Melhores Atuações Principais das Séries na Temporada 2021/2022

Hacks, My Brilliant Friend, Evil e Station Eleven estão entre os destaques.

Selecionamos o que houve de mais relevante e (subjetivamente) melhor no mundo das séries entre 1º de junho de 2021 e 31 de maio de 2022, período de elegibilidade para o Emmy Awards, maior premiação da TV mundial.

Nesta lista, fizemos o ranking das 10 melhores interpretações em papéis principais, ou seja, os maiores protagonistas da atualidade na TV. Entre o suprassumo das artes cênicas estão uma dona de casa frustrada pela falta de emoção em sua vida, um advogado golpista de coração mole, uma psiquiatra possuída trabalhando para a Igreja Católica, uma mulher sem memória, uma comediante buscando se reinventar, um pai cruel e um filho egocêntrico e traumatizado.

Todos os vídeos possuem legenda em português, basta acioná-la no player do YouTube.

Melanie Lynskey (Yellowjackets)

Como Shauna Sadecki, Melanie Lynskey representa o instável coração de Yellowjackets. Seu personagem é uma dona de casa frustrada, uma mulher que poderia, e deveria, ter sido muito mais do que acabou se tornando: uma sombra de passividade e insatisfação no subúrbio americano. No entanto, o que seria apenas mais uma mocinha sem graça, ganha vida nas mãos habilidosas de Melanie Lynskey.

A atriz injeta com maestria um misto de sensibilidade, vulnerabilidade e insanidade na personagem. A Shauna do presente é uma mulher que suprime seus desejos e instintos em nome de uma mentira pactuada há mais de 20 anos. Mas, sob a superfície, ela está prestes a explodir, deixando em seu caminho um rastro de destruição que só a liberdade tardia tão esperada é capaz de alcançar. Com uma carreira de quase 30 anos, composta em sua maioria de personagens secundários e coadjuvantes, muito por não se encaixar a um padrão de beleza restritivo e doentio, é uma delícia poder ver Melanie mostrar todo seu poder e carisma, nos envolvendo nessa história com seu jeito encantador. – Mariana Ramos

(Showtime)

Colin Firth (The Staircase)

Eu sempre gostei muito de Colin Firth. Na comédia ou no drama, ele sempre mandou muito bem. No entanto, o que o ator faz na pele de Michael Peterson é outro nível. O personagem é baseado em um homem real, o que já não é fácil para um ator. Firth traz sua assinatura, incorporando um homem mesquinho, mentiroso, manipulador, mas que possui certo carisma que causa empatia nas pessoas e faz o telespectador (e demasiados personagens) se questionar: será que ele um assassino? A resposta não é exatamente o ponto. Não há uma falha a ser apontada aqui. As falas, a postura e os trejeitos são partes fundamentais, seja quando ele mostra raiva ao dizer as coisas mais absurdas para alguém ou quando parece um animal indefeso acuado. Firth conseguiu torná-lo extremamente humano e o fez com maestria. Parece redundante falar isso quando é um homem que realmente existe. Porém, o objetivo não é imitá-lo, é existir a partir dele e dominá-lo como um bom ator faz com um personagem. Não à toa, é uma das melhores atuações da temporada. – Filipe Chaves

Mackenzie Davis (Station Eleven)

Apesar de já ter se destacado bastante anteriormente em Halt and Catch Fire, drama da AMC, em Station Eleven, Mackenzie Davis mostra que é capaz de segurar o protagonismo com uma personagem complexa, forte e traumatizada. A narrativa não-linear da série distópica poderia ser um problema nas mãos de outra atriz, uma vez que durante boa parte da jornada de Kirsten não sabemos todos os acontecimentos que a moldaram. Com bastante delicadeza e carisma, Mackenzie nos convida para, aos poucos, descobrir todas as nuances da personagem e sua luta para manter próximas e seguras as pessoas que ama. Uma atuação linda, honesta, lúdica e essencial para que o público se emocionasse com o poder transformador da arte, visto que Kirsten nada mais era do que uma atriz que, de forma itinerante, levava cultura, esperança e emoção para um mundo despedaçado. Se Kirsten emocionou o seu público dando vida à peça de Shakespeare, o mesmo pode ser dito de Mackenzie Davis. – Diogo Pacheco

(HBO Max)

Bob Odenkirk (Better Call Saul)

No metade inicial do sexto ano de Better Call Saul, pela primeira vez vemos Jimmy/Saul e Kim se juntarem com um objetivo em comum ao criarem um plano contra a reputação de Howard. Através dos episódios, vemos uma Kim supermotivada em planejar e executar o esquema, o que deixa Jimmy um tanto desconfortável e receoso com toda a situação. Isso dá margem para que Bob Odenkirk possa atuar de uma forma mais sútil. Ele é muito mais quieto nesta temporada, trabalhando com expressões faciais para transmitir um visível incômodo que o personagem sente com o plano e a forma como Kim vai ficando mais imoral. Ainda temos os momentos sagazes de Saul soltando frases cômicas e o jeito malandro/trambiqueiro pelo qual o protagonista ficou conhecido, mas Odenkirk brilha mesmo é nas cenas contemplativas em que diz poucas palavras enquanto observa a Kim de Rhea Seehorn crescer e ser a parte mais ativa da relação dos dois, o que muda a dinâmica do casal, mas também como estes dois atores contracenam um com outro. – Rafael Mattos

Britt Lower (Severance)

É inquestionável o fato de que Severance é a maior surpresa de 2022 no grupo de séries dramáticas estreantes. O que não se fala com tanta frequência é que parte desse sucesso se deve à entrega magistral do seu elenco, principalmente a da nossa coprotagonista Helly R.

