Tame Impala, Gal Costa, Kendrick Lamar, Lenine e Adele estão entre os destaques do ano
Dá-se início às listas de melhores do ano no Previamente. Como é de costume, a nossa redação se foca primeiramente em selecionar o que houve de melhor no mundo da música. Nosso júri ouviu centenas de álbuns, chegando a um corte de quase 100 títulos entre todos os votantes. Destes, 21 foram os mais citados e mais bem ranqueados pelos votantes. Entre música brasileira e estrangeira, pop, rock, tropicalismo, rap, gospel, EDM, MPB, indie, folk, entre outros que sequer dá para rotular o gênero, aqui estão os discos de qualidade incontestável e que precisam ser ouvidos.
21. Macaco Bong – Macumba Afrocimética
Por Léo Telles Motta
Muitos davam o Macaco Bong como morto ao ver as mudanças de formação que a banda passou. Não contavam com a capacidade de subversão do frontman Bruno Kayapy, remanescente da formação original. Macumba Afrocimética saiu em dois formatos, um deles totalmente sem a marca registrada da banda, que é a guitarra insana de Kayapy. Primeiramente, o álbum foi lançado em formação crua com 2 baixos, um deles com efeitos e tocado mais ou menos como guitarra. A segunda versão, guitarrada, complementa a primeira e evidencia um trabalho interessantíssimo de produção e arranjo.
Faixas de destaque: Banana Tretta; William Bonger; Tapanapantera.
20. Bob Dylan – Shadows in the Night
Por Dinho de Oliveira
A voz já desgastada e estranhamente charmosa de Dylan casa perfeitamente com as letras brilhantemente já interpretadas por Frank Sinatra. O cantor folk faz o tributo perfeito ao artista que era considerado a voz da música americana na década de 1970. Shadows in the Night resgata as músicas não tão famosas de Frank, retira toda a orquestra do jazz e entrega a simplicidade do rock em perfeições de arranjo.
Faixas de destaque: I’m a Fool To Want You; Full Moon and The Empty Arms; Stay With Me.
19. The Chemical Brothers – Born in the Echoes
Por Dan Brandt
Manter-se relevante no cenário da música eletrônica por muitos anos não é uma tarefa fácil. Com mais de 20 anos de carreira, The Chemical Brothers consegue, mesmo depois de passar cinco anos sem lançar nenhum álbum (se não contarmos a trilha sonora do filme Hanna). Em Born in the Echoes, a dupla traz um álbum consistente, que faz jus aos trabalhos anteriores, e é como um sopro de ar fresco em um período em que a música eletrônica vive na sua maioria das batidas do EDM. O álbum começa com batidas mais pesadas, terminando em faixas mais lentas, quase como uma marca registrada da dupla, e não deixa fã nenhum decepcionado.
Faixas de destaque: Sometimes I Feel So Deserted; Go; Wide Open.
18. Madonna – Rebel Heart
Por João Marcelino
Estamos em 2015 e a essa altura já sabemos que, apesar de uma equipe de peso e excelentes canções, Madonna não emplaca mais na atualidade. Se tornou um grande ícone que, apesar de vivo e forte, é muito subestimado. Rebel Heart é uma obra de arte com dois lados igualmente empolgantes e fenomenais. Músicas intensas, provocantes e carregadas de sintetizadores e elementos muito utilizados nos atuais hits das rádios, ele também traz bastante de uma vulnerabilidade não muito antes vista em sua carreira. O vazamento de diversas faixas e a divulgação, além de uma tracklist confusa, justificam as vendas fracas, mas nada o impediu de ser um dos trabalhos de maior qualidade do último ano, e certamente o melhor álbum do pop mainstream em 2015.
Faixas de destaque: Living For Love; Joan of Arc; Iconic.
17. The Dead Weather – Dodge and Burn
Por Ruca Souza
O melhor disco de rock do ano? Talvez sim. Dodge and Burn traz tudo o que o gênero tem de forte – fuzz, modulações, experimentações – em uma banda agora verdadeiramente entrosada. Por não ser o projeto principal de seus integrantes, uma das características dos primeiros discos era passar a sensação de colagem (mas de peças independentes muito bem misturadas, obviamente). Neste disco, a evolução do grupo é nítida nas canções. O álbum abre com o poderosíssimo hit “I Feel Love”, que ganhou um clipe intenso a altura da música, e finaliza com a improvável “Impossible Winner”, bela e obscura – e uma novidade para a lista de músicas/porradas da banda. Mas o destaque mesmo, que sintetiza a intensidade e empolgação do disco, vai para “Copy and Go”. Ouça em volume máximo.
