Debi & Loide 2 | Review

A ignorância e a ingenuidade são uma benção

Debi e Loide 2 poster

Por Rodrigo Ramos

São vinte anos separando os dois filmes. De lá pra cá, Jim Carrey e Jeff Daniels já passaram por várias situações em suas respectivas carreiras. Fiascos e sucessos permearam ambos os casos. Daniels levou a sua para um caminho um pouco mais dramático, conquistando um Emmy de melhor ator de drama pela série The Newsroom, de Aaron Sorkin. Enquanto isso, Carrey emplacou vários longas número um nas bilheterias por todo o planeta, sendo levado a sério de vez em quando com películas dramáticas (Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças e O Show de Truman), mas marcando sempre pelas comédias. Com vidas profissionais consolidadas, por que voltar? Não há uma boa resposta, todavia, esse retorno tem um timing perfeito.

A trama surge com um gancho tão absurdo que só funciona por se tratar de dois personagens são absurdamente surreais quanto eles próprios. Lóide (Carrey) prega uma peça em Debi (Daniels) durante 20 anos, fingindo estar com problemas mentais, sem poder nem sequer se trocar, alimentar-se, mudar de roupa sozinho, em suma, sem poder fazer quaisquer necessidades básicas. Tudo era o amigo que fazia. Depois de revelar que a enfermidade não passava de uma pegadinha, eles colocam rapidamente o papo em dia e partem em busca de um rim para Debi, que está doente. No decorrer dessa saga, ele descobre que tem uma filha de 22 anos e vai atrás dela para conhece-la e fazer com que ela lhe doe um rim.

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Debi & Loide 2 trata seus protagonistas com a mesma falta de noção do anterior, mas com uma visão ainda mais interessante. Nota-se em ambos uma falta de conexão com o resto do mundo. A ausência de julgamento do que é apropriado ou não diante das pessoas é tão grande que a ignorância deles se torna um elemento de inocência perante ao universo ao redor deles. Vinte anos se passaram, porém eles se mantêm iguais, presos no tempo, em um passado tão arcaico que é como se fossem crianças, o que fica claro na maneira em que veem o mundo, como se enxergam e se tratam.

Essa maneira debiloide de ser dos protagonistas, mesmo com tanto tempo desde o primeiro longa-metragem, nos faz mergulhar em nostalgia. As comédias sem noção dos anos 90 permearam a década. Umas com tiradas mais refinadas e outras nem tanto, partindo para o âmbito do escrachado. Os irmãos Bobby e Peter Farrelly nunca foram Woddy Allen ou Charles Chaplin, mas volta e meia acertavam na bobagem exagerada. Debi & Lóide, o primogênito, funcionava pela bobeira inocente, a falta de filtro de discernimento dos personagens, a ingenuidade literal. Essas coisas convertiam as piadas e ações ridículas dos protagonistas em finalidades engraçadas.

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Esta continuação, ainda que muito adiada através dos anos, funciona justamente por evocar esse passado cinematográfico e nos lembrar de como era fácil fazer rir lá atrás, o que tem se provado cada vez mais árduo nas comédias recentes. Debi & Loide 2 pode parecer simples, uma espécie de releitura própria – o que fica evidente nas imagens durante os créditos, já que o filme obedece o passo-a-passo do seu antecessor – e funciona justamente por ser tão bobo e ridículo quanto o original. Tudo isso se deve também, certamente, à dupla Jim Carrey e Jeff Daniels, que continua perfeita na pele dos personagens, mostrando que o tempo passou e o talento deles só aumentou, sendo ambos extremamente convincentes ao interpretar dois estúpidos por natureza.

Dumb and Dumber To
EUA, 2014 – 109 min
Comédia

Direção:
Bobby Farrelly, Peter Farrelly
Roteiro:
Sean Anders, John Morris
Elenco:
Jim Carrey, Jeff Daniels, Rob Riggle, Laurie Holden, Rachel Melvin, Steve Tom, Kathleen Turner

4 STARS

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