No aniversário de 60 anos da Rainha do Pop, revisitamos os 13 álbuns da carreira da cantora.
Com 35 anos de carreira, Madonna Louise Ciccone conquistou quase 300 prêmios, entre eles nove Grammy Awards, dois Globos de Ouro, 20 MTV Video Music Awards, e foi introduzida ao Hall da Fama do Rock and Roll. Madonna é a cantora que mais vendeu discos no mundo, com cerca de 300 milhões de cópias. Ela é a recordista na parada de sucessos da Billboard, tendo alcançado 46 vezes o 1º lugar na lista de músicas Dance Club, sendo a artista com mais #1s em uma única parada. Na principal parada, o Hot 100, ela já esteve no top 10 com 38 faixas, mais do que qualquer outro artista na história, sendo que 12 delas alcançaram o topo do chart. Ao todo, são mais de 120 números-um se contabilizadas todas as paradas da Billboard.
Os números falam por si, mas a Rainha do Pop é muito mais do que estatísticas. Por muitas vezes, ela revolucionou a indústria fonográfica, influenciando gerações, impactando a música pop (entre outros gêneros) de modo crucial, serviu (e continua servindo) de inspiração para dezenas, quiçá centenas, de artistas, além de ser defensora de longa data dos direitos LGBTs. Afinal, a coroa que ela ostenta não é de graça. Neste dia 16 de agosto de 2018, ela completa 60 anos e por este motivo resolvemos revisitar os 13 álbuns de inéditas/estúdio de sua carreira. O resultado você confere abaixo.
Madonna (1982)
Em um mundo sem internet ditando quem subia para o primeiro lugar das paradas de sucesso, o primeiro disco da desconhecida Madonna surpreendeu. Ela ainda não gerava polêmicas, muito menos caía na estrada com turnês dotadas de estruturas colossais e apetrechos tecnológicos de ponta. O álbum Madonna, no entanto, encantava e ainda encanta por sua simplicidade oitentista. Com apenas oito faixas, mas dono de vários hits, o primeiro disco da Rainha do Pop lançou não apenas sucessos comerciais: ele divulgou para o mundo que existia alguém ali querendo dominar uma grande fatia do mercado. E não só, esse alguém também desejava lançar moda com seus braços lotados de pulseiras baratas, cabelo desgrenhado e futuros brincos em formato de cruz. Madonna mostrou a todos que estava chegando de mansinho, conquistando pouco a pouco tanto público quanto rádio e convidando todos para curtir um “Holiday”.
Like a Virgin (1984)
Depois de emplacar no mundo inteiro com seu primeiro álbum, Madonna retomou sua estrada de sucesso com Like a Virgin, um álbum mais bem produzido, mas ainda respirando o trabalho anterior e toda a pegada oitentista. O disco catapultou de vez a carreira da cantora, que começou a colocar suas manguinhas de fora para polemizar. Como seu primeiro nome é mesmo Madonna, que tem como significado a mãe de Cristo, Maria, ela e o fotógrafo Steven Meisel criaram uma capa em que ela carrega alguns elementos sacros, vestida de noiva, fazendo uma pose sensual, trazendo dubiedade entre o pecado e o sagrado. O principal single do trabalho tem o mesmo nome do álbum e traz a mesma ambiguidade em sua letra, sagaz e polêmica. Uma delícia de single. Madonna trouxe também faixas divertidas como “Material Girl”, a primeira da tracklist, invocando Marilyn Monroe, além de “Into the Groove”, disponível na versão internacional do LP. Há espaço para músicas mais emocionais como “Love Don’t Live Here Anymore”, mas são as batidas das canções pop características da década, produzidas por Nile Rodgers, que conquistaram o público e boa parte dos críticos.
True Blue (1986)
O disco de maior sucesso comercial de Madonna foi este. O terceiro álbum da Rainha do Pop é curtinho – apenas nove faixas na versão original. Por isso mesmo é que está entre os melhores trabalhos da cantora, já que não há sobras, mostrando ser uma obra objetiva. Há espaço para festejos oitentistas como “Where’s the Party” e “Open Your Heart”, como investidas na música latina em “La Isla Bonita”. Ela não pode deixar de ousar e ser a frente de seu tempo, então em “Papa Don’t Preach” ela subverte a família tradicional e admite decepcionar seu pai, mas acabou engravidando e, ainda assim, terá o bebê, algo que há três décadas era um absurdo – e ainda hoje é visto com olhares tortos pela sociedade, mesmo que o tema do momento seja o aborto; pois bem, ter um filho por conta própria também pode ser encarado como um ato de feminismo, algo que a cantora provou trinta anos atrás. Por fim, “Live to Tell” mostra uma Madonna bem mais madura, em uma de suas canções mais poderosas, com grande potência vocal, o que também exibe uma evolução técnica da cantora.
