Melhores Séries de Comédia na Temporada 2021/2022

Barry, Sex Education, Abbott Elementary e Hacks estão entre os destaques.

Selecionamos o que houve de mais relevante e (subjetivamente) melhor no mundo das séries entre 1º de junho de 2021 e 31 de maio de 2022, período de elegibilidade para o Emmy Awards, maior premiação da TV mundial.

Nesta lista, ranqueamos as 10 séries de comédia que não foram inimigas do riso e fizeram por merecer seu lugar de destaque. Entre elas estão a vida sexual de universitárias, uma mãe solteira e suas três filhas, dois irmãos em busca da fama, um assassino aspirante a ator, uma experiente comediante e uma roteirista ainda novata tomando novos rumos em suas carreiras, e por aí vai.

Todos os vídeos possuem legenda em português, basta acioná-la no player do YouTube.

The Sex Lives of College Girls (HBO Max) – Primeira Temporada

Mindy Kaling parece entender bem como é ser mulher, independente da orientação sexual, da origem ou da cor da pele. Se em Never Have I Ever ela demonstrou entender a juventude escolar, agora é a vez de exibir o talento em escrever quatro personagens femininas, bastante diferentes entre elas, no primeiro ano da faculdade. Não tem problema, mesmo neste ambiente distinto, Kailing consegue desenvolver as quatro protagonistas com situações diversas (vergonhosas, engraçadas, densas e tensas), sem exagerar na dose, sabendo exatamente o que fazer para que elas sejam críveis e façam o espectador querer saber o que irão fazer de suas vidas, sejam as escolhas ruins ou sábias. É daquelas séries divertidas, sem intenção de hitar, mas que cresce com você a cada episódio. Felizmente, devidamente renovada para mais uma rodada. – Rodrigo Ramos.

Better Things (FX) – Quinta Temporada

Em 2016, Louis C.K. (então no auge de seus poderes) e sua parceira profissional Pamela Adlon criaram Better Things, que trata da experiência pessoal compartilhada de ambos. As duas primeiras temporadas são muito boas (incluindo um episódio com um subtexto do tipo “filhas, um dia vocês vão descobrir que seus pais não são seres perfeitos” – que se tornou premonitório pouco tempo depois). No final de 2017, após os escândalos de assédio envolvendo C.K. virem à tona, ficou a dúvida: a série tem força criativa pra ir em frente? Afinal, apesar da maior inspiração do programa ser a vida familiar de Adlon, ele havia coescrito todos os vinte episódios até ali. Mas Pamela foi lá e dobrou a aposta. A série se tornou ainda mais pessoal, mais profunda e mais experimental a partir dali. Dirigindo todos os episódios desde a segunda temporada (e quem conhece o funcionamento de produção de TV, sabe que isso é um inferno logístico, tem que se ter muito apreço pelo material), Pamela nos brindou com lindas histórias sobre sua família estendida (o casting de Mikey Madison e Hannah Riley lá atrás foi uma tacada de mestre). Um exemplo didático do controle foi a personagem da Alysia Renner, que só precisou aparecer em uma cena nos primeiros nove episódios da quinta temporada para preparar o terreno para finale. E encerrar uma série com aquela música nunca será uma má ideia. Coisa de quem sabe o que está fazendo. – Juliano Cavalca

Sex Education (Netflix) – Terceira Temporada

Sem medo de transmitir vergonha alheia, Sex Education volta para o seu terceiro ano na mais alta forma, de maneira honesta, pé no chão, representativa e se negando em ser um tutorial de maquiagem. Com uma porrada de novas adições ao elenco, a série mostra-se apaixonada por cada personagem e dá conta de todos eles. Laurie Nunn, criadora e showrunner da série, faz o possível para mostrar a humanidade em cada um, buscando destacar as virtudes e defeitos de todos, mesmo naqueles que parecem ser antagonistas binários, porém não o são. A tridimensionalidade ao abordar assuntos, dos mais delicados até os mais corriqueiros, sem se preocupar com tabus, mas em momento nenhum querendo chocar o espectador, catapulta Sex Education ao posto de melhor série adolescente da atualidade. – Rodrigo Ramos.

We Are Lady Parts (Peacock/Channel 4) – Primeira Temporada

Curioso para saber como foi vender a ideia de uma série sobre uma banda de punk formada somente por muçulmanas. Seja lá como tenha sido a abordagem, fico feliz que ela tenha ocorrido. Extremamente original, com uma linguagem visual e narrativa altamente criativa, a série aborda personagens que raramente veríamos em tela, mas temos o privilégio de ver aqui, fugindo de todos os estereótipos. Há muito cuidado ao retratar o islamismo e a influência na vida dessas jovens (evidentemente, não foi feito por estadunidenses), bem como ao abordar como elas enxergam o mundo de maneira diferente, lembrando sempre que cada ser humano tem suas particularidades, mesmo que a fé, inicialmente, seja a mesma. – Rodrigo Ramos.

