Todos os episódios de Black Mirror, ranqueados do pior ao melhor

Assistimos aos 13 episódios da série e demos o nosso veredito para cada um deles.

Conhecido no Reino Unido como um roteirista de comédia, Charlie Brooker resolveu criar uma obra diferente de tudo o que havia em seu currículo até então. Ele mesclaria ideias sobre o futuro com crítica social e nos diria como a tecnologia, em suma, será a nossa ruína. Eis que surgiu, em 2011, Black Mirror, uma modesta série de antologia — cada episódio possui um arco narrativo fechado — exibida em um canal britânico, o Channel 4.

Sensação na internet, onde os torrents permitiram que pessoas ao redor do mundo conhecessem a pérola, a série ainda era muito restrita, mas certamente falava diretamente com o público que a assistia, sendo a sucessora natural de The Twilight Zone, de Rod Serling, exibida entre 1959 e 1964. Após um período no limbo, a Netflix trouxe o programa para seus domínios, tornando-o conhecido nos 180 países onde o serviço está disponível. Agora notório e pop, Black Mirror chega à sua terceira temporada no serviço de streaming. Portanto, não há hora melhor para falar, analisar e ranquear todos os episódios que o seriado já produziu ao longo de cinco anos. Confira abaixo o nosso ranking, do pior ao melhor.

13. The Waldo Momento (2ª Temporada, Episódio 3, 2013)

Direção: Bryn Higgins
Elenco: Daniel Rigby, Chloe Pirrie, Jason Flemyng

Black Mirror consegue alcançar brilhantismo como poucas séries, porém às vezes derrapa. Assim como a série em que se inspira — The Twilight Zone (Além da Imaginação, no Brasil) — nem sempre acerta-se o alvo e o resultado é abaixo do esperado. Neste episódio em questão, a crítica seria ao mundo político, que continua sendo resumido a uma briga de ideologias gastas e que pouco representam de fato a população como um todo. Eis que surge uma luz no fim do túnel: Waldo, um urso azul animado de um programa de TV, se torna uma atração à parte na corrida eleitoral quando começa a atacar os principais candidatos das eleições. Com piadas envolvendo pinto, peidos e palavras chulas, Waldo se torna uma forma de protesto — sabe, como foi o Tiririca (só que mais caricato na série), quando se tornou um dos deputados federais mais votados da história de São Paulo, com mais de 1,3 milhões de votos, tendo zero propostas e muitas piadas na propaganda eleitoral; em 2014, o número foi 25% menor. Pode haver outras interpretações — e Black Mirror costumeiramente causa discussões e discordâncias sobre sua qualidade, raramente conseguindo unanimidade em seus episódios — mas em “The Waldo Moment”, Charlie Brooker rotula a população como burra o suficiente para nunca mais ter o discernimento de eleger um candidato decente só porque Waldo é queridinho da TV e da internet, logo pode tudo, pois é um não-político. Bem, a população pode vacilar sim, e as eleições municipais no Brasil em 2016 são prova disso. Talvez seja uma acusação simplista demais, especialmente em uma série que tem tanto pra dizer e costumeiramente é melhor quando sugere e não aponta.

Black Mirror - The Waldo Moment

12. Men Against Fire (3ª Temporada, Episódio 5, 2016)

Direção: Jakob Verbruggen
Elenco: Malachi Kirby, Madeline Brewer, Ariane Labed, Michael Kelly

“Men Against Fire” ou “Engenharia Reversa” trata basicamente de uma guerra entre humanos e as denominadas “baratas”, as quais aparentemente possuem uma variedade de anormalidades genéticas e são consideradas como um praga para a humanidade. Durante o episódio, são exibidos alguns aparatos tecnológicos interessantes, como é de praxe em Black Mirror, e a todo momento você pensa qual seria a crítica a ser inserida neles. Os soldados transparecem ser pessoas com um nível de ordem elevado, lutando em prol de garantir um futuro à sua raça. No entanto, durante o episódio é chamada a atenção às máscaras, definidas como implantes que, com toda sua tecnologia, auxiliam no campo de batalha e aumentam a performance dos soldados. Durante uma caça às baratas, um dos soldados — Stripe — é exposto a um dispositivo, desenvolvido por uma barata, e que de alguma forma interfere com o funcionamento de sua máscara, desabilitando-a e permitindo que este mesmo enxergue as coisas ao seu redor um tanto diferente. A máscara cai e Stripe pode ver de verdade pela primeira vez. Sem entregar demais, o que dá pra dizer é que a ganância, a sede pelo poder, e a presunção de uma superioridade racial (alô Hitler, alô Trump) acabam afetando a vida de pessoas que não preenchem os requisitos para entrar no clubinho. O governo consegue manipular a população — aí cabe até o papel da mídia, que também o faz –, fazendo-a acreditar quem é o inimigo — e, neste quesito, a crítica serve mais para os estadunidenses, já que os Estados Unidos entram em guerra quando o país sequer está envolvido na discussão, mas quer lucrar de alguma forma com o conflito. Black Mirror te dá margem para visualizar suas histórias por vários aspectos e, mesmo que dificulte um pouco a interpretação, permite que as pessoas pensem um pouco sobre nosso presente e potencial futuro.

