Malévola | Review

A inversão de personalidade de uma personagem e a descaracterização de uma história

Maleficent poster

Por Rodrigo Ramos

A Disney percebeu que está em um novo mundo e para continuar levando o público ao cinema para ver seus trabalhos talvez fosse necessário reinventar suas próprias obras originais. Tivemos Tim Burton e seu (fraco) Alice no País das Maravilhas, Sam Raimi e seu (fraquíssimo) Oz: Mágico e Poderoso, e agora temos Malévola, mostrando um lado da vilã de A Bela Adormecida que nós não conhecíamos. A oportunidade foi dada para o diretor Robert Stromberg, novato na cadeira, mas experiente em efeitos especiais.

Dar uma nova roupagem para as novas gerações é uma estratégia inteligente e contar com muitas cores, efeitos especiais e um elenco bacana é uma jogada de mestre da Disney. Porém, no meio disso, se esquece do que costuma ser essencial: uma boa narrativa. A Disney tenta parecer estar preparada para mostrar-se descolado o suficiente, mas vai se esbarrando da sua política de boa vizinhança e moralista. Em Oz, por exemplo, houve a necessidade de dar uma origem para a maldade da vilã Theodora, vivida por Mila Kunis. O estúdio não pode se contentar em simplesmente ter em seu catálogo de personagens figuras que são más por essência e não por consequência.

Malévola segue pelo mesmo caminho burocrático. A história, de origem, conta que a personagem título, vivida por Angelina Jolie, era uma fada boa de coração e que se voltou contra os humanos quando um deles, amigo seu de juventude, Stefan (Sharlto Copley), cortou suas asas para que ele pudesse ser o novo rei. Como vingança, ela amaldiçoou a filha dele daquele jeito que vocês já conhecem. O problema é que o rancor não permaneceu por um longo tempo e Malévola acabou se relacionando com Aurora (Elle Fanning), servindo como uma fada madrinha, um anjo da guarda, criando um elo emocional com a garota.

Angelina Jolie, afastada das telas desde O Turista, em 2010, está fabulosa em cena. Ela consegue transformar a bruxa em uma personagem carismática, cheia de nuances emocionais. Ela transforma Malévola em alguém adorável. Quando ela é má, mais especificamente na cena da maldição, ela é fantástica. O problema é que dão pouco material para que Jolie se divirta ainda mais – e o mesmo vale para o público, que poderia se entreter muito mais.

É uma reconstrução completa da personagem e que muda sensivelmente o sentido completo da fábula de A Bela Adormecida. O problema não é reinventar uma história, mas fazer isso como uma forma de justificativa ou desculpa. A Disney não suportaria colocar como protagonista de um filme seu alguém que fosse mau por natureza. Se a bruxa de Oz não pode ser má sem motivo, por que haveria de ser Malévola? Toda a malvadeza da personagem inexiste aqui, utilizando traição e coração quebrado como os motivos que levaram Malévola a fazer algo ruim, que, por ventura, acabou se arrependendo ao descobrir o amor fraterno. Não é até uma má revisão, a questão é que isso deturpa a essência de uma das figuras mais marcantes do arsenal da Disney no mundo das princesas.

Vamos supor que amanhã decidam fazer um filme em que o Dr. Hannibal Lecter é um assassino canibal por conta de um trauma na infância e outro em que o Coringa é um maníaco psicopata porque em sua juventude ele teve coração partido. Será que funcionaria? Tentar entender o vilão não é ruim, o problema é deturpar o personagem inteiro para colocá-lo como herói. E é o que a Disney faz aqui.

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A grande mudança é a inversão de personalidade, transformando Malévola (aliás, o nome de batismo dela é esse e pouco faz sentido dentro do novo contexto criado) em uma personagem que não é ela de fato. No mais, o longa-metragem tem pouca movimentação e segue basicamente o mesmo caminho da obra original. Ou seja, não acontece muito além do que nós já sabíamos, salvo uma coisinha ou outra. Do começo ao fim, é tudo previsível. Visualmente, a película é maravilhosa, porém em narrativa (tanto em desenvolvimento de personagens quanto em acontecimentos) pouco oferece. É exatamente o pote de açúcar que você estava esperando e os trailers já antecediam.

Maleficent
EUA, 2014 – 97 min
Aventura

Direção:
Robert Stromberg
Roteiro:
Linda Woolverton
Elenco:
Angelina Jolie, Sharlto Copley, Elle Fanning, Sam Riley, Imelda Stauton, Juno Temple, Lesley Menville

3 STARS

2 thoughts on “Malévola | Review

    1. Olá Tainá. Tens razão, tinha me esquecido completamente. E o filme é bem ruim por sinal. Tá aí a razão de não ser uma boa ideia mesmo. Obrigado pelo toque!

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