Pose, Breaking Bad, When They See Us, The Americans e Mad Men estão presentes na lista.
Trazemos para você a lista definitiva do que houve de melhor na TV durante a década de 2010, entre episódios, atuações e séries.
Confira abaixo os melhores atores da TV da década de 2010.
MELHORES ATORES
10. Matthew McConaughey (True Detective)
True Detective entrega tudo de bandeja para Matthew McConaughey. Ele tem todo o espaço que desejar para entregar monólogos reflexivos, atirar olhares profundos para as paisagens, ter uma linguagem corporal morosa, esbravejar com o seu sotaque e, lógico, como todo bom agente da lei, chutar bundas. E isso não é ruim! Na realidade, McConaughey não desperdiça a oportunidade. Entregando-se ao papel com uma intensidade assombrosa, o ator sabe usar as centenas de ferramentas que lhe são oferecidas. Por mais que True Detective possua seus críticos, é difícil não reconhecer que Matthew McConaughey foi uma bela adição — André Fellipe
9. Jharrel Jerome (When They See Us)
A melhor palavra que eu consigo encontrar para definir a atuação de Jharrel Jerome em When They See Us é “titânica”. Em tela, conforme os episódios da obra de Ava DuVernay vão passando, ele é um titã emocional. Nos momentos iniciais, em que aparece descontraído, andando por sua vizinhança em Nova York; no desespero de um interrogatório de última hora, que só aconteceu por sua diligência como amigo; na agonia de um julgamento em que a injustiça é palpável; nas muitas fragilidades que ele precisa demonstrar conforme o seu Korey é quebrado de muitas formas diferentes na prisão.
Titânica, sim, e também estonteantemente corajosa. Aos 21 anos, Jerome encarou um material mais desafiador do que qualquer ator com o dobro de sua experiência na TV norte-americana. Saiu triunfante, e coerente, sem dar qualquer passo em falso na jornada que construiu e em seu simbolismo. Se há quem hesite em classificar sua performance como a melhor da temporada, difícil dizer que não é a mais inesquecível. — Caio Coletti
8. Justin Theroux (The Leftovers)
Kevin tem uma jornada inacreditável, da vida ordinária ao sobrenatural ao longo das três temporadas da série, e Justin Theroux transita entre a paranoia completa, a loucura, a tranquilidade e o sentimentalismo. Antes pouco requisitado, Theroux mostrou ter competência o suficiente para carregar uma série – ao lado da excelente Carrie Coon – e entregar momentos dos mais variados, da explosão dramática até as pequenas sutilezas, de um olhar a um sorriso cheio de emoção e significado, a exemplo do último episódio da série. E sua performance fica ainda melhor quando confronta na cena Coon e Ann Dowd, porém ao encarnar duas versões de si mesmo em uma única cena, nota-se como, definitivamente, Justin é um ator de alto escalão e The Leftovers não seria a mesma obra prima que é sem ele. — Rodrigo Ramos
7. Billy Porter (Pose)
A TV da década de 2010 precisava urgentemente de Billy Porter. Em uma década marcada pela continuação e evolução da tendência dos anti-heróis complicados (e masculinos) dos dramas de prestígio, ele apresentou uma forma diferente de construir um personagem humano e memorável. Em Pose, Porter coopta a extravagância e a teatralidade do mundo dos balls LGBTQ+ de Nova York nos anos 1980 para criar um retrato vibrante da ânsia de vida de personagens como Pray Tell, que foram fundamentais para construí-lo.
Porter brilha tanto por trejeitos perfeitamente calibrados quanto por expressões genuínas de afeto, decepção, perda, mobilização política, resiliência. E brilha mais ainda por fazer de uma coisa a extensão da outra, criando um Pray Tell completo, cujas referências pop e comentários maldosos acontecem de acordo com os dramas e vitórias pessoais que ele vive fora do palco. A genialidade de Porter, enfim, é que ele não vê Pray Tell como um personagem “maior que a vida” — ao invés disso, expande a amplitude do seu olhar para abarcar a enormidade que Pray é capaz de perceber, sentir viver e expressar. O espectador, por sua vez, tem a própria visão ampliada ao assisti-lo. — Caio Coletti
6. Mads Mikkelsen (Hannibal)
Mads tinha uma tarefa bastante desafiadora em mãos quando recebeu esta proposta, que era viver um dos psicopatas mais conhecidos do cinema que foi brilhantemente interpretado pelo grande Anthony Hopkins. Automaticamente, como já esperado, muitos olhares de desconfiança lhe foram direcionados. Felizmente, com seu Hannibal, Mads consegue não só se diferenciar de Hopkins como também mantém o espírito do personagem e todo o seu magnetismo que fascina não só os personagens que interagem com ele como também a própria audiência. Ele cria um tipo de performance que anda cada vez mais esquecida dentre as atuações que costumam receber mais elogios: onde a preocupação em construir um personagem, com todos os detalhes que um ser humano precisa, está acima de um overreacting pontual feito como isca para premiações.