Britt Lower é uma atriz conhecida por quem curte séries subestimadas. Particularmente, o primeiro trabalho da atriz que eu conferi foi a excelente Man Seeking Woman, em que ela era um dos grandes destaques, ganhando, inclusive, episódios stand-alones, que costumavam ser o ponto alto da temporada em si.

Felizmente, em Severance, Lower ganha o protagonismo merecido ao dar vida à personagem que acaba sendo a porta de entrada para o universo perturbador de outies e inners da Lumus. A atriz segura não só as sequências mais cômicas, com o humor ácido de Helly, como também as mais dramáticas e potentes. Não é à toa que dois dos melhores ganchos do ano (a angustiante cena do elevador e aquele discurso na finale), tiveram a personagem de Lower como o foco central.

Torço muito para que esse seja o “começo” de uma carreira no mainstream que a atriz merece. A julgar pela presença quase que unânime em listas de Melhores da Temporada, acho que teremos mais uma atriz para ficar de olho em grandes e promissores projetos. – Zé Guilherme

Margherita Mazzucco (My Brilliant Friend)

Como Elena Greco, vimos Margherita Mazzucco crescer em nossas telas. De adolescente envergonhada, transformou-se em mulher, escritora, esposa e mãe. E nesta terceira temporada ela toma as rédeas e o protagonismo de A Amiga Genial. Com Lila quase ausente, temos a chance de acompanhar mais de perto a jornada de Lenù por sua vida adulta. De forma surpreendente, percebemos o crescimento de Margherita como atriz. Muito mais desenvolta, ela consegue imprimir toda a ebulição interior da personagem. Aqui a vida pessoal de Elena se impõe. Em um misto de resignação preguiçosa e efervescência latente, ela assiste seus amigos se envolverem na luta política e se sente deixada para trás. Não mais a Elena Greco do bairro, agora ela é a Sra. Airota, esposa de um promissor professor universitário de grande nome. Mais uma vez na sombra dos acontecimentos, e se vendo de um lado da história que parece, no mínimo, desinteressante, Elena passa a se rebelar, com pequenas e grandes transgressões. Ao mesmo tempo, ela ganha força e solidez, comandando, pela primeira vez, respeito e admiração.

Se sempre fomos acompanhados pelo olhar e narração de Elena, aqui ela deixa de ser coadjuvante e trilha um caminho próprio. Margherita, por sua vez, abraçou por inteiro seu papel, tornando-se, se ao menos por uma temporada, a Elena que nos fala. Será uma pena abandoná-la, em seu ápice, para acompanharmos a nova fase da personagem. Mas, se essa temporada de A Amiga Genial serve de indício, a sua carreira só tem a crescer. – Mariana Ramos

Katja Herbers (Evil)

Como um todo, o elenco de Evil parece estar sempre se divertindo em cena. Empatado com Succession, esta é a coleção de atores mais deliciosa de assistir em tela. E se tem alguém que está curtindo cada cena, cada fala, é Katja Herbers. Com os rumos de sua personagem no segundo ano da série, o talento da holandesa é desafiado e a atriz destaca-se, indo muito além do que lhe foi pedido na temporada anterior. Carregando uma energia de perturbação, raiva, talvez possuída, e sempre pronta para debochar do próximo (ou até mesmo agredi-lo), Katja atinge todas as notas. Ela é convincente seja como a mãe disposta a fazer tudo pelas quatro filhas, como uma assassina (quase) de sangue frio, como investigadora, psicóloga empática (é a formação da personagem, afinal), mentirosa deslavada, potencial amante, amiga farofeira e, acima de tudo, como uma mulher que não leva desaforo para casa.

Os Kings, criadores e showrunners da série, exigem elasticidade de Katja em cena e, toda santa vez, ela vai lá e nos surpreende com sua performance. Ela traz simpatia, ternura, diversão e gravidade para o mundo de Evil. É um ano irretocável da atriz. E, se praticamente 13 episódios inteiros não fossem o suficiente, nos últimos cinco minutos catárticos da temporada Herbers carimba de vez suas credenciais como uma das melhores performers da TV na atualidade. – Rodrigo Ramos

Brian Cox (Succession)

