Melhores Filmes de 2014

Uma Aventura Lego, Boyhood, Interestelar e Hoje Eu Quero Voltar sozinho estão na lista

O cinema tem perdido feio para a TV. Os EUA tiveram a pior arrecadação em anos na bilheteria. Apesar disso, ainda há casos de filmes incríveis, feitos com gente competente e autores que sabem como encantar o público. De diretores consagrados à cineastas estreantes, entre assuntos como homossexualidade, traição, escravidão, romance, guerra, espaço, excessos, metalinguagem e a vida em si, o ano reservou longas-metragens emocionantes, engraçados, embasbacantes e fantásticos. Dentre todos os que entraram em cartaz no Brasil em 2014, os vinte títulos citados aqui foram os que mais se destacaram. Conheça-os abaixo.

20. Planeta dos Macacos: O Confronto (Dawn of the Planet of the Apes)

Direção: Rupert Wyatt (EUA, 2014)

O segundo reboot que Hollywood fez para Planeta dos Macacos (o primeiro, de Tim Burton, era aquela atrocidade cinematográfica) saiu-se bem melhor do se imaginava. Aliados a bons roteiros e efeitos visuais de ponta, os longas se transformaram em filmes imperdíveis. Em Planeta dos Macacos: O Confronto, a história se desenrola dez anos após os acontecimentos do longa anterior. O planeta ainda não é totalmente dos macacos, mas a doença se espalha e o mundo ganha traços pós-apocalíptico, dividido entre os primatas e os humanos. A guerra entre as duas espécies ganha força, mas o mais interessante são os problemas enfrentados pelos macacos e o relacionamento entre eles. Poderia ser mais grandioso, todavia ainda assim é bom o suficiente para nos deixar querendo mais, especialmente com mais uma ótima atuação de Andy Serkis, como Caesar.

(melhores filmes de 2014) Planeta dos Macacos - O Confronto

19. O Lobo Atrás da Porta

Direção: Fernando Coimbra (Brasil, 2013)

The Affair ganhou o Globo de Ouro de melhor série dramática neste ano. A narrativa trazia a mesma história contada por dois pontos de vista diferentes pelo casal de amantes, descrevendo os fatos à sua maneira diante de um interrogatório policial. Parece inovador, mas algo semelhante aconteceu algum tempo antes, no filme O Lobo Atrás da Porta. A filha do marido traidor está desaparecida e por conta disso ele, a esposa e a amante são chamados na delegacia. A narrativa vai se construindo a partir dos relatos deles, delineando uma história de paixão fulminante, mentiras, obsessão e crime. O desfecho é impactante, mas não funcionaria caso não houvesse um roteiro bem delineado e atuações acima da média dos protagonistas Leandra Leal e Milhem Cortaz.

(melhores filmes de 2014) O Lobo Atrás da Porta

18. 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave)

Direção: Steve McQueen (EUA/Reino Unido, 2013)

Sempre fico com o pé atrás com filmes demasiadamente comentados – ainda mais se for um indicado máximo ao Oscar e a todas aquelas premiações de começo de ano. Admito que não tinha muita curiosidade por 12 Anos de Escravidão, por isso assisti o filme sem expectativas. Mas não tem como: Steve McQueen não se acovarda diante da plateia e não toma atalhos para mostrar a realidade crua e aterradora da escravidão. Não apenas pela história, a obra também vale por seus detalhes técnicos e estéticos, dignos de uma boa discussão cinéfila.

12 Years A Slave

17. O Homem Duplicado (Enemy)

Direção: Dennis Villeneuve (Canadá, 2014)

Baseado no livro de José Saramago, o longa do diretor canadense não deixa nada mastigado para o espectador. Assistir O Homem Duplicado é tentar encontrar sentido em um emaranhado de sequências e metáforas construídas de forma magistral. A atuação precisa e surpreendente de Jake Gyllenhaal só adiciona mais camadas ao desafio.

(melhores filmes de 2014) O Homem Duplicado

16. Mesmo Se Nada Der Certo (Begin Again)

Direção: John Carney (EUA, 2014)

John Carney já provou saber mesclar na medida certa um roteiro com músicas que fazem sentido dentro da trama com Apenas Uma Vez. Se o clima deste era mais melancólico, Mesmo Se Nada Der Certo tem um clima mais otimista. A história é de um produtor (Mark Ruffalo, ótimo) que está atrás de um novo talento após ser demitido da própria gravadora e se depara com uma artista (Keira Knightley) que sempre viveu na sombra do estrelato do seu namorado (Adam Levine). Juntos, eles acabam se reencontrando na música, paixão compartilhada entre ambos. O longa se desvia dos clichês das comédias românticas, deixa suas críticas à indústria fonográfica, dá personalidade aos seus personagens, vive a música intensamente com letras caprichadas e utiliza os sons de uma grande cidade para dar vida às canções.

(melhores filmes de 2014) Mesmo Se Nada Der Certo

15. Os Boxtrolls (The Boxtrolls)

Direção: Graham Annable, Anthony Stacchi (EUA, 2014)

O estúdio Laika gosta de trabalhar com histórias diferentes. Em Os Boxtrolls, eles impressionam pela temática. Um garoto-órfão é criado por seres que vivem nos esgotos, os boxtrolls. Por serem diferentes, são considerados monstros e são caçados pela população. O longa trabalha isso como uma metáfora para os dias atuais, colocando em evidência parte do preconceito que viveram e de certa forma ainda vivem os homossexuais – e não só eles, mas todos aqueles que não seguem exatamente a cartilha de um cidadão comum. O filme é corajoso por essa mensagem, ainda conseguindo trabalhar em cima do tema ‘família’. Vale também pelo belíssimo trabalho visual.

(melhores filmes de 2014) Os Boxtrolls

14. Vidas Ao Vento (Kaze tachinu)

Direção: Hayao Miyazaki (Japão, 2013)

Este é o único filme do gênio da animação, Hayao Miyazaki, que assisti no cinema, logo em sua última película – ao menos, é o que alega o cineasta. A despedida dele, no entanto, não é com a carreira em declínio. Pelo contrário. Vidas Ao Vento é, pra mim, o melhor longa dele. Suas animações são repletas de temas que fogem do mar comum do gênero, mas neste aqui os elementos alegóricos direcionados às crianças ficam de lado e ele aposta em uma narrativa mais adulta. A belíssima história tratada aqui é sobre Jiro Horikoshi, designer dos aviões camicazes utilizados pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial. O longa-metragem é fantástico, inspirado, que investe em peso nas emoções. A jornada de Jiro é contada com lirismo onírico, sensibilidade e maturidade. É um retrato delicado e fiel em relação aos reflexos da guerra. Pode não ser a mais criativa visualmente, mas certamente é a película mais poderosa emocionalmente de Miyazaki.

(melhores filmes de 2014) Vidas Ao Vento

13. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

Direção: Daniel Ribeiro (Brasil, 2014)

Adolescentes e a busca por independência é uma combinação excelente quando executada adequadamente por atingir uma intuição que é universalmente compartilhada por diferentes estágios da vida. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho insere o seu protagonista em um turbilhão de emoções facilmente identificáveis, porém com elementos que diferem o personagem de um tímido garoto da classe média de São Paulo. É com isso que Daniel Ribeiro dirige uma narrativa tocante, evidenciada pelo fato de possuir um personagem principal completo de inseguranças ao mesmo tempo em que se mostra decidido por um tema tão subjetivo como a sua autonomia. A pressão de todos ao redor dele – um jovem cego que eventualmente se apaixona pelo seu amigo de escola – o marginaliza e permite que sua vontade de tomar decisões importantes por conta própria seja constantemente ignorada, culminando em angústias que são vencidas pelo belo desfecho. O resultado é uma colagem de diversos temas socialmente cruciais encaixados e acompanhados de uma trilha sonora capaz de pontuar bem as ações e o estado emocional das pessoas que acompanhamos.

(melhores filmes de 2014) Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

12. Interestelar (Interstellar)

Direção: Christopher Nolan (EUA/Reino Unido, 2014)

Interestelar já pode ser considerado o filme em que Christopher Nolan deixa de lado suas preferências cerebrais e engatinha em temas mais emocionais, refletindo, inclusive, sobre o maior deles: o amor. Ligado a isso, o diretor traz uma história que trata sobre o tempo. Em uma projeção que ainda conta com grandes atuações (olá, Matthew McConaughey), efeitos visuais e sonoros que deixam qualquer um vidrado em suas cenas, ainda há tempo para discutir teorias físicas modernas.

(melhores filmes de 2014) Interestelar

11. Uma Aventura Lego (The Lego Movie)

Direção: Phil Lord, Christopher Miller (EUA, 2014)

Ninguém apostava um centavo num filme com Lego. Então as pessoas assistiram ao filme e se surpreenderam. A animação é megalomaníaca, extremamente colorida, abraçando o fato de ser todo feito com Lego (incluindo as limitações e as possibilidades do brinquedos), trazendo diversas referências da cultura pop, contendo piadas para crianças e mais ainda para os adultos. Uma Aventura Lego é frenético, hilário e imprevisível, além de ser de encher os olhos. Ah, e tem o melhor Batman do cinema, vale ressaltar.

(melhores filmes de 2014) Uma Aventura Lego

10. Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive)

Direção: Jim Jarmusch (Reino Unido, 2013)

Para quem conhece a filmografia de Jim Jarmusch, sabe do seu cuidado especial com a trilha sonora e a dinâmica que suas estórias são contadas, sem falar de seus personagens decadentes e desiludidos. Jarmush é o pai das consciência das gerações pós-punk. Seus personagens não têm mais o que inventar, se não viver sem motivos, sem movimentos, sem esperança e ideologias. Mas o que fazer quando estes personagens são eternos? Ou melhor, vampiros? O longa nos apresenta os dois pricipais personagens usando o artifício da música, uma versão moderna e escura da rainha do rockabilly Wanda Jackson, interpretada pela banda do diretor SQURL. Um vinil gira, a câmera acompanha; Eva (Tilda Swinton) está deitada rodeada de livros em um certo transe. Em outro ambiente, deitado no chão, rodeado de discos e com uma guitarra no colo, está Adam (Tom Hiddleston). Eva e Adam são vampiros centenários, apaixonados por arte, que vivem no mundo atual. Desiludidos com o potencial perdido do ser humano, mas também apaixonados um pelo outro, este é o único motivo de suas existências.

O longo brinca com os estereótipos de vampiros, nos apresenta conhecimentos científicos que os personagens centenários tem sobre física, química e biologia, citando Einstein e Tesla. Critica a forma que o ser humano, chamados pelos vampiros de “zumbis”, leva sua vida e descuida de seu mundo. E nos mostra que o único objetivo da existência, tanto para os efêmeros como para os eternos, é a busca do conhecimento e do amor, mesmo que alguns em lapsos de consciência devorem uns aos outros; tudo isso com um toque sutil de cultura pop.

Only Lovers Left Alive

9. Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy)

Direção: James Gunn (EUA, 2014)

De personagens desconhecidos do público, até mesmo pelos amantes de HQs, Guardiões da Galáxia se tornou um dos filmes mais queridos do ano, e certamente o mais amado do gênero de super-heróis. Os personagens funcionam muitíssimo bem entre si e o clima é descontraído, mesmo quando há aquela tendência de pender para o lado mais sério. Guardiões da Galáxia não tem nada de sombrio, quase não possui ligação direta com o resto do universo Marvel e por isso mesmo tem êxito. É um longa-metragem que funciona por si só, partindo de um bom roteiro, ótimos personagens, atores competentes e um espírito de aventura que havia abandonado o cinema há algum tempo.

(melhores filmes de 2014) Guardiões da Galáxia

8. Era Uma Vez em Nova York (The Immigrant)

Direção: James Gray (EUA, 2013)

Era Uma Vez em Nova York é um filme que deixa qualquer pessoa que deseje escrever sobre ele insatisfeito no final do texto por conseguir englobar tantos elementos fantásticos juntos, criando a aflição de que sempre faltará um detalhe a ser comentado sobre a bela e densa obra de James Gray. A dupla Marion Cotillard e Joaquin Phoenix entrega duas das melhores performances do cinema em 2014 – o que cada um faz também em Dois Dias, Uma Noite e Ela, respectivamente – com sua relação que une a obsessão com a necessidade de alcançar o famoso American Dream. Além disso, diversos outros elementos contribuem para que o filme crie sua atmosfera desoladora, como o plano em que a estátua da liberdade contraposta a um céu nublado diante de uma fotografia de tom amarelado. Esse tipo de combinação é perfeita para indicar o quanto a polonesa recém-chegada ao novo país está sempre em perigo, o que ainda é reforçado pelo design de produção para criar um sentimento de claustrofobia em qualquer apartamento em que ela esteja, servindo como base para toda a destruição e reconstrução exibida pela protagonista em sua sofrida jornada nos EUA.

No fim, o grande mérito de Era Uma Vez em Nova York é trafegar entre sua obstinação e fragilidade sem prejudicar nenhum dos lados, algo que nenhum filme fez com tanta competência ao longo do ano.

(melhores filmes de 2014) Era Uma Vez em Nova York

7. Relatos Selvagens (Relatos SAlvajes)

Direção: Damián Szifrón (Argentina, 2014)

Dá pra ter inveja do cinema argentino. Por mais que o país esteja em crise econômica, o cinema dos hermanos absorve os problemas e utilizam isso a seu favor. Pena que o Brasil pouco faz isso e estamos muito atrás deles. Relatos Selvagens é uma prova disso. A película traz consigo várias histórias, sem nenhuma ligação entre a outra – não há crossover de personagens. Cada conto, no entanto, traz uma coisa em comum: a vingança. A perda de controle total por algum motivo é o que desencadeia os acontecimentos. Uma mulher descobre as mentiras do marido durante o casamento; um cidadão é feito de otário pelas leis do trânsito do município e toda sua burocracia; um homem xinga outro motorista no meio da estrada. São apenas alguns exemplos. A execução é realizada com maestria. Apesar das histórias soltas, não há quebra de ritmo e todas parecem pertencer ao mesmo universo, com a Argentina de pano de fundo. Relatos Selvagens é um filme insano, surpreendente e divertidíssimo.

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6. O Abutre (Nightcrawler)

Direção: Dan Gilroy (EUA, 2014)

Utopicamente falando, o Jornalismo é bem mais belo e eficiente do que é na realidade. Com a tecnologia e a internet, parece cada vez mais difícil apurar uma matéria da maneira que ela necessita. O olhar negativo sobre os fatos também é mais presente; dificilmente uma pauta aborda algo positivo. Infelizmente, por culpa da própria imprensa que oferece esse tipo de conteúdo ou talvez por conta dos consumidores que procuram esse tipo de conteúdo é que a profissão tem mostrado seus piores lados. Em O Abutre, é discutido os limites do Jornalismo e até onde um ser humano pode ir, passando por cima do sofrimento do outro, para ganhar audiência e dinheiro. A sede por carnificina e a imposição do medo nas pessoas é algo que acontece com frequência na prática jornalística. Não é exclusividade dos EUA. No Brasil, sobram exemplos. Programas como Cidade Alerta, Brasil Urgente, apresentadores finados como Alborghetti e Gil Gomes, além do jornal catarinense Diarinho, exploram a tragédia e extrapolam o limite do sensacionalismo. Na trama do longa, o personagem de Jake Gyllenhaal não está preocupado com nada a não ser em conquistar o poder a partir da desgraça alheia. Enquanto isso, a chefe do jornal da manhã, interpretada por Rene Russo, é inescrupulosa a não pensar nem sequer duas vezes antes de colocar pessoas mortas, agonizadas, sangrando no ar, e, por tabela, instaurando o medo. O Abutre discute ética, moral, obsessão, ambição, e o universo jornalístico, cada vez mais em declínio, seja pela necessidade de publicar o furo sem nem antes checar as fontes e os fatos que está citando ou pelo sensacionalismo barato diário.

