Melhores atuações principais das séries na temporada 2023/2024

Performances de Silo, Hacks, Fargo e True Detective estão na lista.

O Previamente elegeu os melhores da televisão na temporada 2023/2024, selecionados por quem realmente consome TV.

Na relação abaixo, você confere as 10 melhores performances de atores e atrizes em papéis principais, vulgo protagonistas, entre os dias 1º de junho de 2023 e 31 de maio de 2024, período de elegibilidade para o Emmy Awards, maior premiação da TV mundial.

Entre os papeis temos um trambiqueiro na Europa, um extremista de direita que luta pelo direito de ter a liberdade de um bebê, chefs de cozinha à beira de um colapso de nervos e uma comediante veterana em busca de um sonho.

Conheça o nosso júri clicando aqui.

Andrew Scott (Ripley)

O Tom Ripley de Andrew Scott é a melhor encarnação do personagem já feita no audiovisual até aqui. Isso por si só é elogio o suficiente, mas vamos além. O ator usa sua experiência para dar vida a uma persona dúbia, que o espectador sabe se tratar de um golpista, mas que ainda está construindo sua carreira de crime. Mesmo não sendo um jovem como era Matt Damon em O Talentoso Ripley, filme que adapta o mesmo livro da minissérie, Scott convence como esse criminoso inescrupuloso inexperiente, que usa seu charme e sua lábia a seu favor. É possível ver em seu olhar as mentiras sendo criadas em tempo real, o suor frio e a adrenalina em estar prestes a ser pego. Algo que os demais personagens podem não sacar, mas nós, do lado daqui da tela, conseguem notar na performance cuidadosamente construída por Andrew Scott. Belíssima interpretação. — Rodrigo Ramos

Rebecca Ferguson (Silo)

Ouvi uma entrevista recentemente, do Gold Derby, sobre os papéis de Rebecca Ferguson, como no caso das franquias Duna e Missão: Impossível, além de Silo, e o entrevistador diz que todos eles têm em comum o fato de na superfície serem personagens muito fortes, mas no interior são um poço de sensibilidade. Há de convir que a definição cabe perfeitamente nas performances da atriz, e, deveras, não é diferente na série da Apple TV+. Atormentada pelo trauma do suposto suicídio do ser amado, Juliette de repente é levada para um mundo em que deixa de ter contato com as máquinas para ter de lidar com as nuances dos humanos, algo que ela evidentemente não tem grande talento. Ferguson traz a inquietude necessária para a composição da personagem, que é jogada num cenário no qual não tinha a menor intenção de participar, passa pelo luto, busca a verdade, encara teorias conspiratórias e luta pela própria vida enquanto aprende a se relacionar e a confiar novamente. — Rodrigo Ramos

Jon Hamm (Fargo)

Enquanto alguns atores da última época de ouro da televisão norte-americana continuam presos aos mesmos papéis (literalmente), a exemplo dos talentosos Michael C. Hall (Dexter) e Kiefer Sutherland (24 Horas), Jon Hamm marcou a TV com Mad Men e continuou se desafiando profissionalmente, passando por séries esquisitas como A Young Doctor’s Notebook, Unbreakable Kimmy Schmidt e Good Omens, filmes de comédia como Missão Madrinha de Casamento e dramas de sucesso como Top Gun: Maverick e Atração Perigosa. Em Fargo, ele teve a oportunidade de viver seu papel mais desafiador desde Mad Men e o homem está assombroso. Ele incorpora com perfeição o estereótipo do caipira de extrema-direita estadunidense, falso cristão e abusador. A performance de Hamm deixa o público nervoso, com medo e com vontade de socá-lo. Ao mesmo tempo, dá para ver a fraqueza e a covardia por trás da violência. É um personagem detestável, e só um ator com a capacidade de Hamm para torná-lo suportável. Trabalho de gente grande. — Rodrigo Ramos

Anna Sawai (Shogun)

Somente este ano, assistindo a Shogun, tive a oportunidade de conhecer o trabalho desta força da natureza chamada Anna Sawai. É fascinante ver o crescimento da personagem pelo roteiro que a desenvolve tão bem. Mariko é uma mulher de fé católica, mãe, casada, que carrega dores do passado e serve ao seu Senhor sem questionamentos, além de se apaixonar por um estrangeiro. Este mar de conflitos e dilemas só poderia ser interpretado por uma atriz à altura. Felizmente, Sawai consegue imprimir com sutileza, vulnerabilidade e potência todas as nuances de Mariko. É uma atuação contida, elegante, que é quase como um grito silencioso transmitido pelo olhar e suas expressões faciais marcantes. O carisma também é essencial para que a audiência se envolva e isso não falta. Junto com seu imenso talento, Anna Sawai é a escolha perfeita para um papel tão complexo e trágico. — Filipe Chaves

