Melhores Atuações Coadjuvantes das Séries na Temporada 2021/2022

Yellowjackets, Succession, Ozark e Hacks estão entre os destaques.

Selecionamos o que houve de mais relevante e (subjetivamente) melhor no mundo das séries entre 1º de junho de 2021 e 31 de maio de 2022, período de elegibilidade para o Emmy Awards, maior premiação da TV mundial.

Nesta primeira lista, elencamos as 10 melhores performances coadjuvantes da temporada, independente do gênero. Entre as personagens estão uma advogada golpista, uma cuidadora fora da casinha (e canibal?), uma diretora de escola não muito profissional, filhos ricos, mimados e fracassados e uma roteirista de comédia (coitada).

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Christina Ricci (Yellowjackets)

É impossível falar nos desvarios de Yellowjackets sem citar a responsável pela maioria deles: a jovem Misty Quigley, papel que é dividido entre Sophie Tatcher e Christina Ricci. Eterna Wandinha de A Família Addams e presença constante na produção infanto-juvenil da década de 90, Ricci aparece em Yellowjackets no seu modo full loucura. A natureza da personagem, uma mulher que, desde a juventude, vive à margem dos outros, tentando a qualquer custo obter um pouco de atenção e carinho, chegando às últimas consequências por isso, é, por vezes, irritante. Mas a veterana atriz morfa essa energia em algo completamente divertido. Se suas ações têm consequências nefastas, é ela também a única capaz de as salvar. Engenhosa e dissimulada, Misty é um misto de amiga devota e sanguessuga energética. Ricci retorna ao radar com toda a potência de uma grande atriz, capaz de se entregar totalmente às idiossincrasias de seus personagens, transparecendo sua diversão e mergulho na loucura, e nos cativar no processo. – Mariana Ramos

Julia Garner (Ozark)

Podemos ser sinceros? O derradeiro ano de Ozark foi o pior da série. Episódios longuíssimos (problema constante das originais Netflix), falta de dinâmica nas tramas, fillers, personagens que perdem seu propósito. Enfim, um show de horrores e desperdício de talento. Porém, uma constante do seriado é Julia Garner, a única que ainda merece algum crédito por esta quarta temporada chocha.

Não, a melhor cena de Garner não é aquela dela se esgoelando e com as veias saltando, que ficou tão famosa na época do lançamento da primeira parte da quarta temporada. Pelo contrário, Garner tem êxito quando luta internamente com seus sentimentos, na relação conturbada e dúbia que possui com Marty (personagem de Jason Bateman), na fortaleza que se tornou ao longo de várias situações traumáticas. Sim, Garner grita bem e tudo mais, mas é na contenção de sua raiva que a atriz se mostra realmente digna de menção. – Rodrigo Ramos

Gaia Girace (My Brilliant Friend)

Conforme Elena/Lenu vai ganhando mais espaço na trama, tomando para si o protagonismo da série, Lila é posta como uma coadjuvante, o que é reflexo até mesmo de como a primeira passa a enxergar a situação, se sentindo de fato mais dona da sua própria história. Ainda que esteja menos tempo em tela, Gaia Girace continua entregando uma performance pungente. Agora, Lila está em outra fase da vida, encontrando-se mais frágil e sem alternativas para sua vida. Enfraquecida, doente, desmotivada, porém não menos teimosa, com personalidade e opiniões fortes, e sabendo tocar na ferida alheia quando está a fim, sendo ainda mais implacável quando retoma seu poder, Girace é feroz e defende sua personagem com afinco. – Rodrigo Ramos

Janelle James (Abbott Elementary)

Apostando num mockumentary em um ambiente escolar, Abbott Elementary é uma das comédias queridinhas do momento e uma das suas principais armas para este feito, com certeza, é Ava, a personagem vivida de forma brilhante por Janelle James. Lembrando um pouco Parks and Recreation, a série não aposta tudo na comédia, conseguindo construir ótimos momentos fofos entre seus personagens, mas com Ava há garantia de riso. A verdade é que Janelle precisa fazer muito pouco esforço para arrancar gargalhadas do público e aproveita o ótimo material lhe fornecido na série de forma estupenda. Muitas vezes, apenas de olhar para as caras e bocas de Janelle, eu já começo a dar risada sem parar. Sendo uma espécie de Michael Scott do mundo escolar, Janelle James apresentou muita competência para que andar na tênue linha entre o absurdo e o ridículo, nunca passando do ponto. Só podemos agradecer à atriz por entregar uma personagem tão deliciosamente errada e disfuncional, um contraponto maravilhoso com os demais personagens da excelente comédia da ABC. – Diogo Pacheco