Faixas de destaque: I Feel Love; Copy and Go; Lose The Right.
16. Lenine – Carbono
Por Roberto Vieira
A culpa é de Lenine mesmo: se Chão, o álbum anterior a Carbono não entusiasmou, é em virtude da alta expectativa que precede um lançamento deste pernambucano de sorriso farto e violão personalíssimo. Em compensação, Carbono é um exemplo da melhor veia da música brasileira. Os elementos estão lá: a acuidade rítmica, o regionalismo, sempre presente, um time de instrumentistas afiados, a poesia direta e, mesmo assim, sofisticada. E se Chão, introspectivo, era linear, Carbono, por sua vez, representa um mosaico mais amplo de influências, o que pode ser explicado pelo grande número de parceiros que assina junto a Lenine nas faixas. Nada mais, nada menos que 14 compositores diferentes. “Apenas Quem Leva a Vida Sou Eu” tem a assinatura isolada de Lenine, e apenas Carlos Rennó repete a parceria, em “A Meia Noite Dos Tambores Silenciosos” (um jazz com toques de maracatu) e “Quede Água?” (ecológica sem ser panfletária, uma crônica habilmente escrita com riqueza de detalhes sobre a tragédia da seca que agora não vitima apenas o Nordeste). Lula Queiroga está presente, também.
A participação maciça dos integrantes da Nação Zumbi em “Cupim de Ferro” é importante ao demonstrar como Lenine não perde nunca de vista nem as referências da origem, ao frasear um frevo estilizado no final da canção, nem a oxigenação representada na música feita no Brasil pelo movimento mangue-beat. Não é à toa que de Pernambuco saiu o maior sopro de renovação de nossa música nos últimos tempos. Lenine escalou seu álbum com onze faixas, todas craques. Um disco absolutamente irretocável, atemporal. Inquieto, Lenine passa longe do conformismo e da acomodação que por vezes assola a MPB quando alguém com sua história ascende ao Olimpo. Lenine permanece terreno, simples, acessível. Prefere caminhar e observar a realidade a virar estampa na calçada da fama.
Faixas de destaque: Cupim de Ferro; Quede Água?; Quem Leva a Vida Sou Eu.
15. Sufjan Stevens – Carrie & Lowell
Por Lucas Paraizo
Depois de alguns anos fazendo discos experimentais, Sufjan voltou ao estilo folk que o consagrou no início dos anos 2000 com o disco que é talvez o mais triste e poético de 2015. Carrie & Lowell fala sobre morte com beleza e vulnerabilidade. É um tiro no peito que define em um disco como a tristeza pode ser bonita quando convertida em arte.
Faixas de destaque: Should Have Known Better; Fourth of July; Carrie and Lowell.
14. Grimes – Art Angels
Por João Marcelino
Na primeira audição, admito que fiquei extremamente surpreso e estranhado com o álbum. Art Angels é completamente diferente de seu antecessor, Visions (2012). É igualmente impactante, mas carrega em si um pouco mais do mainstream que pensei que não veria no trabalho novo de Grimes. Definitivamente um grower cheio de instrumentais, quanto mais ouvi, mais percebi que de longe é uma obra prima, ainda mais se levarmos em conta que ela o fez completamente sozinha, das letras aos instrumentais, arranjos e produções. É um trabalho ousado e que dispensa definição de gênero musical. Impactante e surpreendente, é um grito de bravura de Grimes, que em meio à uma indústria fortemente dominada por homens é literalmente o exército de uma mulher só que o convida para conhecer um álbum extremamente autoconfiante (aprende, Demi!).
Faixas de destaque: Flesh Without Blood; Kill V. Maim; Venus Fly.
13. Ryan Adams – 1989
Por Rodrigo Ramos
Pode não ser a primeira vez na história em que um artista reinterpreta um álbum em sua totalidade. Porém, Ryan Adams não esperou alguns anos ou até mesmo uma década para fazê-lo. Um ano após o lançamento de 1989, de Taylor Swift, um dos maiores fenômenos da indústria fonográfica nos últimos anos, o cantor reimaginou o trabalho da maior estrela pop da atualidade. Apesar de não ser particularmente fã do disco original, não há como deixar de reconhecer que as faixas de Swift possuem certa qualidade, em especial no que se trata das letras – uma faixa mais chiclete do que a outra, culpa também do produtor Max Martin. Adams, no entanto, dá uma nova cara para as 13 faixas, transformando os hits como “Blank Space” em uma faixa introspectiva somente com os acordes do violão e dispensando algumas estrofes, enquanto “Style” é transformada em um rock agitado, mudando a letra de “James Dean daydream” para “Daydream Nation”, uma referência ao Sonic Youth. O álbum exibe as qualidades de Adams como artista, fazendo todas as canções soarem originais, provando que até o hit mais irritante pode ser, na sua essência, uma verdadeira obra prima.
Faixas de destaque: Wildest Dreams; Style; All You Had to Do Was Stay.
12. Gal Costa – Estratosférica
Por Rodrigo Ramos
Gal Costa é o tipo de pessoa que nasceu para brilhar. Há artistas e há gênios, e Gal está na segunda categoria. Mesmo não compondo, a cantora de 70 anos ainda continua no auge do seu talento de interpretar as canções de forma ímpar. Com Estratosférica, ela traz um trabalho arrojado, revisitando o suingue baiano, o tropicalismo, mas mergulhando no que há de novo, trazendo composições de Criolo e Mallu Magalhães. Ela se arrisca com arranjos eletrônicos, rock, metais, pop e balanço. Ela interpreta as baladas românticas como poucas pessoas, mas se sai muito bem também em faixas mais maliciosas como “Por Baixo”, de Tom Zé, assim como nas mais densas, a exemplo de “Dez Anjos”, de Criolo e Milton Nascimento. Mesmo com a idade avançada, Gal não quer viver no passado dos antigos sucessos, diferente de alguns companheiros de longa data, e mantém-se inovando, ousando, sofrendo uma metamorfose ambulante sonora, porém sem perder a identidade e singularidade.
Faixas de destaque: Sem Medo Nem Esperança; Estratosférica; Dez Anjos.
11. Muse – Drones
Por Roberto Vieira
Não é de hoje que o Muse é a banda mais interessante da grande cena mundial. Sem medo de colocar peso nas guitarras, com letras atuais, abordando temas espinhosos como a formação de psicopatas nas fileiras militares (que depois se transformarão nos drones humanos que sairão matando às dezenas em ataques incompreensíveis até mesmo em suas pátrias-mães), o domínio do EUA e a militarização do planeta vinda de Washington, a banda de Matthew Bellamy não decepciona. Em Drones, sétimo álbum, o trio retoma a receita básica de guitarra/baixo/bateria, com a crueza que um trabalho que pretende desancar a escalada militar protagonizada pelo Nobel da Paz (pfui) recebido por Obama. Só que agora, mais do que nunca, a denúncia anti-militar se faz necessária ante as mais modernas técnicas de guerra que prescindem inclusive dos seres humanos que mobilizaram a opinião pública à época do conflito no Vietnã.
“Defector” remete ao Queen, mas nunca soando como um pastiche, e sim uma bela referência, como deve ser. “Revolt” abre com sirenes, e a tensão nunca abandona a audição de Drones, como a emular um constante estado de guerra. Para quem vive confortavelmente no Ocidente, é uma forma de tomar contato com a rotina extenuante que atinge quem está na mira de armas que nem sempre são acionadas diretamente por seres humanos. O que o Muse propõe, com extrema competência, é um exercício de empatia. Música, produção esmerada, grandes performances e letras contundentes fazem de Drones um dos melhores álbuns deste século “The Globalist”, com andamento de marcha militar no seu começo, alternância de climas e progressivos dez minutos de duração e acompanhamento de cordas é a síntese deste belo exemplo do melhor rock produzido no século XXI. Esse Drones vai para a cápsula do tempo.
Faixas de destaque: Reapers; The Globalist; Revolt.
