Melhores Séries de Drama
The Bear (FX) — Terceira Temporada

Após duas temporadas quase unânimes, The Bear divide opiniões em seu terceiro ano. Christopher Storer decide iniciar a temporada com um de seus episódios mais ousados, com uma estrutura diferente, praticamente sem falas e que seta um tom cada vez mais experimental para a série. Se os rumos do roteiro que a série tomou gerou controvérsias, o mesmo não pode ser dito sobre outros aspectos técnicos, pois a série segue sendo visualmente deslumbrantes.
Para quem aprecia um estudo profundo de personagens, essa temporada é um presente. A série já criou a tradição de trazer episódios focados em um personagem coadjuvante e aqui tivemos um dos pontos altos da temporada, acompanhando a jornada que levou Tina até o original Beef.
É muito curioso o paralelo entre a constante busca de Carmy por uma perfeição inalcançável, as reviews do restaurante e a recepção da terceira temporada da série. Storer parece consciente das escolhas que fez e de como elas poderiam ser recebidas. E, da mesma forma em que, apesar dos tropeços, o restaurante caminha para se consagrar, The Bear entrega belas e emocionantes histórias que lhe garantem um lugar entre os melhores dramas no ar. — Valeska Uchôa
Disponível na Disney+.
The Penguin (HBO)

O conteúdo de super-herói hoje em dia é sinônimo de obras pasteurizadas e apáticas, mas por isso é bom quando aparece uma série como The Penguin, uma derivação do ótimo filme de Matt Reeves que coloca seu foco no vilão interpretado por Colin Farrell e em Sofia Falcone (a ótima Cristin Milioti), uma coprotagonista do seu crescimento como criminoso. Vendida como “The Sopranos dos super-heróis”, Pinguim não é isso, apesar de ser muito consciente das suas inspirações mais superficiais de séries dramáticas de prestígio com personagens vilanescos como protagonistas (a vaga similaridade com Tony Soprano ou a relação de Oswald/Victor e Walter White/Jesse Pinkman), mas é finalmente uma série que além de conseguir não ser o genérico ou um pastiche somente disso tudo, consegue ser baseada num universo de super-heróis que é acima da média de verdade e não alimentada só de “oba oba”. Algo que parece ter sido feito por seres humanos.
A estilística entre um mundo urbano sombrio e sóbrio rodeado por traços mais estilizados e mais carregados continua, só que de maneira ainda mais autocontida, mesmo com a figura quase expressionista de Sofia Falcone. Não temos a destreza da encenação do Matt Reeves, mas temos uma atenção muito grande pro mergulho no estudo psicológico das mentes de Oswald e Sofia, brilhantemente interpretados por Farrell e Milioti.
E de como eles nunca perdem o centro dessa narrativa, percebendo nuances neles, mas sem nunca diminuir o tamanho da psicopatia e perversidade de Oz, o definindo como alguém horrível percebendo aos poucos como qualquer humanidade nele é uma questão de projeção, egoísmo, necessidade doentia ou abandonada em prol dos seus instintos piores. — Diego Quaglia
Disponível na HBO Max.
The Last of Us (HBO) — Segunda Temporada

Por uma decisão, penso eu, mais comercial do que criativa, a segunda temporada de The Last of Us tem aquela inglória função de dividir o jogo em que é baseado, The Last of Us Part II, em duas partes. A escolha é complicada, pois encerra a história em um momento crucial, uma grande virada narrativa, que urge por uma continuação imediata, mas que teremos de aguardar de dois a três anos — porque esse é o novo normal, aparentemente, e se tem notícia de que sequer finalizaram os roteiros da terceira temporada, quem dirá então quando planejam filmá-la. Dito tudo isso, vamos à pergunta: a segunda temporada, com duração reduzida (um episódio a menos do que sua antecessora) e corte brusco na trama, valeu a pena? A resposta é: sim, ainda que com ressalvas.
Dentro da proposta dessa divisão, existem decisões acertadíssimas, como a introdução de Abby (Kaitlyn Dever, excelente, mesmo com pouco tempo em tela), já a estabelecendo como uma potencial chefe da trama e justificando de cara o motivo de ela cometer o crime que chocou muitos.
Além disso, tornar a relação de Ellie (Bella Ramsay) e Dina (Isabela Merced) menos tóxica e mais afetiva, diminuindo o nível de escrotidão da protagonista, também tornou a experiência da história mais virtuosa. A expansão do personagem Isaac (Jeffrey Wright) é válida, ainda que aquém para o todo.
Na condução da narrativa, como um todo, a série mantém o clima de incertezas quanto ao futuro, com todos podendo perecer a qualquer momento, principalmente porque, em suma, o ser humano é péssimo, pior do que os próprios zumbis (mas isso já sabíamos). The Last of Us faz algo muito corajoso, que é [alerta de spoiler!] matar seu protagonista já no segundo episódio da temporada, respeitando o que acontece no game. E, ainda que a falta de Joel (Pedro Pascal, perfeito no papel mais uma vez) seja sentida, a série sabe trabalhar bem sem ele, com Ramsay e Merced sendo ótimas leads. Num ritmo cadenciado, bem mais lento do que alguns gostariam, a produção se torna mais contemplativa do que objetiva — até mesmo pela escolha da divisão, mencionada lá no começo — e está tudo bem. No fim, é uma temporada mais transitória do que final, que deixa um gosto de quero mais. Esperamos para ver se o próximo (e que espero ser o derradeiro) ano de The Last of Us venha para quebrar a banca mesmo, assim como o jogo, ou se ficará na sensação de que poderia ter sido melhor aproveitado. — Rodrigo Ramos
Disponível na HBO Max.
Interview with the Vampire (AMC) — Segunda Temporada

A segunda temporada de Interview with the Vampire não só honra a obra de Anne Rice, como eleva sua essência para um patamar quase operático. O roteiro de Rolin Jones é preciso, cadenciado, e sabe costurar cada silêncio com a mesma intensidade de cada explosão de violência. O deslocamento de Louis e Claudia para uma Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial não é apenas um recurso narrativo, mas um palco onde a dor, o amor e a busca por pertencimento se amplificam. O design de produção é um espetáculo à parte, transformando ruínas em poesia visual, enquanto a trilha sonora conduz cada cena como se fosse uma dança fúnebre.
O mais impressionante é como a série não hesita em abraçar de vez os aspectos queer que sempre pulsaram nas entrelinhas do romance. Louis e Lestat não são apenas criaturas amaldiçoadas, mas amantes presos em uma eternidade de obsessão e ressentimento. E isso ganha corpo graças a atuações magnéticas que desafiam o espectador a sentir empatia até pelo que é monstruoso.
Digo sem medo de exagerar, que poucas adaptações conseguiram ser tão ousadas sem perder a delicadeza. — Zé Guilherme
Disponível na Amazon Prime Video.
Slow Horses (Apple TV+) — Quarta Temporada

A quarta temporada de Slow Horses reafirma por que ela continua sendo uma das melhores séries no ar. Com enredo mais pessoal, explorando a relação de River Cartwright (Jack Lowden, melhor do que nunca) com seu avô David (Jonathan Pryce, uma das surpresas do ano) e as consequências da demência, a trama encontra novo peso emocional, sem abrir mão do humor ácido, das intrigas de MI5 e dos personagens excêntricos que marcam a identidade da produção. Gary Oldman se mantém impagável na pele de Jackson Lamb, com muito cinismo, deboche, frieza e uns vislumbres de humanidade, sendo a figura que faz tudo ser possível nessa trama de espionagem. Acima de qualquer coisa, uma das grandes virtudes de Slow Horses é respeitar a tradição televisiva e entregar, sem falta, uma temporada por ano. Vale lembrar que a quinta temporada estreia agora em setembro e, a sexta, já está em produção. Organização é tudo, e os espectadores agradecem. — Rodrigo Ramos
Disponível na Apple TV+.
Adolescence (Netflix)

A minissérie que deu o que falar no começo foi filmada inteiramente em plano sequência, o que deixou a experiência muito mais íntima, não servindo unicamente como propósito estilístico, mas não sendo ainda sua principal qualidade. A narrativa consegue ir além, trabalhando as consequências e motivações de um crime brutal, sem desumanizar o envolvido: um menino de 13 anos.
Por mais que aborde esse período conturbado da adolescência e o nosso entendimento sobre, é uma produção muito forte e madura, que nem sempre é fácil de ser assistida, sem deixar de ser contemporânea, principalmente na abordagem das redes sociais.
Os quatro episódios são bem divididos no que querem mostrar, passando pelo atordoamento inicial, da investigação, a mente complexa do garoto e as consequências para a família no última e devastadora hora. Tudo isso com um elenco espetacular que deve ter ensaiado bastante para que tudo saísse neste nível de excelência, e devo dizer que o jovem Owen Cooper é um achado. É uma das melhores estreias do ano e, com certeza, uma das melhores coisas que a Netflix já produziu. Intensa e arrasadora. — Filipe Chaves
Disponível na Netflix.
Severance (Apple TV+) — Segunda Temporada

Misturando sua estética surreal e corporativa com dilemas existenciais, além dos mistérios por trás daquele universo, Severance tinha o retorno mais aguardado da TV em muito tempo. Em seu segundo ano, a queridinha causou uma ruptura entre seus espectadores: uma parte, descontente com os rumos da série (nem vou detalhar, porque queremos falar bem dela aqui); outra, extremamente feliz com a entrega. O fato é que a produção foi a mais comentada em 2025 e conseguiu manter o público vidrado, semana após semana (comprovando por que precisamos do retorno geral e irrestrito dos lançamentos semanais), para saber os rumos dessa história.
Brilhante tecnicamente, poucas séries são tão bem fotografadas quando ela — não por acaso, a diretora de fotografia Jessica Lee Gagné foi promovida e dirigiu o seu primeiro episódio nesta temporada. É um deleite visual inegável. Seu elenco é primoroso, com diversos destaques, incluindo Adam Scott (definindo-se como um ator completo, capaz de mais nuances do que imaginávamos), Britt Lower (fascinante ao interpretar as versões internas e externas da sua personagem) e Tramell Tillman (uma incrível performance de contenção emocional, de quem está numa panela de pressão prestes a explodir).
Até então, tudo parece bem. Mas o que divide mesmo os fãs são certas escolhas narrativas, cujos caminhos parecem não saber para onde vão, com alguns personagens fazendo hora extra na trama, enquanto outros somem sem explicação, até mesmo a falta de congruência com os tópicos levantados no primeiro ano e deixados para trás. O fato é que, apesar dos pesares, Severance tomou conta da conversa e entregou, sim, grandes momentos em seu segundo ano — impossível não reconhecer o grande episódio que é “Chikhai Bardo”. A cena final é emblemática e, espera-se, levará a série para novos patamares. — Rodrigo Ramos
Disponível na Apple TV+.
My Brilliant Friend / L’amica Geniale (HBO/RAI) — Quarta Temporada

A quarta temporada de My Brilliant Friend encerra a saga com a mesma densidade emocional e cuidado estético que marcaram sua trajetória, ainda que carregue o peso de uma despedida anunciada. A troca de elenco, com Alba Rohrwacher assumindo Elena/Lenu e Irene Maiorino vivendo Lila, confere uma nova camada de maturidade às protagonistas, mesmo que cause estranhamento inicial para quem acompanhou sua juventude. Sob direção precisa, cada episódio se sustenta como peça quase independente, um retrato íntimo do choque entre a vida pessoal e as convulsões sociais da Itália, mostrando que o vínculo entre as duas mulheres, feito de amor, ressentimento e cumplicidade, permanece como a força central da narrativa.
A temporada final reafirma a grandiosidade da adaptação da obra de Elena Ferrante: uma série que não se rende a soluções fáceis, mas abraça a complexidade e a contradição de suas personagens. O resultado é um desfecho corajoso, fiel ao espírito literário e capaz de permanecer vivo na memória do espectador. Uma série que beira o irretocável, de começo ao fim. Sentiremos falta. — Rodrigo Ramos
Disponível na HBO Max.
The Pitt (HBO Max) — Primeira Temporada

Há dias que penso que a TV deveria voltar um pouco no tempo, uma década atrás pelo menos, e começar a lembrar o que faz ela ser o que é. Uns 10/15 anos atrás, talvez The Pitt fosse mais uma produção perdida em um mar de boas produções, incluindo do gênero médico. Contudo, em 2025, ano em que vivemos uma crise criativa na indústria, é surpreendente que uma série que veio com tão baixa expectativa e apenas uma curiosidade puxava o público — porque é um drama médico do mesmo criador e um dos protagonistas de ER (Plantão Médico) — tenha se tornado um dos maiores fenômenos do ano.
Com 15 episódios (número considerável para os termos de hoje, em que se leva três anos para uma temporada de oito capítulos), lançada semanalmente, e sendo de um gênero tão explorado, tido como clássico televisivo, The Pitt é um respiro necessário para quem ama verdadeiramente da TV.
Ambientada em um pronto socorro de um hospital universitário, a narrativa transcorre em tempo real — algo parecido com 24 Horas. E conforme as horas passam, vamos aprendendo mais sobre os personagens através de suas características e nos conectando com eles. Em meio a isso, há os casos médicos, que vão interseccionando suas narrativas com a dos médicos e enfermeiros. A calmaria, obviamente, não existe aqui e a situação só vai escalando — principalmente na reta final, a partir do episódio 12, um dos melhores do ano. Os dilemas morais e éticos vêm, mostrando que a linha entre o certo e o errado é mais tênue do que se imagina, especialmente durante momentos de enorme pressão e urgência.
Semana após semana, a série foi ganhando o público, que voltava porque, essencialmente, The Pitt é uma série que entende o conceito televisivo e respeita o telespectador. É um drama muito bem dirigido, sim, bem escrito, bastante sensível, medicamente bastante correto (o que é raro de se ver), com um cuidado exemplar na hora da montagem e com um elenco que se dedica ao máximo para honrar essa história. Noah Wyle, rosto conhecido de ER, é o principal destaque, é claro, mas a série não depende só dele. Pelo contrário, é uma série cujo o conjunto sustenta o peso do drama. É uma estreia forte e emocionante, que não se vê todo dia. É uma série feita com as melhores das intenções, com o coração no lugar certo, e que aparece na hora que mais precisávamos na nossa grade. — Rodrigo Ramos
Disponível na HBO Max.
Andor (Disney+) — Segunda Temporada

Fui fã de Star Wars um dia. Hoje, aquela paixão ficou para trás. O motivo disso é o uso excessivo da marca em obras genéricas, repetitivas, sem criatividade, seja no cinema (A Ascensão de Skywalker fingimos que nunca chegou à telona) ou na TV (Obi Wan Kenobi, The Mandalorian, entre diversos outros). Será que a franquia ainda seria capaz de nos entregar algo verdadeiramente marcante?
Andor foi uma série que pegou todos de surpresa, porque a sugestão de usar um personagem secundário de um filme spin off (Rogue One) como protagonista de uma longa narrativa não parecia exatamente a melhor ideia. Felizmente, eu estava errado em pensar o pior. Tony Gilroy, roteirista da película mencionada e criador da série, deu vida a uma obra que, alguns podem até dizer sem medo, a melhor coisa já criada no universo Guerra nas Estrelas.
Após um longo hiato de três anos entre as duas temporadas, a espera pelo segundo ano se paga pelo o que se vê em tela. A narrativa é lapidada com todo o cuidado, criando quatro blocos (de três episódios) para contar um ano na história desses personagens. A escolha permite que, mesmo sendo uma unidade, cada bloco possa imprimir tons e gêneros diferentes. Em meio a isso, no texto, Andor mergulha de cabeça no debate político, discutindo de maneira madura e sem falso moralismo sobre a guerra, o autoritarismo, a democracia, a liberdade, direitos civis, temas em voga globalmente, mas que raramente vemos sendo abordados tão sobriamente. É até curioso que um estúdio tão visado no lucro e que recentemente tirou do ar um late night show por conta de um monólogo tenha permitido a criação de uma obra tão progressista e antibélica.
Com carta branca, Gilroy aborda os terríveis efeitos de um governo autoritário na população como um todo, como o autoritarismo vai correndo as instituições por dentro, e como o fascismo rapidamente vai nos tirando direitos enquanto nos faz crer que tudo está bem através da propaganda. O espetáculo visual existe, sim, mas a série está mais interessada em abordar o lado humano da história em vez de sair explodindo naves. Aqui, as dores são pessoais. As escolhas de cada personagem têm peso e as renúncias custam caro. Não há respostas fáceis para questionamentos complexos.
A coragem do texto de Tony Gilroy e seu grupo de roteiristas se soma ao impressionante trabalho técnico — absolutamente impecável –, ao talento do elenco — extremamente comprometido com a missão, com atuações pujantes e complexas — , o que demonstra sincronia total com o trabalho final. Andor é ousada, emocionante, costumeiramente próxima demais da realidade, sendo um entretenimento competente, sim, mas acima de tudo uma importante reflexão sobre os tempos sombrios do passado, presente e do futuro à frente. Tudo sem precisar de sabres de luz. E, diante disso, merecidamente reconhecida, por nós, como o drama da temporada. — Rodrigo Ramos
Disponível na Disney+.
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