Melhores Séries de Drama na Temporada 2021/2022

Evil, Severance, My Brilliant Friend e Yellowjackets estão entre os destaques.

Selecionamos o que houve de mais relevante e (subjetivamente) melhor no mundo das séries entre 1º de junho de 2021 e 31 de maio de 2022, período de elegibilidade para o Emmy Awards, maior premiação da TV mundial.

Agora, chegou a hora de conhecer o top 10 das séries dramáticas dessa temporada. Entre as narrativas estão a rinha familiar de gente rica branca altamente disfuncional, a imigração de uma família na Ásia, spin-offs melhores do que suas séries de origem, acidentes aéreos e canibais. Tá bom pra você?

Todos os vídeos possuem legenda em português, basta acioná-la no player do YouTube.

Pachinko (Apple TV+) – Primeira Temporada

Como traduzir um dos romances de jornada mais cultuados da atualidade? Como fugir dos clichés de representação oriental que continuam sendo reforçados por Hollywood, mesmo depois das constantes provas do magistral audiovisual coreano? Bem, esses dois questionamentos estiveram na minha mente quando foi anunciada a adaptação de Pachinko pela Apple TV+, e já adianto que nenhum deles foi um problema, já que a adaptação é facilmente uma das melhores séries de drama de 2022.

Dirigida, escrita e produzida por realizadores coreanos (dentre eles, os ótimos diretores Kogonada e Juntin Chon), a saga da jovem Sunja e sua família desde a ocupação japonesa na Coreia até a década de 90 num Japão cosmopolita, emociona não só pela sensibilidade dos eventos que acompanhamos em tela, mas pela verdade demonstrada pelos atores. Encabeçada pela vencedora do Oscar, Youn Yuh-jung e pela estreante Kim Min-ha, passeamos por décadas e momentos diferentes numa verdadeira saga de superação e resiliência que nunca se torna exploratória.

O ritmo é lento, os episódios apostam numa atmosfera mais contemplativa, mas são nos olhares e marcas do tempo que Sunja viveu que acabamos descobrindo o quão difícil foi a luta das mulheres coreanas para manter sua cultura viva e até mesmo a sanidade num país hostil e absurdamente preconceituoso como o Japão. A abordagem do imaginário coreano vem ganhando cada vez mais espaço com a expansão do k-pop nos últimos anos, mas aqui acompanhamos outra visão da nação e seus representantes.

Admirável em escopo, magistral na sua construção e genuinamente emocionante no componente humano, Pachinko é tudo o que eu esperava de uma adaptação que já se mostrava promissora desde o seu material promocional. Inclusive, desafio qualquer um a não esboçar um sorriso no rosto no momento em que a abertura da série começa a tocar. Realmente um deleite. – Zé Guilherme

This Is Us (NBC) – Sexta Temporada

O cenário para dramas de TV aberta nos EUA é desolador. Parece que só existe NCIS, coisas do Dick Wolf e clones de Lost. Depois do final de The Good Wife, parecia não haver maiores esperanças. Eis que surge Dan Folgelman contando a história de uma família ao longo de mais de aproximadamente um século. Um novelão atravessando diferentes gerações, com diversas reviravoltas.

Um dos charmes de This Is Us é a convivência de três linhas do tempo principais, além dos diversos flashbacks e flashforwards. Embora a série escorregue de vez em quando no excesso de lições de moral, os diálogos conseguem ser muito bons e críveis, entregues por um elenco de primeira (Mandy Moore não ter sido indicada ao Emmy de melhor atriz neste ano é motivo de pegarmos em armas e criarmos motim). Mas ao longo dos anos, o ponto mais alto da série foi a concisão com que ela conta as suas histórias, sendo obrigada a respeitar os 40 minutos protocolares da TV aberta. O penúltimo episódio (“The Train”, o melhor dessa reta final) é o argumento definitivo: certamente o roteiro original devia beirar as 100 páginas (e, consequentemente, os mesmos números de minutos em seu corte bruto). Passaram a faca sem dó, deixando apenas as melhores cenas (como a linda sequência com o Gerald McRaney) e cortando toda a gordura, com coisas que soaram ainda mais cruéis justamente pela sua brevidade (coitado do Miguel, risos). Certamente mais emocionante do que a hipotética versão de 85 minutos que seria exibida numa Netflix da vida. – Juliano Cavalca

