Desde derrotas surpreendentes de filmes até diretores e atores consagrados que nunca levaram um prêmio pra casa
Premiações nunca conseguem agradar a todos. Isto é fato. E a maior premiação do cinema mundial também costuma desagradar um ou outro – até mesmo a maioria, em alguns casos. Por isso, resolvemos listar as que seriam as maiores injustiças cometidas pela Academia. Filmes, diretores e atores. Veja abaixo os eleitos como os maiores injustiçados da história do Oscar.
– Uma das poucas comédias a vencerem o Oscar de melhor filme foi A Volta ao Mundo em 80 Dias (Around the World in Eighty Days, 1956). Uma das atitudes mais contraditórias da Academia, que na 29ª edição da premiação, em 1957, deixou o belíssimo Assim Caminha a Humanidade (Giant), estrelado por Elizabeth Taylor e James Dean (o último filme da carreira do astro), de lado.

– Na 38ª edição do Oscar, em 1966, A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965) consolidou mais uma vez a preferência da Academia em relação aos musicais. O filme não é ruim, mas fica longe da qualidade narrativa do romance político Doutor Jivago (Doctor Jivago).

– O brilhante Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971) foi indicado a quatro prêmios no Oscar, mas não levou nenhum deles. Perdendo, inclusive, a estatueta de melhor filme para Operação França (The French Connection). Certamente um dos maiores erros da Academia.

– A crítica pode não ter gostado, mas isso não foi o suficiente para a Academia deixar de premiar em sua 58ª edição, em 1986, Entre Dois Amores (Out of Africa, 1985), filme estrelado por Meryl Streep e Robert Redford. O romance ambientado na África desbancou A Cor Púrpura (The Color Purple), de Steven Spielberg, que teve 11 indicações e voltou pra casa sem nenhuma estatueta.

– Os Bons Companheiros (GoodFellas, 1990) é um dos melhores filmes de máfia da história e está entre os cinco melhores dirigidos pelo estupendo Martin Scorsese. O problema é que o Oscar não reconheceu o brilhantismo do longa-metragem e achou que era a vez de premiar Kevin Costner por seu desinteressante Dança Com Lobos (Dance with Wolves) na 63ª edição da premiação, em 1991.

– Na 67ª edição do Oscar, em 1995, os filmes que competiam pelo principal prêmio da noite eram todos qualificados. Quem levou foi Forrest Gump – O Contador de Histórias (Forrest Gump, 1994), até porque o longa-metragem é o típico filme americano. Mas poderiam muito bem ter vencido Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, ou Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption), de Frank Darabont, o melhor filme de todos os tempos segundo o ranking dos internautas no site IMDb.

– A comédia romântica de época Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love, 1998) levou tudo o que podia de prêmios na 71ª edição do Oscar, em 1999. Muitos deram crédito da vitória devido aos jabás que a Miramax (produtora do longa) estava distribuindo para os votantes da Academia. Com isso, O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan) acabou ficando só com o Oscar de direção para Steven Spielberg.

– Não dá pra desmerecer completamente Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind, 2001), mas não dá pra negar que poucos filmes marcaram época como o luxuoso Moulin Rouge e O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring) e poderiam facilmente ter saído da 74ª edição do Oscar, em 2002, com o troféu de melhor filme do ano.

– O Oscar voltou a premiar um musical na 75ª edição da festa, em 2003, quando consagrou Chicago (2002) o filme do ano, vencedor de seis prêmios ao todo. Na disputa, estava o ótimo Gangues de Nova York (Gangs of New York, 2002) e, novamente, Martin Scorsese perdeu o prêmio de melhor filme e direção.

– Em 2010, na 82ª edição do Oscar, Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009) e Up – Altas Aventuras (Up) eram, disparados, os melhores filmes indicados ao Oscar. Infelizmente, a Academia ainda não estava pronta para premiar uma animação ou um trabalho de Quentin Tarantino como o melhor do ano. Na ocasião, o prêmio foi para o superestimado Guerra ao Terror (The Hurt Locker), que também rendeu à Kathryn Bigelow o prêmio de melhor direção, sendo a primeira mulher a ganhar a estatueta na história da premiação.

– Outro superestimado é O Discurso do Rei (The King’s Speech, 2010), que levou o troféu de melhor filme no Oscar, na sua 83ª edição, depois de A Rede Social (The Social Network), de David Fincher, ter ganhado todos os prêmios da crítica e o Globo de Ouro. Infelizmente, o Oscar continuava mostrando não estar preparado para coroar filmes que refletem o momento atual do século.

