A Marvel começa a investir no espaço e entrega seu melhor filme
Por Rodrigo Ramos
Nem faz tanto tempo assim que a Marvel se meteu a ser gente grande. Foi em 2008 que Homem de Ferro chegou aos cinemas e mudou o rumo cinematográfico para os filmes de super-heróis. Se a DC e a Warner só tinham como exemplos de sucesso Batman, a Marvel só teve um flop (O Incrível Hulk), colecionando sucessos com heróis menos famosos do que os X-Men, Homem-Aranha e o próprio homem morcego. Homem de Ferro, Capitão América, Thor. Tudo foi dando certo para o estúdio, mas eis que chegou a hora de arriscarem pra valer, com personagens conhecidos por menos de 1% da população mundial: os Guardiões da Galáxia.
Em cartaz no mundo todo desde o mês passado, Guardiões da Galáxia é um dos longas mais arriscados não só da Marvel como também do cinema nos últimos anos. As chances de dar errado eram grandes, pois ninguém sabia quem eram os personagens, nem o diretor e tampouco o elenco era o chamariz. Só que a Marvel Studios já provou sua competência e neste ano, definitivamente, cravou com força no chão que sim, ela sabe o que está fazendo. Capitão América 2: O Soldado Invernal era, até então, o melhor filme do ano pra mim. Agora corrijo.
O grupo de protagonistas é formado pelo humano abduzido por alienígenas chamado Peter Quill (Chris Pratt), a alien mortal e teoricamente malvada Gamora (Zoe Saldana), o prisioneiro em busca de vingança Drax (Dave Bautista), o guaxinim falante Rocket (voz de Bradley Cooper) e a árvore que só sabe dizer que é o Groot (voz de Vin Diesel). Peter é apenas um mercenário (cheio desses no cinema ultimamente, não é?) e faz tudo por dinheiro, inclusive passar a perna em seus companheiros, como é o caso de Yondu Udonta (Michael Rooker). Até que ele tem em sua posse algo desejado por muitos naquela galáxia, inclusive Ronan (Lee Pace), que é subordinado a Thanos (Josh Brolin), ou seja, os dois piores caras no momento para se meter na galáxia. Ops.
Todo mundo quer o objeto e é nessa corrida, de escapar dos vilões e outros mercenários, garantir a recompensa e até o bem dos planetas, que os cinco protagonistas acabam cruzando o caminho um do outro, cada um com suas motivações particulares. Não necessariamente eles se gostam, mas acabam se juntando para protegerem o artefato misterioso.
Tudo em Guardiões da Galáxia é legal. Eu já digo legal porque o filme me dá essa sensação, de que é um exemplar cinematográfico descolado, o tipo de película que se eu quiser ver com minha mãe, meus primos mais novos, minha namorada ou meus amigos serve. É o tipo de longa-metragem que entretém ao máximo com qualidade. É um típico clássico oitentista, deslocado em 2014, mas que funciona tão bem hoje como se tivesse sido realizado na década de 80. Em primeiro lugar, o visual é sensacional. O espaço nunca esteve tão próximo de uma maneira tão espetacular desde, quando? Desde Star Wars mesmo? É. Acho que sim. O 3D reforça isso e deixa a experiência cinematográfica mais embasbacante ainda, já que a sensação é de que estamos fazendo parte daquilo.
Esse clima espacial é algo que nos remete, obviamente, ao que há de melhor em Star Trek e especialmente Star Wars, talvez a maior fonte da qual Guardiões da Galáxia bebe. Tem a dupla incomum de alívio cômico (R2-D2 e C-3PO), uma única e forte mulher (Leia) que vem a ser interesse romântico do outro protagonista (Han Solo), que por sua vez é um caçador de recompensas. Esperamos que o pai de Peter Quill, no entanto, não seja, por algum motivo, Thanos ou outro grande vilão da Marvel, porque daí vai ser um plágio descarado. De qualquer maneira, essas referências meio claras caem bem. Vamos nos contentar com a ideia de que é até uma homenagem, e homenagens são bem aceitas. Enfim, o longa utiliza muito bem os elementos espaciais, transformando a experiência em uma grande aventura para o espectador.
Logo de cara é possível se identificar com os personagens. A malandragem de Quill, a seriedade de Gamora, a falta de um sensor de sarcasmo e metáfora de Drax, a histeria e deboche de Rocket e a sensibilidade e bondade de Groot. Eles têm muita química apesar de serem completamente disfuncionais e com diferenças gritantes. O roteiro é lapidado na medida certa para que as cenas tenham o tempo certo, com as falas caindo perfeitamente para cada situação, equilibrando os diversos momentos cômicos com o frisson da ação, ao mesmo tempo em que dá conta de inserir tons sombrios, ainda que seja de forma mais leve, afinal não é um Batman de Christopher Nolan.
Guardiões da Galáxia é o tipo de filme exemplar, em que aparentemente toda a produção levou o trabalho a sério, tentando de tudo e aperfeiçoando seu produto, até chegar a esta execução final sensacional. A trilha sonora, com clássicos dos anos 70 e 80, é o bônus. As canções, de gosto refinado, caem perfeitamente nas sequências em que são inseridas e agora é impossível desvincular “Hooked on a Feeling” da película. O diretor James Gunn faz neste filme o inesperado. Veja bem, Os Vingadores é um ótimo filme, equilibrando ação com bom humor e aquele monte de personagem em tela, mas a gente já conhecia todos eles e esperávamos por algo grandioso, como o que nos foi entregue. Não esperava-se algo do tipo de Guardiões da Galáxia, um tiro tão certeiro que até o egocêntrico Robert Downey Jr admite que é a melhor película da Marvel – e não há como discordar dele.
Guardians of the Galaxy
EUA, 2014 – 121 min
Aventura
Direção:
James Gunn
Roteiro:
James Gunn, Nicole Perlman
Elenco:
Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Lee Pace, Michael Rooker, Karen Gillan, Djimon Hounsou, John C. Reilly, Glenn Close, Benicio Del Toro
Show Rodrigo! 😉 Me fez querer, ainda mais, assistir. (siiiim, tô atrasada hahaha)