Com seu Hannibal, Mads caminha de forma única, tem uma postura e elegância só dele. Tem olhares que por vezes soam assustadores e por vezes enigmáticos; uma naturalidade, um timing perfeito de frases pausadas e consegue com suas mini expressões faciais dar o tom preciso de ironia e ameaça ao mesmo tempo, rendendo cenas deliciosas de acompanhar. Mads Mikkelsen não vive de momentos esporádicos, ele vive seu Hannibal em tela o tempo inteiro e esse é o maior atestado de grandeza que uma excelente performance pode entregar. — Douglas Couto
5. Benedict Cumberbatch (Sherlock, Patrick Melrose)
O mundo conheceu oficialmente Benedict Cumberbatch na versão moderna de Sherlock, em que o espírito dos livros e dos personagens estão presentes, mas as histórias e os próprios papeis são atualizados com a devida vênia. Diferente da versão cinematográfica mais recente (Robert Downey Jr.), Cumberbatch consegue dar vida ao personagem sem necessariamente recorrer à sua personalidade na vida real e cria um Sherlock tão original e autêntico que você diria sem pensar duas vezes, caso não soubesse da origem dos livros, que o papel foi feito pensando no ator. O distanciamento emocional (mas ainda assim sentir por dentro, ainda que de maneira distinta), o modo de pensar, de se comportar, a metralhadora de palavras, o humor britânico cru e a capacidade de conseguir ter uma química incontestável com todos no elenco (de Martin Freeman a Andrew Scott), faz com que Sherlock Holmes seja um dos papeis definitivos do ator. Entretanto, mais perto do final da década, Benedict também fez uma escolha arriscada e, mais uma vez, acertada, ao viver Patrick Melrose na minissérie homônima baseada em uma história real. Durante os cinco episódios, Cumberbatch exibe outras vertentes de sua interpretação, encarando fases diferentes da vida de seu papel, desde os excessos com drogas, a ansiedade, os problemas com o pai e a mãe, até a paternidade própria. O que Cumberbatch faz em Patrick Melrose é de deixar qualquer fã de Sherlock e do ator de queixo caído ao descobrir que ele pode ir muito além do que demonstrara até então. Por construir duas interpretações distintas, porém marcantes, é que Cumberbatch acaba sendo lembrado como um dos maiores intérpretes da TV nesta década. — Rodrigo Ramos
4. Aden Young (Rectify)
Por quatro temporadas, Rectifity percorreu a saga de Daniel Holden (Aden Young) e sua família após ser libertado depois de 20 anos na cadeia por um crime que ele pode ou não ter cometido. Daniel ter podido ou não ter executado o crime é apenas um pano de fundo para que Ray McKinnon, o showrunner da série, desenvolva com uma sensibilidade gigante e rara de se ver no audiovisual. Um estudo de personagem que toca em questões muito profunda psicológicas, familiares, estruturais, sociais, existenciais, emocionais e espirituais da humanidade. Quem nós somos? E nada disso seria possível se não tivéssemos Aden Young tão perfeito dando vida a um personagem absolutamente rico. Uma das grandes preciosidades da série é em como é difícil definir uma figura tão complexa quanto Daniel como uma coisa única. Ao mesmo tempo temos uma dessas almas doces, sensíveis, inteligentes, vulneráveis, especiais e fascinantes, com um encanto especial, que emana uma luz única e que é mercado pelo sofrimento e pelo sentimento de completa solidão por ter tido parte da sua vida privada de ser vivida, o que lhe acarretou problemas emocionais e dificuldades de socializar. E, por outro lado, temos alguém com sérios problemas psicológicos, travas emocionais e impulsos violentos com um sentimento de auto-aversão e tendências autodestrutivas que está sempre no limite de ultrapassar o caminho da melancolia