Melhores séries da temporada 2023/2024

Melhores Atuações Coadjuvantes

Janelle James (Abbott Elementary)

Divertidíssima, a Ava de Janelle James roubou a cena de Abbott Elementary desde a primeira temporada e no terceiro ano não é diferente. Dentro de um cenário em que a maioria dos personagens leva seus trabalhos a sério, a atriz é quem pode ficar solta por não levar seu ofício tão a sério assim. Mesmo tendo um pouco mais de gravidade e seriedade do que em outros momentos, com demonstração de amadurecimento da personagem, ela é quem não tem medo de fazer piadas e zombar dos colegas, contudo, sem deixar a empatia pela equipe de lado. — Rodrigo Ramos

Wrenn Schmidt (For All Mankind)

“My drug is the work, this work…”. Uma engenheira brilhante, Margo Madison é a personagem feminina que desafia a audiência: ela não é “gostável” — sua principal função na história não é a busca romântica; seu amor é primeiramente o trabalho. Ela não é a heroína que salva o dia e, para fechar com chave de ouro, precisa tomar decisões extremamente difíceis, em que o certo e o errado não existem. E ninguém entendeu melhor a personagem quanto a atriz que a defendeu por quatro temporadas, Wrenn Schmidt.

Para interpretar Margo Madison, Wrenn Schmidt não teve apenas que entregar as nuances de uma personagem que no início procurava se provar relevante dentro da NASA longe da sombra de seu mentor, como também todos os desafios que essa mesma personagem iria enfrentar ao longo de quase 40 anos. Mas nunca o talento dela ficou tão evidente quanto nessa quarta temporada, em que Wrenn, 41 anos, precisou mostrar o peso das decisões de vida, os sentimentos de arrependimento, culpa e luto, de uma mulher de mais de 60 anos, e isso tudo falando russo! 

Assim como sua personagem, que é extremamente dedicada ao seu trabalho e sempre procura fazê-lo o melhor possível, Wrenn conta em entrevistas sobre sua preparação para ser crível ao mostrar como uma mulher vinda do Alabama passaria oito anos em território soviético, enfrentando invernos mais rigorosos, o quanto as mudanças físicas do passar da idade marcariam sua personagem, e como incorporar o sotaque da região natal de Margo no idioma russo. Tudo isso para nos emocionar em cena nos momentos mais marcantes para sua personagem: sua relação de mentora/pupila com Aleida Rosales e seu amor impossível com o também engenheiro Sergei Nikulov.

Apesar de For All Mankind ter seus altos e baixos, Wrenn Schmidt jamais deixou de nos entregar o melhor e encantar temporada após temporada. Para mim, a sua abordagem no envelhecer da personagem é a mais autêntica da série, uma interpretação que foi até os mínimos detalhes para nos fazer acreditar que sim, acompanhamos a Margo desde o início de sua carreira até os eventos cruciais de sua velhice. — Geovana Rodrigues

Renée Elise Goldsberry (Girls5Eva)

A Wickie Roy é o papel da carreira de Renée Elise Goldsberry até aqui. E sim, eu tenho ciência que ela já venceu um Tony e um Grammy, além de ter sido indicada ao Emmy, por Hamilton. Contudo, a personagem de Girls5Eva é simplesmente icônica. No melhor estilo de personagens nonsense e descolados da realidade, clássicos da escola Tina Fey (como um amigo bem conceituou, ela parece a irmã de Jenna Maroney de 30 Rock), Wickie é a principal arma cômica da série e nos delicia com looks babadeiros e as melhores piadas. Ela acredita fielmente que está destinada à grandeza e é divertidíssimo vê-la sendo essa pessoa narcisista e cheia de si, que volta e meia demonstra ligeiramente uma fraqueza, mas logo em seguida recupera a pose. Somente assistindo à série para ter ideia da maluquice que é a performance ímpar de Renée. — Rodrigo Ramos

Sam Spruell (Fargo)

Sam Spruell dá vida ao assassino profissional Ole Munch. Inicialmente contratado para dar fim na protagonista, pois aparentemente só ele é capaz de dar conta da “tigresa”, sua narrativa vai se mostrando mais complexa do que apenas um capanga. Por trás daquela frieza e sotaque do norte europeu, Fargo vai dando elementos para nos fazer acreditar que há dor, remorso, trauma, senso de comprometimento inabalável e medo de demonstrar fragilidade — e, evidentemente, ela existe debaixo do escudo necessário para executar seu trabalho. É um trabalho fenomenal, que chega ao seu auge nos últimos minutos da série, sendo, para mim, o melhor finale de Fargo ao longo de suas cinco temporadas. — Rodrigo Ramos

Kali Reis (True Detective: Night Country) 

Para Kali Reis, sua personagem na quarta temporada de True Detective, é mais do que apenas um papel, é um modo de trazer mais representatividade para o povo indígena. E ela agarra essa oportunidade com unhas e dentes. A policial Navarro carrega consigo remorso, raiva represada, e sede de vingança e justiça pela morte de uma amiga ativista e representante da comunidade. Ela encara uma série de desafios de natureza pessoal e profissional, o que intensifica suas emoções afloradas e isso vai sendo demonstrado por suas explosões, sinais de violência, cano de escape através do sexo e a dificuldade de se abrir de fato e lidar com o emocional. Reis entrega uma performance potente, ocupando a tela de igual para igual com Jodie Foster — que dispensa apresentações –, especialmente levando em consideração que ela é boxeadora profissional e este é apenas o seu terceiro papel como atriz. — Rodrigo Ramos

Alice Carvalho (Cangaço Novo)

A atriz potiguar Alice Carvalho dá vida a Dinorah, a personagem mais emblemática de Cangaço Novo, e que eleva o poder da série. Mesmo não sendo a protagonista, ela constantemente se sobressai em cena, com um magnetismo em sua performance, que evidentemente exigiu muito da atriz na sua preparação, como a própria já revelou. É um papel visceral, pujante, desafiador e, de sua forma, emocional. Aqui, ela se prova uma força da natureza ao dar vida a uma personagem complexa, com tantas camadas. Vale a pena ficar de olho em todas as produções daqui pra frente em que ela se envolver. — Rodrigo Ramos

Jessica Gunning (Baby Reindeer)

Você já teve um stalker? Só quem viveu sabe o pesadelo que pode ser. E a experiência oferecida por Baby Reindeer (Bebê Rena, em português) é mostrar o quão apavorante pode ser ter uma pessoa obcecada por você, que não conhece limites. Pois bem, esta é Martha, vivida por Jessica Gunning na série. Desde o primeiro episódio, é de se apavorar como a personagem muda de tom de um instante para o outro, indicando que definitivamente a pessoa tem algum problema, distúrbio. A série é sobre a saúde mental da personagem? Não. Ela é a vilã, por assim dizer. Independente se a abordagem narrativa é a mais apropriada para assuntos sérios como os tratados em Bebê Rena, o fato é que a atriz rouba o holofote com sua performance, que causa arrepios, risadas e pesadelos não somente para o protagonista como ao público. Deve ter sido um grande desafio para ela, mas Gunning consegue manter-se firme e forte do início ao fim com todas as nuances, desde a obsessão até a melancolia inevitável de uma personagem que é digna de pena. — Rodrigo Ramos

Jennifer Jason Leigh (Fargo)

É uma atuação deliciosa a de Jennifer Jason Leigh em Fargo. Lorraine é uma mulher poderosa, rica, mas a despeito desses fatores, precisa lidar com o machismo e a misoginia natural do mundo real, e maravilhosamente humilha homem a homem em cena. Ela ama seu filho intensamente e está disposta a tudo para protegê-lo, não é fã da enteada, e não suporta mulheres que reclamam ou se enxergam como vítima, haja visto que ela, como mulher, teve que superar tudo para estar onde está, sem nunca se queixar. É uma personagem fascinante, que apesar de não ser a mais gostável, é fácil se relacionar ou, no mínimo, compreender sua visão de mundo. Falando pausadamente, com um desdém sem igual, dicção e sotaque de milhões, a atriz está se divertindo no papel e entrega ao menos uma fala memorável a cada cena que participa. Loba! — Rodrigo Ramos

Hannah Einbinder (Hacks) 

Desde o primeiro ano de Hacks, Hannah Einbinder tem a árdua tarefa de dividir a tela com uma lenda da TV, Jean Smart. Este foi seu primeiro papel regular em uma produção televisiva e, desde o princípio, vem se mostrando à altura. Nem sempre é possível estar no nível da co-protagonista, mas a atriz se esforça. Contudo, nesta terceira temporada ela mostra que elevou o seu jogo, apresentando novas vertentes. Não apenas o timing cômico está estupendo, bem como a sua química com Smart, melhor do que nunca, mas ela exibe novas nuances em sua performance. 

O roteiro do terceiro ano a coloca especificamente num papel mais coadjuvante, porque está se construindo uma justificativa, extremamente bem lapidada, para a mudança que vem no grande finale. Na própria narrativa, sua personagem, Ava, deixa de lado tudo, como seu relacionamento, suas férias, sua carreira profissional mais do que promissora, para voltar a trabalhar com Deborah. Inicialmente, ela diz para si mesma que é temporário, que é apenas para ajudá-la a conseguir o job dos sonhos como apresentadora do Late Show, mas nessa relação que mistura profissional com o pessoal, Ava se pretere em favor de Deborah, porque, no fundo, ela acredita que a chefe é também sua amiga e irá valorizá-la, especialmente depois de tudo o que vivem juntas em mais esta temporada. Infelizmente, engana-se. Ao longo dos episódios ela exibe sua capacidade cênica, mas é nos dois últimos duelos com Smart é que ela mostra a sua evolução, numa primeira cena bastante emocionada e já na segunda é a demonstração de que Ava agora chegou ao nível de Deborah. Aquela troca de olhares nos instantes finais da temporada jamais serão esquecidos por nós, amantes das séries. — Rodrigo Ramos

Ebon Moss-Bachrach (The Bear)

É com tranquilidade que digo: Ebon Moss-Bachrach é o MVP, jogador da temporada de The Bear. Dentre todos os personagens, e todos têm seu grau de importância e qualidade, o primo Richie é o que tem o melhor desenvolvimento. Reativo, boca suja, barulhento, indisciplinar, incapaz de receber ordens e reclamão. Este é o Richie que conhecemos da primeira temporada e que inicia o segundo ano no mesmo ritmo. Porém, a condução desta temporada faz com que Riche tenha um salto pessoal. O episódio “Forks”, em especial, serve para dar atenção ao personagem e servir como uma ruptura em sua narrativa, que lhe confere um antes e depois a partir deste ponto. Nele, Richie é enviado ao melhor restaurante do mundo para ser um estagiário. À priori, ele enxerga como se isso fosse um castigo, mas apesar de ele não perceber à primeira vista, este é um presente a ele, uma demonstração máxima de carinho de Carmy, que acredita que ele tem potencial e pode ser ainda melhor como pessoa e profissional. Nesta experiência, Richie é obrigado a ser humilde, a aprender o valor do respeito, da hierarquia, de ser responsável e, por fim, que nunca é tarde para recomeçar. Como Richie conta, ele tem 45 anos. Vindo de uma família quebrada, de homens “machões” e que têm a obrigação de parecerem durões o tempo todo, é fácil entender a dificuldade de mudar, demonstrar vulnerabilidade, aceitar mudanças, entender que a vida às vezes exige adaptações. Contudo, Richie demonstra disposição e ação para mudar. 

Ebon é ótimo fazendo o tipo explosivo, brigão, quase insuportável, mas ele se revela mostrando humildade, capacidade de ouvir e sensibilidade no papel, seja no relacionamento com a filha até o comportamento no trabalho, como na bela cena em que pede desculpas para Nat no episódio “Bolognese”. Ele não se torna outro personagem, pois seus mecanismos de defesa continuam ali, como demonstra no finale “The Bear”, quando briga com Carmy no refrigerador. Entretanto, o primo Richie finalmente parece estar amadurecendo, mesmo que com vários anos de atraso. É quase um milagre alguém nessa fase da vida mudar, mas aqui se prova possível e crível. E Ebon entrega essa performance com maestria. — Rodrigo Ramos

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