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11. Playtest (3ª Temporada, Episódio 2, 2016)

Direção: Dan Trachtenberg
Elenco: Wyatt Russell, Hannah John-Kamen, Wunmi Mosaku, Ken Yamamura

“Playtest” não é o tipo de episódio que gera tanta discussão, análise e teorias. Porém, não deixa de ser uma boa hora de televisão. Wyatt Russell (filho de Kurt Russell, por sinal) faz um personagem que quer distância de sua mãe e tudo o que conhece. Por isso, faz um mochilão ao redor do mundo e em sua parada na Inglaterra, ele enfrenta um problema que o obriga a conseguir dinheiro vivo. Para isso, ele se alista à um experimento de uma empresa desenvolvedora de videogames. Para não dar muito spoiler, o que dá pra tirar daí é que a realidade virtual está ficando cada vez mais séria — a ponto de empresas como a Sony já estarem trabalhando e comercializando esse tipo de experiência. Porém, em Black Mirror estamos sempre um passo à frente, pelo menos, no futuro e a experiência é mais real do que a mente possa projetar. Se não é o mais interessante da nova leva de episódios criados pela Netflix, certamente é o mais assustador. E note a caricatura de Hideo Kojima, que está hilária.

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10. Hated in the Nation (3ª Temporada, Episódio 6, 2016)

Direção: James Hawes
Elenco: Kelly Macdonald, Faye Marsay, Benedict Wong, Jonas Karlsson, Joe Armstrong

Devido ao grande número de episódio — o dobro do normal — nesta temporada, Black Mirror pôde brincar mais com gêneros diferentes. “Hated in the Nation” é um bom exemplo disso. O plot poderia muito bem ser de um episódio de séries como The Killing, ou as sci-fi Arquivo X e Fringe, mas está dentro do universo futurista e pessimista de Charlie Brooker. Em mais uma crítica social, desta vez ele fala sobre o comportamento das pessoas nas redes sociais, capazes de falarem qualquer coisa sem pensar duas vezes ou sentir empatia pelo próximo. Apesar de ser perfeito em sua colocação e ter um ótimo twist, o episódio é um exemplo de condução narrativa. Ele não tem pressa para entregar a que veio e que não entedia o espectador — o mesmo não pode ser dito sobre “Men Against Fire”, que não consegue prender a atenção do início ao fim como “Hated in the Nation” consegue. Em determinados momentos, o thriller policial dá espaço para reflexão e até momentos de horror — se você ficou agoniado com o suspense criado em Os Pássaros, de Alfred Hitchcok, um sentimento semelhante surge aqui.

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9. Be Right Back (2ª Temporada, Episódio 1, 2013)

Direção: Owen Harris
Elenco: Hayley Atwell, Domhnall Gleeson, Claire Keelan

Se você tivesse a chance de rever um ente querido que morreu, você agarraria essa oportunidade? É esse o questionamento que “Be Right Back” nos faz. Sendo um dos episódios mais emocionais da série junto com “San Junipero”, Martha decide comprar um sintético após perder o namorado em um acidente e descobrir que está grávida. Esse episódio incomoda, pois Martha não consegue superar seu luto, mas também não encontra consolo e conforto em uma máquina que não responde como um humano. Seu namorado se foi e aquilo é apenas uma sombra por mais que tente recriar a rotina de antes. Hayley Atwell, já conhecida do público no papel de Agent Carter, aproveita o espaço que a trama lhe dá para externar emoções e assim o público consegue facilmente criar empatia pela personagem em seu processo de luto. Esta é uma ideia que chega a dar medo já que é daquelas tramas que poderia acontecer na vida real. A tecnologia avança de uma forma tão rápida, tantos robôs estão sendo criados para responder ações humanas que possivelmente as pessoas gastariam dinheiro para comprar um que relembrasse alguém. Talvez o problema é esquecermos que a morte é algo natural da vida e o luto um processo que precisamos vivenciar para seguirmos em frete. Mas com o futuro abrindo portas para tantas coisas, como não ficar tentado com uma oportunidade dessas?

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8. Nosedive (3ª Temporada, Episódio 1, 2016)

Direção: Jon Wright
Elenco: Bryce Dallas Howard, Alice Eve, Cherry Jones, James Norton, Alan Ritchson

“Nosedive” nos apresenta um mundo completamente artificial, fabricado, falso e de um aparente bem estar. À primeira vista, as críticas são claras: pessoas que não largam o celular, que vivem em busca de reconhecimento nas mídias sociais, que passam a se comportar de uma forma que julgam aceitável. Mas o episódio mostra várias camadas além disso. No momento em que os personagens são encaixotados em cadeias morais, eles não podem criticar alguém, não podem tomar partido de algo considerado errado, não podem, depois de um dia cheio de trabalho, chegar em suas casas e simplesmente gritar; porque o vizinho ao lado pode reclamar. Passam a viver como pessoas que elas não são, agindo de forma que não agiriam caso não houvesse uma imposição. Os personagens acham que conhecem uns aos outros e o episódio nos dá uma grande lição sobre a falta de empatia e os perigos do pré-julgamento. Reduzir alguém ou alguma coisa a uma nota — que é dada baseada apenas em impressões pessoas — é um perigo muito grande, e isto fica muito claro. Principalmente quando a nota é quase um sistema binário de gostei e não gostei, e o peso de duas críticas completamente diferentes acaba sendo o mesmo porque no final os pontos foram perdidos e os indivíduos serão julgados.

Narcie consegue demonstrar muito bem as principais funções desse universo e, embalada por uma performance espetacular de Bryce Dallas Howard, algumas coisas soam até bem assustadoras tamanha é a identificação com situações de nosso mundo atual. No fim, ironicamente, o momento em que ela perde as lentes inteligentes é exatamente o único momento onde ela mais enxerga a realidade. “Nosedive” poderia facilmente estar uma ou duas posições acima caso tivesse estabelecido as regras do universo de forma mais coesa e economizasse na exposição na hora de apresentar as discussões. De qualquer forma, Black Mirror mantém a média do que se espera de uma série provocativa com boas discussões.

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7. Shut Up and Dance (3ª Temporada, Episódio 3, 2016)

Direção: James Watkins
Elenco: Alex Lawther, Jerome Flynn, Susannah Doyle

Um dos episódios mais reais de Black Mirror, “Shut Up and Dance” insere rapidamente o espectador em uma corrida frenética de personagens tentando escapar de terem seus segredos expostos. Brincando com nosso senso de empatia, o episódio fornece propositalmente pouquíssima informação sobre os personagens e deixa que nossa bússola moral comande tudo o que sentiremos a cada novo passo dado. No momento em que somos apresentados a maior das revelações, vem também a maior das discussões — e somos confrontados por nossos próprios pensamentos de minutos atrás. Por que parecemos incapazes de continuar aliviado pela sobrevivência de Kenny no momento em que descobrimos seu crime? Somos contra crimes? Por que o crime do hacker parece se justificar? Não conseguimos manter uma coerência moral por sequer cinquenta minutos. Black Mirror dando tiros de realidade mais uma vez.

