Cinquenta Tons Mais Escuros | Crítica

Em tempos de empoderamento feminino, por que não pregar o relacionamento abusivo?

fifty_shades_darker_uk_poster[Este texto contém spoilers]

Olá, meninas. Tudo bem? No texto de hoje vou falar sobre o filme que as mães adoram e que acaba de estrear no Brasil: Cinquenta Tons Mais Escuros. Apesar de me referir a ele dessa maneira, a obra oferece dicas para o dia-a-dia não só das mulheres mais experientes, mas também para as garotas que estão a fim de transformar aquele rapaz babaca, machista, opressor e psicótico em um príncipe encantado. Afinal de contas, se tem algo que a gente sabe é que um relacionamento, por mais abusivo que seja, vale a pena se você ama a outra pessoa.

Ao final do filme anterior, vimos que Anastasia Steele (Dakota Johnson) terminou com Christian Grey (Jamie Dornan) porque não aguentou a forma como ele a tratava, principalmente na cama, pois ele exibia um lado desconhecido e obscuro. Entretanto, logo nos primeiros minutos da película, ela cede porque o homem que a maltratou, a perseguiu, bateu em quem não deveria, e basicamente a subornou com presentes caros para ficar com ele prometeu mudar seu comportamento para ficar com ela. Não é fofo? Quem não adora quando um cafajeste diz que vai mudar? Não tem como não voltar. E se ele deu como garantia sua palavra, há possibilidade de quebrá-la? Só quem não acredita no amor deixaria de ofertar uma segunda chance.

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Logo no começo, nota-se como ele mudou. Christian compra um novo laptop e celular para ela, já com o número dele gravado e com direito a mensagem assim que Anastasia liga a tela do iPhone. A protagonista, contudo, é independente sim, como toda mulher deveria ser. Ela é assistente em uma editora. Seu chefe tem uma crush por ela. Contudo, antes mesmo que ele tenha oportunidade de ousar em disparar uma cantada, lá vem Grey mega mudado se apresentando como namorado e puxando ela do bar abruptamente, para longe do chefe. Bafo, né? Homem que é homem tem que marcar território e fazer as garotas passarem vergonha na frente do patrão. O importante é ele ter a oportunidade de mostrar que é o macho alfa, e provar por a + b quem é propriedade de quem.

Mas é sempre bom pedir para ele pegar um pouco mais leve, ser mais sutil. Aí o que ele faz? Ele compra a empresa em que você trabalha. Pelo menos o cargo está garantido, independente do fato de passar o dia no telefone com o boy e produzir coisa alguma. Mas se você precisar fazer uma viagem à trabalho? O que você faz? Conta a ele, óbvio. Como ele prometeu a melhora no relacionamento para ficar com você, certamente será compreensível e a deixará ir. Ou não? É, não mesmo. O que fazer quando ele impõe um ‘não’? Conversar em casa, porque casais precisam dialogar. Após uma breve DR, qual é o resultado final? Você resolve viajar sim, porém com ele ao invés de ir ao seu compromisso do trabalho. No fim das contas, não é porque quer impedi-la de trabalhar, afinal você não é apenas uma dona de casa com quem ele deseja copular o tempo todo. É só porque ele tem ciúmes, e quem tem ciúmes se importa. Se não tivesse ciúmes é que desconfiaríamos. Tanto é que o chefe realmente tenta algo com Anastasia, provando o ponto de que todo homem tem o direito de proteger o que é seu, não permitindo o contato com nenhum outra pessoa do sexo masculino se ele não estiver por perto para vigiá-la. Não tem mesmo que viajar a negócios. É mais seguro ficar na casa do seu namorado.

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Meninas, vocês precisam estar dispostas a qualquer coisa para converter o boy. Afinal, se é amor verdadeiro, não importa o que acontece com nossas liberdades individuais, nosso amor próprio. Não é como se houvessem mais de 7 bilhões de pessoas no planeta. As opções são restritas. Ele pode ter um dossiê de cada ex dele, inclusive um sobre você? Pode. Ele pode levar você no mesmo salão do qual levava as submissas dele, cuja proprietária é a mulher com quem ele aprendeu a transar? Pode. Ele pode estar contigo só porque você parece com a mãe biológica dele, assim como todas as mulheres do passado dele? Pode. Ele pode deixar claro que ele gosta deste fato e maltrata essas mulheres só pelo fato de a mãe dele ter morrido por overdose (???)? Pode. Tudo bem, ele erra. Ele é humano. Mas ele vai mudar. Se Anastasia consegue, qualquer mulher consegue transformar um relacionamento abusivo em saudável. Para tal, todavia, você precisa mostrar-se disposta a fazer tudo o que ele quer, mas antes de ceder é impreterível demonstrar certa resistência, só pra não se fazer de fácil. Tem que mostrar que você também tem voz, apesar de no fim das contas ele ter a palavra final.

Mesmo em tempos de empoderamento feminino, com ideais progressistas em relação aos direitos das mulheres, não seria mais simples apostar no fácil? Ele tem dinheiro. É bonito. É malhado. Gosta de sexo. E a família dele te adora. Quer mais? Defeito qualquer pessoa possui. Então, meninas, a dica é que vocês utilizem Cinquenta Tons Mais Escuros como mantra para a vida. Diga sim ao relacionamento abusivo. Mesmo que ele não mude, ao menos você pode fingir que sim e levar uma vida submissa, porém com conforto e sadomasoquismo.

[Para evitar qualquer mal entendido, vale ressaltar que este texto foi escrito à base de ironia]

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Imagens: Universal Pictures

Cinquenta Tons Mais Escuros
Fifty Shades Darker
EUA, 2017 – 118 min
Drama | Comédia | Romance

Direção:
James Foley
Roteiro:
Niall Leonard
Elenco:
Dakota Johnson, Jamie Dornan, Eric Johnson, Eloise Mumford, Bella Heathcote, Rita Ora, Luke Grimes, Victor Rasuk, Max Martini, Kim Basinger, Marcia Gay Harden

0.5 stars

Por Rodrigo Ramos

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