Jennifer Lawrence, Halle Berry, Robin Wright e Angelina Jolie estão entre as interpretes que ganharam menos pelo mesmo tempo de tela que seus companheiros de cena.
Com o barulho causado pela suposta diferença de salários de Gal Gadot em Mulher Maravilha e Henry Cavill em O Homem de Aço, mais uma vez veio à tona a desigualdade salarial entre homens e mulheres na indústria cinematográfica e televisiva. A discussão não é nova — longe disso.
Leia: Gal Gadot e a desigualdade salarial entre homens e mulheres em Hollywood
Um dos casos mais recentes é a da atriz Jessica Chastain. Durante entrevista para a revista Variety, em fevereiro, ela citou sobre o fato de ter recebido menos de um quarto do que seus colegas masculinos em Perdido em Marte, filme de 2015 dirigido por Ridley Scott. “Eu não estou mais pegando trabalhos em que eu estou sendo paga um quarto do que a co-estrela masculina está sendo paga. Eu não estou permitindo isso na minha vida”, disse. “O que eu faço agora, quando eu vou pegar um filme, eu sempre pergunto sobre a equidade do pagamento. Eu pergunto o que eles estão me oferecendo em comparação ao cara”, declarou.
Jessica reconhece que a área em que trabalha compensa muito mais do que outras categorias, mas entende que se ela está fazendo o mesmo trabalho de outra pessoa, ela merece ganhar o mesmo e não cinco vezes menos.
Em janeiro deste ano, foi a vez da vencedora do Oscar e do Globo de Ouro, a israelense Natalie Portman, falar sobre o que já passou à revista Marie Claire. Em Sexo Sem Compromisso, filme de 2011, ela recebeu três vezes menos do que seu companheiro de cena, Ashton Kutcher. Ela admitiu que sabia da diferença e reconheceu que não ficou irritada como deveria ter ficado na época. “Nós somos bem remunerados, então é difícil reclamar, mas a disparidade é louca. […] Comparadas aos homens, na maioria das profissões, as mulheres recebem 80 centavos para cada dólar. Em Hollywood, nós estamos fazendo 30 centavos para cada dólar”, comentou. Kutcher, por sua vez, elogiou a postura da atriz: “Tão orgulhoso de Natalie e todas as mulheres que se posicionam por aproximarem a diferença salarial de gênero”.
Fora das telonas, agora na telinha, a diferença também existe. O caso mais comentado envolve a primeira série original da Netflix. A estrela de House of Cards, Robin Wright, exigiu em 2016 que, a partir da quarta temporada do seriado, passasse a receber a mesma quantia que seu co-protagonista, Kevin Spacey. Em 2014, a diferença salarial era considerável: enquanto ela recebia US$ 420 mil por episódio, ele recebia US$ 500 mil. Quando descobriu que recebia menos do que o colega, foi até a Netflix pedir o aumento, baseando-se na equidade dos papéis dentro da série (ambos possuem a mesma relevância) e a aceitação do público em relação a personagem, que chegou a ser mais popular do que o do próprio Spacey. “Eu disse, ‘é melhor vocês me pagarem ou eu vou à público’, e eles pagaram”, ela relatou. Além de protagonizar a série, Wright também dirigiu alguns episódios e é produtora executiva.
Outro caso televisivo é o da atriz Emmy Rossum, a estrela da dramédia Shameless, do canal Showtime. Ao final da sétima temporada, ela exigiu receber um aumento e ganhar um salário acima do co-protagonista interpretado por William H. Macy, que faz o seu pai na série. Em dezembro, ela e o canal chegaram a um comum acordo, com o apoio do ator, que por ser um indicado ao Oscar e o nome de maior destaque do elenco sempre ganhou mais do que os demais atores do seriado. Porém, ao longo das temporadas, o papel de Rossum foi crescendo e hoje ela tem mais tempo de tela do que o companheiro de elenco.
Ainda na TV, a veterana Gillian Anderson teve que suar a camisa em duas oportunidades completamente distintas para conseguir o mesmo salário de seu companheiro David Duchovny, em Arquivo X. Durante a década de 90, a atriz demorou três temporadas para que ela finalmente recebesse pagamento semelhante ao do parceiro. Nove temporadas e dois filmes depois, o revival da série foi ao ar no começo de 2016 e, novamente, ela teve de lutar para receber o que merecia — afinal, sem Scully não há Mulder em The X-Files.
