Em seu quinto ano no ar, a série chega ao seu auge
Por Rodrigo Ramos
Quando iniciei a primeira temporada de The Good Wife, a série já estava exibindo nos EUA a sua quinta temporada, no segundo semestre do ano passado. Por algum motivo estúpido, não apostava que houvesse tanto potencial no drama da boa esposa vivida por Julianna Margulies (de E.R. e The Sopranos). Por incentivo de duas amigas, comecei a acompanhar a série e em pouco menos de três meses eu devorei mais de 100 episódios, alcançando no início de 2014 a temporada atual. Dentre os mais de 40 seriados que acompanho, acreditem, poucas me cativaram como essa. Meu erro nos últimos anos ignorando esta joia é irreparável, contudo estou aqui para finalmente poder falar dela.
Com tudo bem estabelecido nas temporadas anteriores, a quinta temporada vinha com a proposta de chacoalhar um pouco o status quo da série, que parecia não ter como continuar evoluindo se ficasse presa dentro do escritório de advocacia de Will Gardner (Josh Charles) e Diane Lockhart (Christine Baranski). Pois bem, Robert e Michelle King, criadores da série, começaram a esquematizar uma mudança brusca – a primeira de algumas que aconteceram ao longo da temporada. A saída de Alicia Florrick (Margulies) e Cary Agos (Matt Czuchry) começa a ganhar forma e os primeiros episódios do quinto ano se foca na preparação para a partida. A partir daí, as coisas começam a verdadeiramente esquentar.
Desde o primeiro ao último episódio, The Good Wife se mostrou valente. A saída de Alicia e Cary da Lockhart & Gardner deu um impulso gigantesco na série, fazendo com que todos os personagens tivessem oportunidade de lidar como novos desafios, trazendo novidades para a trama e evolução narrativa. Mas o foco sempre fora e sempre será de Alicia, que nesta temporada transforma-se em uma personagem ainda mais fascinante do que previamente.
De uma vez por todas Alicia sai do papel de boa esposa para finalmente se tornar uma mulher independente e que toma as rédeas de seu futuro. Ela topa ficar ao lado de Peter Florrick (Chris Noth), porém é muito mais por conveniência do que qualquer outra coisa. Profissional e politicamente o relacionamento dos dois é vantajoso. Da mesma forma, Alicia deixa de lado seu outro “homem”. Quando sai da Lockhart & Gardner, Alicia assume a sua independência e começa a apostar em toda a sua competência.
The Good Wife sempre foi boa em moldar fortes personagens femininas, liderada por Alicia. Porém, Kalinda (Archie Panjabi) e Diane sempre se mostraram capazes de serem tão competentes, fortes e independentes. O modo como retrata as mulheres fora e continua sendo um dos pontos mais consistentes do seriado.
O grande truque de mestre da série nesta temporada foi saber exatamente para onde ir. Do episódio um até o vigésimo segundo, os roteiristas seguem uma narrativa com uma direção objetiva. Após tantos programas diferentes que assisti, é fácil ver um seriado com mais de 20 episódios por temporada se perder no meio do caminho, adicionando vários capítulos que apenas servem para preencher espaço entre uma coisa ou outra mais interessante e raramente adicionam algo de valor para o enredo. A própria The Good Wife sofreu com essa síndrome na temporada passada. Entretanto, no quinto ano os roteiristas parecem ter pensado tudo com extremo cuidado, fazendo com que cada episódio da temporada contribua para a narrativa que permeia os 22 capítulos.
É uma conquista e tanto que uma série após cinco anos no ar ainda consiga mostrar que é capaz de surpreender em todos os aspectos. Os criadores/produtores/roteiristas Robert e Michelle King tiveram um grande problema nas mãos, que era a saída de Josh Charles da série. Porém, a despedida de Will, numa das grandes reviravoltas da temporada, contribuiu ainda mais para que a personagem de Julianna Magulies amadurecesse. Toda a produção, aliás, está de parabéns por conseguir guardar o segredo por tanto tempo, já que Charles tinha decidido sua saída ainda em 2013.
Com a morte súbita de Will, The Good Wife nos lembrou como a vida é realmente. Abrupta, imprevisível, muitas vezes cruel. O impacto da morte de Will atingiu todos os personagens. Diferente de Game of Thrones ou The Walking Dead, que personagens morrem a todo episódio e a morte em si acaba sendo banalizada, The Good Wife, uma série que não é de matar ninguém, quando traz esse elemento para ela, trabalha com delicadeza e acerta em cheio. O óbito aqui tem peso de verdade, causando maior comoção entre espectadores e os personagens do que qualquer morte sangrenta em Game of Thrones. Apesar de Will ser um ótimo personagem e um par romântico interessante, sua saída trouxe a chance de novas alternativas serem exploradas na série – e até o final da temporada, todas foram diretas no alvo.
The Good Wife soube mesclar todas as subtramas em uma única narrativa concisa. Uma das mais interessantes é a que envolve a NSA (Agência de Segurança Nacional), que aparece meio desinteressante no meio de tudo, some por um tempo na temporada, e depois retorna com um papel muito importante.
A série brincou quando pôde, fez sua parte criticando o governo, e até mesmo parodiou Glee. Tudo isso sem deixar de lado a seriedade e a objetividade. The Good Wife mostrou nesta temporada que é possível fazer uma longa série de qualidade desde que seus realizadores estejam dispostos a isso. Vale destacar também o desempenho acima da média de todo elenco, com destaque para Julianna Margulies, Josh Charles, Alan Cumming, e as participações especiais de Carrie Preston e Hunter Parrish. A emoção, a diversão e a dramaticidade andam juntos neste quinto ano, onde a série saiu do seu lugar comum diversas vezes e se consolidou como uma das cinco melhores no ar atualmente. Um feito e tanto.
The Good Wife: Season Five
EUA, 2013/2014 – 22 episódios
Drama
Criado por:
Robert King, Michelle King
Elenco:
Julianna Margulies, Matt Czuchry, Archie Panjabi, Graham Phillips, Makenzie Vega, Alan Cumming, Matthew Goode, Zach Grenier, Christine Baranski, Josh Charles, Chris Noth, Nathan Lane, Michael J. Fox, Carrie Preston