Na lista estão Slow Horses, The Bear, X-Men ’97, Shogun, entre outros.
O Previamente elegeu os melhores da televisão na temporada 2023/2024, selecionados por quem realmente consome TV.
A seguir, você confere as 10 melhores séries de drama exibidas entre os dias 1º de junho de 2023 e 31 de maio de 2024, período de elegibilidade para o Emmy Awards, maior premiação da TV mundial.
Entre as narrativas temos um restaurante em construção em meio a muito caos e gritaria, espiões atrapalhados, briga de classes, uma mulher fugindo de seu abusador, um homem tentando escapar de sua stalker obsessiva, um faroeste no sertão brasileiro, e muito mais.
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Ripley (Netflix)
Tem tanta produção feita no automático por aí que é impossível não se encantar com a beleza da cinematografia presente em Ripley. O aspecto visual aqui é de deixar o espectador de queixo caído. O preto e branco dá uma sensação de ser mais chique? Sim. Mas seu uso não é gratuito, é consciente, pois contribui para a narrativa, já que ela parte da discussão da própria história, filosófica, artística e figurativamente. Cada take é pensado, calculado, e cada cena é uma verdadeira obra de arte que poderia estar pendurada em um museu na Europa. Mas não deixe se enganar unicamente pela estética visual, pois há muito a se falar sobre a série, em especial o modo como ela apresenta o nascimento — ou, talvez, a profissionalização — de um golpista. O texto é refinado, a direção conduz a narrativa com a delicadeza de um balé e a regência de uma orquestra, além de contar com ótimas performances, em especial a de Andrew Scott, fascinante no papel título. É pura arte audiovisual. — Rodrigo Ramos
Disponível na Netflix.
Silo (Apple TV+) – Primeira Temporada
Séries pós-apocalípticas não são raridade faz tempo, mas Silo traz consigo um frescor. O excelente episódio piloto estabelece desde o princípio este universo com uma mistura de política, sistema opressivo, manipulação da opinião pública, religião como método de controle, teorias conspiratórias e civilização rupestre. O fundamento é sólido e o desenrolar a partir disso não decepciona. As respostas em Silo não vêm fácil e fogem um pouco da obviedade. Claro, você pode até acabar acertando algum desenrolar, mas a história é conduzida com inteligência pelos roteiristas, deixando o espectador com uma pulga atrás da orelha sobre onde a narrativa vai parar, mas ao mesmo tempo entende que é necessário expandir as ramificações para além do mistério, fortalecendo seus personagens, em especial a protagonista Juliette, vivida com grande esmero por Rebecca Ferguson, o farol que ilumina o caminho de Silo, o grande sci-fi da temporada. — Rodrigo Ramos
Disponível na Apple TV+.
Cangaço Novo (Amazon Prime Video) – Primeira Temporada
Um faroeste nos tempos modernos, Cangaço Novo nos leva de volta ao sertão do país para mostrar como o “velho oeste” brasileiro pouco se modernizou com o passar do tempo, só se adaptou no que foi necessário. A pobreza, a miséria, o coronelismo na política e a violência estão ainda presentes nesta realidade. E é este o cenário em que o protagonista, Ubaldo (Allan Souza Lima), é levado a enfrentar quando regressa às origens da sua família biológica no nordeste após saber que tem uma herança e pretende usá-la para cuidar do pai adotivo enfermo.
Com competência técnica para deixar muitas produções gringas no chinelo, ação de qualidade, personagens fortes e intrigantes, ambientada em um cenário pouco usual na nossa dramaturgia, além de uma narrativa que conversa com o Brasil real para muitos e que pouco se fala, Cangaço Novo é uma surpresa e tanto, mostrando que há diversas vertentes possíveis para o mundo seriático nacional, inclusive fora da Globo, tradicionalmente o epicentro de produções de excelência da TV brasileira. — Rodrigo Ramos
Disponível na Amazon Prime Video.
Baby Reindeer (Netflix)
A temporada 2023/2024 trouxe algumas séries abordando as consequências de abusos. Baby Reindeer é uma delas. Sem entrar nos detalhes, mas entregando a justificativa da série, ela explora como um homem, vítima de violência sexual, se encontra em dificuldades em tocar a sua vida após isso. O protagonista se torna incapaz de falar do assunto e, ao não saber lidar com o trauma, como uma maneira de se punir pelo o que lhe aconteceu, coloca relacionamentos em cheque, bem como sua carreira, e tem dificuldades em se livrar de uma stalker a ponto de dar tanto espaço para ela que se torna impossível tirá-la de sua vida.
É uma virtude ver uma obra que mostra como homens também podem ser vítimas e demonstrar fragilidades. Não creio que usar uma mulher com problemas mentais para reforçar que homens podem ser perseguidos, atormentados e abusados é necessariamente o melhor caminho, contudo, o fato é que Bebê Rena adquiriu uma legião de fãs e, mesmo que não aborde da melhor maneira, traz à tona um assunto que vale ser discutido. — Rodrigo Ramos
Disponível na Netflix.
Shōgun (FX) – Primeira Temporada
No primeiro episódio, Shogun já nos dá noção da sua grandiosidade. Enormes cenários e que são visualmente deslumbrantes, vários figurantes, figurinos caprichados, mas é no desenrolar da trama e na força de seus personagens que a temporada realmente brilha. A partir do segundo episódio, há uma noção mais clara de quem é quem e das peças presentes no tabuleiro da mais recente adaptação do romance de James Clavell. Toranaga (Hiroyuki Sanada), Mariko (Anna Sawai) e Blackthorne (Cosmo Jarvis) formam o trio principal, e enquanto Sanada e Sawai se destacam com fortes atuações, Jarvis é o elo mais fraco, mas juntos funcionam bem. Em meio a batalhas, violência, lutas corpo a corpo brilhantemente coreografadas, principalmente com espadas, o verdadeiro poder da série está nos bastidores, intrigas, jogos de poder, discussões políticas e religiosas, onde um plano maior é orquestrado, enquanto os personagens são muito bem desenvolvidos com cuidado que o roteiro tem com eles, sejam protagonistas ou coadjuvantes.
Shogun foi renovada para mais duas temporadas. Se serão necessárias, só o tempo dirá, mas nestes 10 episódios iniciais tivemos um mergulho na cultura japonesa, em que o senso de honra e dever são fundamentais e deixam a trama mais crível devido à sua importância, seja dramática ou narrativa, brincando com nossas expectativas, fazendo o que é melhor para a trama e não para apenas satisfazer a audiência, mostrando que a grandeza de uma produção não pode se segurar somente no espetáculo visual. — Filipe Chaves
Disponível na Disney+.
True Detective: Night Country (HBO) – Quarta Temporada
True Detective, convenhamos, não foi unanimidade nem mesmo na primeira temporada. Sim, foi celebrada por muitos, mas até hoje tem gente que não suporta — inclusive, neste grupo de votantes do Previamente. Mas o consenso é de que foi uma temporada respeitada de TV. O mesmo não dá pra dizer do segundo ano pavoroso. O terceiro é aceitável, porém, esquecível. Aí veio a pergunta: será que essa série antológica ainda tem jeito? Issa López foi a resposta para o questionamento.
Respeitando o espírito investigativo de crimes bizarros, agora temos uma dupla feminina (o que já é um ponto positivo), de estilos diferentes, que moram em uma pequena cidade no estado do Alaska e investigam o desaparecimento de oito pesquisadores. A patrulheira Evangeline Navarro (Kali Reis) tenta convencer a detetive Liz Denvers (Jodie Foster) que o caso está ligado ao assassinato não solucionado de uma ativista local.
A temporada decorre em uma ambientação gélida e sombria, combinando as temáticas abordadas, e traz consigo elementos sobrenaturais, algo que cai super bem com a proposta e já explorado no ano de estreia da série. O mistério é fio condutor da narrativa, é instigante e seu desfecho é satisfatório. Ao mesmo tempo, a série não se deixa levar somente pelo crime e explora os dramas de suas personagens, bem desenvolvidas e que são o verdadeiro motivo para que o espectador fique até o fim, com grandes performances das protagonistas e elenco coadjuvante. — Rodrigo Ramos
Disponível na Max.
Slow Horses (Apple TV+) – Terceira Temporada
Para quem sente saudades de uma boa série de espiões — você possivelmente é órfão de The Americans –, Slow Horses é uma ótima pedida. Com temporadas curtinhas — seis episódios cada –, as histórias são super focadas, não tendo tempo pra perder, e isso faz com que o senso de urgência seja latente durante cada ano. Algo bem interessante também é o fato de a série não ter grande apego por nenhum personagem, podendo facilmente matar qualquer um do elenco principal sem pensar duas vezes, o que torna a experiência ainda mais próxima de uma possível realidade de um contexto de espionagem.
Bem resumidamente, a série tem como plot geral um departamento de espionagem do MI5 onde os renegados, incompetentes e mal sucedidos são levados para trabalhar, sob a tutela de um notório espião, Jackson Lamb (Gary Oldman). Em tese, era para serem inúteis, mas de alguma forma, os pangarés acabam sempre se metendo em alguma enrascada e vão tentar salvar a pátria.
Depois de dois anos sólidos, a terceira temporada catapulta a série para novos níveis, com mais tensão, uma trama muito bem amarradinha, cenas de ação de tirar o fôlego e ótimas piadas. Em certos momentos, Slow Horses quase parece uma comédia, já que os pangarés constantemente cometem erros e caem em ciladas, e Gary Oldman está inspiradíssimo como aquele arquétipo bufão. E, por fim, o caso da temporada é satisfatório. Vale a pena conferir. — Rodrigo Ramos
Disponível na Apple TV+.
