O adeus amargo para a adorada Terra Média
A última visita à Terra Média é um tanto tocante para quem acompanhou a saga de Peter Jackson desde o lançamento de A Sociedade do Anel, em 2001. Mesmo com o lado emocional pesando um pouco, é de se admitir, ao final desta trilogia que serve como prólogo para O Senhor dos Anéis, que O Hobbit é quase comparável com o trabalho de George Lucas na hexalogia Star Wars. Três grandes acertos e outros três trabalhos questionáveis.
Como fã, revisitar nas telas o mundo criado por Tolkien é fascinante. O grande problema foi a questão mercadológica: ao invés de dois, três longas-metragens de um livro de 300 páginas. Claro, houve as inserções de Jackson na história para lincar mais consistentemente as duas trilogias. Todavia, não justifica pelo viés narrativo essa separação.

A Batalha dos Cinco Exércitos vem para colocar um ponto final na odisseia de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) e a Companhia. Depois de despertar o dragão Smaug, este sai destruindo a vila dos humanos ali perto, enquanto Thorin (Richard Armitage) fica enfeitiçado pelo tesouro, em busca da Pedra Arken, a joia mais preciosa de toda a riqueza ali. Do lado de fora, o mal começa a se fortalecer, ao mesmo tempo em que os elfos e os humanos querem sua parte do tesouro.
O filme consegue destacar perfeitamente a loucura de Thorin, o maior acerto do longa. Richard Armitage fica louco na medida certa, sem ultrapassar a linha do aceitável e o egoísmo dele traz situações imprevisíveis dentro da história. Bilbo, assim como no longa anterior, não parece ser o mais relevante. Mas quando é requisitado, Freeman dá conta do recado.

A luta de Elrond (Hugo Weaving), Saruman (Christopher Lee) e Galadriel (Cate Blanchett) para resgatar Gandalf (Ian McKellen) é a principal adição que não existe no livro para dar mais ênfase no retorno das forças malignas de Sauron. Em termos de luta, aliás, o longa-metragem não deixa desejar. Quase metade da película foca-se nos confrontos, seja na inicial destruição causada por Smaug ou toda a batalha dos cinco exércitos do título. Peter Jackson sabe bem orquestrar com brilhantismo cenas de ação entre vários bandos, como já mostrou na própria trilogia O Senhor dos Anéis.
Mesmo tendo um pouco mais de história para contar aqui do que se compararmos com A Desolação de Smaug, o mais fraco da trilogia, ainda assim a narrativa não tem muito para adicionar. O foco principal é mesmo a loucura de Thorin e a disputa pela Montanha da Solidão. Além disso, só há pancadaria e o retorno pra casa – a cena final pode fazer com que o maior marmanjo derrube uma lágrima.

Dentro da narrativa, o longa se preocupa muito com personagens que, particularmente, ninguém se importa. O primeiro exemplo é Alfrid (Ryan Gage), vigarista que serve de alívio cômico e não se encaixa dentro de nada. É quase vergonha alheia. O exemplo número dois é o caso de Tauriel (Evangeline Lilly), que está adorável em cena, porém o seu romance repentino com o anão Kili (Aidan Turner) não existe nos livros e tampouco é relevante para a história. Ela serve como a vertente romântica, afinal de contas tem que abocanhar o público que aprecia o gênero romance. Ao menos a presença dela ajuda a desenvolver a persona de Legolas (Orlando Bloom) e seu caminho em direção aos membros da Sociedade do Anel.
Com o término da trilogia, finalmente dá pra ter a certeza de que Peter Jackson se envolveu numa megalomaníaca produção de excessos. E ainda assim, ele continua revelando edições estendidas dos filmes. Há gordura de sobra para queimar do jeito que os longas foram feitos. Em A Batalha dos Cinco Exércitos, a película é mais objetiva – tem “só” 144 minutos. Ainda assim, no fim da sessão, sobressai a sensação de que não precisava de mais uma para terminar de contar a história. Dois filmes seriam o suficiente e sobrava. Porém, o dinheiro falou mais alto ou simplesmente a paixão de Jackson pela Terra Média é enorme a ponto de cegá-lo, impedindo-o de perceber que ele conseguiu fazer filmes medianos com um material e personagens riquíssimos. Infelizmente, não dá pra voltar atrás e reparar os erros. Nos anos que passarão, a impressão que ficará é a mesma que os fãs de Star Wars, num consenso, compartilham: a trilogia original é fantástica e a nova não faz jus à anterior. É uma pena que o adeus tenha que ser assim amargo.

The Hobbit: The Battle of the Five Armies
EUA | Nova Zelândia, 2014 – 144 min
Ação
Direção:
Peter Jackson
Roteiro:
Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson, Guilhermo Del Toro
Elenco:
Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Evangeline Lilly, Luke Evans, Lee Pace, Benedict Cumberbatch, Ken Stott, James Nesbitt, Cate Blanchett, Ian Holm, Christopher Lee, Hugo Weaving, Orlando Bloom
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Já assistiu ao filme? Então responda à pesquisa do Projeto O Hobbit em http://www.worldhobbitproject.org/
Por Rodrigo Ramos






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