10. Courtney Barnett – Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit
Por Igor Machado
A corretora de imóveis grunge-dylanesca, Courtney Barnett, parece que descobriu uma fórmula pra fazer música. Com uma prosa cheia de fuzz e problemas respiratórios, fez o melhor disco de rock do ano. O grunge-pop de Barnett embrulha a angustia da idade, que por vezes dá o tom a um humor torto, desesperado, porém divertido; outras, Courtney é meramente contemplativa, retratando o mundano com uma tremenda habilidade. Faz todo o sentido pensar em Courtney Barnett como a compositora mais promissora de 2015.
Faixas de destaque: Depreston; Nobody Really Cares If You Don’t Go to the Party; Pedestrian at Best
9. Hot Chip – Why Make Sense?
Por Rodrigo Ramos
Em seu sexto disco, o grupo britânico se solta um pouco das artimanhas do próprio gênero eletrônico. Em busca de um som que fosse mais parecido com o que se faz ao vivo, Joe Goddard e companhia idealizaram o último álbum sem muitas camadas do mesmo instrumento, o que em um show torna a sonoridade discrepante em relação ao que está gravado. A decisão funciona, especialmente porque torna a sonoridade mais orgânica. Misturando synthpop, funk, indie, entre outras influências, Hot Chip entrega um trabalho que não tem medo de ser pop, sendo sexy, dançante e até mesmo extremamente humano (afinal, nada mais romântico e palpável do que convidar alguém para tomar vinho branco e comer frango frito).
Faixas de destaque: Love is the Future; Started Right; Need You Now.
8. New Order – Music Complete
Por Roberto Vieira
O álbum que fez o sucesso dos Cranberries tinha o sugestivo título de “todo mundo está fazendo isso, por que não nós?”. Tame Impala, Daft Punk, e tantos outros emulando sons oitentistas e o New Order resolveu retomar justamente do ponto em que deixou a sonoridade que o caracterizou. Music Complete, novo trabalho dos ingleses de Manchester parece uma continuação de Technique, álbum lançado em 1989. Com uma perda significativa, já que o baixo não mais conta com o estilo de Peter Hook. Mas Barney Sumner continua, bem como Stephen Morris e Gillian Gilbert, a espinha dorsal da banda que surgiu após o vácuo causado pelo suicídio de Ian Curtis e o final do Joy Division, gerando, com os três restantes, o que seria uma das principais representantes do tecnopop surgido nos anos 1980.
Music Complete agrada os fãs e deixa os que não conhecem o New Order com curiosidade sobre o material lançado no começo, como Brotherhood e Low Life, imprescindíveis para se contar a história da música feita no momento em que os sintetizadores passaram a fazer parte da rotina dos estúdios. Puxado por “Restless”, o álbum resgata a sonoridade perdida nos anos 1990, em que o New Order se dividiu em projetos pessoais de seus integrantes e perdeu a mão. Faixas como “Singularity”, “Restless” e “People on the High Line” mostram o motivo pelo qual o New Order continua merecendo respeito, apesar de “Tutti Frutti”, no seu início, fazer lembrar o que bandas como Modern Talking e Boney M produziam com qualidade abaixo do aceitável. Mas quando tocar “Superheated”, com a voz do Killers Brandon Flowers, “Nothing but a Fool”, com a melódica guitarra do Bernard Sumner, ou “The Game”, vai ficar fácil entender porque o New Order continua tão importante. Talvez a briga de Peter e Barney tenha estimulado o líder da banda a fazer música tão bem quanto nos gloriosos anos 1980.
Faixas de destaque: Superheated; Singularity; Restless.
7. Tulipa Ruiz – Dancê
Por Lenon Cesar
Sempre tenha uma boa relação com seu irmão, ele pode ser seu produtor musical um dia. Dancê é um disco incrível, já esperado de uma artista como a Tulipa, mas o que realmente chama a atenção neste trabalho é a produção de seu irmão, Gustavo Ruiz. O cara conseguiu fazer uma salada de estilos e sons bem contemporâneos, sem deixar de ser pop. Sopros, metais, percussões africanas, sintetizadores, vozes, guitarras e outros instrumentos, todos cuidadosamente harmonizados por uma mixação e masterização muito bem feitas. Um trabalho que contou com uma equipe com mais de 30 pessoas e que rendeu frutos, como o Grammy Latino de melhor álbum de pop contemporâneo brasileiro.
Faixas de destaque: Prumo; Elixir; Old Boy.