X-Men ’97 (Disney+) – Primeira Temporada
Como uma série de super-heróis animada se tornou um dos melhores dramas da temporada? Parece improvável, mas é o que aconteceu. O maior acerto da Marvel/Disney na história recente, X-Men ‘97 é esperta porque não se sustenta unicamente na nostalgia pela nostalgia — que sim, faz parte do apelo do seriado a princípio, mas não é o motivo pelo qual o espectador fica. Dando continuidade à narrativa da animação clássica e mantendo o mesmo visual, ela passa longe de ser apenas um resgate às memórias afetivas e se firma por fazer o que os X-Men sempre fizeram ao longo das décadas: trazer assuntos relevantes e adultos, colocando o dedo na ferida para discutir tópicos delicados como aceitação, preconceito, guerra, crenças, tudo de forma madura, sem pedir desculpas ou suavizar a mão para agradar todos os públicos. Quem tem capacidade de interpretação, entende bem sobre os temas que X-Men ‘97 trata. É a obra mais ousada e criativa da Marvel em quase uma década. Da TV mesmo, não há dúvidas, é o que o estúdio já fez de melhor. — Rodrigo Ramos
Disponível na Disney+.
Fargo (FX) – Quinta Temporada
Fargo sempre surfou no humor negro, mesmo que suas tramas fossem sustentadas em assassinatos ou mortes em geral (acidentais ou não). Esta é a primeira vez em que a série traz no centro de sua trama um tema tão delicado. Aqui, Noah Hawley trata sobre o abuso contra a mulher. Para ilustrar a narrativa, temos uma dona de casa excessivamente simpática que esconde um passado traumático e é extremamente resiliente, uma executiva poderosíssima e que não aceita a ordem de nenhum homem, uma policial que carrega nas costas um marido folgado, e uma jovem garota que não está preocupada em se limitar aos padrões. Em contraponto, temos homens inseguros, bananas, violentos e que necessitam de atenção — porém, alguns com boas intenções.
O roteiro faz questão de exaltar o poder da mulher, o rastro de trauma oriundo da violência e dos abusos, além de criticar, sem medo de represália, a hipocrisia do espectro político que usa a religião como arma para manipulação e justificativa para cometer atrocidades. É uma aula sobre os perigos do fanatismo e, também, da misoginia. É uma temporada que não apenas entretém, mas também tem algo a dizer e sabe como dizer. — Rodrigo Ramos
Disponível na Amazon Prime Video.
The Bear (FX) – Segunda Temporada
The Bear (O Urso, em português) faz uma escolha arriscada em sua segunda temporada: em vez de focar na dinâmica direta entre os personagens, ele opta por ir na direção oposta, separando-os em diversas oportunidades e contando um pouco das histórias individuais de cada um, que por fim acaba culminando no retorno de todos para a abertura do tão esperado restaurante. Já vi séries sucumbirem por optarem por esse caminho — a exemplo de Atlanta. Entretanto, há casos de sucesso, como The Leftovers, excelente em fazer episódios solos para compor a grande narrativa. The Bear está mais para este caso.
O segundo ano da série narra o longo percurso de construção, viabilização, criação e abertura do novo restaurante do grupo, que se chamará The Bear. Simbolicamente, a odisseia estressante para abrir o lugar é também acompanhada de uma jornada pessoal de cada um dos personagens, que estão em busca (intencionalmente ou não) do autoconhecimento enquanto preparam-se para o novo trabalho. Felizmente, as mentes por trás da série, Christopher Storer e Joanna Calo, sabem para onde a série vai e a escolha mencionada no parágrafo anterior, apesar de arriscada, acaba pagando, casando com o mote da temporada.
A sensação de estresse contínuo permanece (exceto em “Forks”). Em termos técnicos (fotografia, edição e direção), é difícil dizer que há algo igual à produção no ar. E os atores doam-se por completo em performances que entregam verdade na sua execução e tornam The Bear uma história de personagens reais e, em diversos quesitos, familiares. A série fala com propriedade sobre família, relacionamentos interpessoais (não necessariamente românticos), coloca o holofote nos profissionais dos restaurantes que estão por trás de um prato — especialmente em tempos de inteligência artificial, é um bom lembrete de como o ser humano é insubstituível –, estabelece, sabiamente, que todos possuem seus traumas e por isso não podem ser muletas para justificar suas ações e magoar as pessoas. É um programa que fala sobre uma imensidão de temas, com gravidade, seriedade e, vez em quando, com leveza e uma gracinha para descontrair. É um drama de alto calibre e é injusto que o canal FX opte por colocá-lo nas premiações nas categorias de comédia na esperança que isso lhe dê mais chances de conquistar honrarias, uma vez que, na temporada televisiva 2023/2024, foi o melhor drama de todos. — Rodrigo Ramos
Disponível na Disney+.
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Textos por Filipe Chaves & Rodrigo Ramos
Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos
2 comentários sobre “Melhores séries de drama da temporada 2023/2024”