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6. The National Anthem (1ª Temporada, Episódio 1, 2011)

Direção: Otto Bathurst
Elenco: Rory Kinnear, Lindsay Duncan, Donald Sumpter, Tom Goodman-Hill, Anna Wilson-Jones, Lydia Wilson

O piloto de Black Mirror é uma das melhores e mais doentias ideias que já vimos na TV, e que caberia perfeitamente em uma esquete de comédia — Amy Schumer totalmente faria algo assim. A princesa da Inglaterra é raptada e os sequestradores têm um único pedido para libertarem-na: o primeiro ministro precisa fazer sexo com uma porca, até o fim (exato), sem cortes, ao vivo, para todas as emissoras de TV e na internet. O que inicia como uma brincadeira de mal gosto, acaba se provando real e a iminência da escolha vai sendo imposta conforme a população vai recebendo as informações, e a opinião pública vai mudando de ideia sobre o que o primeiro ministro deveria fazer. Qualquer que seja sua decisão, esta será impossível e as consequências serão irreparáveis, independente de qual optar. O episódio mostra como a internet e as redes sociais têm poder no mundo moderno e como as noções do que é aceitável ou não podem ser modificadas rapidamente.

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5. White Christmas (2ª Temporada, Episódio 4, 2014)

Direção: Carl Tibbetts
Elenco: Jon Hamm, Rafe Spall, Oona Chaplin, Natalia Tena, Rasmus Hardiker, Janet Montgomery

Inicialmente, como tantos episódios de Black Mirror, não fica evidente logo de cara sobre o que será a trama. Jon Hamm está preso em algum lugar, aparentemente há cinco anos, com o personagem de Rafe Spall. Como toda história natalina, eis que aparecem os contos. Uma desgraça é maior do que a outra, dando um novo peso para os especiais de natal. O que mais chama a atenção é o personagem de Hamm, que passa o tempo dando dicas em tempo real para, digamos, perdedores em encontros, e depois torturando a consciência alheia dos outros dentro de um recinto para inteligência artificial. Temos também a passagem do papel de Spall, que termina um relacionamento e não consegue lidar muito bem com a separação. “White Christmas” é cheio de viradas e a narrativa tem tantas camadas que o final é, de fato, imprevisível, e atualiza o significado de crueldade no dicionário. O episódio traz uma ambientação futurística que caberia perfeitamente dentro da sociedade atual, e certamente satisfaria diversas pessoas, mas, como sempre, a série foca em tratar das consequências devastadoras que podem vir com ela. Abre-se aqui diversas discussões, e uma em especial sobre a inteligência artificial, que deve um pouco à Blade Runner — e “San Junipero”, na terceira temporada, que acaba complementando essa discussão de certa forma.

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4. The Entire History of You (1ª Temporada, Episódio 3, 2011)

Direção: Brian Welsh
Elenco: Toby Kebbell, Jodie Whittaker, Tom Cullen

Em alguns episódios de Black Mirror, o futuro não está tão longe quanto parece. “The Entire History of You” é um desses casos. Neste plot, existe uma tecnologia que permite o registro de tudo o que as pessoas veem, o tempo todo. A memória fica armazenada para sempre em um chip implantado no pescoço, mas também pode ser excluída, conforme a preferência do usuário. Ele ainda pode rever diante dos olhos ou projetar em telas suas lembranças. À priori, parece uma revolução positiva, servindo como um dispositivo de nostalgia instantâneo, como também pode até ajudar em investigações, por exemplo. Os usos poderiam ser dos mais diversos. Porém, no episódio, a tecnologia serve para implantar a semente da discórdia em um relacionamento. Esse tipo de tecnologia pode acabar implicando na perda completa de privacidade — mesmo que hoje haja pouquíssimo disso, seria ainda pior. O recurso é invasivo não somente porque você pode gravar terceiros a qualquer instante, mas principalmente porque dá a oportunidade para relembrar os piores momentos de sua vida — desde uma briga de casal até um momento mais traumático como um estupro, por exemplo, ainda que lembranças possam ser apagadas. De qualquer maneira, da breve suspeita até a completa paranoia ao rever diversas vezes uma mesma cena, que de primeira parece somente inocente mas um olhar ou uma risada entregam algo maior durante o replay. É o tipo de recurso bem próximo da realidade (Google tentou e agora a Samsung tem sua própria proposta), e é isso que causa mais espanto — quando Black Mirror nos conecta com a realidade que já temos ou que está quase aí.

