer esboçar o sorriso mais gostoso possível. Quando Saul se despede de Kim, ele nunca esteve tão livre. E o último olhar que ela lança a ele, o último olhar que lançamos a ele, é aquele momento de uma lembrança eterna. Um olhar que busca o exato último momento que teremos um do outro. Ali somos todos um só. Somos Kim e Saul. O amor impossível que compartilharam conosco é sentido pela última vez. Mas não acaba ali. Saul se foi, mas sempre teremos sua despedida cravada em nossas memórias. — Renan Santos

(AMC)

Succession — 4×03: Connor’s Wedding

Direção: Mark Mylod | Roteiro: Jesse Armstrong
Exibido originalmente em 9 de abril de 2023

Existem bons episódios de séries. Existem episódios excelentes. E aí vez ou outra surgem aqueles que marcam a história da televisão, que mudam a forma de se pensar e de se fazer TV, aqueles em que roteiro, direção, atuações e tantos outros aspectos técnicos de uma grande produção se unem numa sinfonia de estilhaçar vidraças. “Connor’s Wedding”, o terceiro episódio da última temporada de Succession, definitivamente entra nessa última categoria.

É impressionante como a morte de Logan, que paira sobre a audiência e os personagens desde o primeiro episódio da série, consegue ser tão chocante e inesperada pela forma como é construída aqui, pela escolha narrativa de apresentá-lo a caminho de uma reunião como qualquer outra, pela escolha de colocá-la no dia de casamento de Connor, pela escolha de ser o terceiro episódio de uma temporada, e não o último, nem o primeiro. Pela escolha muito deliberada e acertada de retratar uma morte real, que, fora da televisão, acontece sem aviso, sem episódio especial, sem uma grande pausa para que aquele evento possa tomar conta de tudo.

Aqui, como na vida, os irmãos Roy são obrigados a resolver 1001 burocracias ligadas à morte de seu pai em meio ao casamento de Connor, presos num barco, sem sequer ter processado que o pai morreu. A opção estética por um plano longuíssimo, sem cortes, dá o tom caótico que cerca uma morte para aqueles que seguem vivos e o peso de algo que se alonga freneticamente enquanto tantas decisões precisam ser tomadas em tão pouco tempo, sem espaço para respiros ou pausas.

Mais do que tudo, a morte de Logan é uma morte comum. É a certeza que os bilionários da vida real, como os Roy em “Connor’s Wedding”, não conseguem aceitar: que não interessa o poder, o dinheiro, e os melhores médicos no bolso, uma hora ou outra eles vão morrer, e toda aquela aura de que são especiais, superiores, escolhidos, vai se perder. Porque, como qualquer outra pessoa comum, eles vão morrer. E aqui, como qualquer outra pessoa comum, eles conseguem simplesmente estarem juntos como irmãos, vivendo o luto (em atuações estupendas de Sarah Snook, Kieran Culkin e Jeremy Strong), o que é impossível antes e depois.Os irmãos Roy são criados por um pai perverso para serem quebrados, insuficientes e estarem sempre à sombra dele, em busca de uma aprovação que nunca virá, porque, no fim das contas, ele não quer um príncipe para sucedê-lo ao trono, ele quer um bobo da corte em que possa mandar enquanto mantém a coroa para sempre em sua cabeça. Apesar disso, ou talvez justo por isso, nas palavras adaptadas de BoJack Horseman: “meu pai morreu, e agora tudo está pior”. — Luiza Conde

(HBO)

Menções honrosas: Succession — 4×08: America Decides, Better Call Saul — 6×08: Point and Shoot, Reservation Dogs – 2×09: Offerings, Poker Face — 1×08: The Orpheus Syndrome, Fleishman is in Trouble — 1×07: Me-Time.

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