Os Filmes de Christopher Nolan

O ranking dos longas do diretor, em ordem de qualidade

Christopher Nolan on the set of Interstellar

Por Rodrigo Ramos

Com 44 anos, o londrino Christopher Nolan passou de um diretor de filmes independente para um arquiteto de grandiosos blockbusters. Ele foi capaz de ressuscitar um dos super-heróis mais adorados ao redor do público, mas não só isso. Nolan trouxe às telas histórias de obsessão, quebra-cabeças, mistério e fascínio visual. A filmografia dele ainda é curta, mas não há uma obra ruim até o momento.

Aproveitando a estreia de Interestelar, seu mais recente trabalho, o Previamente elaborou um ranking que classifica, em ordem crescente, os longas-metragens do diretor.

8) Following (1998)

A história do homem que tinha como passatempo seguir as pessoas é um bom começo para a carreira de Nolan. A relação entre protagonista e antagonista é um tanto perturbadora e desde cara o diretor mostra que a obsessão é um tema do qual tem um grande apreço. O longa em preto e branco é curto (uma hora e 11 minutos de metragem), ou seja, é bem objetivo, o que ajuda e faz com que este noir mereça ser visto, mesmo com a precariedade dos recursos – Nolan filmou quase que com orçamento zero, estimado em US$ 6 mil.

Following 1998

7) Insônia (Insomnia, 2002)

Em um raro caso em que Robin Williams faz o bandido, este longa-metragem policial mostra em Nolan um fascínio em estudar seus personagens e brincar com a noção do que é real e o que não é. O policial interpretado por Al Pacino, numa perseguição a um assassino, em meio a neblina, acaba atirando no seu companheiro que poderia deixa-lo numa situação desconfortável com um depoimento para seus superiores. E aí, foi de propósito ou não? A culpa, a dúvida e a obsessão por pegar o assassino perturbam o detetive, que ainda sofre o agravante de estar numa cidade onde a noite nunca vem naquela parte do ano – é dia durante as 24 horas diárias – e com isso a insônia o consome. Destaque para o duelo de atuação entre Williams e Pacino.

Insomnia 2002

6) Batman Begins (2005)

Se Nolan tivesse feito só esse, o longa estaria mais pra cima da lista, mas como ele veio a se superar nas sequências, daí Batman Begins fica um pouco mais abaixo. Mas tudo bem. O reboot do morcegão nas telas não foi um estrondoso sucesso nas bilheterias, mas foi o suficiente para apagar a imagem da alegoria carnavalesca dos filmes de Joel Schumacher e transformou a origem do herói em uma narrativa mais séria, mais próxima da realidade. A construção de Bruce Wayne (Christian Bale) é perfeita e o tom é o certo.

Batman Begins 2005

5) Amnésia (Memento, 2000)

Uma narrativa de trás pra frente e com flashbacks. Nolan conseguiu fazer de Amnésia (pior título, já que o protagonista insiste em repetir que não tem amnésia) um filme experimental e com uma das edições mais complexas do cinema. Não quero nem imaginar como foi escrever esse roteiro e editar o longa. Pois bem, um homem que sofre de perda de memória recente – ele esquece tudo o que aconteceu com ele dentro de 15 minutos – não consegue se lembrar de nada desde o momento em que viu sua esposa sendo morta. Para tentar descobrir quem realizou o crime, ele vai fazendo anotações em fotos e folhas. É uma história de obsessão (olha só, de novo) e que tem várias viradas. É incrível como um longa invertido pode surpreender tanto, mesmo com o espectador sabendo o final, já que ele está logo no início da película. É um projeto ousado e que mostra como Nolan é um maestro do cinema.

Memento 2000

4) A Origem (Inception, 2010)

Primeiro filme de Nolan a ser indicado ao Oscar de melhor longa-metragem, A Origem é uma película inovadora, parte pelo seu visual, parte pela sua ideia central. Convenhamos que fica meio chata aquela coisa da bendita Kombi ficar caindo por horas em câmera lenta, mas tirando isso, o longa-metragem é cheio de ação, é intrigante e mais uma vez prova que dentro de um blockbuster pode haver ideias mais complexas do que normalmente se tem, pois o público vai entender e irá abraçar a causa.

INCEPTION

3) Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012)

Sou fã do desfecho da trilogia do homem morcego, mas diferente de seu antecessor, este possui alguns problemas. Um tanto longo demais, narrativa não tão frenética quanto o anterior e com uma atriz que deixa muito a desejar (sério, Marion Cotillard, aulas de atuação pra você). Tirando isso, é um filmaço. Batman deixa de ser o protagonista para virar coadjuvante, enquanto Gotham City se torna a protagonista e é palco de uma investida de um líder misterioso (Bane, interpretado por Tom Hardy) que tenta devolver o poder ao povo ao mesmo tempo em que quer a aniquilação da cidade. Há espaço para críticas ao sistema econômico, à política, à própria polícia e também à guerra. Se a Marvel até este ano só fazia filmes unicamente para entreter, sem contexto social nenhum, Nolan investiu pesado nisso neste desfecho da trilogia.

DARK KNIGHT RISES

2) O Grande Truque (The Prestige, 2006)

Dois mágicos, Robert (Hugh Jackman) e Alfred (Christian Bale), trabalham juntos em um espetáculo. Até que um dia, durante uma das performances, a esposa de Robert morre por acidente. Ele culpa o colega pelo óbito e então passa o resto da sua vida buscando vingança. Ah, a vingança… A obsessão pela vingança, para dar o troco, para ser um melhor mágico do que o outro, são os itens que impulsionam este que, pra mim, é um dos mais brilhantes trabalhos de Nolan. Cheio de viradas na trama e com atuações fantásticas de Wolverine e Batman, o longa leva muito a sério a questão do ilusionismo, fazendo com que o grande truque do título seja realizado diante de nossos olhos, nos dando conta do que está acontecendo somente quando as luzes da sessão estão prestes a se acender.

(L-R) Michael Caine, Scarlett Johansson, Hugh Jackman

1) Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008)

O melhor da filmografia de Nolan é, incontestavelmente, um dos melhores longas do século e, por que não, até mesmo da História. O Cavaleiro das Trevas é sério mesmo e não dá pra ter risadinhas. Não há alívios cômicos. A obra tem uma atmosfera pesada, contribuição de Hans Zimmer e James Newton Howard, responsáveis pela trilha sonora, além do roteiro, que é o guia desse espetáculo. O grande trunfo aqui é descaracterizar este como um filme de super-heróis; é basicamente um filme policial, com o protagonista tendo suas limitações diante das circunstâncias e tentando combater o crime, como uma espécie de justiceiro (Steven Seagal fez uns 300 filmes desse tipo), e exceto pela alegoria de gente mascarada, com maquiagem esquisita e uma queimadura improvável, tudo poderia ser real. Além disso, há uma pegada política, apontando para a corrupção e também abrindo alas para a anarquia.

O que acho fantástico é como cada coisa fica bem colocada na trama, pensada milimetricamente para que tudo se encaixe, mesmo que as coincidências possam parecer um tanto forçadas – mas é assim que funciona o cinema, especialmente o hollywoodiano. O ritmo é frenético, o que faz com que as duas horas e meia de metragem passem voando. Não dá tempo de respirar. As atuações são uma melhor do que a outra – Aaron Eckhart está muito bem como Duas-Caras e o falecido Heath Ledger está legendário no papel de Coringa, certamente um dos vilões que jamais serão esquecidos no Cinema. E o desfecho é surpreendente e perfeito dentro da proposta do longa.

The Dark Knight 2008

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