6. Jamie xx – In Colour
Por Lucas Paraizo
Jamie xx mostra como ser original e caprichoso num disco que sintetiza muito da música pop atual. Eletrônico com hip hop, dubstep e muitos samples que dão um ar novo à produção que ele já fazia nos discos do the xx.
Faixas de destaque: Stranger In A Room; Sleep Sound; SeeSaw.
5. Adele – 25
Por Lucas Paraizo & João Marcelino
Adele é incomparável atualmente. Ao mesmo tempo em que tem uma capacidade incrível de fazer hits e vender milhões de discos em uma semana, não se deixa levar e mantém em 25 a mesma nostalgia que a fez aparecer seis anos atrás no primeiro álbum. Sua voz parece ganhar vida própria em cada música, com destaque para “When We Were Young”, facilmente uma das melhores do ano. Apesar de ser inegavelmente a maior artista da atualidade, tal fato não faz de 25 o melhor disco de 2015. Há músicas excelentes aqui, enquanto outras falham em atingir o nível de qualidade esperado de uma artista dessa dimensão.
Faixas de destaque: When We Were Young; Hello; River Lea.
4. Tame Impala – Currents
Por Roberto Vieira
Se o Tame Impala fosse uma série, daquelas que vão atravessando décadas contando as histórias, como Mad Men, por exemplo, agora estaríamos nos anos 1980. A diferença é que de Lonerism, o último álbum lançado em 2012 e Currents, o mais recente, deste ano, tivemos meros três anos para cobrir uma diferença de vinte. Se há três anos os australianos estavam vivendo da psicodelia dos tempos do flower-power, agora o foco é na década que viu florescer a new wave e vigorar o pós-punk.
Neste terceiro álbum, Kevin Parker, como outra banda dos eighties, o The The de Matt Johnson, compôs, tocou, produziu tudo, ao melhor estilo bloco do eu sozinho, abusando dos teclados e da sonoridade ora deprê, ora vibrante. A síntese é a faixa “Let it Happen”, a melhor música do ano, lançada com quase oito minutos no álbum e reduzida a quatro no clipe, que transforma em estímulos visuais o sentimento de sufocamento e também de opressão vivos na canção. A lembrança dos melhores momentos dos Tears for Fears, do discurso existencialista, dos conflitos que estavam por detrás daquela geração se misturam ao ouvir as treze faixas de Currents. Não foi o Tame Impala que liderou essa tendência de revival oitentista, mas foi uma das bandas que melhor captou a sonoridade reinante especialmente nos trabalhos dos representantes britânicos daquele movimento.
Se a aura dos sintetizadores modificou completamente a sonoridade do Tame Impala, em alguns momentos ecos do Pink Floyd de The Dark Side of The Moon fazem menção ao trabalho anterior, mantendo uma certa conexão entre Lonerism e Currents. O que realmente importa é que o álbum tem densidade e criatividade para apresentar uma retomada das melhores produções realizadas na época em que os teclados reinaram, em detrimento das guitarras que vigoraram nos anos 1970.
Faixas de destaque: The Less I Know the Better; ‘Cause I’m a Man; Let It Happen.
3. Alabama Shakes – Sound & Color
Por Ruca Souza
Quando escutei pela primeira vez “Future People” numa playlist de indie rock fiquei realmente surpresa. Porque aquilo ali primeiro que não é indie rock. Não apenas. E segundo que é algo tão bom quanto eu nunca tinha escutado antes. Sound & Color transita entre o clássico da música black, com timbres, reverbs e levadas, e o contemporâneo do que de melhor se usa na música eletrônica orgânica. Tudo isso como se essas coisas distintas tivessem nascido uma para a outra. As canções parecem ter sido construídas com todo o cuidado, feitas para sentir. Um disco apaixonante. Sound & Color é excelente e obrigatório.
Faixas de destaque: Future People; Miss You; Don’t Wanna Fight.