John Turturro (Severance)

Após longos anos dentro do seu cubículo, Irving, uma pessoa que segue todas as regras que lhe são impostas no trabalho, começa a se atrever driblar as regras, parte porque entra na onda da nova companheira, a insubordinada Helly, e principalmente para passar mais tempo com sua paixonite de outro setor.

Conforme a temporada se desenrola, John Turturro executa seu papel com sutileza e gentileza. Usando um tom bastante ameno, ele desenvolve seu personagem como uma pessoa livre das memórias do lado de fora, que descobre haver mais na vida do que somente o trabalho. O romance acaba norteando a maior parte de sua jornada, mas não é algo que apequena a personagem, e sim a engrandece. É uma performance contida, que entrega muito mais nos pequenos gestos do que na própria fala. É um trabalho minucioso e entregue com maestria pelo ator. – Rodrigo Ramos

Hannah Einbinder (Hacks)

A segunda temporada de Hacks começa exatamente onde a primeira temporada parou: Deborah e Ava estão em turnê para trabalhar com material novo e mais pessoal. A dinâmica na tela de Smart e Einbinder foi inquestionavelmente o destaque do primeiro ano, e não é surpresa que continue atraente no segundo. Embora Jean Smart irradie em todas as cenas, Hannah Einbinder se destaca como Ava. Ela faz um trabalho muito melhor com seu desempenho do que na temporada anterior, já que suas brincadeiras e entregas com os outros colegas de elenco são mais naturais e autênticas. Einbinder retrata isso em pequenos monólogos pessoais, e extensas cenas hilárias que se faz notável o equilíbrio de ritmo e timing cômico. É um crescimento genuinamente gradual de atuação se contrastando e equiparando com desenvolvimento de sua personagem. – Isabela Cândido

(HBO Max)

Matthew Macfadyen (Succession)

Foi por volta do episódio cinco ou seis da terceira temporada de Succession que ficou claro que Matthew Macfadyen, intérprete de Tom Wambsganss, o marido abatido de Shiv Roy, estava emergindo a outro nível. O que é uma constante mudança em uma série com pesos pesados ​​como Brian Cox e Jeremy Strong, mas a essa altura já tínhamos visto Macfadyen muitas vezes usado como alívio cômico em duetos com o primo Greg ou como saco de pancadas para Shiv – desbloquear novos níveis de seu desempenho como Tom afundou para novas profundidades.

A emocionante jornada de Tom trouxe uma reviravolta ao jogo. Há um limite empolgante e chocante em acompanhar as novas escolhas e decisões do personagem, o excelente trabalho de Macfadyen e uma conclusão extremamente satisfatória para o arco da terceira temporada de Tom. – Isabela Cândido

Sarah Snook (Succession)

Com a traição do irmão, Shiv tinha uma decisão a tomar. Kendall tentou angariar aliados para seguir na luta que travou contra o pai. Shiv encara o convite com cautela e quando ao lado do pai posa de fiel escudeira, enquanto tenta negociar a tão almejada posição de CEO caso decidisse apoiar o irmão. A personagem decide seguir ao lado do patriarca e tenta, mais uma vez, sem sucesso, assumir o controle da situação, sendo preterida até mesmo por Tom durante o surto de Logan.

Sarah rendeu instantes divertidíssimos como a Shiv desconcertada enquanto toca “Rape Me” do Nirvana ou dançando de forma inesperada em que se desprende da pose que quase nunca perde, motivada por mais uma confirmação de que o pai não deposita nela o menor respeito.