e da depressão. Quem é Daniel? Inocente? Culpado? Vítima? Nenhum? Ambos? A série está mais interessada em explorar o psicológico rico e contraditório desse homem do que simplesmente responder à pergunta principal e Young consegue com o seu olhar abatido, seu jeito introspectivo, sua postura fechada em si mesma, seu jeito de falar particular e verborrágico que diferencia Daniel daqueles que estão a sua volta e mais coisas dar características únicas para esse personagem. Daniel é um perdido e Aden consegue encontrar o caminho de levar esse personagem tão conturbado e atormentado por vários demônios em uma interpretação fascinante que passa por momentos de explosões comoventes até momentos de introspecção precisos. Daniel é fruto da beleza humana ao mesmo tempo que também é resultado das nossas contradições. E Aden Young numa interpretação que foi injustamente esquecida nas principais premiações o retrata com precisão. — Diogo Quaglia
3. Jon Hamm (Mad Men)
Don Draper, de certa forma, sintetiza alguns homens da indústria do cinema, TV e música hoje em dia, né? É um homem atraente, consegue todas as mulheres que quer, é um gênio criativo, tem dinheiro, mas é ciumento, um péssimo pai, terrível como marido, trata mal as mulheres que não estão no seu radar como potenciais presas. Mesmo sendo esse lixo de pessoa, de alguma forma ainda conseguimos nos importar por esse personagem e isso se dá graças ao talento de Jon Hamm. De certa forma, amar vilões clássicos é mais fácil do que pessoas cheias de nuances com desvio de caráter e mais próximas da realidade. Ao longo da jornada de sete temporadas no ar, fomos entendendo melhor Don Draper, seu background, de onde vem essa involuntária necessidade de se autossabotar, como tomou o nome de outra pessoa em busca de uma maneira de se reinventar e tentar uma vida diferente, a incapacidade de amar, a insatisfação seja qual for o status atual da carreira ou vida pessoal. Ao apresentar um personagem extremamente falho e exemplo perfeito do machismo, Jon Hamm precisa se esforçar para fazer de Don Draper um personagem agradável ao espectador e, por estar nesta lista, significa que tem êxito na tarefa. Claro, Hamm consegue ser sedutor como poucos, todos os ternos parecem cair perfeitamente nele, durante as apresentações dos trabalhos na empresa parece o melhor profissional que já existiu em publicidade e propaganda. Contudo, é nos momentos pessoais, introspectivos, que Hamm brilha. Nos confrontos com Peggy, nos diálogos sempre desafiadores com a filha Sally, nas brigas com Betty, sentindo o peso das escolhas da vida pelo telefone ou desabando no choro ao abraçar outro homem ao se deparar com a insignificância do seu ser, o ator garante a entrega da emoção e nos comove. — Rodrigo Ramos
2. Matthew Rhys (The Americans)
Se Keri Russell tinha que escolher, cena a cena de The Americans, o quanto de Elizabeth mostrar ao espectador, Matthew Rhys foi encarregado de uma missão diametralmente oposta, mas tão complicada quanto: a de construir um protagonista masculino que, apesar dos artifícios de espionagem, sempre estampou suas emoções, sua história, seus anseios e angústias, muito abertamente.
Felizmente, a produção encontrou o ator certo para isso. Rhys é um dos intérpretes mais expressivos de sua geração, um daqueles atores que é capaz de se mostrar vulnerável sem medo do patético, de se fazer temível de uma forma que ainda, de alguma forma, quebra o coração. Se Phillip é o antídoto para a avalanche de anti-heróis da Peak TV, Rhys é também entrega a performance oposta a dos intérpretes masculinos que marcaram essa era — seu sofrimento pelos dogmas machistas que o criaram não é escondido, mas em carne viva.
Basta pensar em seu momento mais lembrado na série: quando grita com a filha, Paige, sobre sua dedicação ao catolicismo. “Você respeita a Jesus, mas não a nós?”, indaga ele, furioso. A explosão não é característica do personagem, mas rima com ele de qualquer forma, porque Rhys construiu o seu Philip com um homem de estrutura frágil, mas emoções gigantescas. O impacto da cena, como tantas outras nas seis temporadas de The Americans, é muito maior por causa dele. — Caio Coletti
1. Bryan Cranston (Breaking Bad)
No atual contexto da TV, o conceito de protagonistas brancos e heterossexuais que são anti-heróis ou propriamente vilões já foi empregado milhares de vezes, das formas mais cansativas ou interessantes. O Walter White de Breaking Bad com toda certeza é o exemplo mais conhecido dentro da cultura pop. Durante cinco temporadas, vimos o aparentemente inofensivo, bondoso e sofrido professor de química se transformar no monstruoso traficante de metanfetamina Heisenberg. Mas talvez o que torna Breaking Bad uma série que foi se tornando excepcional com o passar das temporadas e o Walter de Bryan Cranston idem sejam os fatores menos reconhecidos dentro do seu trabalho. Claro, existem razões para as frases de efeitos e as cenas grandiosas fazerem sucesso, mas o que faz o retrato de decadência moral de um homem abraçando o seu lado mais monstruoso ter êxito do ponto de vista de execução é outra coisa.
A premissa de que esse homem vai se tornar quem ele se torna só funciona maravilhosamente bem porque a série é muito inteligente em tornar totalmente palpável aquilo que acontece. São temporadas de desenvolvimento para que Walter chegue ao ponto em que chega; cada passo que o protagonista toma, revelando seu lado mais sombrio, é crível. E tudo isso cresce quando percebemos que desde o início não estávamos vendo de a história de “um homem bom que se torna mau” e sim a história de “um homem mau que se deixou ser mau finalmente”.
O ego, o orgulho, o senso distorcido de “sucesso”, a misoginia, a necessidade de afirmação masculina, a distância emocional daqueles que estão ao seu redor, o desprezo por todos aqueles que julga inferior, o rancor, o recalque, o ódio pela humanidade, a falta de empatia e as relações abusivas que cria ao seu redor são traços de Walter desde o começo e que vão aparecendo aqui e ali até aumentarem e chegarem ao momento em que percebemos que estamos vendo a história protagonizada por um vilão. Essas características sempre estiveram ali e não a percebemos porque estavam disfarçadas numa camada de sofrimento que nos faz ter empatia com o personagem. Contudo, quando fica evidente que ele sempre foi essa pessoa e só precisou de um gatilho, é aí que Breaking Bad se torna algo especial. E entre muitas coisas, o que torna Walter um personagem absolutamente complexo, mesmo que ele seja um psicopata desprezível, é o fato de que mesmo sendo uma pessoa péssima, ele sempre consegue ter sentimentos muito humanos por alguns daqueles que estão ao seu redor. Ele é capaz de amar. De sentir. Só que o seu amor é doentio, distorcido, egoísta e destrutivo.
A série nunca exime o fato de que Walter é alguém tão interessante quanto asqueroso. Ao mesmo tempo que ela celebra a inteligência especial e muito específica do seu protagonista, ela mostra o quão patético aquele homem é. Completamente entregue ao papel de sua vida, Bryan Cranston oferece uma das grandes interpretações masculinas de todos os tempos. Ele, ao mesmo tempo, não tem nenhum pudor em se jogar numa construção física e corporal do seu personagem em suas diferentes fases, como também consegue oferecer esses vários contrastes e contradições que tornam Walter um personagem tão especial. Em um equilíbrio perfeito e numa sinergia completa com Vince Gilligan, Cranston coloca tudo de si nos momentos intensos em que seu personagem explode e surta sem cair num exagero, ao mesmo tempo que oferece um olhar muito sutil e naturalista dos seus conflitos internalizados. — Diogo Quaglia
Menções honrosas: Damian Lewis (Homeland), Andy Daly (Review), Will Arnett (BoJack Horseman), Donald Glover (Atlanta), Bob Odenkirk (Better Call Saul).
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Textos por Breno Costa, Caio Colletti, Carissa Vieira, Cristian Dutra, Diego Quaglia, Diogo Pacheco, Douglas Couto, Luiza Conde, Mariana Ramos, Régis Regi, Valeska Uchôa, Zé Guilherme, André Fellipe, Rafael Bürger, Leonardo Barreto & Rodrigo Ramos
Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos