Melhores Atuações Principais da TV na Temporada 2020/2021

The Crown, Pose e The Queen’s Gambit estão entre os destaques.

O Previamente, a partir de um júri com 22 pessoas entre profissionais da área, jornalistas, críticos, estudantes e aficionados por séries, elegeu as melhores atuações coadjuvantes da TV na temporada 2020/2021. A seleção foi realizada utilizando os mesmos critérios do Emmy Awards: entram as obras que debutaram sua temporada entre 1º de junho de 2020 até 31 de maio de 2021, tendo sido exibida pelo menos 50% de seus episódios até o final de junho deste ano.

Confira a lista completa abaixo.

MELHORES ATUAÇÕES PRINCIPAIS

Shantel VanSanten (For All Mankind)

A Karen Baldwin, de Shantel Van Santen, pode trazer uma certa estranheza no começo da primeira temporada de For All Mankind, porém, isso logo passa, pois a série começa uma completa desconstrução da personagem e daquele padrão de vida da sociedade americana. Mas é na segunda temporada que Van Santen brilha. Várias das principais tramas giram em torno de Karen, até mesmo a grande missão Pathfinder é afetada por ela, uma verdadeira força dentro da série. Um destaque para as discussões familiares com Ed, que lembram muito grandes cenas de The Americans (2013-2018), em que a atuação de Shantel nos mostra toda a evolução da personagem. — Thiago Silva

(Apple TV+)

MJ Rodriguez (Pose)

Pose constantemente investe no lado emocional para captar os espectadores. E se a última série decente cocriada por Ryan Murphy funciona, é muito graças à performance de MJ Rodriguez. Blanca Evangelista é o fio condutor, o cerne, o coração da produção. Cada cena de MJ envolve uma entrega de corpo e alma — o que pode ser irritante para alguns, eu sei, mas é o jeito brega, por vezes, das produções de Murphy. É palpável a força interior dessa mulher, a garra, a gama de emoções. MJ sabe a importância da representatividade de seu papel, mas não se deixa amedrontar por isso. Pelo contrário, é essa pressão que faz MJ pegar suas próprias experiências pessoais, como mulher trans, e usá-las a seu favor, transformando uma personagem em algo além disso, transformando-se em um símbolo. Sua Blanca é uma vitória, uma aula de representação e também de compreensão sobre a construção de um papel. MJ entrega uma performance memorável, visceral e comovente, encerrando a jornada de Blanca no auge da sua capacidade cênica. — Rodrigo Ramos

(FX)

Billy Porter (Pose)

“The Category is…. Billy Porter”. Pose já entrou para a história da TV ao colocar personagens negras e trans em destaque, e também temos Pray Tell, interpretado pela força da natureza que é Billy Porter, digno dos efeitos sonoros “TEN”, “TEN”, “TEN”, “TEN” em todas as categorias. E com a incrível atuação de Porter, Pray Tell se tornou um dos melhores personagens do mundo das séries nos últimos anos. Com ele, embarcamos em uma jornada através da terceira temporada de medos, sonhos, lutas e esperança, e isso ganha ainda mais destaque ao descobrir que Billy Porter revela ser HIV positivo há 14 anos, em uma entrevista antes da estreia da última temporada. Destaque para o avassalador episódio “Take me to Church”, que nos leva ao passado do personagem em um confronto com sua mãe, além de sua relação de amor e ódio com a igreja. Temos também o doloroso e lindo episódio de despedida do personagem, “Series Finale (Part 1)” ao som de “I Say A Little Prayer”, de Aretha Franklin. — Tammy Spinosa

(FX)

Uzo Aduba (In Treatment)

Após anos levando Orange is the New Black nas costas, mesmo quando a série respirava por ajuda de aparelhos, Uzo Aduba finalmente teve a oportunidade de sair do calabouço da Netflix para alçar voos mais altos. Felizmente, Hollywood não a transformou em uma performer de uma nota só, lhe entregando papéis semelhantes ao que a fez estourar (e conquistar dois Emmys, diga-se de passagem). Aduba teve a oportunidade de interpretar a figura história Shirley Chisholm, primeira mulher negra a se candidatar à presidência dos EUA, em Mrs. America. Sem surpresas, ela entregou uma performance irretocável, lhe garantindo seu terceiro Emmy. Porém, ela ainda precisava da chance de ser a protagonista de sua própria história e é isso que ela consegue em In Treatment.

Neste reboot da série, Aduba tem a oportunidade de mostrar que tem capacidade de carregar, agora como nome principal do elenco, uma série. E ela não deixa dúvida nenhuma sobre. Aduba é quem faz a quarta temporada de In Treatment brilhar. Posta em situações adversas e distintas entre os problemas pessoais próprios e dos pacientes, Aduba explora vários caminhos em sua performance. Ela está confortável em sua pele e domina todas as cenas em que se encontra (o que é basicamente 99% do tempo). É impossível tirar os olhos dela. Aduba tem cautela na forma como se expressa, do olhar à respiração, dos gestos às palavras ditas. A atriz passa segurança na performance e garante uma terapeuta problemática, sim, mas que não faz o espectador ter ranço (Gabriel Byrne, você é ótimo, mas Paul é péssimo). Desta forma, Aduba reforça o que todos já sabíamos: ela é uma das melhores performers da atualidade na TV. — Rodrigo Ramos

(HBO)

Anya Taylor-Joy (The Queen’s Gambit)

Seis anos se passaram desde que Anya Taylor-Joy estourou para o sucesso junto com A Bruxa. Todo esse tempo, desde então, a atriz passou com a agenda cheia. No entanto, nada de muito destaque pessoal, apesar de protagonizar várias narrativas. Faltava algo. O Gambito da Rainha é instigante não só pela condução de Scott Frank, mas porque Anya, finalmente, entrega uma atuação ao nível do qual se imaginava que ela era capaz. E é delicioso assisti-la em cena. A jornada de Beth Harmon é um amadurecimento em meio a traumas e desafios que Anya Taylor-Joy faz transparecer com maestria. As diferentes fases (ou episódios) entre os altos e baixos da vida da enxadrista, completamente ficcional, exigem coisas diferentes da atriz, e ela está sempre pronta para dar um passo além e nos fazer acreditar na personagem. Às vezes, nem é em si um passo, mas um olhar, um trejeito, algo que parece extremamente simples e banal, mas meticulosamente calculado por nossa protagonista para refletir aquela personagem e que casa perfeitamente com a ideia que a série quer transpassar.

Anya Taylor-Joy entrega alguns dos momentos mais marcantes da temporada, especialmente no finale. Nele, sua jornada é transposta a uma nova realidade, a qual a personagem enfrenta e resulta num desafio em que Anya é a chave que torna tudo tão eletrizante e encanta não só a seu mestre e seus rivais, mas ao público também. — Renan Santos

(Netflix)

Emma Corrin (The Crown)

A quarta temporada de The Crown é, sem dúvida nenhuma, a melhor temporada da série. E um dos grandes motivos (e surpresas) para elevar a série nesse momento foi a descoberta de Emma Corrin como a icônica Princesa Diana. Corrin, uma atriz desconhecida, compõe uma Diana perfeita na emulação física e corporal da figura da vida real sem que isso se torne uma imitação. Cheia de sutilezas, de tiques bem detalhistas e de um olhar doce, a voz, fragilizada e apaixonada, a Diana de Corrin é uma força de natureza que explode em momentos de vulnerabilidade e de dor que a sua personagem enfrenta com a família real, especialmente em duelos com um também ótimo Josh O’Connor. — Diego Quaglia

(Netflix)

Thuso Mbedu (The Underground Railroad)

Fascinante! Não há outra palavra melhor para descrever o que é assistir a Thuso Mbedu em cena em The Underground Railroad. Que Barry Jenkins tira de seus atores trabalhos excepcionais já é sabido, mas a relativamente pouco conhecida atriz carrega o protagonismo da série com uma força que parece verter de algo muito maior que qualquer um dos dois podia ter desejado a princípio. É uma sinergia absoluta, e em cada cena Thuso Mbedu é absoluta. É difícil para qualquer outro ator confrontar o peso que a atriz coloca em seu papel.

Ela que, por sua vez, carrega o peso absurdo que possui a série de Jenkins, e de forma alguma é uma tarefa fácil. São muitas exigências, e ela constantemente as supera. Não com facilidade, é verdade. Parece um amadurecimento conjunto a personagem e a árdua jornada pelo país que cultiva o racismo com tanto ardor. Thuso Mbedu traz consigo não só o que parece guardar em seu interior, nem Barry Jenkins consigo, mas o que toda uma população negra sofreu e sofre ao longo da história, de uma interminável história de discriminação que refuta as coisas mais básicas do que é ser humano. E nossa interprete também ressalta essas características. Quando se apaixona, quando encontra seu lar, quando encontra seu grande amor, quando encontra sua família. Quando se vê liberta. A visão de Barry Jenkins sobre sua protagonista negra faz toda a diferença, não há duvidas. Por isso mesmo, independentemente de todo o sofrimento, em nada fetichizado, o que ficará na memória é Thuso Mbedu com seu olhar determinante e vislumbrando uma esperança enquanto aquece e reconforta em seus braços o futuro. — Renan Santos

(Amazon Prime Video)

Jean Smart (Hacks)

Possuir quatro décadas de carreira em Hollywood parece algo cada vez mais ligado às figurinhas clássicas do cinema, mas no caso da excepcional Jean Smart, sua história de sucesso foi construída na TV. Meu primeiro contato com a atriz foi quando ela viveu a inesquecível Martha Logan na quinta (e melhor) temporada de 24 Horas. Desde então, descobri que mesmo uma pequena participação especial de Jean em alguma série que eu acompanhava, era certeza de sucesso.

Quando a HBO Max anunciou o elenco de Hacks com a Jean Smart encabeçando a produção, meu radar para peak comedy já ficou aceso, e não deu outra. A atriz, agora Emmy Winner Nominee por encarnar a maravilhosa Deborah Vance, entregou uma das melhores atuações de 2021 como uma rainha da comédia que precisa se reinventar para não ser abocanhada pelas tendências do showbiz. O roteiro de Hacks parece ter sido escrito sob medida para o talento de Jean Smart, que transforma Deborah Vance numa personagem cheia de nuances, até mesmo quando encarna literalmente uma versão de si mesma no Museu de Cera Madame Tussauds. Depois dos papéis mais dramáticos em FargoLegion e Watchmen nos últimos anos, é excelente poder acompanhar alguém como Jean Smart em algo tão bom e divertido. Desafio qualquer um a terminar a primeira temporada de Hacks e não entrar para o fã clube da atriz. Como costumam dizer: “a maior que nós temos”. — Zé Guilherme

(HBO Max)

Michaela Coel (I May Destroy You)

Para quem já havia visto Black Earth Rising e Chewing Gum, o talento de Michaela Coel não era desconhecido, mas é de se impressionar a extensão que ela atinge em I May Destroy You, em que ela também atua e escreve. A Arabella de Michaela vai de um tom de humor que exige todo o carisma da sua atriz a um drama muito sério e pesado, em que ela tem de lidar com a confusão de emoções e de um peso gigante que trazem à tona os seus sentimentos particulares, densos, dolorosos e complexos, com questões como estupro, estresse pós-traumático e o trauma disso tudo. Até por ser a autora e a codiretora da série, Michaela é uma força da natureza que se coloca em cada aspecto da série, numa presença de cena impressionante, que faz com que o seu rosto, a sua voz e a forma que ela se locomove em cena se adaptem pelos caminhos que a série segue. — Diego Quaglia

(BBC One/HBO)

Kate Winslet (Mare of Easttown)

Após uma década com papéis aquém do seu incontestável talento, Kate Winslet encontrou um projeto que faz jus a ele. Como a detetive Mare Sheehan, a atriz pôde explorar uma personagem multifacetada, com falhas, traumas, problemas familiares e insatisfação no trabalho. Ao mesmo tempo em que repete os antigos padrões, e nem todos são saudáveis, ela não consegue sair desse ciclo vicioso, tampouco da cidade onde vive. Encontrando um meio campo entre as detetives de The Killing e The Fall, a personagem de Winslet não é um estereótipo da policial masculinizada, conseguindo, inclusive, subvertê-lo em alguns momentos. Mare está de saco cheio de tudo e está machucada. E a performance de Winslet consegue encapsular tudo isso. Sua insatisfação é tamanha que acaba se transformando em uma personalidade rabugenta, que chega a ser engraçado e proporciona momentos cômicos, em especial na relação com sua mãe (interpretada brilhantemente por Jean Smart, inspiradíssima). As batalhas externas se manifestam e são refletidas também nos conflitos internos da personagem — e Winslet garante que o espectador esteja ciente disso. Ela é uma bomba relógio prestes a explodir (ou implodir). Mare pode estar num péssimo momento da vida, em todos os âmbitos, entretanto, sua intérprete encontra-se no topo do seu jogo. — Rodrigo Ramos

(HBO)

Menções honrosasJason Sudeikis (Ted Lasso), Kaley Cuoco (The Flight Attendant), Olivia Colman (The Crown), Joel Kinnaman (For All Mankind) e Sterling K. Brown (This Is Us).

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Fizeram parte do júri
Angelo Bruno, estudante de Letras — Licenciatura em Português.
Breno Ribeiro, roteirista.
Caio Coletti, jornalista e repórter do site Omelete.
Carissa Vieira, roteirista, formada em Cinema e Audiovisual.
Cid Souza, criador e host do SeriousCast.
Diego Quaglia, cineasta, roteirista e crítico de cinema e audiovisual.
Diogo Pacheco, colaborador do Série Maníacos.
Eduardo Fernando Gomes Filho, colaborador do Cine Eterno.
Geovana Rodrigues, sommelier de séries.
Juliano Cavalca, bacharel em Economia, escreve sobre seriados na internet desde 2005.
Mariana Ramos, roteirista, mestre em Cinema e Audiovisual, host do podcast Isso não é um filme.
Mateus Santos, engenheiro mecânico, humildemente viciado em séries
Mikael Melo, jornalista, produtor de Jornalismo na NDTV Record.
Rafael Mattos, estudante de Jornalismo, administrador do grupo Crônicas de Séries.
Rafaela Fagundes, sommelier de séries.
Régis Regi, bacharel em Cinema, roteirista.
Renan Santos, formado em Cinema, crítico e newsposter no site Cine Eterno.
Rodrigo Ramos, jornalista, repórter/assessor de comunicação na Prefeitura de Navegantes, editor do site Previamente, foi programador de cinema na Cineramabc Arthouse.
Tammy Spinosa, host e editora do SeriousCast e quase geógrafa.
Thiago Silva, host e editor do SeriousCast e amante da TV.
Valeska Uchôa, cientista da computação, ex-colaboradora do Série Maníacos e do falecido Lizt Blog.
Zé Guilherme, farmacêutico, mestre em Ciências Fisiológicas, já colaborou nos sites LoGGado e Cine Alerta.

Textos por Diego Quaglia, Renan Santos, Rodrigo Ramos, Tammy Spinosa, Thiago Silva & Zé Guilherme

Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos

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