The Good Fight (Paramount+) – Quinta Temporada

Desgaste? Jamais. Mesmo sem Trump no poder lá nos EUA, papai e mamãe King conseguiram mais uma vez reinventar The Good Fight ao colocarem em xeque até que ponto as pessoas estão dispostas a irem por suas posições ideológicas e como a disruptura total pode ser perigosa – quem acha que anarcocapitalismo funcionaria, boa sorte, vão trocar uma ideia com o Fogaça. Como de costume, a série faz questionamentos difíceis. E, em meio a reflexão, os Kings entregam mais um ano impecável de entretenimento inteligente. Ninguém faz igual a eles, essa é a verdade. E quanto à escalação do elenco? Novamente, eles acertam em cheio com as novas adições, principalmente a de Mandy Patinkin, que rouba a cena, ao lado de Sarah Steele, a nossa querida Marissa Gold, que finalmente ganha seu momento de protagonismo nesse universo televisivo, não tendo mais como função ser o alívio cômico (algo que sempre fez com maestria, diga-se de passagem) ou estando numa trama de segundo plano. – Rodrigo Ramos.

Yellowjackets (Showtime) – Primeira Temporada

Poucas coisas me fizeram feliz em 2021/2022, mas uma delas foi redescobrir, em certa medida, o prazer de acompanhar séries semanalmente. É um engajamento único, mais duradouro, que exige nervos e paciência e nos permite o tempo ideal para maturar a experiência de espectador e compreender as grandes amarras narrativas que fazem da televisão esse meio encantador. E, sem sombra de dúvidas, uma das séries que mais me capturou em seu desenrolar semanal foi Yellowjackets. Cheguei alguns episódios atrasada para a festa, mas fui capturada instantaneamente.

Desde o primeiro plano, da primeira cena, Yellowjackets mostrou ao que veio. O uso preciso de tropos de gênero misturados a elementos pop, uma certa virada de expectativas e uma estrutura narrativa ficcionada são alguns dos fatores que lhe destacam. Mas, como toda boa série, se chegamos nela pela premissa e pelas promessas, permanecemos com ela por seus personagens cativantes e envolventes. Distribuindo ao longo de suas duas temporalidades um elenco de estrelas consolidadas como Melanie Lynskey, Christina Ricci e Juliette Lewis, e jovens atrizes como Sophie Tatcher, Samantha Hanratty, Jasmine Savoy Brown e Sophie Nélisse, a série constrói cada um de seus momentos narrativos como um cosmos próprio.

O passado tem um tom mais sombrio e sério, imerso em uma estética punk rock feminista típica da década de 90, preenchida pela clássica angústia adolescente, mas com toques de sensibilidade que lhe fazem fugir de certos lugares comuns. Já o presente é quase farsesco. Uma escolha no mínimo corajosa para uma série que lida com temas, digamos assim, delicados. A vida dessas mulheres – antes apenas garotas, inseridas por uma tragédia em uma situação limite e que precisam redescobrir como viver, sobreviver e criar sua própria forma de sociabilidade na natureza selvagem – se mostra algo patético e mundano, não fosse o fato de terem vivido, e partilhado, algo completamente fora do comum. Algo que elas próprias decidiram esquecer e relegar ao passado, na esperança de que algum resquício de vida normal ainda lhes fosse possível. No entanto, quando tal passado quase que literalmente bate na porta delas, elas o agarram como um segundo chamado à aventura, algo que lhes dá, novamente, propósito.

Acompanhar o descortinar dessa jornada me gerou uma ansiedade (do tipo bom) semanal. E descobrir que a série se propõe a realmente resolver os mistérios que coloca foi um alívio enorme. Yellowjackets foi um oásis de girl power, energia e loucura que todos estávamos precisando nesse último ano. – Mariana Ramos

Evil (Paramount+) – Segunda Temporada

Robert e Michelle King são, hoje, os melhores showrunners da TV. Na segunda temporada de Evil, eles apostam alto e ousam como poucos (ou melhor, como ninguém tem a audácia hoje na TV). Em tempos em que o público quer todas as respostas mastigadas, Evil brinca com os mistérios, raramente responde as questões levantadas e tá tudo bem com isso. Lembram quando Lost não oferecia algumas respostas e o público ficava enfurecido? É só entrar numa página de comentários de Evil, num TV Time ou Banco de Séries, para ver como tem gente que ainda não entendeu o conceito de você não ter que explicar tudo tintim por tintim, afinal não é um roteiro assinado pelos Nolan. A beleza de Evil está na experiência que a série proporciona. E não teve uma série que causou mais emoções, gargalhadas e arrepios do que ela durante a temporada 2021/2022. Não há nada igual a ela. A sucessora natural de Arquivo X e Fleabag ao mesmo tempo. E como o Emmy não cansa de esnobá-la (Jodie Comer, Sandra Oh e Reese Whiterspoon indicadas à categoria de melhor atriz na premiação, enquanto Katja Herbers é ignorada, é inexplicável), cabe a nós ressaltarmos que Evil é uma das maiores hoje no ar. – Rodrigo Ramos.

Better Call Saul (AMC) – Sexta Temporada – Parte 1

A melhor série da atualidade chega perto do seu final e está prestes a confirmar que realmente pode ter superado a sua série mãe, Breaking Bad. O requinte audiovisual presente na execução de Better Call Saul já é conhecido e aqui vemos a série oferecendo os pontos para estabelecer os seus derradeiros momentos finais de uma forma que nunca pareça que estamos sendo enrolados. Pelo contrário, já que somos oferecidos com despedidas tensas e comoventes de personagens icônicos na série, Jimmy e Kim se tornando mais Bonnie e Clyde do que nunca, uma simetria total da trama de Jimmy com a de Gus/O Cartel, e uma série de promessas que o programa sabe ir oferecendo e desenhando como ninguém. – Diego Quaglia

Station Eleven (HBO Max)

Uma série que aborda um mundo pós-apocalíptico onde uma gripe mortal mata grande parte da população mundial, sendo exibido em plena pandemia da Covid-19, tinha muitas chances de soar ofensivo ou simplesmente ser deslocado, com um timing infeliz. Entretanto, Station Eleven aborda a temática de uma maneira que, talvez, sirva de inspiração para nós (ao menos, aos sortudos que assistiram).

Com uma narrativa dividida em vários arcos, seguindo os personagens sobreviventes da pandemia, a série lembra os bons tempos de The Leftovers (não é a toa, pois seu criador, Patrick Somerville, trabalhou no seriado mencionado). Sim, tem muito sofrimento pela frente (como não poderia deixar de ser), mas a série consegue trabalhar sem parecer exploratório ou insensível. Pelo contrário, Station Eleven não foca suas atenções no que causou a destruição da humanidade como conhecíamos, e opta por trabalhar as relações humanas e nos lembra de que, no fim do dia, o que nós temos é apenas um ao outro.

Exatamente pelo fato de se preocupar com o fator humano, a série não julga seus personagens, não havendo um vilão. Antagonista? Talvez. Mas os responsáveis pela produção estão mais preocupados em abordar o que há por trás das ações ruins e não julgá-las.

Ironicamente, apesar de sua temática, no fim, é uma série otimista. Queria eu ter tanta fé na humanidade quanto Patrick Somerville, pois, mesmo com a nossa pandemia real, que ainda vivemos, não melhoramos como pessoas. – Rodrigo Ramos

My Brilliant Friend (RAI/HBO) – Terceira Temporada

A terceira temporada desta adaptação impecavelmente estilosa dos romances de Elena Ferrante é sedutora, cinematográfica e tece um feitiço diferente de tudo. A série, assim como o livro, oferece um tratamento vívido e próximo da amizade feminina. A relação entre Lenu e Lila permanece constante em sua inconstância, sustentada pela curiosidade ciumenta ao lado do afeto. Nesta temporada, são as interações entre Lenu e sua mãe Immacolata (Annarita Vitolo) que me pareceram novas e edificantes.

O assunto da série continua sendo o doméstico, mas nos lares italianos, com suas janelas de vidro abertas, a política vem com a brisa. No início da temporada, Lila se vê como um avatar da revolução comunista em Nápoles, enquanto Lenu se junta ao movimento feminista, mesmo assumindo os papéis estereotipados de esposa e mãe em casa. Nenhuma delas tem muito foco como ativista, embora seja mais difícil dizer no caso de Lila.

E esse assunto do cotidiano doméstico para Lila e Lenu é a claustrofobia da feminilidade e da maternidade, assim como foi para Immacolata. “Para escapar deste bairro, você precisa de dinheiro”, diz Lila na primeira temporada de My Brilliant Friend. Lenu tem uma profissão e uma nova vida em uma cidade da moda, mas ainda assim ela é atraída por uma afinidade constante pelas pessoas que ela conhece há mais tempo: Pasquale, Nino, Enzo, Lila. Ela é mais generosa quando está acomodando as necessidades deles; ela tem mais certeza de quem é na presença deles. My Brilliant Friend apresenta uma teoria convincente do lar como uma esfera de competência em vez de um lugar de conforto. Para escapar dessa vizinhança, você precisa da vontade de renunciar à lasca estreita do mundo que você entende de maneira confiável. Até aqui, e uma quarta temporada está garantida e já está em andamento, então estaremos dispostos a muita emoção, drama, amizade, romance, desgosto e tudo mais está no horizonte. Por enquanto, certifique-se de aproveitar a grandeza que foi a terceira temporada de My Brilliant Friend. – Isabela Cândido.

Severance (Apple TV+) – Primeira Temporada

Todos irão concordar que criar ideias originais inovadoras, em pleno 2022, parece uma coisa difícil no audiovisual. É só ver a penca de adaptações literárias, de HQs, de games, de filmes e séries antigos (entram aí os revivals, os reboots, os spin-offs). Parte do charme de Severance (Ruptura, no português) é exatamente partir do nada, tendo como plot uma ideia brilhante. Na trama, uma empresa tem a tecnologia de implantar em seus funcionários uma função em que seus cérebros simplesmente esquecem da vida do lado de fora enquanto estão trabalhando; quando o expediente acaba e eles saem do local de trabalho, as memórias do que viveram no turno não se mesclam com as demais da vida externa.

É uma ideia genial? Sim. Horripilante? Com toda certeza. Se houvesse a tecnologia para tal, certamente as empresas no capitalismo atual iriam aplicá-la? Não tenho dúvidas. E talvez não estejamos tão longe dessa possibilidade, o que faz com que o conceito da série seja realmente assustador. É algo que Black Mirror gostaria de ter feito, mas não o fez.

Claro, uma boa ideia nem sempre rende uma série de longa data (ou, ao menos, mantendo a qualidade). Porém, Severance tem tudo a seu favor. Ela tem um elenco perfeitamente escalado (Adam Scott está surpreendente num papel mais sóbrio do que o comum, por exemplo), um roteiro inteligente, sagaz, que nos deixa exatamente as peças que precisamos para montarmos o quebra-cabeça, sem sobras, e uma direção formidável e criativa. Desde o aspecto da concepção até a execução (o visual da série é, simultaneamente, belíssimo e apavorante, a exemplo dos corredores intermináveis), Severance é uma obra feita por gente que entende o conceito televisivo, respeita o formato (não é um filme de nove horas), sabendo quando precisa usar os benefícios do streaming, porém, sem abdicar do que mais importa: contar uma história concisa, coesa e sem arestas (o finale ter apenas 40 minutos é a prova de que uma série não precisa forçar a barra na duração para ter qualidade).

Severance oferece uma jornada claustrofóbica, excêntrica, crítica ao capitalismo, misteriosa e emocional. É TV sem vergonha de ser TV. – Rodrigo Ramos

Succession (HBO) – Terceira Temporada

Jesse Armstrong mostra que não tem problema nenhum em colocar os ricos para sofrerem e se humilharem. Em meio a uma trama que não muda tanto assim a dinâmica até os 45 do segundo tempo, o que faz de Succession uma das melhores séries dos últimos anos é a capacidade de nos segurar por um roteiro lapidado minuciosamente com situações que nos fazem ter pena de gente rica, mimada e fascista, criar insultos criativos (a melhor nisso desde Veep) e mostrar que mesmo revivendo algumas situações anteriores, não demonstra nenhum desgaste, inclusive por conta do altíssimo nível das atuações de seu elenco, perfeito em todos os instantes. É sobre ricos brigando entre si? Sim. Mas é também sobre os traumas causados por uma família que tem o abuso impresso em todas as suas camadas e o reflexo disso. Hoje, é a melhor que temos na TV. – Rodrigo Ramos.

Menções honrosas: Midnight Mass (Netflix), Maid (Netflix), The Staircase (HBO Max), Landscapers (HBO/Sky Atlantic) e Heartstopper (Netflix) – Primeira Temporada.

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Textos por Zé Guilherme, Juliano Cavalca, Rodrigo Ramos, Mariana Ramos, Diego Quaglia e Isabela Cândido

Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos

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