Melhores Atuações Principais
Steven Yeun (Beef)
Antes de aparecer em The Walking Dead (2009), Steven Yeun era amplamente desconhecido. Hoje, em 2023, podemos perder as contas dos dedos das duas mãos em tentar nomear os personagens emblemáticos que o ator já viveu. Mas, para mim, sua atuação em Beef, série criada por Lee Sung Jin, que conta a história de duas pessoas furiosas em que ambos deixam um incidente de violência na estrada entrar em suas mentes e consumir suas vidas, Steven está no ápice de sua carreira vivendo Danny Cho.
A primeira vez que encontramos o personagem, provavelmente é um de seus piores dias de sua vida, e seu temperamento transparece isso em torno de todo o desdobramento da série. E apesar disso, é uma vítima mais óbvia da desigualdade social, e é fácil de se compreender. Um coreano, trabalhador comum, que entende que a vida passou rápido demais e enquanto ainda quer construir algo que o torne um orgulho aos olhos dos pais, que sacrificaram tanto por oportunidades que ele nunca conseguiu de verdade segurar, ele possui suas próprias ambições, mas não sabe o quanto consegue aguentar mais.
Danny Cho não é de forma alguma um herói na história. Em várias ocasiões, ele agiu como um babaca e egoísta. Apostando contra si próprio, e tomando atitudes questionáveis e até mesmo criminosas. Temos aqui uma imperfeição palpável e um suporte para um sistema totalmente inadequado de como enfrentar problemas similares.
Steven Yeun entrega sutileza e violência com dois contrastes frenéticos únicos. A tela captura cada momento, e mesmo quando parece desconhecer por tamanha complexidade, ele é cativante como um homem no limite absoluto de uma corda bamba. Seu personagem nos leva e emerge junto a uma profunda vulnerabilidade. É quase tocável. E muitas vezes pouco dita, às vezes ressoada em canto, seja ele da igreja ou de uma música nostálgica para nós.
Beef tem uma ousadia que há tempos não é atrelada a um produto da Netflix, e a apesar da rápida mudança de tom dos dois episódios finais, brilha em nos fornecer performances yinyang da destruição, e o seu final não explica exatamente o que acontece com nossos protagonistas ou quais escolhas tomaram na vida. Mil e uma histórias podem ser contadas e esperadas sobre um alguém que se torna inimigo de um desconhecido, e o nosso último momento com ele é numa cama de hospital. Nem todo aprendizado vindo pela TV é interessante, ele é às vezes mais real do que precisamos, é mais terrível do que possamos imaginar, e a frase do “você não sabe pelo o que o outro tá passando” se torna cada mais mais presente para uma nova análise de espelho. — Isabela Cândido
Paddy Considine (House of the Dragon)
Num personagem marcado pela incapacidade de tentar conciliar um meio que está sempre em conflito não conseguindo mesclar com felicidade a sua vida palaciana e pessoal, Paddy Considine conseguiu mostrar com seu Rei Viserys uma fragilidade latente no seu físico, na sua raiva inconformada, na sua melancolia e seu sofrimento muito antes da sua transformação física trazendo à tona um personagem que é cheio de defeitos, mas que também possui questões dignas de pena e simpatia. — Diego Quaglia
Jeremy Allen White (The Bear)
Jeremy Allen White passou a última década entregando uma performance admirável como Lip em Shameless. Para quem acompanhou a trajetória do menino prodígio da periferia de Chicago, não é surpresa alguma o que o ator agora exibe em The Bear (O Urso, em português), produção do FX/Hulu.
Com o perdão do trocadilho, Carmy é um Lip Gallagher com um tempero um pouco diferente. Aqui o timing cômico não tem tanto espaço, pois o papel de Jeremy é transmitir o caos tão característico de restaurantes (a enorme variedade de realities culinários estão aí para provar) e o ator faz isso com maestria.
A série aborda o processo de luto de Carmy pela partida prematura de seu irmão, e aqui, Jeremy mais uma vez demonstra sua habilidade em explorar profundamente as emoções de seus personagens. Vemos Carmy lutando com esses sentimentos, enquanto também confronta os traumas que carrega de sua notável experiência como chef. Isso tudo enquanto tem a função de colocar em ordem o estabelecimento deixado pelo irmão.
Sempre que vemos os penetrantes olhos azuis de Jeremy, temos garantia de uma performance de muita intensidade e genuinidade. O carisma do ator torna impossível não torcer fervorosamente pelo sucesso na empreitada de Carmy. É um deleite acompanhar a trajetória do personagem, assim como o reconhecimento que o ator vem tendo após entregar constantemente excelente desempenho em sua carreira. — Valeska Uchôa
Heléne Yorke (The Other Two)
A terceira temporada de The Other Two eleva o nível de loucura desse universo de celebridades de cultura pop encabeçada pelas tendências millenium, de Instagram e similares, e Heléne Yorke aumenta a aposta com uma performance energética, imprevisível, hilária e até mesmo emocionante. A saga de sua personagem, Brooke Dubek, em tentar provar aos outros que ela é realmente boa diz muito mais sobre ela própria do que os demais e o mundo que a cerca. Ela entra em uma espiral de ciúmes, inveja, desespero e desconfianças, que refletem somente na falta de consciência sobre si mesma, sendo toda uma jornada sobre suas inseguranças e seu egocentrismo, capaz de destruir até mesmo seu relacionamento amoroso, cujo namorado é nada além de um grande companheiro. Ela traz complexidade à personagem para que a comédia não seja simplesmente uma grande piada sobre o showbiz. É uma grande performance, e não somente cômica. É uma atuação para ficar na memória dos fãs da televisão de alta qualidade. — Rodrigo Ramos
Pedro Pascal (The Last of Us)
Um dos queridinhos de Hollywood no momento, Pedro Pascal é um ator generoso e que abraça a presença de cada um em cena. Aqui ele vive Joel, o homem que perdeu a filha no primeiro dia do pandemônio a partir do início da infecção e, para sobreviver ao fim dos tempos, teve de criar uma armadura para se proteger e evitar sentir. Fez coisas terríveis, sim, mas debaixo do casulo ainda há uma pessoa de coração bondoso.
Em comparação com o videogame, a série desce uns dois tons na violência e brutalidade do personagem, até como um modo de evitar que o grande público rejeitasse-o — o que nem concordo ou discordo, é apenas uma escolha de abordagem. De qualquer forma, este Joel funciona muito bem nas mãos de Pedro Pascal, que consegue dividir esses lampejos de crueldade com outros quando é preciso, com a dor inimaginável que carrega pela perda da filha. A presença de Ellie faz com que essa armadura abaixe e ele se permita sentir novamente um amor de pai para filha. Isso ocorre de maneira cadenciada, pois Joel entende que há riscos nisso. Ele tem ciência do mundo onde vive e sabe que Ellie pode morrer a qualquer momento. Afinal, vale a pena voltar a sentir? Pascal aborda essas questões internas, bem como as externas (escolhas muito difíceis são feitas ao longo da temporada), com gentileza e sensibilidade, numa performance introspectiva e tocante. — Rodrigo Ramos
Jeremy Strong (Succession)
Succession chega ao fim de sua quarta temporada, e um dos pontos mais brilhantes dessa série inesquecível foi, sem dúvida, a magistral interpretação de Jeremy Strong no papel de Kendall Roy. Jeremy tornou-se conhecido por seu compromisso excepcional com o papel do primogênito dos Roy. Sua entrega à atuação é notória e inquestionável, e essa dedicação é evidente em cada cena em que ele aparece. O ator mergulha tão profundamente na mente complexa de Kendall que é quase impossível dissociar o personagem do homem por trás dele.
Apesar das controvérsias geradas pelas declarações de Strong sobre sua preparação para o papel e sua abordagem ao trabalho em Succession, é indiscutível que ele trouxe autenticidade ao personagem. Sua capacidade de encontrar o equilíbrio perfeito entre momentos de intensa emoção e sutileza o deixam marcado como um dos maiores atores da última década da televisão.
A parceria em cena com Kieran Culkin é um dos pontos de maior destaque da temporada. A química entre os dois atores é palpável, tornando suas cenas ainda mais envolventes e impactantes. A interação de Kendall com o irmão quando ele rasga o curativo, revela um nível de entendimento e conexão entre os personagens que só Jeremy Strong conseguiria retratar com tanta autenticidade.
Entre os grandes momentos da sua performance é impossível não citar a cena em que Kendall sorri genuinamente após seus irmãos concordarem em deixar a posição de CEO para ele. A tensão emocional e a vulnerabilidade apresentadas por Strong nesse momento são notáveis, refletindo a complexa dinâmica familiar da trama.
Contudo, seu ponto alto talvez tenha sido a cena final, em que Kendall se vê completamente perdido e sem propósito. Após toda uma vida contando com um destino traçado, ter esse prêmio arrancado subitamente de suas mãos o deixa em um estado de desesperança gigantesca. Jeremy Strong entrega uma atuação visceral e emocionalmente carregada, transmitindo com maestria o conflito interno do personagem.
Seu talento excepcional elevou a série a outro patamar, trazendo à vida um personagem cheio de camadas, que ficará gravado na memória dos fãs de TV por muitos anos. — Valeska Uchôa
Bella Ramsay (The Last of Us)
Enquanto mera coadjuvante em Game of Thrones, Bella Ramsay roubava a cena e, apesar da pouca idade, atraía toda a atenção para si no período em tela. Era uma questão de tempo para notarem seu talento. O reconhecimento veio com o papel em The Last of Us, em que ela faz a protagonista Ellie, jovem órfã, com um quê de rebeldia, certo rancor, mas que ainda tem dentro de si o espírito jovem, quase inocente, e até bobo da idade, que acende a luz em tempos sombrios de uma civilização dizimada por um vírus mortal. Diferentemente de Joel, vivido por Pedro Pascal, Ellie é volátil, expansiva, dificilmente consegue esconder suas emoções, mesmo que ora ou outra finja e faça biquinho de descontentamento. Extremamente expressiva, Bella Ramsay percorre com excelência por toda a gama de sensações e situações, sendo reativa e arisca para se proteger, explode em raiva em momentos de picos de adrenalina (como esquecer a performance do episódio 8?), transparece o medo das enrascadas e iminência da morte, e comove o espectador com maestria nos momentos mais emocionantes da temporada (novamente: como esquecer a performance do episódio 8?). Ellie é pura emoção. E Bella Ramsay é uma das grandes performers atualmente na televisão. — Rodrigo Ramos
Bob Odenkirk (Better Call Saul)
Eu não tenho receio de Bob Odenkirk, o ator, ser confundido com Saul Goodman ou Jimmy McGill, o personagem (ou personagens) que interpretou por tantos anos. É que se tornou algo único, uma referência singular na televisão e que gravou seu nome na história. Não tem o que ser dito em relação a isso. E o homem ainda passou por uma grave situação de saúde durante as filmagens desta última temporada de Better Call Saul, gerando tal comoção que boas notícias de sua recuperação talvez o fizeram ser abraçado como nunca antes havia visto. A preocupação foi real e urgente em relação a alguém que pareceu se tornar tão próximo de nós. É o poder de sua atuação como o advogado trambiqueiro que ele tanto nos fez amar, seu poder de convicção em cena não era meramente um trunfo narrativo, só um roteiro bem escrito, mas uma atuação tão convincente e cativante que nos envolveu de maneira irrepreensível. Por Saul Goodman, qualquer coisa. Por Bob Odenkirk, outras coisas ainda mais. E é isso, o homem sempre teve na ponta da língua, no trejeito das mãos, a capacidade de nos hipnotizar e nos convencer a qualquer coisa, principalmente rir.
Nesta parte final de Better Call Saul, não foi diferente, mesmo nos momentos mais inusitados, Bob Odenkirk nos arrancava gargalhadas com seu Saul Goodman. Só que mais do que qualquer outra coisa, esses últimos episódios servem como um testamento da capacidade tragicômica do ator através de seu personagem. Saul estava condenado desde o primeiro momento, não havia escapatória e seu destino final foi selado da maneira como devia ser. Toda a carga emocional, então, é entregue por Odenkirk de maneira magistral. Seu desespero quando Jimmy tenta convencer Kim a não ir embora, seu último olhar a ela quando na prisão no episódio final. O quão comovente ele conseguiu ser por tantos momentos, e em momentos que se tornam únicos, tão especiais, não só pelo que são no momento em si, mas pelo quanto, ao longo dos anos, Odenkirk adentrou em nossos corações, se tornou um personagem recorrente de nossas vidas.
A extravagância de Saul vale também para nossos corações, é tanto espaço que ele galgou lá e não foi à toa. Foi um prazer vê-lo em cena e é difícil imaginar que alguém seria capaz de fazer melhor. É árduo também não se emocionar e até ser um pouco piegas pensando em todo seu trabalho. Não resta outra opção que não apreciar sua entrega ao personagem e agradecer Bob Odenkirk por tê-lo compartilhado de maneira tão brilhante conosco. — Renan Santos
Kieran Culkin (Succession)
Succession é repleta de diversos nomes dignos de destaque nas indicações e premiações, e dentre eles Kieran se destaca ao dar vida, pela última vez, ao complexo Roman Roy. Nesse quarto ano, enquanto seus irmãos conseguem se desvencilhar das garras manipuladoras do patriarca, Roman enfrenta dificuldades em ter o mesmo sucesso. Não é surpresa, portanto, que ele seja o mais devastado pela partida do pai, e é aí que a atuação de Kieran atinge seu ápice.
Kieran é conhecido por entregar as falas mais absurdas, cativando a audiência com o humor característico da série, mas surpreende ao trazer cenas carregadas de peso dramático nesta última temporada.
Ao decidir assumir um papel de destaque nas homenagens à memória de Logan, Roman exibe um nível de vulnerabilidade e desespero na cena do funeral de partir o coração. Sua negação prolongada do luto pelo pai é comovente e bem retratada por Kieran.
Kieran já deixou claro em mais de uma oportunidade que Sarah é sua parceira de cena favorita, mas sinto informar que quando divide a tela com Jeremy Strong é quando ele tem seus momentos de maior impacto. No silêncio de situações tristes e desconfortáveis, eles transmitem uma carga emocional intensa. Roman deliberadamente busca punição física, uma forma que lhe é familiar para lidar com a dor da alma, e essa complexidade é habilmente explorada por Kieran, adicionando camadas profundas à sua interpretação.
A última vez em que vemos o personagem, o encontramos com um sorriso agridoce ao se libertar do caos e da degradação que a Roy Co representava. Sem discussão, o trabalho da carreira de Culkin. — Valeska Uchôa
Sarah Snook (Succession)
No quarto ano de Succession, Sarah Snook é quem mantém a série ancorada no realismo. O roteiro a coloca nas situações mais humanizadas da temporada, sendo a pessoa mais ciente da realidade que a cerca, e a atriz encara o desafio com um talento massivo. Mesmo sendo, em diversas situações, uma péssima pessoa, egoísta e autocentrada, ela também demonstra fragilidades e inseguranças, pondo uma muralha ao seu redor para impedir que seja atingida, assumindo uma máscara de ser mais capaz e inatingível, porém, é tudo uma fachada, como é visível na relação com o pai, mas, principalmente, com o (ex) esposo Tom. Grávida em segredo, traumatizada pelo falecimento do pai, sendo posta em dúvida sobre suas competências, inserida num jogo de xadrez nos negócios, e magoada pela relação conturbada e quebrada com Tom, além da difícil e dúbia vivência com os irmãos, Shiv é inserida em situações diversas e complicadas, que Sarah Snook consegue navegar com qualidade em um nível que poucos performers teriam a capacidade de imprimir tamanha complexidade e tantos diferentes tons — afinal, Shiv também é excelente quando descamba para o sarcasmo, oferecendo alívios cômicos bem-vindos. É o auge da personagem, da série e de Sarah Snook como atriz. O texto é excelente, sim, mas é necessário alguém tão capacitado quanto o roteiro em si para dar conta de um trabalho imenso como esse. Bravo! — Rodrigo Ramos
Menções honrosas: Bill Hader (Barry), Dominique Fishback (Swarm), Natasha Lyonne (Poker Face), Rachel Brosnahan (The Marvelous Mrs. Maisel), Ali Wong (Beef).
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