Like a Prayer (1989)
Se nos dois discos anteriores a predominância de sucessos era também por causa da sonoridade da década, Madonna subverteu o conceito e se arriscou em Like a Prayer. Arriscou a recepção de uma legião sólida de fãs e testou os limites de uma crítica desejosa por qualquer tropeço, já que a cantora havia lançado três discos e seu sucesso ainda era inquestionável. O disco, porém, chegou fazendo um grande barulho com Madonna questionando a imagem da Igreja no clipe do carro-chefe “Like a Prayer” e simulando masturbação em cima do palco em sua Blonde Ambition Tour. Hipócritas, então, surgiram de diversos lugares e setores da sociedade para jogar bosta na Geni e tentar derrubar a imagem feminina e feminista cada vez mais evidente de Madonna. Tanta polêmica não ofuscou, no entanto, o talento amadurecido da cantora nas faixas de Like a Prayer, agora contando com letras mais pessoais (“Oh Father”) e manifestos a favor dos direitos de livre expressão e da mulher (“Express Yourself”). Sua voz, predominantemente mais grave do que nos álbuns anteriores, acompanhou mais uma mudança de visual; agora Madonna tinha cabelos belamente escuros, causando mais um choque à imagem estabelecida pela própria.
Erotica (1992)
Nos dias atuais, o choque mais intenso que as pessoas levam das cantoras pop são, no máximo, por causa de seus nudes vazados na internet por algum hacker brincalhão. O que será que os pais dessas cantoras pensaram quando, no início dos anos 90, Madonna dava a cara a tapa ao falar abertamente sobre sexualidade e os prazeres e problemas que vêm com ela? Mais: além de um disco voltado para o tema, um livro de arte, com capa de metal e sessões de fotos sensuais e, em alguns casos, explícitas. Madonna escancarou que o preconceito e toda a problemática com a sexualidade e sua diversidade é um assunto concernente a todos. Uma pena, porém, que o livro SEX tenha ofuscado o vanguardismo e a sonoridade tão bem construídos de Erotica, talvez o álbum mais subestimado da cantora até hoje. Se a religião tinha sido o tema do disco anterior, agora Madonna tratou de se reinventar em um alter-ego chamado Dita, uma dominatrix disposta a mostrar os prazeres do sexo e da dor a ponto de deixar qualquer fã atual de Cinquenta tons de cinza ruborizado em um piscar de olhos.
Bedtime Stories (1994)
O álbum anterior de Madonna causou muita polêmica na época por falar abertamente sobre sexo. De lá pra cá, a cantora se viu vigiada e com sua vida pessoal invadida constantemente pela imprensa. Pois bem, Bedtime Stories é mais uma guinada de estilo, deixando a sensualidade de canto e apostando num lado mais pessoal, um íntimo mais delicado, com uma pegada mais R&B e também, em menor parcela, eletrônica, contendo letras românticas, com Madonna de peito aberto, e também espaço para criticar a mídia. Em “Human Nature”, por exemplo, ela responde com classe àqueles que a repreenderam por falar de sexo, pedindo ‘desculpas’ por falar sobre o tema, argumentando ser a natureza humana e pedindo para que não nos repreendamos. Há espaço para canções mais dançantes, como as saborosas “Survival” (também com uma ou outra alfinetada) e “Don’t Stop”, mas o que impera é o turbilhão de emoções, como em “Inside of Me” e “Take a Bow”.
Ray of Light (1998)
Depois de um turbilhão de polêmicas com Like a Prayer e Erotica (contando ainda com uma resposta inteligente às críticas da mídia em Bedtime Stories), Madonna voltou ao cenário musical em uma reinvenção ainda mais forte. Com seu potencial vocálico mais explorado na preparação para o papel principal em Evita, a cantora ainda juntou a recente gravidez e sua entrada no mundo cabalístico como influências para Ray of Light, ganhador de diversos prêmios no final da década de 90 e que a consagrou mais ainda diante do público e da mídia. Com letras mais no âmbito pessoal – ainda que falando de temas universais, um reconhecimento necessário para ganhar público no mundo pop – e arranjos eletrônicos diferentes de tudo o que ela havia produzido até então, Ray of Light foi criador de hits como “Frozen” e a própria faixa-título, que ganhou um dos clipes mais criativos já transmitidos pela MTV. Iniciando o disco com a confissão de ter encontrado a pessoa certa em “Drowned World / Substitute for Love”, Ray of Light passa por uma psicodelia de temas pessoais e sons que remetem a um ambiente chillout, fechando com a arrebatadora e surpreendentemente “silenciosa” “Mer Girl”. É Madonna alternativa.
Music (2000)
Em apenas 10 faixas, Madonna consegue misturar ritmos e criar experimentos nunca ouvidos antes em sua carreira. Depois do irretocável Ray of Light, a cantora dá um tom futurista em suas faixas, assim como recorre a várias correntes do pop, com direito a referências dance, techno, folk (“Gone”) e até country (“Don’t Tell Me”). O disco pode te fazer curtir uma balada (“Music”, “Runaway Lover”), assim como consegue falar de amor (“I Deserve It”) e também sobre o que é ser uma mulher (“What It Feels Like For a Girl”, a melhor do álbum). Mais uma vez, Madonna prova ser extremamente maleável musicalmente e pode fazer o que quiser – e bem feito.
