Paul McCartney visita todas as eras da carreira em show de quase 3 horas de duração em Curitiba

Apresentação no Estádio Couto Pereira marcou o final da passagem da turnê Freshen Up pelo Brasil.

Sir Paul McCartney retornou para Curitiba no último sábado (30). Esta foi a última das três apresentações da sua nona passagem pelo Brasil, desta vez para a turnê Freshen Up. Apesar dos 76 anos de idade, o britânico mostrou em quase três horas ininterruptas de show uma disposição de dar inveja em muito artista novinho que mal aguenta uma hora no palco. Ele pode não sair correndo de uma ponta pra outra do palco como Mick Jagger, mas ainda assim não deixa de ser impressionante o gás do músico.

Com a apresentação marcada para as 21h30, Paul mostrou que a fama da pontualidade britânica deve ser respeitada, iniciando o show três minutos antes do previsto, às 21h27. Para aquecer o coração gelado de Curitiba, ele iniciou os trabalhos com “A Hard Day’s Night”, clássico dos Beatles, seguida pela canção dos Wings, “Junior’s Farm”, e “Can’t Buy Me Love”, do quarteto de Liverpool. McCartney é experiente o suficiente para saber como agradar o público da célebre banda britânica e também não deixar de lado sua carreira ao lado dos companheiros de Wings e seus trabalhos solos, incluindo faixas do álbum mais recente do cantor, Egypt Station, lançado em 2018 e que integrou a lista do Previamente de melhores discos do ano passado. Uma das faixas é “Back in Brazil”, em que o artista incorpora ritmos da música brasileira para homenagear o país, performada também na noite.

Foto: Rodrigo Ramos

Paul conseguiu distribuir as faixas em blocos sólidos, com sonoridades mais semelhantes, das mais agitadas, passando pelas baladas no piano, uma vibe mais country e as canções em instrumentos como ukulele. Mesmo passando por tantas roupagens diferentes, da década de 60 até a recente, o músico equilibra bem os estilos e abraça todas as suas eras. Claro, há os descontentes, que adorariam que ele cantasse “Yesterday” — após o bis de encerramento, algumas pessoas tentaram fazer coro pedindo a canção, mas ele, gentleman que é, se despediu graciosamente, fingindo que não escutou. Paul prefere fazer o que irá, acima de tudo, lhe proporcionar prazer. Sejamos sinceros, o ex-Beatle já está fazendo um favor aos fãs por ainda continuar no topo do seu jogo, viajando o planeta todo para nos trazer as canções imortalizadas em uma carreira praticamente sem defeitos. São 32 músicas escritas ou co-escritas por ele que atingiram o topo da Billboard Hot 100, 18 Grammy Awards, um Oscar, oito BRIT Awards, duas vezes inserido na Calçada da Fama do Rock and Roll, fora as centenas de milhões de álbuns e singles vendidos. McCartney tem zero obrigação de ainda estar nesta indústria, mas ele mostra-se incansável e com firmeza se mantém no meio musical, presenteando os admiradores com sua música.

Em quase três horas de apresentação, Paul não parou um minuto sequer. Porém, a cada nova sequência de canções, ele usava alguns instantes para falar com o público, arriscando bastante no português. Ora era uma palavra ou gíria, ora frases inteiras — quando, por exemplo, citou que a próxima canção, “My Valentine”, seria uma feita em homenagem à sua (terceira) esposa, Nancy. Rolou “massa”, “tamo junto”, “suave na nave”. Paul é o verdadeiro tiozão tentando se conectar com a garotada, mas valeu a pena. A simpatia do cantor é, sem dúvida, uma das atrações do seu show. Ele até chegou a cantar a faixa “Birthday” em homenagem ao aniversário de Curitiba, que aconteceu na sexta-feira (29). Outro auge da apresentação foi em “Hey Jude”. Como de costume, a plateia recebeu plaquinhas com o famoso NA NA para levantar durante a performance. Apesar de ser um recurso mais do que comum, o empenho do público em cantar alto e segurar as plaquinhas visivelmente mexeram com o cantor, que alongou (foram mais de sete minutos) bastante a música, com direito a ordem dele de “agora os piás” e “agora as gurias”.

Um dos ápices da noite também foi quando Paul McCartney citou os direitos humanos antes de cantar “Blackbird”. Logo após da performance intimista, ele voltou a citar o tema. Nas duas ocasiões aplausos vieram da plateia. Porém, na segunda oportunidade, boa parte do público começou um coro de #EleNão. Apesar de McCartney não ser altamente político como Roger Waters, não deve ter sido uma surpresa a reação. Algumas caras feias e vaias surgiram, mas nada foi capaz de abafar o coro em alto e bom som contra o político que venceu o segundo turno da eleição para presidente em 2018 com 76,5% dos votos válidos registrados na capital paranaense. O protesto, a temática e local não poderiam ser mais adequados, já que o atual presidente do país, no dia seguinte (31), celebrava os 55 anos do Golpe Militar de 64 que trouxe para o Brasil uma ditadura que durou longos 21 anos, resultando no assassinato ou desaparecimento de 434 pessoas por dissidência política e mais 8 mil indígenas, além de cerca de 30 mil a 50 mil pessoas presas e torturadas ilicitamente, fora a perda de direitos políticos, humanos e liberdade de expressão. Simbólico.

Foto: Rodrigo Ramos

Ainda no campo de irritar alguns, quando terminou o show, antes de retornar no já esperado bis, Paul e banda apareceram com três bandeiras no palco: a do Reino Unido, uma do Brasil, e outra do movimento LGBTQ+. Os comentários negativos de alguns novamente foram vencidos pela ovação da maioria — felizmente. Depois de um pouco de mistério, McCartney voltou ao palco com mais seis faixas dos Beatles para encerrar a grande apresentação, que contou com 39 canções ao todo, sendo 22 do quarteto de Liverpool, sete do Wings e nove delas dos seus trabalhos solos, incluindo quatro do último disco de inéditas.

Paul não ficou devendo nada para quem acompanhou as quase três horas de música e, como se ainda precisasse provar alguma coisa a qualquer pessoa, reforçou mais uma vez ser uma lenda viva, incomparável.

Confira abaixo alguns dos melhores momentos do show, registrados pela jornalista Lana Seganfredo, do site Toca Cultural.

O Previamente montou a playlist com a setlist completa da apresentação. Ouça abaixo.

Por Rodrigo Ramos

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