Richard Gadd (Baby Reindeer)

Narrador de toda a obra, estrela, criador e roteirista, Richard Gadd ficcionaliza sua história em Bebê Rena. Sua experiência se transformou em uma das séries mais comentadas do ano. Com a câmera perto do seu rosto, exibindo a ansiedade e a incapacidade de se posicionar, justificado aqui por seu trauma, através do olhar nervoso, quase como de um viciado, Gadd segura muito bem, desde os momentos de enorme vergonha alheia ao se apresentar como comediante até as horas mais tensas, contra Martha, e mais densas, como no quarto episódio. — Rodrigo Ramos

Jodie Foster (True Detective: Night Country)

A Liz Danvers de Jodie Foster é aquela clássica personagem de sucesso carrancuda, rabugenta, cética, sarcástica e sem o menor pingo de otimismo. Há muitos desses exemplares no audiovisual, e diversos deles são lembrados com carinho pelo público, por ser aquele tipo difícil que a gente curte gostar. Pois bem, a duas vezes vencedora do Oscar não retomou a sua carreira de atriz pra valer a toa e sua performance é exatamente aquilo que ela e nós, espectadores, precisávamos. Não apenas é divertido acompanhá-la sendo ranzinza, mas ela entrega uma personagem multidimensional, tentando (e falhando) em ser uma boa madrasta, o modo como ela parece ser a única que se importa em ser uma policial de verdade no seu departamento e a frustração que vem disso, a autodepreciação a ponto de manter um relacionamento com o superior no trabalho — e que não lhe trata bem –, e tudo isso é apenas o reflexo do que está sob a superfície, que aos poucos vamos descobrindo conforme a trama passa, nos deparamos com os traumas e escolhas que definiram quem ela é. Foster vende sua personagem com credibilidade. É uma grande performance, que nos lembra da atriz de ponta que Foster foi e continua sendo. É uma honra tê-la em cena novamente, com tanta vontade e qualidade. — Rodrigo Ramos

Jeremy Allen White (The Bear)

Jeremy Allen White demonstra um episódio após o outro completo domínio do protagonista de The Bear. Nos flashbacks, o ator impressiona ao incorporar a versão mais jovem e insegura de Carmy, revelando as raízes de suas complexidades atuais. Jeremy intercala uma atuação sutil nos momentos mais de maior cumplicidade e parceria com Sidney (Ayo Edebiri), e de escapismo no relacionamento com Claire (Molly Gordon). A introdução dessa personagem traz uma nova faceta do protagonista. Essas interações foram a maior diferença entre a trajetória de Carmy na primeira temporada e neste ano. Aqui, o ator tem espaço para representar um lado mais leve e despreocupado em contraponto à pilha de nervos e estresse que estamos acostumados a ver.

Jeremy traduz perfeitamente a complexidade dos sentimentos de Carmy, que se vê obrigado a renunciar e sabotar o breve momento de felicidade que viveu com Claire. O personagem escolhe focar completamente em seu novo empreendimento buscando a perfeição. E todas essas batalhas internas culminam no ápice da sua atuação na temporada, no episódio final contracenando com Ebon Moss-Bachrach. Nesse momento, Carmy despeja suas frustrações, culpa, medo do fracasso da forma mais amarga possível em cima do primo, entregando uma cena emocionalmente forte. Por essas razões, neste segundo ano da série, Allen-White continua a se mostrar merecedor do reconhecimento que vem recebendo pelo seu trabalho em The Bear. — Valeska Uchôa

Ayo Edebiri (The Bear)