American Life (2003)
Qual o resultado se Madonna resolvesse criar um álbum praticamente acústico e que criticasse, logo de cara, o governo de George W. Bush? American Life sofreu com um fracasso comercial gigantesco, só não estabelecido devido ao sucesso da turnê que o promoveu mundialmente logo depois. Assim como em Erotica, as pessoas julgaram a qualidade do álbum apenas pela polêmica em torno. Bem, essas pessoas perderam a oportunidade de conhecer uma Madonna mais intimista e, ao mesmo tempo, arriscando fazer versos de rap em mais de uma faixa. American Life também entrega arranjos acústicos que se misturam a um eletrônico tímido, mas forte dentro das confissões e dores expressas nas letras. A superficialidade também entrou em cena em “Hollywood”, faixa promovida em um MTV Video Music Awards inesquecível para Britney Spears, Christina Aguilera e o mundo. É que não bastava uma polêmica política, Madonna precisava beijar duas mulheres em rede nacional: mais de dez anos depois de Erotica, o mundo ainda não entendia que isso não é um problema. E ainda não entende.
Confessions on a Dance Floor (2005)
Recuperando o público perdido com American Life, em 2005 Madonna investiu em uma imagem despretensiosa, um figurino que remetia às roupas disco dos anos 70, num misto com a irreverência e o brega dos anos 80, além de um álbum que se pode definir, sem medo de ser feliz, de “dance”. Colaborador de turnês anteriores, Stuart Price foi o responsável maior pelo sucesso do disco, criando, junto com Madonna, hits como “Hung Up” e “Jump”. Acompanhando o disco, a Confessions Tour apresentou uma Madonna mais segura de si como nunca, visivelmente se divertindo ao compor músicas pop-chiclete e ousando em samplear ABBA.
Hard Candy (2008)
Se Confessions on a Dance Floor pode estar fácil dentro do top 10 dos melhores discos dance do século, o mesmo não pode ser dito de Hard Candy. Indo do clima da discotecagem dos anos 70/80 para o pop chiclete dos dias atuais, o álbum produzido por Pharrell Williams, Timbaland e Justin Timberlake soa mais do mesmo. Apesar de seus lapsos, o disco traz faixas extremamente dançantes e de grande entretenimento como “4 Minutes”, também de estilo urbano como “Give it to Me”, que ironicamente traz certa crítica às canções farofas, e até letras mais sentimentais, a exemplo de “Miles Away”, que fala sobre o ex-marido da cantora, Guy Ritchie. Fora os três singles, pouca coisa resta além de produções arrojadas, mas já manjadas. Não é ruim, mas a gente sempre espera mais da Rainha do Pop. Quando ela deixa ser domada pelos produtores e não o contrário, fica difícil louvar o seu trabalho.
MDNA (2012)
Quando um álbum abre com um single robusto para as pistas de dança e paradas de sucesso como é o caso de “Girl Gone Wild”, você espera o melhor. Contudo, as outras faixas que vêm pela frente não seguem os mesmos passos. Uma faixa é completamente distinta da outra. Isso porque sete produtores estão por trás de MDNA. A segunda faixa do álbum, “Gang Bang”, tem oito compositores, o que já demonstra tamanha bagunça. Certamente há mais identidade aqui do que no cd anterior. Aliás, há identidades até demais. Existem várias Madonnas, mas nenhuma delas é exatamente a que a gente quer. Tanto em letra quanto em melodia, tudo parece usado, repetitivo, clichê.
Rebel Heart (2015)
Diferentemente de seus dois últimos trabalhos de estúdio, Rebel Heart não soa preguiçoso; pelo contrário, o disco recebeu uma produção arrojada que contou com a participação de muitos produtores, incluindo na mega lista nomes como Diplo, Avicii e Kanye West. Ao mesmo tempo que Madonna toma caminhos que recebem a influência moderna de seus produtores, principalmente nas batidas de West em “Illuminati”, ela parece querer revisitar não apenas as reinvenções que foi criando ao longo de sua carreira, mas também se referenciar: em alguns momentos, o faz literalmente, sampleando versos inteiros de “Vogue” em “Holy Water” ou de “Justify My Love” em “Best Night”. Os dois casos, porém, não são gratuitos, os versos são inclusos em um contexto que os valorizam. Já em “Veni Vedi Vici”, Madonna transforma nomes de hits em momentos pessoais, provando para o ouvinte que nada foi por acaso, tudo foi orquestrado para um êxito. Se Rebel Heart passou por diversos testes antes mesmo de chegar às lojas, acabou se mostrando um disco maduro e coeso. A condição, daqui em diante, é se Madonna ainda vai desejar revisitar o que já foi revisitado. Ainda há esperança para novos Erotica e Ray of Light na carreira da Rainha do Pop?
Confira a crítica na íntegra do álbum Rebel Heart neste link.
O “Erotica” é maravilhoso e seria ainda + foda se ela tivesse incluído “You are the one” e “Shame” no mesmo. Como ela pôde descartar essas músicas???????