O Palhaço
Brasil, 2011 – 88 min
Drama / Comédia
Direção:
Selton Mello
Roteiro:
Selton Mello, Marcelo Vindicatto
Elenco:
Selton Mello, Paulo José, Larissa Manoela, Giselle Motta, Teuda Bara, Moacyr Franco, José Loredo, Fabiana Karla, Jackson Antunes, Tonico Pereira, Ferrugem
Selton Mello é um dos caras mais consistentes do cinema e da televisão brasileira. É um ator que encara todo tipo de papel, seja dramático ou cômico. Saiu-se muito bem tanto em comédias como o excelente O Auto da Compadecida, assim como no drama Meu Nome Não É Johnny. Além disso, Selton é sinônimo de bom público. Os brasileiros costumam prestigiar qualquer projeto que seja do ator. Se ele já mostrou que é competente na frente das câmeras, ele ainda tem a pretensão de se consolidar atrás delas também.
Em seu segundo projeto como diretor e roteirista, Selton Mello mostra mais uma vez competência. O primeiro longa-metragem dirigido por ele é de 2008 e se chama Feliz Natal. Era uma película altamente melancólica. Um verdadeiro retrato sobre festas de fim de ano e a família, mais próximo da realidade do que aqueles pintados com alegria e confraternização. Mello apostava numa ideia mais depressiva. Já em O Palhaço, filme que também estrela e ultrapassou a marca de 1 milhão de espectadores neste fim de semana, Selton consegue mudar de praia, fazendo um trabalho com um pingo de tristeza, mas com uma visão mais positiva sobre o mundo.
O diretor, desta vez, atua em seu filme. Ele buscou Wagner Moura e Rodrigo Santoro para preencher o papel principal, mas eles estavam com a agenda lotada e não puderam aceitar o papel. Felizmente isso aconteceu, pois Mello tem o que é necessário para interpretar Benjamin, também conhecido como o palhaço Pangaré. O personagem trabalha no Circo Esperança, que percorre várias cidades do interior. Ao seu lado, está seu pai, Valdemir (Paulo José), também conhecido como o palhaço Puro Sangue, além de vários outros colegas. Apesar de a alegria ser evidente durante o espetáculo, não é este o sentimento que Benjamin carrega dentro de si. Fazer rir é um trabalho árduo e, nem sempre, ele é recompensado. O palhaço nasceu dentro do picadeiro e seguiu a profissão do pai. Sendo assim, ele nunca pôde optar o que gostaria de fazer. Com isso, nasce a dúvida dentro dele. Será que ele é realmente engraçado? A maior dúvida que um palhaço pode ter.
Benjamin inicia um conflito interno, sem saber pra onde ir. Ele está certo de uma coisa: ele precisa fazer algo para mudar a situação. O sentimento de prisão e sem horizonte pode ser aguniante, especialmente quando não se sabe o que poderia acontecer caso outro caminho tivesse sido tomado. Enquanto tenta achar uma resposta para a sua cruel dúvida, somos apresentados a personagens encantadores. O que deixa a película interessante é se prender à simplicidade. Mello não tenta criar personagens espalhafatosos, que chamem a atenção em demasia. Ele os cria de forma singela, mas eficiente. Temos a oportunidade de conhecer pessoas de verdade na tela. Ao menos, a impressão é esta. O roteiro desenha um cenário altamente naturalista e a obra só ganha com isso.
O Palhaço, de fato, não traz uma história complexa ou inovadora, no entanto, é com muito esmero que Selton Mello transforma estes personagens em seres humanos e faz com que o público se conecte à eles e à dúvida cruel de Benjamin. Os mínimos detalhes são o que fazem de O Palhaço um filme que merece ser visto.
Vale destacar diversas coisas. Primeiramente, a trilha sonora condizente com a época em que o filme está alocado que é pontual. A fotografia é muito bem trabalhada, assim como os takes. Mello parece sofrer influências de Wes Anderson. Ele gosta de centralizar os seus personagens, quase como se estivessem posando para uma foto, lembrando um pouco Os Excêntricos Tenembaums. Ele faz isso porque cada personagem aqui importa e tem sua própria história. Selton não se apropria da película, ele a divide igualmente. As atuações também são ponto alto deste longa-metragem. As participações especiais dão um tempero ainda mais especial para o trabalho. Tonico Pereira, Jackson Antunes, Jorge Loredo (o eterno Zé Bonitinho), Ferrugem e Moacyr Franco estão presentes em pequenas pontas. Este, aliás, rouba a cena e ganhou vários elogios da crítica e do público em sua primeira aparição no cinema. E, de fato, sua participação é impagável.
O Palhaço é um filme de minúcias. Ele é um trabalho redondo, com algumas liberdades autorais e que atinge o objetivo ao construir uma história simples, mas poderosa e agradável. Selton Mello ainda tem bastante para evoluir como cineasta, contudo, mostra-se um talento inegável e promissor. Esperamos mais surpresas dele, seja à frente como atrás das câmeras.