Completamente comprometido à paródia assumida que Succession se tornou a partir da segunda temporada, Brian Cox invoca o Rei Lear de Shakespeare mesclado em uma gama de deboche para dar vida ao patriarca Logan Roy. O vovocito está em pé de guerra com o filho mais velho, Kendall, e constantemente está à beira de um ataque cardíaco. Entre os surtos, o tom de ameaça único, a capacidade de tocar o terror em seus filhos somente com uma caixa de donuts, o sarcasmo, a boca suja e os momentos em que se encontra catatônico (o quinto episódio da temporada é simplesmente hilário), Cox prova ser um ator de alto calibre, pronto para qualquer tarefa que os brilhantes roteiristas de Succession lhe pedirem para executar. – Rodrigo Ramos

Jeremy Strong (Succession)

Depois do final arrebatador da segunda temporada de Succession, parecia que o primogênito dos Roy (Connor, ninguém lembra de você) ia finalmente ter a posição de destaque por qual há tanto tempo lutava. Porém, o que presenciamos foi uma sequência de fracassos, já que a ação de Kendall contra a Waystar RoyCo logo não se mostrou forte o suficiente.

Ao longo da temporada, Jeremy passeou pela versão autoconfiante do Kendall, o lado progressista (mais feminista que ele??), tuiteira, o breve momento de glória, seu delírio de grandeza, rendendo cenas constrangedoras como o maravilhoso conceito da performance planejada para a sua festa de aniversário, e aquela, que pra mim, é a sua melhor face, o fracassado. Ninguém consegue transparecer tamanho sofrimento e suscitar tanta pena como o Jeremy Strong faz nos 40 segundos que seguem a matéria sobre Kendall no jornal.

A partir desse ponto, Kendall é derrotado episódio após episódio, com destaques para o desastre que sua festa de aniversário e atinge o nível mais baixo quando faz a confissão de culpa pelo homicídio do garçom para os irmãos numa cena que poderia facilmente estar exposta no Louvre. E por mais que Sarah e Kieran sejam excelentes parceiros de cena para o Jeremy, não há como negar que o duelo de gigantes acontece mesmo quando esse contracena com Brian Cox como na pesada cena de jantar.

Se você acompanha notícias relacionadas à TV estadunidense, é bem provável que tenha ficado sabendo do perfil da revista New Yorker sobre o ator e o controverso method acting. Mas, polêmicas à parte, o que quer que Jeremy Strong esteja fazendo para entregar a sua composição de Kendall Roy, desejo que continue. – Valeska Uchôa

Jean Smart (Hacks)

“How many women do you have to care about to be a feminist? I mean, what if I only care about one woman? Me!”. Quem diria que por dois anos um dos melhores privilégios de se acompanhar TV seria assistir à jornada de altos e baixos de uma comediante de Las Vegas, Deborah Vance. Mas, o privilégio ainda maior é ter a personagem sendo defendida por uma, em minha humilde opinião, das melhores escolhas de elenco dos últimos anos, a veterana da televisão norte-americana, Jean Smart.

Dona de um talento sem igual, Jean Smart, 70 anos, assim como sua personagem, é uma lenda da comédia, tendo vencido prêmios Emmys para cada uma das categorias de atuação em comédia (principal, coadjuvante e convidada). Com uma carreira de mais de 40 anos, que transita entre teatro, televisão e cinema, ela também brilha no drama, em séries como 24 Horas e Fargo, Watchmen.  Essa experiência em ambos os gêneros faz com que a atriz entregue uma atuação que transborda nuances ao mostrar, de maneira harmoniosa e fascinante, o lado desagradável e arrogante da personagem principal de Hacks, mas também as qualidades inspiradoras e determinadas de uma mulher que precisou encontrar sua própria voz numa profissão dominada por homens.

Nessa segunda temporada, Jean Smart parece ainda mais confortável na pele de Deborah Vance, nos fazendo rir, chorar, sentir admiração, raiva e vergonha alheia (eu não sabia onde me esconder assistindo à apresentação no cruzeiro, em “The Captain’s Wife”). Até cantar nessa temporada, ela cantou, e estou em campanha para termos grammy winner Jean Smart! E a cumplicidade em cena com sua colega de elenco, Hannah Einbinder, também maravilhosa, foi ainda mais intensa de se acompanhar. Numa das relações de amizade e mentora/aprendiz mais divertidas e desafiadoras da TV, vemos o quanto Jean e Hannah se completam e como cada atriz parece trazer o que há de melhor na outra como profissionais. 

Em um segundo ano em que Hacks explorou ainda mais as contradições de Deborah Vance, com a personagem procurando ir mais fundo no processo de se reinventar e, ao mesmo tempo, de se reencontrar como comediante, foi um presente poder assistir Jean Smart nos presentear com novas leituras de textos maravilhosas, mudanças de expressões sutis e um carisma e presença de cena invejáveis. Que venha mais um Emmy! – Geovana Rodrigues

(HBO Max)

Menções honrosas: Mandy Moore (This is Us), Martin Short (Only Murders in the Building), Laura Linney (Ozark), Adam Scott (Severance) e Steve Martin (Only Murders in the Building).

Continue a leitura:

Textos por Mariana Ramos, Filipe Chaves, Diogo Pacheco, Rafael Mattos, Zé Guilherme, Rodrigo Ramos, Valeska Uchôa e Geovana Rodrigues

Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos

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