Outro de seus pontos altos na temporada foi a conversa extremamente sincera com Caroline, em que a mãe despeja, sem arrodeios, uma série de defeitos que enxerga na filha, que, por sua vez, aproveita a oportunidade de retribuir a sinceridade da mãe no discurso de casamento em mais uma amostra da frieza que herdou dos genitores. Frieza essa que também aparece no repetido descaso com que trata a possível prisão de Tom – e que acaba por culminar no ponto de virada da season finale. E aqui, Shiv encerra a terceira temporada de Succession em um dos raríssimos momentos em que vimos a personagem se permitir demonstrar um discreto vislumbre de vulnerabilidade, de forma comedida, com a sutileza que só a Sarah Snook pode entregar. – Valeska Uchôa

Kieran Culkin (Succession)

Num elenco com interpretações que ao mesmo tempo entendem as particularidades únicas dos seus personagens e a dinâmica específica que também cerca a família Roy, o elenco de Succession acaba sendo um terreno frutífero para grandes atuações de Brian Cox, Jeremy Strong, Sarah Snook, Matthew Macfadyen e outros. Kieran Culkin, que usa de uma caracterização quase circense com a sua voz, os seus gestos e o seu corpo como Roman Roy, é um grande exemplo de como tudo que a família Roy representa acaba sendo extrapolado e exposto por alguém que não tem nenhuma pretensão de fazer nenhum disfarce. Isso faz com que a extravagancia e o jeito debochado do seu personagem deem conta dos seus momentos mais desprezíveis, a relação de morder e assoprar com os irmãos, os mais estranhamente engraçados na dupla que forma com Gerri (J. Smith-Cameron) e a sua busca desesperada e insegura com altos e baixos em busca da aprovação do seu pai manipulador e abusivo. A exposição do seu relacionamento com o Gerri e o seu embate com o pai no final da temporada expuseram o quão Roman não é um mero palhaço, mas também um personagem muito especial na sua série de contradições. – Diego Quaglia

Rhea Seehorn (Better Call Saul)

O primeiro comentário no tweet da Rhea Seehorn em que ela agradece a indicação ao Emmy é algo como “já não era sem tempo”. Acho que essa é a sensação de todo mundo que acompanha a série e vê, semana sim, semana não também, uma das atuações mais consistentes e complexas da atualidade. Uma que, até então, tinha sido, também de forma bastante consistente, esnobadíssima pela Academia.

Eu sempre digo que Kim Wexler foi a redenção do Vince Gilligan pelo que ele fez com Skyler White. Onde Skyler foi diminuída e vilanizada para que Walter pudesse brilhar, Kim, por outro lado, cresceu até se tornar gigante, uma força da natureza que atua lado a lado a Jimmy McGill: mais forte e implacável do que ele, mas também mais empática e vulnerável, os personagens não são nem o vilão, nem o herói um do outro aqui. Eles erram juntos, colocam um pezinho (e às vezes um pézão) para fora da lei juntos, se ajudam, se arrependem.

Onde a vida pessoal de ambos se entrelaça, a profissional, por outro lado, diverge cada vez mais: Kim advoga pelos mais necessitados e Jimmy (já sob a alcunha de Saul Goodman) pelos mais… Obviamente culpados. Em sua profissão, Kim é correta e dedicada, enquanto Saul segue a linha de que os fins justificam os meios. E só mesmo uma atuação como a de Rhea Seehorn (e uma química tamanha com o igualmente brilhante Bob Odenkirk) poderia traduzir uma personagem com tantas nuances e uma relação tão cheia de meandros.

Ainda mais levando em consideração que Kim e Jimmy são, para todos os efeitos, um casal comum. Não tem discussão com gente esmurrando parede, ninguém taca um copo em ninguém e muito menos faz sexo no chão do corredor. E, sinceramente, é muito mais difícil passar uma gama tão complexa de emoções quando o seu personagem está lavando louça ou assistindo a um filme do que quando ele berra, soca ou se debulha em lágrimas o tempo todo.

Mas não se enganem: Rhea Seehorn é uma atriz tão potente que ela consegue ir da mais pacata rotina às emoções mais extremas quando se torna impossível separar Saul Goodman de Jimmy McGill e o casal comum recebe visitas bastante incomuns no meio da noite. – Luiza Conde

Menções honrosas: Molly Shannon (The Other Two), Jennifer Coolidge (The White Lotus), Sarah Goldberg (Barry), Harvey Guillén (What We Do In The Shadows) e Mandy Patinkin (The Good Fight).

Continue a leitura:

Textos por Mariana Ramos, Rodrigo Ramos, Diogo Pacheco, Isabela Cândido, Valeska Uchôa, Diego Quaglia e Luiza Conde

Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos

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