2. Florence + the Machine – How Big, How Blue, How Beautiful
Por Rodrigo Ramos
Florence Welch nunca teve problemas em transformar sentimentos em canções poderosas, vibrantes, ainda que intimistas. Em seu terceiro trabalho de estúdio, ela se aprimora nesse quesito. How Big, How Blue, How Beautiful é uma espécie de diário da líder da banda. Os conflitos, as decepções, os anseios, os amores, está tudo ali. Com a alma nua, Florence se expõe em faixas que respiram o rock n roll, bebem de influências do folk, blues, pop, até gospel, além de toques de música clássica. Com uma produção invejável, com músicos no auge do seu talento e uma intérprete que deixa explícita cada nuance de emoção na voz, o disco é recheado por canções que irão ecoar com força em grandes concertos em arenas e estádios do planeta. Assim, de uma hora pra outra, Florence se tornou uma das principais figuras do rock mundial (“What Kind of Man” transborda a guitarra de Led Zeppelin), gritando para o mundo inteiro ouvir o que seus sentimentos têm a dizer.
Faixas de destaque: What Kind of Man; Queen of Peace; Delilah.
1. Kendrick Lamar – To Pimp a Butterfly
Por Rodrigo Ramos
K Lamar soube a hora certa para lançar seu terceiro disco de estúdio. To Pimp a Butterfly é uma narrativa sobre a vida do rapper, porém não serve apenas como diário pessoal. Do início ao fim dos 88 minutos de duração, o LP é um atestado de insatisfação, de luta interior e exterior, um relato do racismo, do preconceito e da violência com os negros. Apesar de o calendário marcar 2015, o embate racial continua em alta. Por mais que em países como o Brasil ainda exista gente que diga que preconceito não existe, na prática ele continua gritante, a exemplo dos vários casos de abuso policial e até de mortes de negros inocentes pelas mãos dos oficiais nos EUA – não que faltem exemplos do tipo por aqui também. Lamar fala sobre a fama e a exploração que vem com ela, e as formas como tentou escapar das amarras do dinheiro, tentando balancear a sua vida pessoal com o deslumbre causado pela exposição. Nem sempre teve sucesso, como ele descreve na emocionante “u”, sobre a ausência dele enquanto a irmã engravidava e um amigo morrera. “Abusando o meu poder cheio de ressentimento, ressentimento que se transformou em uma depressão profunda, me encontrei gritando em um quarto de hotel” é uma frase recorrente em várias faixas ao longo do álbum.
Enquanto luta com o seu interior e recusa a ser alcovitado pelo dinheiro e a fama, Lamar parte em busca de Deus e tenta fugir de Lucy (apelido carinhoso para Lúcifer). Em paralelo, o rapper preocupa-se em estabelecer a gravidade da questão da racial, inclusive declarando guerra àqueles que não são negros na explícita e fantástica “The Blacker the Berry”. “Você me odeia, não é? Você odeia o meu povo, seu plano é exterminar minha cultura. Você é mau pra caralho, eu quero que você saiba que eu sou um macaco com orgulho”, dispara Lamar.
To Pimp a Butterfly é um dos álbuns definitivos do gênero, trazendo à tona assuntos difíceis de serem engolidos pela grande massa, espinhosos. Diferente do trabalho anterior, este não faz a mínima questão de agradar o público em geral. Com influências de funk e jazz, e uma mãozinha de Flying Lotus na produção, Lamar transforma-se no maior representante do gênero, com um disco denso e urgente. Cru, poético e realista, o disco é incontestavelmente o melhor do ano.
Faixas de destaque: u; The Blacker the Berry; Alright.
Fizeram parte desta eleição:
Roberto Vieira, publicitário, locutor e apresentador do Tá Ligado, na Rádio Univali FM.
Paulo Henrique de Moura, jornalista, diretor de conteúdo e produção de moda na Culture lab, editor do site Culture-se, professor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e do Istituto Europeo di Design (IED) de São Paulo.
Ruca Souza, jornalista e música.
Igor Machado de Castro, estudante de Psicologia.
Rodrigo Ramos, jornalista, editor do site Previamente, repórter do Jornal O Navegantes, colaborador do site Culture-se e da Revista Mundo Pop BC.
Léo Telles Motta, supervisor musical freelancer e produtor da Weekend Wars.
João Marcelino, estudante de Jornalismo, assessor de marketing e comunicação da Uniplac e colunista do Brasil Post.
Lucas Paraizo, jornalista, repórter do Jornal de Santa Catarina e colaborador do site A Escotilha.
Dan Brandt, bacharel em Letras, DJ.
Lenon Cesar, músico.
Ricardo “Dinho” de Oliveira, jornalista.
Stefânia Enderle, jornalista e visual merchadising.
Dane Souza, publicitário e jornalista, editor e diretor do site Blumenews.
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