Ayo Edebiri é uma atriz muito expressiva, o que contribui para dar vida à Sydney. Nesta segunda temporada, a personagem está entregue ao novo restaurante que o grupo está prestes a abrir. Em tese, ela é sócia, mas definitivamente não se sente incluída nas decisões — o episódio “Sundae” deixa bem clara a situação. Há uma sensação de que não é ouvida por Carmy (Jeremy Allen White), que ele sequer conversa com ela sobre si — Syd é pega de surpresa quando descobre que Carmy está num relacionamento através de Nat e não por ele –, ela se sente meio perdida, com a mente confusa — o que reflete na sua comida e na falta de capacidade de acertar os pratos a serem desenvolvidos para o novo estabelecimento — e está em busca de ser vista e de um caminho sólido para si. Syd vai reprimindo seus sentimentos, sua frustração, e Ayo consegue imprimir sua insatisfação perfeitamente através das suas expressões, não precisando dizer nada para o espectador. É claro que Carmy não percebe nada, pois ele tem notoriamente tem dificuldades em perceber algo se não for dito claramente, mas a gente nota. Além disso, Ayo tem um timing cômico muito bom — ela não é estranha à comédia, já tendo passagens por Dickinson, Big Mouth, Abbott Elementary, além de ter escrito para What We Do In The Shadows e Dickinson –, que funciona para momentos de descontração em meio à tensão constante que o show produz. A interpretação de Ayo é cuidadosa, cheia de nuances e equilibra a loucura de The Bear. — Rodrigo Ramos

Juno Temple (Fargo)

Após assistir a toda temporada de Fargo, é impossível não pensar no desperdício de talento que foi Juno Temple em Ted Lasso. Na série antológica, a atriz se desafia com uma atuação estelar, difícil, equilibrada, entre outros adjetivos que poderiam ser feitos. Com a força do olhar altamente expressivo, ela demonstra o grande temor de encontrar com o passado, que envolve traumas e violência; o olhar que não casa com a expressão do Minnesota Nice. Através dos olhos dela é possível sentir a gama de emoções da personagem. Se em um minuto ela demonstra o carinho e o amor por sua filha e marido, no minuto seguinte ela rapidamente muda sua personalidade, entrando em modo sobrevivência, para enfrentar os abusadores, aproveitadores e mal intencionados. A atriz encara um papel complicadíssimo, que passa por situações desafiadoras e traumáticas, e sai como a grande vitoriosa em um time extremamente talentoso que lhe acompanha na série. É uma daquelas atuações grandiosas que possivelmente não lhe renderá prêmios, já que a febre a favor de Fargo passou faz algum tempo nas premiações, entretanto, reconhecemos aqui a grandiosidade de sua performance, uma das incontestáveis da temporada na TV. — Rodrigo Ramos

Jean Smart (Hacks) 

“I can’t be woke. I’m exhausted!”. Enfim, após uma espera de dois anos, pudemos apreciar o retorno daquela que sem dúvidas é a melhor comediante da atualidade, Deborah Vance, a personagem defendida pela mãe de nós seriadores, Jean Smart.

Apresentando algumas semelhanças de carreira com sua personagem de Hacks, Jean Smart, 72 anos, também é uma figura conhecida da comédia norte-americana. Ao longo de sua carreira de quatro décadas em que transita entre teatro, televisão e cinema, ela já conquistou prêmios Emmys para cada uma das categorias de atuação em comédia (principal, coadjuvante e guest star), mas também nos presenteou com atuações dramáticas em séries como 24 Horas, Fargo, Watchmen e Mare of Easttown, sendo uma atriz que transborda nuances ao mostrar, de maneira fascinante, o lado egoísta e arrogante de Deborah Vance e a figura vulnerável que teme não ser mais relevante no seu meio profissional e de ficar sozinha em sua atual fase da vida.

Na terceira temporada, fácil a melhor da série (que já nos brindou com duas temporadas excelentes), Jean Smart explora novas facetas de sua personagem, como o conturbado reencontro com sua irmã caçula e encara os erros e acertos na relação com a filha DJ Vance. Mas, de fato, a grande relação da personagem, e o mote central da série, é a dinâmica com sua pupila Ava Daniels, numa relação de amor e ódio, cumplicidade e traição,

inveja e admiração, Jean Smart e Hannah Einbinder transbordam talento e química em cena e nos presenteiam com uma season finale que faz chorar e vibrar com as personagens. Para mim, já é um dos grandes e inesquecíveis duos da TV norte-americana.

Nessa nova jornada de Deborah Vance, em que a personagem precisou encarar seus piores medos, reavaliar suas escolhas de vida e decidir o que ela quer para seu futuro, além de claro, cometer as atitudes mais questionáveis possíveis (sem isso ela não seria a Deborah), foi essencial ter Jean Smart ainda mais em sintonia com o texto, a direção e o resto do elenco, entregando o que pra mim é a melhor atuação do ano. Mal posso esperar por mais um Emmy! — Geovana Rodrigues

Continue a leitura:

Textos por Filipe Chaves, Geovana Rodrigues, Rodrigo Ramos & Valeska Uchôa
Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos

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