Durante entrevista para o Hollywood Reporter, Gillian relevou: “Como de costume, eles vêm pra mim com metade do que eles querem oferecer ao David [Duchovny]”. “Foi chocante pra mim por todo o trabalho que eu fiz no passado para ser paga justamente, especialmente nesse clima de mulheres falando sobre a realidade de pagamento injusto no nosso negócio”, disse ao site Mirror. No fim das negociações, a atriz recebeu a mesma quantia do parceiro de série, algo em torno de US$ 200 mil a US$ 215 mil por episódio.
Retornando ao cinema, outra vencedora do Oscar também teve de lutar para conseguir receber um pagamento justo. Charlize Theron foi a vilã de Branca de Neve e o Caçador e foi chamada para a continuação de 2016, O Caçador e a Rainha do Gelo. Para aceitar o convite, ela exigiu que fosse paga o mesmo que Chris Hemsworth, seu co-protagonista: pouco mais de US$ 10 milhões. Ela disse à revista britânica Elle que o estúdio não lutou contra seu pedido e o acatou imediatamente, e que isso é um bom sinal.
O filme que uniu o agora divorciado casal Angelina Jolie e Brad Pitt, Sr. e Sra. Smith, de 2005, também deixou de reconhecer o peso de uma mulher vencedora do Oscar — Pitt nunca levou a estatueta dourada, vale ressaltar. Apesar de estarem no ápice da popularidade e terem o mesmo tempo de cena, ele acabou recebendo o dobro que ela pelo longa-metragem — US$ 20 milhões dele contra US$ 10 milhões dela.
No começo dos anos 2000, outro caso também chamou a atenção. Halle Berry foi escalada para A Senha: Swordfish. O longa-metragem foi massacrado pela crítica, mas tinha ainda no elenco Hugh Jackman (um ano após contracenar com a atriz em X-Men: O Filme), Don Cheadle e John Travolta, a maior estrela do núcleo. Portanto, era normal esperar um abismo salarial entre a atriz e Travolta. Para ganhar alguns trocados a mais, Berry topou mostrar os seios no filme pelo valor adicional de US$ 500 mil. Ainda assim, o salário dela chegou ao montante de US$ 2,5 milhões, bem abaixo dos US$ 20 milhões recebidos pelo astro.
Sendo uma das maiores estrelas atuais do cinema e a atriz mais bem paga em 2015 e em 2016, até mesmo Jennifer Lawrence enfrenta o sexismo da indústria. Durante o escândalo dos emails vazados da Sony, a estrela das franquias X-Men e Jogos Vorazes descobriu que ela e a co-protagonista Amy Adams receberam uma porcentagem menor nos lucros do filme Trapaça do que seus colegas masculinos Christian Bale, Bradley Cooper e Jeremy Reener. Elas receberam 7% cada contra 9% deles.
Quando soube do ocorrido, Lawrence escreveu um artigo, dizendo que não ficou braba com a Sony quando descobriu que estava ganhando bem menos do que “as pessoas sortudas com pintos”, mas sim com ela, pois falhou no papel de negociadora, desistindo muito cedo, porque não queria ficar brigando por alguns milhões a mais, afinal nem precisava naquela altura, pois estava em duas grandes franquias.
No artigo, Lawrence também diz que o desejo de gostarem dela também influenciou na decisão de fechar o contrato sem uma briga de verdade. “Eu não queria parecer ‘difícil’ ou ‘mimada’. Naquela hora, parecia uma boa ideia, até eu ver a folha de pagamento na internet e perceber que todo homem com quem trabalhei definitivamente não se importava em ser ‘difícil’ ou ‘mimado'”.
Amy Adams, por sua vez, disse à British GQ que “sabia que eu estava ganhando menos e ainda assim aceitei em fazer [o filme] porque a única opção se resume a fazer ou não fazer. Então você só tem que decidir se vale a pena pra você. Não significa que eu gostei”.