(melhores filmes de 2014) O Abutre

5. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street)

Direção: Martin Scorsese (EUA, 2013)

O mestre Martin Scorsese se arriscou alguns anos atrás ao fazer seu primeiro longa com classificação livre, o brilhante A Invenção de Hugo Cabret. Para tirar a sutileza e delicadeza do trabalho anterior, ele investiu em um filme surtado, cheio de palavrões (entrou pra História como o filme em que mais dizem “fuck”), sexo, crime e drogas. Com três horas de duração, Scorsese utiliza Leonardo DiCaprio, em sua melhor performance, para contar a história de Jordan Belfort, um rapaz que subiu na vida basicamente realizando atos ilegais como corretor da bolsa de valores de Nova York. É uma jornada de ascensão e declínio. Existe aqui alguma lição moralista? Não. Nenhum pouco. Inclusive, o longa foi acusado de endeusar a ilegalidade. Mas não é nada disso. Scorsese só preferiu não levar a questão a sério demais e criou uma quase comédia em cima da figura de um homem que riu boa parte do tempo na cara dos federais e nunca pareceu se arrepender do que fez. Nem todo mundo de fato sofre de arrependimentos, apesar de o cinema costumeiramente gostar de reforçar a ideia de que todos sofrem com isso. É uma viagem alucinada pela vida de um homem sem escrúpulos e que viveu de excessos. Não é a intenção apoiar as decisões dele, tampouco admirar o caráter de Belfort. Mas é uma experiência única acompanhar essa jornada, que contém momentos antológicos e atos nada recomendáveis para serem feitos em casa.

THE WOLF OF WALL STREET

4. Garota Exemplar (Gone Girl)

Direção: David Fincher (EUA, 2014)

David Fincher gosta de um bom suspense, histórias com grandes viradas e em trabalhar com a imagem de mulheres fortes, como fez em Alien 3, Quarto do Pânico e Os Homens Que Não Amavam as Mulheres. Garota Exemplar encaixa nos três pré-requisitos. A história do marido Nick (Ben Affleck) e da esposa desaparecida Amy (Rosamund Pike) é um tanto quanto perturbadora. A linguagem é interessante – a trama alterna a investigação do sumiço de Amy, enquanto traz trechos do diário dela – e o desenrolar é surpreendente. É um estudo de caso sobre o casamento, de como muitas vezes vivemos anos ao lado de uma pessoa e não a conhecemos de verdade; de como o matrimônio é e pode ser imperfeito.  Além disso, também discute a participação da imprensa em coberturas de crimes ainda sem solução. A mídia, com facilidade, condena alguém sem sequer ter havido um julgamento ainda. E da mesma forma como julga, também pode absolver e coloca o acusado em um pedestal.

(melhores filmes de 2014) Garota Exemplar

3. Ela (Her)

Direção: Spike Jonze (EUA, 2013)

Spike Jonze conseguiu, de forma bela e onírica, criar uma história de amor entre um homem e uma máquina. Talvez o detalhe mais singelo de Ela não seja a voz melódica de Scarlett Johansson, mas a forma como Jonze conduz sua câmera, registrando uma paleta de cores quentes e um sorriso melancólico na magnífica interpretação de Joaquim Phoenix. Mas o filme não estanca as possibilidades em seu lado bonito; o agridoce de Ela também está nas consequências de um amor que une um ser humano e um sistema operacional que não possui vida real – apenas na cabeça do protagonista.

(melhores filmes de 2014) Ela

2. O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel)

Direção: Wes Anderson (EUA/Reino Unido, 2014)

Simétrico, estiloso e até mesmo um thriller adorável, O Grande Hotel Budapeste é a imagem refletida de seu diretor, Wes Anderson, que aqui utiliza sua criatividade para arquitetar uma obra esteticamente fascinante. Mesmo não se caracterizando como o seu melhor trabalho, o filme sustenta-se utilizando traços de sua direção que conhecemos previamente de outras obras. Com isso, O Grande Hotel Budapeste cria uma zona de conforto deliciosa, abrindo espaço para que Ralph Fiennes e Tony Revolori – conectados pela montagem de Barney Pilling de forma brilhante para retratar o vínculo da dupla – encontrem-se em uma aventura não somente capaz de produzir um senso de urgência cômico em momentos como suas sequências de perseguição e fuga, mas também possibilitando que a relação de afeto entre os personagens – e aqui deve-se incluir também o próprio hotel, caracterizado por um design de produção que entrega a vida ao ambiente e permite que os sentimentos da dupla principal nunca soem artificiais diante de algo inanimado – seja o alicerce perfeito para que os instantes emocionais do filme atinjam o espectador.

(melhores filmes de 2014) O Grande Hotel Budapeste

1. Boyhood: Da Infância à Juventude (Boyhood)

Direção: Richard Linklater (EUA, 2014)

Richard Linklater já contou uma história que percorre o tempo, dividido em três partes, chamados Antes do Amanhecer (1995), Antes do Pôr do Sol (2004) e Antes da Meia Noite (2013). Então reunir elenco e contar uma narrativa que ultrapassa uma década não é novidade para ele. Ainda assim, ele quis contar algo além do romance em três tempos. Mais ambicioso, Boyhood é um longa-metragem filmado durante doze anos. Apesar da complexidade de conseguir manter toda a equipe e uma narrativa coesa, Linklater soube administrar o trabalho e entrega um dos mais belíssimos filmes que pude assistir na vida. Não há nada que salte aos olhos, pois visualmente não há nada de fantástico. A beleza de Boyhood está na simplicidade. O filme nada mais é que um recorte gigante do tempo, facilmente relacionável com qualquer um de nós, independente da idade. É incrível ver como o tempo passa voando diante de nossos olhos em uma única película. São momentos aleatórios da vida desse personagem, algumas vezes sem muita importância – certamente não seriam escolhidos para contar certas biografias. Tudo é feito com sutileza, desde as atuações naturalistas aos diálogos que soam críveis. A magia fica no fato de narrar a vida como ela é e não há nada mais poético e belo do que a vida em si.

(melhores filmes de 2014) Boyhood

Textos por Rodrigo Ramos, exceto Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, Era Uma Vez em Nova York e O Grande Hotel Budapeste por André Fellipe; 12 Anos de Escravidão, O Homem Duplicado, Interestelar e Ela por Ewerton Mera; e Amantes Eternos por Gustavo Halfen.

Fizeram parte desta eleição:
Ewerton Mera, bacharel em Letras e escreve no blog Uma Estante Reloaded.
Gustavo Halfen, escreve para o blog Sobre Cinema e Café.
Marcelo Hessel, jornalista, redator e crítico de cinema do site Omelete.
Daniel Medeiros, crítico de cinema, escreve em seu blog 7Marte, redator do site Pipoca Moderna e membro da ABRACCINE – Associação Brasileira de Críticos de Cinema.
Roberto Sadovski, jornalista e crítico de cinema, escreve sobre cinema para o site UOL e é dono do canal Nerdovski no YouTube.
André Felippe, colunista dos sites Previamente e Série Maníacos.
Rodrigo Ramos, jornalista, editor-chefe do site Previamente, repórter do Jornal O Navegantes e colunista de cinema e séries de TV no site Culture-se.
Bárbara Sturm, diretora da distribuidora Pandora Filmes (responsável pela aquisição dos filmes e coordenação de lançamento), curadora do festival Cinerama.BC e programadora do Caixa Belas Artes (SP).
Diego Benevides, jornalista, colunista da Rádio Beach Park e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).
Aline Meira, profissional de Relações Públicas, pós-graduação em Produção Cultural, trabalha com Mídias Sociais na Associação Brasileira de Psiquiatria.
Alana Archer, jornalista.
André Felipe Gevaerd Neves, formado em Comunicação Social com ênfase em Cinema, produtor, montador e diretor.

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PRODUÇÃO, EDIÇÃO E TEXTO DE ABERTURA POR RODRIGO RAMOS

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