– O Artista (The Artist, 2011) consolidou a caretice do Oscar mais uma vez. O longa tem seus encantos e homenageia o passado cinematográfico. Mas o que ele apresenta de novo? Nada. Ele é ousado por ser mudo e preto e branco numa época em que as pessoas nem prestam mais atenção no que estão vendo. Mas homenagem por homenagem, A Invenção de Hugo Cabret (Hugo) era mais merecedor. Dirigido por Martin Scorsese, o longa é uma obra prima belíssima que presta homenagem a Georges Méliès e utiliza a tecnologia disponível nos dias de hoje para isso. A junção entre o velho e o novo. Uma pena que a Academia não tenha reconhecido o brilhantismo e inovação na película de Scorsese.


– Alfred Hitchcok nunca ganhou um Oscar. Foi indicado em cinco oportunidades: Rebecca – A Mulher Inesquecível (Rebbeca, 1940), Um Barco e Nove Destinos (Lifeboat, 1944), Quando Fala o Coração (Spellbound, 1945), Janela Indiscreta (Rear Window, 1954) e Psicose (Psycho, 1960).
– Stanley Kubrick também nunca levou um Oscar. Foi indicado em 4 oportunidades: por Dr. Estranho (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964), 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968), Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971) e Barry Lyndon (1975).
– Ben Affleck venceu todos os prêmios de direção (incluindo Critics’ Choice Awards, Globo de Ouro e DGA) por Argo (2012), mas o Oscar sequer o indicou.

– Tom Hooper e sua direção nada extraordinária em O Discurso do Rei rendeu a ele o Oscar de direção, enquanto David Fincher, mais uma vez, foi deixado de lado, agora por A Rede Social.
– Martin Scorsese só recebeu o prêmio de direção em 2006 com Os Infiltrados. O maior crime foi perder a disputa em 1991, por Os Bons Companheiros, quando Kevin Costner desbancou Scorsese no prêmio de direção por Dança Com Lobos. Só num mundo imperfeito como o nosso para isso acontecer.
– Charles Chaplin nunca foi indicado ao Oscar de melhor direção.
– O Oscar de melhor ator costuma ser o prêmio mais justo. Somente em duas ocasiões o prêmio deixou certo rancor nos cinéfilos. A primeira foi quando Sean Penn venceu o prêmio por Milk – A Voz da Igualdade (Milk, 2008), ao invés de Mickey Rourke em O Lutador (The Wrestler, 2008), no papel que fez o ex-galã de 9 1/2 Semanas de Amor voltar à Hollywood com uma atuação minimalista em um dos filmes mais emocionantes deste século. A segunda vez foi em 2014, quando Matthew McConaughey conquistou a estatueta por Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013), deixando mais uma vez Leonardo DiCaprio a comer poeira. McConaughey estava excelente no papel, mas DiCaprio vem consolidando-se como um dos melhores atores da sua geração na última década e sua interpretação em O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013) é alucinante, irreverente e ousada, indo na direção contrária de todos seus papeis anteriores, tornando-se uma das melhores (se não a melhor) atuações de sua carreira. Quem sabe na próxima, Leo.

– Três estatuetas nas últimas décadas foram controvérsias. Halle Berry por A Última Ceia (Monter’s Ball, 2002) tirou o prêmio dado como certo para Nicole Kidman por Moulin Rouge. Fernanda Montenegro foi a única brasileira a ser indicada à categoria na História pelo filme Central do Brasil (1999). Infelizmente, ela foi “roubada” e o troféu foi para a sem sal Gwyneth Paltrow por Shakespeare Apaixonado. Outra atriz que pouco tem a oferecer dramaticamente é Sandra Bullock, vencedora do prêmio pelo genérico Um Sonho Possível (The Blind Side, 2009).

– Na 87ª edição do Oscar, ocorrida em 2015, o grande vencedor da noite foi Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or (The Inexpected Virtue of Ignorance), 2014). Como já é de praxe, a Academia gosta de premiar longas que dificilmente serão lembrados na história (antes de post, você lembrava que O Artista ganhou o Oscar de melhor filme?). Apesar de ser querido por algumas pessoas, a película não chega aos pés de outros dois trabalhos: O Grande Hotel Budapeste (The Grand Hotel Budapest, 2014), que é uma verdadeira obra de arte cinematográfica — em vários termos e sem prepotência alguma, diga-se de passagem — e Boyhood: Da Infância À Juventude (Boyhood, 2014), um longa que levou 12 anos para ser feito, é o mais filme mais bem avaliado do século XXI no site Metacritic com nota máxima (100) e serve como um desenho perfeito do tempo, algo que dificilmente é alcançado com êxito em algo tão efêmero como é a produção de um filme. Não por acaso, ambos lideraram a lista de melhores filmes de 2014 do Previamente.

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O Oscar 2016 acontece no próximo domingo, dia 28 de fevereiro. Confira os indicados à premiação clicando aqui.
(Artigo publicado originalmente no dia 21 de fevereiro de 2013)
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