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3. White Bear (2ª Temporada, Episódio 2, 2013)

Direção: Carl Tibbetts
Elenco: Lenora Crichlow, Michael Smiley, Tuppence Middleton

Um episódio destruidor e perturbador. Todos sabemos que as ideias de Black Mirror são excelentes, mas dentre todas, temos algumas que se destacam mais, seja por sua ideia ou execução. E “White Bear” tem a execução mais surpreendente de todos os outros episódios, por fazer nós enxergarmos (o desespero estampado no rosto da protagonista, cujos olhos choram de angústia e etc) a personagem como um ser humano e depois descobrirmos que existe algo por trás. Entretanto, não é somente sobre bagunçar nossa mente. O episódio tem outras camadas interessantes, contendo críticas à televisão, direcionadas para quantidade de pessoas que assistem tevê por inércia e que não pensam no que estão vendo. A conversão de “massa” em espectadores que só “vivem” através de seus telefones móveis e, o que é pior, acabam tendo um perverso senso de justiça que vai além do “olho por olho” e “dente por dente”. O que se desenvolve aos poucos em “White Bear” é justamente um recheado de coisas, a punição eterna e aterrorizante com a qual os seres humanos gostam de se entreter. A protagonista, Lenora Crichlow, está perfeita. O episódio, embora não seja tão rico emocionalmente como os anteriores, é mais interessado em tocar em outros pontos, como: desolação, medo e confusão. E a performance da atriz em transmitir todos esses temas é perfeita. O medo é tão notável no episódio porque realmente nos colocamos na posição dela, perdida e sem memórias. E tudo é desconfortável nesse episódio, cheio de flashs repentinos, e a câmera constantemente trêmula salienta a percepção disso, criando uma atmosfera que o episódio exigia ter.

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2. San Junipero (3ª Temporada, Episódio 4, 2016)

Direção: Owen Harris
Elenco: Mackenzie Davis, Gugu Mbatha-Raw, Denise Burse, Annabel Davis, Raymond McAnally

Ser cínico e pessimista é fácil. É até tentador demais. Por isso o esforço de se mostrar otimista seja visto até como ridículo. A felicidade requer esforço. O maior problema de Black Mirror é que, em determinadas ocasiões, seu maniqueísmo torna-se cansativo. Diria até mesmo insustentável, considerando que a obrigatoriedade de se ter uma quantidade enorme de reviravoltas no decorrer de uma narrativa tende a tornar o seu último ato um exercício de anticlímax. Já entendemos, Black Mirror. No futuro, a tecnologia eventualmente vai nos destruir de uma forma que não seremos capaz de prever. Obrigado por nos trazer essa premissa sob uma espetacular visão que às vezes falha, mas que quando acerta… Uou! E obrigado por “San Junipero”. Uma das melhores horas de televisão que poderemos desfrutar esse ano. Ironicamente, Black Mirror esteve em seu melhor momento no episódio menos Black Mirror até agora. Ele se abstém de cinismo, tem final feliz e seus personagens são curados da dor que carregam ao longo do episódio no fim dele. A premissa traz duas mulheres se relacionando em um ambiente de realidade virtual. A série que normalmente nos deixa atônitos e com um vazio no fim de cada episódio dessa vez se propôs a nos emocionar. E conseguiu.

Black Mirror

1. Fifteen Million Merits (1ª Temporada, Episódio 2, 2011)

Direção: Euros Lyn
Elenco: Daniel Kaluuya, Jessica Brown Findlay, Rupert Everett, Julia Davis, Ashley Thomas

A trama se passa em um futuro distópico, focada em Bing, um homem que vive num cômodo onde cada lado de seu quarto é uma tela que pode acessar qualquer aplicativo, semelhantes aos feitos para celular. Os personagens deste episódio vivem uma rotina escrava sendo distraídos — ou enganados — por aplicativos idiotas que vão desde reality shows, jogos, pornografia, etc., para mantê-los pedalando diariamente sem que reclamem. Bing é um personagem interessante porque tem consciência disso, porém, é conformado e não faz nada para mudar sua vida. Quando conhece Abi, uma mulher que chega em sua unidade, ele acaba se apaixonando e convence a moça a cantar num reality show que pode libertá-la dessa rotina submissa.

Talvez “Fifteen Million Merits” seja o primeiro episódio em que muitas pessoas perceberam que o centro de Black Mirror é a tecnologia e como somos presos a ela. Mesmo usando de um futuro distante, Charlie Booker, criador da série e roteirista desta história, cria um pequeno universo que espelha a nossa realidade de hoje. Somos escravos dos nossos aparelhos, não tirarmos os olhos da tela do celular, não conseguimos ficar sem internet e por aí vai. Nesse capítulo existe uma deliciosa ironia ao criticar a superficialidade do que consumimos virtualmente (como não rir dos vários anúncios pornôs aparecendo para Bing no decorrer do episódio ou os momentos que alguns personagens gastam seu dinheiro comprando roupas para avatares que não existem?), mas também enxergamos uma percepção negativa da tecnologia que é praticamente predominante em todos os episódios de Black Mirror e abre questionamentos para as prisões que nós mesmos estabelecemos ao voltar nossas atenções para a tela preta.

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Imagens: Channel 4/Netflix
Por Rafael Mattos, Luis Carlos, Dana Rodrigues, André Fellipe da Silva, Douglas Couto & Rodrigo Ramos

13 comentários sobre “Todos os episódios de Black Mirror, ranqueados do pior ao melhor

  1. Interessante como as opiniões divergem. Pra mim nenhum episódio chega aos pés do Shut up And Dance, não tenho nenhuma reclamação com aquele episódio, segue perfeito do começo ao fim. O San Junípero nem consegui terminar, muita enrolação, melação e romance. Segundo melhor é o Nosedive, terceiro é Whole history of you.

  2. Não concordo nenhum pouco com o primeiro lugar. A idéia é legal, mas além de mal feito, ninguém se quer sabe exatamente qual a pretensão daquela central de “ciclistas”. Nosedive o melhor, white bear segundo melhor.

    1. As bicicletas são pra gerar energia, por eles sempre estarem presos naquele lugar, imagino que o resto do mundo está inabitável (algo parecido com o mundo real de matrix), até a janela é só um retrato da natureza.

  3. Discordo de muita coisa na lista, principalmente do argumento de San Junípero ser o segundo melhor por não parecer black mirror (???). E prestando um pouco mais de atenção, o final não é tão feliz assim, mostra que o paraíso é só um servidor e você não passa de um ‘pen drive’ espetado nele.
    Mas como dito no início da matéria, é tudo muito subjetivo. Sem colocar numa ordem, meus preferidos são:
    Fifteen Million Merits, The Entire History of Yoo, e White Christmas.

  4. Nossa, pra mim San Junipero é uma ilusão de final feliz, a alegria delas é temporária, elas vão viver em uma simulação de vida por um tempo, e vai ser bom por um tempo, como a própria personagem falou, mas depois a eternidade cansa e as pessoas começam a buscar novos recursos para sentir algo novamente, porque a novidade já passou. Recriar um lugar perfeito para enganar a morte é anti natural, e o episódio deixa claro que pode parecer tudo lindo temporariamente, mas é impossível produzir felicidade eterna.

    1. Concordo com você! San Junipero não é em nada feliz, as duas pessoas morreram.
      Aquilo que vimos no final é apenas inteligência artificial com traços daquilo que as pessoas reais transmitiram. Esse episódio é bastante semelhante ao Be right back, mas ao invés de um Humanóide, temos um programa de computador em algum servidor.

  5. Não sei nem por onde começar, e olha que só assisti 2 eps até agora.
    O primeiro achei médio, começou mto bem, ousou na ideia do porco e afins e até que conquistou, foi interessante, mas terminei o ep com a sensação de “tá era isso? acabou?” com o finalzinho feliz e vazio.
    No segundo, queria chorar. Continuei assistindo de 5 em 5 minutos acreditando sair daquela monotonia e nada. A ideia futurista e moral é maravilhosa, mas o episódio é horrível, cruzes. Extremamente mal dirigido.
    Enfim, senti que a ideia da série é espetacular, mas não está sendo bem abordada e está ficando subentendida demais debaixo de repetitivas cenas maçantes. Pelo menos vendo esses 2 eps.

  6. Se assistir “the Waldo momento” do ponto de vista homem x trabalho vai achar que o episodio foi brilhante. O Urso azul era um trabalho, o humorista por trás do urso o eleva ao sucesso absoluto, mas nunca se associou ao trabalho que fazia, ninguem o conhecia. Ao ser despedido foi totalmente esquecido. Agora trazendo para a vida real: Ninguém é insubstituível e um dia você vai sair da empresa ou do trabalho em que está, será que as pessoas vão lembrar de você? Como associar o bom profissional ao trabalho que o realiza? Para que no dia que você cair fora sintam sua falta ou ao menos lembrem que que você trabalhou naquele lugar?

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