Barry (HBO) – Terceira Temporada

Tudo que Bill Hader e Alec Berg haviam construído nas temporadas anteriores de Barry culmina no seu ápice na sua terceira temporada, em que o humor nonsense, o drama trágico, as cenas de ação, os momentos de tensão e praticamente de terror ao redor do seu protagonista chegam no seu auge em uma sequência invejável de episódios que levam tudo que a série havia feito de bom antes só que ainda melhor, elimina ou corrige qualquer limitação que ela tenha apresentado antes e leva os personagens para caminhos ousados e totalmente desafiadores, extraindo interpretações fantástica de Hader, Henry Wilker, Sarah Goldeberg, Stephen Root e Anthony Carrigan. – Diego Quaglia

Abbott Elementary (ABC) – Primeira Temporada

Criado por Quinta Brunson, o programa de 13 episódios é uma masterclass em cinema pseudodocumentário e oferece uma visão brilhante do que está por trás das portas de uma sala de professores. Algo que geralmente é envolto em mistério, o programa desmistifica com sucesso as pessoas que se tornam professores em uma classe regular enquanto tentam resolver problemas da vida real como uma pessoa comum. Desde professores que se juntam por conta própria por não gostarem de pizza, até a diretora assumindo que o novo professor substituto é uma stripper, os professores da Abbott Elementary servem a você uma verdadeira gargalhada.

O conjunto é a maior força da Abbott Elementary. Janelle James como Ava Coleman, a diretora não qualificada, e Tyler James Williams como o inabalável substituto Gregory, estão em uma liga própria. Os personagens são fáceis de amar e crescer em você à medida que a temporada continua; até Tariq (Zack Fox), que se diz feminista, porque consegue que sua namorada pague por todas as suas coisas, chega ao seu coração.

O programa traz de volta o olhar lateral para a tela, que, se você é fã da série, provavelmente o encherá de alguma nostalgia por uma comédia clássica. Abbott Elementary é uma crítica afiada da raça na América. Quase todas as crianças da escola são negras ou pardas, assim como os professores. A versão do programa sobre a aliança dos brancos – uma piada recorrente – é muito bem-feita. Jacob, um dos dois únicos professores brancos da escola, sempre é visto trazendo à tona o aspecto da raça em conversas cotidianas no refeitório apenas para provar sua aliança.

A série dá ao público algo com o qual realmente se relaciona. Focar nos professores, um grupo que até agora foi relegado a segundo plano na televisão, é como uma lufada de ar fresco. Esta temporada preparou o palco e com a série sendo renovada para uma segunda temporada, mal podemos esperar para que a peça comece! – Isabela Cândido

Only Murders in the Building (Hulu) – Primeira Temporada

Only Murders in the Building é uma comédia despretensiosa, que traz consigo uma análise sobre a solidão da existência humana por diversas óticas, sendo as que mais chamam a atenção, naturalmente, são as dos protagonistas de terceira idade. O mistério faz parte do charme da produção, porém o que realmente salta aos olhos é o entrosamento entre o trio de protagonistas formado por Steve Martin, Martin Short (impecável!) e Selena Gomez. Todo o elenco é formidável e encaixa na proposta da série, que é séria quando precisa, mas está constantemente buscando formas de tirar uma risada do espectador. É esse grupo de atores, performando em alto nível, que faz com que a série seja um dos ápices desta temporada na TV. – Rodrigo Ramos.

What We do In The Shadows (FX) – Terceira Temporada

A maior virtude de What We Do In The Shadows é negar tornar-se soturna e transformar-se em uma dramédia. Já temos o suficiente dessas séries inimigas do riso – a última temporada de Atlanta que o diga. Mais afiada do que nunca, a terceira temporada da série vampiresca amplia sua mitologia, torna seus personagens mais carismáticos e humanos (irônico, né?), e em nenhum momento abdica das boas piadas. Alguns dos momentos mais icônicos da TV vieram desta temporada, que cultuou Crepúsculo da maneira brilhante, explicou o negacionismo em voga de modo objetivo e mais certeiro do que as quase duas horas e meia de Não Olhe Para Cima, e ainda fez com que The Big Bang Theory realmente fosse engraçada, nem que por pouco mais de 20 minutos. – Rodrigo Ramos.

The Other Two (HBO Max) – Segunda Temporada

A espera de quase dois anos e meio valeu a pena já nos primeiros minutos da magistral segunda temporada de The Other Two. A atração por produções que satirizam o universo de Hollywood é uma máxima que sempre existiu, mas que felizmente nos últimos anos vem ganhando excelentes substitutos para a ainda saudosa 30 Rock. Porém, se os limites da TV aberta tornavam a obra definitiva de Tina Fey em uma série que ainda tinha certos limites no que criticar, com The Other Two todas essas barreiras vieram abaixo.

Retomando a eterna busca dos irmãos Brooke e Cary Dubek por deixarem de serem simples extras numa família que continua sendo alçado ao estrelato inesperado, acabamos entrando num mundo de burnouts causados por programas matinais; na essência do queerbating em produções que querem ganhar o Oscar; em como conseguir agenciar a superestrela Alessia Cara e, claro, o que fazer para resolver uma nude vazada quando se está num elenco de um filme que acabou de ter o financiamento cortado.

Parece um monte de plot impossível de ser traduzido para a tela com unidade, mas os showrunners Chris Kelly e Sarah Schneider fazem isso com uma perfeição que chega a ser invejável. O melhor de tudo é que raramente caímos na caricatura e, felizmente, todos os absurdos apresentados têm coração. Vez ou outra a gente se pega lacrimejando com as relações e o amor que a família Dubek sente um pelo outro. Vale destacar também que a representação da sempre ótima Heléne Yorke acaba sendo o centro de uma série que possui muito nomes já firmados da comédia americana recente (sim, estou falando da rainha Molly Shannon).

Já renovada para um vindouro terceiro ano (apesar de temermos seu futuro após as notícias recentes sobre mudanças na HBO Max), The Other Two possui as melhores punchlines das séries de comédia no ar e é um retrato quase que documental da Hollywood Milllenial. Indispensável para qualquer fã de TV. – Zé Guilherme

Hacks (HBO Max) – Segunda Temporada

Após uma primeira temporada aclamada, premiada e bem-sucedida, os responsáveis por Hacks tinham todos os motivos do mundo para jogarem seguro no segundo ano. Porém, o trio de criadores e responsável por Broad City, formado por Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky, escolheu seguir outro caminho. Saindo do lugar comum, a segunda temporada da série muda a dinâmica e o cenário (não é mais Las Vegas, e sim a estrada) para levarem suas protagonistas a um novo rumo.

Convencionalmente, as comédias costumam manter-se no mesmo local, criando um ambiente de acolhimento e conforto para que os espectadores se sintam mais à vontade e familiarizados para poderem rir e se divertir. Mas Hacks não quer saber disso. Inclusive, a série se recusa a cair nas conveniências do gênero. O gancho deixado no final do primeiro ano, criticado por meia dúzia de pessoas, é rapidamente adereçado, trabalhado e superado, ajudando a construir uma narrativa ainda mais sólida e que não se segura por conta de plot twist desnecessário ou que fica o suspense pairando no ar de que irá explodir para eventualmente terem de lidar com aquilo.

Pode parecer tudo muito simples, porque os roteiristas e elenco (e toda a equipe) fazem parecer fácil e natural, mas não é. Hacks joga as convenções pro alto, arrisca nas piadas, fortalece as relações entre seus personagens, amplia o universo em que está inserido, sem nunca deixar a dignidade e a identidade pra trás. É uma série que não tem a menor vergonha de ser uma comédia, e nem por isso deixa de explorar, por meio de um trabalho magistral de desenvolvimento de personagens, a parte emocional.

O segundo ano de Hacks é totalmente diferente daquela primeira temporada e, ainda assim, é a mesma série. Extremamente redondinha, ela poderia tranquilamente ser o último ato de Deborah Vance, contudo, com a renovação já garantida, o que nos resta é aguardar ansiosamente para saber que surpresas esse grupo brilhante de realizadores irá nos oferecer. Para concluir, caso não tenha ficado claro, Hacks é excelência televisiva e merece todo o amor que recebe. – Rodrigo Ramos

Menções honrosas: Cobra Kai (Netflix) – Quarta Temporada, Ted Lasso (Apple TV+) – Segunda Temporada, Reservation Dogs (FX) – Primeira Temporada, The White Lotus (HBO) – Primeira Temporada e The Great (Hulu) – Segunda Temporada.

Continue a leitura:

Textos por Rodrigo Ramos, Juliano Cavalca, Diego Quaglia, Isabela Cândido e Zé Guilherme.

Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *