Melhores Séries (Drama) da Temporada 2020/2021

In Treatment, I May Destroy You e The Underground Railroad estão entre os destaque.

O Previamente, a partir de um júri com 22 pessoas entre profissionais da área, jornalistas, críticos, estudantes e aficionados por séries, elegeu as melhores atuações coadjuvantes da TV na temporada 2020/2021. A seleção foi realizada utilizando os mesmos critérios do Emmy Awards: entram as obras que debutaram sua temporada entre 1º de junho de 2020 até 31 de maio de 2021, tendo sido exibida pelo menos 50% de seus episódios até o final de junho deste ano.

Confira a lista completa abaixo.

MELHORES SÉRIES (DRAMA)

It’s a Sin (Channel 4/HBO Max)

A efervescência da juventude é o pontapé inicial de It’s a Sin, com o descobrimento da sexualidade e a aceitação por seus amigos. Um novo mundo. Entretanto, a vibe positiva de um tradicional coming of age sorrateiramente vai se transformando em uma verdadeira história de terror. A minissérie britânica narra a chegada da epidemia da AIDS no Reino Unido na década de 1980 e a faz de modo muito maduro, sem jogar de forma desmedida a questão emocional, mas evidenciando a seriedade da doença e os efeitos na vida das pessoas, especialmente em um tempo em que a enfermidade era cercada de preconceito. Em tempos de pandemia da Covid-19, é possível até traçar alguns paralelos com a trama e o que atualmente ainda vivemos, em termos da desinformação e do negacionismo, o que resulta, naturalmente, em tragédia. It’s a Sin vai do mais puro entusiasmo, transbordando a alegria de viver, até a mais profunda dor, entregando um final que de doce não tem nada. Necessário e certeiro. — Rodrigo Ramos

Small Axe (BBC One/Amazon Prime Video)

O debate sobre “isso é televisão” e “isso é cinema” volta e meia aparece quando autores da sétima vão trabalhar em séries ou minisséries. Steve McQueen não é o nem o primeiro e nem será o último nome de uma lista que tem David Lynch, Krzysztof Kieślowski, Alfred Hitchcock, Lars Von Trier, Ingmar Bergman, Roberto Rossellini, Steven Soderbergh, Barry Jenkins, Jane Campion, Tobe Hooper, David Fincher, Jean Luc–Godard e diversos outros. E com a inclusão desses artistas em séries, minisséries ou experimentações na televisão, sempre surge aquele questionamento: eles estão fazendo TV ou cinema? É um questionamento tolo já que esses cineastas estão na televisão, estão contando narrativas seriadas, estão se utilizando dessa forma para construírem linguagem e é superficial demais com a própria televisão achar que uma série de TV tem que “ser cinema ou parecer cinema para ser boa” e que uma série de TV não pode ter um cuidado maior com a linguagem visual, com a imagem e ainda assim ser uma série de TV.
 
O mesmo jeito que é tolo também, na minha opinião, é a resistência de que o cinema e a televisão se conversem, afinal tudo é audiovisual, tudo é arte, tudo é lindo e é claro que uma arte sempre vai se conversar e se somar com a outra, e nem por isso um deixa de existir enquanto série ou enquanto filme, mas um pode sempre se alimentar dos benefícios de cada linguagem e experimentar desafiando o seu formato. Por isso, a mídia de séries é aberta para todos os tipos de artistas que queiram nela experimentar, como o cinema também é (vide diversos diretores de cinema que começaram a carreira na televisão, como Michael Mann, Steven Spielberg, Don Siegel, Matt Reeves, Sam Peckinpah, Robert Altman e por aí vai). Por isso esse tipo de rixa de briga é tão boba e é tão importante que o que Steve McQueen faz em Small Axe, uma antologia que passa diferentes décadas de 1960 até 1980 para retratar as vidas da comunidade preta em Londres de imigrantes das índias Ocidentes que sofrem diferentes formas de racismo, opressão e os relacionamentos entre aquelas comunidades com a sua própria negritude.
 
“Mangrove” é uma obra–prima sobre a maestria narrativa de nunca se calar mesmo quando não é ouvido, sobre nunca desistir mesmo quando a opressão interminável, sobre o poder do coletivo e sobre o domínio de te contar uma história e de te conduzir pela revolta e os sentimentos daquela situação. Já “Lovers Rock” usa da sua estética e da câmera para mostrar a liberdade – seja de vida, sexual, de ideias e de posicionamentos – para lidar com os corpos daqueles personagens num trabalho musical, sonoro e visual impecável. “Red, White, and Blue”, “Alex Wheatle” e “Education” são estudos de personagens que retomam e olham para diferentes espaços na forma de debater e usar da arte para acrescentar poder á aqueles assuntos e temas. — Diego Quaglia

In Treatment (HBO) — Quarta Temporada

O reboot de In Treatment ecoa as questões da atualidade. Incorpora tópicos como pandemia, terapia por videochamada, o isolamento do mundo exterior, a “cultura do cancelamento” (detesto o termo num contexto que não seja meme, mas é a melhor forma de resumir o tema). Simultaneamente, não deixa de dividir os dias da semana por pacientes, com uma única modificação (o dia de terapia do próprio terapeuta, que se diluiu e virou um exclusivo de problemas pessoais da protagonista). Tudo isso em um visual mais moderno, arrojado, além de uma linguagem mais atual e menos, digamos assim, vinda de homem de meia idade. A nova temporada de In Treatment traz algumas das melhores coisas da série original, atualiza outras que necessitavam, encontra os altos e baixos com alguns pacientes não tão empolgantes, mas compensa isso com performances bastante inspiradas, principalmente de sua protagonista, Uzo Aduba (provando-se novamente uma das melhores atrizes da atualidade), e John Benjamin Hickey (ele simplesmente arrebenta, o melhor paciente deste Sophie, na primeira temporada da série). O quarto ano faz jus às temporadas clássicas, mas a série ainda pode ser aprimorada. Esperamos que haja uma nova oportunidade. — Rodrigo Ramos

Lovecraft Country (HBO) — Primeira Temporada

Quando a gente pensa em séries de “drama” que se tornam produtos de sucesso, raramente vem à nossa mente um show de TV com protagonistas negros. Aos negros, em geral, só é permitida a comédia ou a posição de coadjuvante nas narrativas principais de drama. Nos últimos anos, uma ou outra série traz elencos mais equilibrados com relação às questões raciais, mas ainda assim tendo criadores brancos. E só por isso Lovecraft Country já poderia ser considerada uma série marcante. Só que quando vamos analisar mais a fundo, podemos perceber que a série de Misha Green tem um grande número de detalhes que a tornam importante. Pra começar, não é todo dia que uma showrunner mulher — e negra — pode parar para contar a história do negro americano dentro de uma perspectiva de horror. E Lovecraft faz não apenas isso, como se vale de referências brancas racistas da literatura de horror cósmico, para não apenas criticar esse racismo, como subvertê-lo. E isso com um elenco de atores muito competente. Mas, para além da concepção da série, um dos pontos altos de Lovecraft Country é como ela se propõe a trazer os mais diversos subgêneros do horror para seus episódios, já que cada um traz referências de um subgênero específico para dentro da narrativa. Tudo isso sem ser apenas virtuosismo estético ou exagero de fã. Em Lovecraft Country, você tem protagonismo negro do início ao fim, com uma narrativa que faz questão de criar tramas importantes para cada personagem. Em que pessoas negras são mais do que os arquétipos que geralmente a televisão e o cinema costumam trabalhar. Na série de Misha Green, negros importam, suas vidas importam e suas histórias também. Sem dúvida, uma das criações mais interessantes e importantes de 2020. — Carissa Vieira

Pose (FX) — Terceira Temporada

Séries de autoria ou de cocriação de Ryan Murphy nunca foram conhecidas pela sutileza. Pose não foge da regra, com alguns discursos batidos, aquele clichê bem furreca, mas, dentro do contexto de Pose, faz até certo sentido. É quase um charme. Se algumas escolhas do roteiro não são as mais acertadas, como um todo, Pose construiu algo especial em três temporadas. Se faltava algo em técnica, a série conseguia compensar com a carga emocional que ela imprime. A terceira e última temporada é mais uma constatação disso.

Nem todas as escolhas neste último ano do seriado são corretas, mas a produção é capaz de cativar com suas personagens e seus arcos. Ao fim do dia, os defeitos não se sobrepõem às virtudes. Na terceira temporada, inclusive, os problemas são diminuídos, uma vez que a quantidade de episódios foi reduzida a somente oito (sendo dois deles compondo o finale). Com mais foco e tendo ciência de que teriam de finalizar a história contada aqui, Steven Canals, Janet Mock e Our Lady J (o trio por trás da série ao longo dos três anos) conseguem dizer adeus com sabedoria, dando finais dignos aos personagens. Nenhum caminho é fácil, todos são custosos, mas os responsáveis pela produção certificaram-se de entregar um final mais feliz do que não, uma forma até mesmo de dizer à comunidade LGBTQIA+ que há esperança e nos lembrando de que família é aquela que nós escolhemos.

Pose chega ao fim como um marco para a televisão e para a representatividade. Os Evangelistas despedem-se, mas não sem antes nos deixar um abraço caloroso. — Rodrigo Ramos

The Crown (Netflix) — Quarta Temporada

Abrindo mão de vez do comprometimento com os fatos (nunca foi muito o forte da série, na verdade), The Crown mergulha na temporada que poderia ter o subtítulo “fofoca”. Em termos de entretenimento, isso é ruim? Absolutamente não. A liberdade criativa na hora de escrever permite que a série entregue sua temporada mais divertida, fluída e barraqueira. O período temporal usado por Peter Morgan aqui traz à trama duas figuras icônicas do Reino Unido, Margaret Thatcher e a Princesa Diana. Esta, em especial, sequestra a série para si, dividindo a atenção principal da narrativa com Charles. Para o bem e para o mal, a Rainha Elizabeth acaba tornando-se coadjuvante da própria história.

O quarto ano volta a tratar como a realeza sufoca as pessoas que participam desse quase culto, mas desta vez focando-se mais pelo olhar de quem acaba juntando-se posteriormente e não nascendo dentro deste fardo. Definitivamente, Peter Morgan não economiza nas críticas à família real, seja como um conjunto ou aos seus membros isoladamente (pegue como exemplo “The Hereditary Principle”, episódio em que aborda uma descoberta da Princesa Margaret). Não faltam socos e pontapés para Thatcher, a musa da direita extrema que Carla Zambelli e Bia Kicis nunca serão. E apesar de temas densos, a série nunca foi tão engraçada, como nos episódios em que Thatcher vai passar um fim de semana com a realeza, seu drama com o desaparecimento do filho, ou o episódio em que a rainha Elizabeth tenta decifrar se gosta de seus quatro filhos, o que foi uma das coisas mais engraçadas que acompanhei em 2020.

The Crown, aparentemente, entendeu que pode oferecer mais do que apenas um retrato histórico de gente branca que ninguém realmente se importa. Ela pode ser entretenimento de alta qualidade acima de qualquer coisa. — Rodrigo Ramos

The Underground Railroad (Amazon Prime Video)

Chega a ser irônico The Underground Railroad ser lançada na Amazon Prime Video com um mês de diferença de Them, outra série original do serviço e que se faz ávida para saciar a todos os anseios racistas possíveis. E é difícil entender a quase simultaneidade porque a série de Barry Jenkins tem uma visão tão singular sobre racismo, escravidão e negros, que rechaça qualquer resquício de torture porn e mostra uma falta de tato ou bom senso dos programadores/curadores do serviço. Enfim, negócios à parte, a série de Jenkins se eleva a todos esses questionamentos porque é mais que apenas um produto. The Underground Railroad canaliza através de suas imagens toda a força do negro que resiste a sobreviver em um mundo deturpado por supremacistas abastados que difundiram suas crenças através das custas, em maior parte, do resultado do trabalho de escravos. Ainda assim, a minissérie também não é a produção definitiva ou sequer tenta ser, sobre o racismo na América. Ela entende seu lugar e seu papel, construindo uma narrativa que torna sua protagonista na protagonista da América. Ou ao menos é quem a Cora Randall de Thuso Mbedu representa.

Mas é um trabalho em que cada parte, cada função, enaltece a próxima e todas se engradecem. Cada detalhe da produção surge de maneira orgânica, porém ressaltando a visão de Jenkins para a história de seus personagens, dessas figuras históricas, ainda que fictícias. Porque se reconhecem ali traços, histórias, vivências, elementos que fazem parte de uma cultura vista geralmente sob um olhar branco. É assim que The Underground Railroad retrata seus personagens de maneira singular, com o elenco majoritariamente negro, filmado não só com uma beleza estonteante, mas da forma que merece. Com cenários e figurinos que exaltam suas características. Com roteiros que os coloca como protagonistas, mesmo que por breves momentos. É verdade que resguarda uma constante tragédia, mas é impossível fugir disso.

Barry Jenkins compreende plenamente isso, razão pela qual dá vislumbres de tanta beleza sobre uma sociedade negra desenvolvida e organizada, superior à falácia em que se sustentam aos brancos, que sucumbem à inveja regida por uma obsessão cega, personificada no personagem de Joel Edgerton. No fim de sua perseguição, temos o relato do todo. Mais uma tragédia. Mas essa não é somente a que o negro é submetido. É a tragédia de uma crença patética, enquanto Cora caminha livre para seu futuro, deixando para trás um passado que é refém da dor, do sofrimento e do ódio. Enquanto uns nutrem esse confinamento em desgraça, Cora e Barry Jenkins nos mostram que há muito mais para nós a frente. — Renan Santos

Mare of Easttown (HBO)

Mais um ano e mais uma série criminal protagonizada por uma detetive durona e com vastos problemas familiares que se vê em meio à uma complicada investigação de assassinato envolvendo uma jovem (branca, sempre branca) local, em uma cidade capturada por uma fotografia repleta de tons escuros que reforça a tristeza praticamente inerente à sua vida acinzentada e que apenas reitera e escancara todos os problemas da comunidade. Apesar de soar (e ser) familiar, Mare of Easttown, série (por enquanto) limitada da HBO, traz em seu DNA um bom humor inesperado e cativante. E que aliado a grandes atuações de um elenco estrelado e praticamente impecável, tornou a série um respiro de good tv e programa obrigatório em um ano em que as fontes foram progressivamente secando com o avançar e permanecer da pandemia mundial da Covid-19. No entanto, dizer que uma série assim passaria despercebida em outros anos é simplesmente uma mentira, e tal constatação se deve ao hype ao redor de suas estrelas, Kate Winslet de volta às telinhas, Jean Smart em sua sucessão de papéis icônicos, e ao fascínio contínuo (e aparentemente infindável) que cultivamos por histórias criminais com um lado de whodunit. Falando por mim, histórias assim sempre me capturam e sou figurinha fácil nos números de audiência. 

Contudo, alguns elementos podem ser destacados nessa trajetória. Os roteiristas e protagonistas de Mare parecem muito cientes do tropo da pequena cidade cheia de segredos, onde todos, absolutamente todos, estão implicados e envolvidos. A série, inclusive, leva tal premissa às últimas consequências em um final um tanto exagerado e aquém do resto dos episódios. Mas é no absurdo banal de uma cidade onde todo mundo é parente de todo mundo, com sotaques fortes e a certeza de uma decadência quase inerente ao interior americano (com suas famílias desestruturadas, aposentados largados, casos extraconjugais incontáveis e, para coroar, um assassino em série à solta) que suas histórias brilham. 

Nem a série nem seus personagens tentam fingir qualquer tipo de controle ou verniz sobre suas vidas. O grande feito de Mare, personagem de Winslet, é ter sido a Miss Lady Hawk em seus anos de colegial, e é essa a pressão e expectativa que ela leva consigo. Nada demais, mas é o suficiente para sobrecarregá-la. Ao mesmo tempo, todos sabemos como as expectativas externas funcionam e pesam, mesmo as mais aparentemente inofensivas. E é na sombra delas que todos os personagens da série vivem. A mulher traída, o marido que trai. A jovem que engravida, o pai que não consegue lidar. A detetive local que não consegue solucionar um crime, o detetive que vem de fora com sua própria bagagem. São todas pessoas ordinárias, quase vulgares em sua trivialidade. E é isso que encanta. Relações cheias de acidez, mas sem uma maldade sofisticada, algo extremamente familiar para qualquer um que tenha uma família. Momentos típicos da vida cotidiana, transmitidos com maestria por atores que estão em seu ápice. 

Bom, mal falei sobre o mistério central da série, pois acho que ele é apenas uma desculpa para nos capturar em uma jornada de estudos de personagens cativantes. Se o crime nos agarrou com a força que só o assassinato de uma menina (novamente, branca) consegue exercer sobre nossas mentes, é pelo desenrolar das histórias pessoas de seus personagens que seguimos com Mare of Easttown e, por isso, estou aqui escrevendo sobre ela. — Mariana Ramos

For All Mankind (Apple TV+) — Segunda Temporada

E, ao terceiro dia, For All Mankind ressuscitou o drama televisivo. Essa, sim, é a série da Apple que devia ter tido todos os coadjuvantes indicados ao Emmy, mas segue sendo esnobadíssima pelas grandes premiações, tal qual aquela outra série que carrega o drama televisivo nas costas, The Good Fight.

Quando eu vi os grandes críticos de TV americanos tecendo todos os elogios possíveis à finale da segunda temporada de FAM, confesso que fiquei com um pé atrás, mesmo sendo bem mundinho Battlestar Galactica BR, a queridinha sci-fi de Ronald D. Moore, um dos criadores e showrunners de FAM (o homem gosta dum negócio de espaço mesmo, né?). Mas é que estamos tão sedentos por uma boa ficção de drama há tanto tempo que qualquer Gambito da Rainha ganha status de genial.

Ainda assim, decidi embarcar em FAM, e logo depois de terminar Battlestar Galactica, um pouco reticente por estar emendando uma série “de espaço” em outra. E é curioso como as duas conseguem ser tão distantes justamente na questão do gênero (BG um sci-fi recheado de ação, FAM um drama político em que o sci-fi é muito mais pano de fundo), enquanto, por outro lado, encontram fortes ecos temáticos por se tratarem ambas, no fim das contas, de ficções especulativas. E, aliás, é uma lufada de ar fresco poder assistir a uma ficção especulativa em que o mundo não acaba, a humanidade não é destruída e mulheres não são estupradas o tempo todo. A nossa própria ficção especulativa chamada mundo real 2021 já está bem pesada, e a quantidade de narrativas distópicas da última década se tornou tão excessiva que a coisa toda ficou tediosa, repetitiva e, sinceramente, bastante preguiçosa. Não é que FAM se trate de uma utopia exatamente, nem que não dê merda na série. Dá MUITA merda, inclusive. Mas é uma novidade bem-vinda ver uma equipe de roteiristas se dar ao trabalho de pensar em soluções e caminhos mais interessantes e menos simplistas para os obstáculos que criam do que o FIM DO MUNDO™.

Isso tudo posto, For All Mankind funciona basicamente assim: a premissa é excelente e anuncia aquela crocante crítica ao capitalismo que a gente ama. Aí os dois primeiros episódios, embora tecnicamente bons, são a epítome do drama do homem branco HT, e vão te fazer achar que todo mundo que te falou pra assistir a série enlouqueceu. No terceiro episódio, a série finalmente diz a que vem, com a introdução da santíssima trindade Molly Cobb, Danielle Poole e Ellen Waverly (um dos pontos que FAM e BG têm em comum, aliás, é a qualidade excepcional das personagens femininas). E se a primeira temporada é boa, a segunda temporada de FAM é um acontecimento televisivo do início ao fim, e alcança sem dificuldade um nível de excelência técnica (tanto no roteiro, quanto na direção e atuações). Os episódios de uma hora parecem ter 15 minutos, e todos me deixaram gritando em posição fetal no chão (alguns literalmente). Os críticos, afinal, tinham razão na quantidade de elogios rasgados que fizeram à finale, para mim um dos melhores episódios televisivos que já vi na vida.

A segunda temporada de FAM é tão, mas tão, mas tão boa, que a gente se importa e se envolve até com o drama do homem branco HT. Estou falando, obviamente, de Gordo Stevens. Ed Baldwin o que tenho a ver? — Luiza Conde

IMay Destroy You (BBC One/HBO)

Abuso e violência sexual são temas centrais de I May Destroy You, mas mais do que apenas o ato ou até mesmo a busca pelos culpados, a série preocupa-se em se aprofundar em como as vítimas desses crimes lidam com o trauma originado a partir deles. Os efeitos se manifestam de maneiras distintas para cada um dos personagens e é com muita franqueza que Michael Coel pinta esse retrato, tão pessoal e distinto um do outro. E serem vítimas não faz com que os personagens em si sejam pessoas necessariamente adoráveis, responsáveis, com relações saudáveis, gostáveis. O modo como Coel conduz sua obra é da forma mais humana e realista possível, mostrando as falhas desses personagens, mas sem perder a empatia em momento algum. Coel demonstra inteligência para navegar nos temas, trazendo também elementos do cotidiano, fazendo um retrato dos jovens adultos e do impacto da tecnologia em nossas vidas — a obra que melhor faz o uso do mundo digital dentro de uma narrativa na atualidade, algo que só vi tão bem trabalhado assim no trabalho dos Kings em suas produções, como The Good WifeEvil The Good Fight.

A roteirista/diretora/produtora/protagonista da produção aborda tópicos bastante sensíveis, que nas mãos de 95% de Hollywood poderia ser altamente problemático. No entanto, Coel mostra uma capacidade criativa ímpar em abordar assuntos complexos, sabendo que não há respostas simples para eles e, em momento nenhum tenta respondê-los de maneira leviana ou busca algum tipo de heroísmo. Ela sabe que não está ali para resolver os problemas do mundo, tampouco suas personagens se enquadram nisso.

I May Destroy You é o tipo de experimento que somente a TV poderia nos proporcionar (e, felizmente, é uma minissérie assumida). Não há nada igual, nunca houve e não sei se haverá algum dia. Enfim, a melhor série da temporada. — Rodrigo Ramos

Menções honrosasP-Valley (Starz), This Is Us (NBC), We Are Who We Are (HBO), The Queen’s Gambit (Netflix) e The Good Lord Bird (Showtime).

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Fizeram parte do júri
Angelo Bruno, estudante de Letras — Licenciatura em Português.
Breno Ribeiro, roteirista.
Caio Coletti, jornalista e repórter do site Omelete.
Carissa Vieira, roteirista, formada em Cinema e Audiovisual.
Cid Souza, criador e host do SeriousCast.
Diego Quaglia, cineasta, roteirista e crítico de cinema e audiovisual.
Diogo Pacheco, colaborador do Série Maníacos.
Eduardo Fernando Gomes Filho, colaborador do Cine Eterno.
Geovana Rodrigues, sommelier de séries.
Juliano Cavalca, bacharel em Economia, escreve sobre seriados na internet desde 2005.
Mariana Ramos, roteirista, mestre em Cinema e Audiovisual, host do podcast Isso não é um filme.
Mateus Santos, engenheiro mecânico, humildemente viciado em séries
Mikael Melo, jornalista, produtor de Jornalismo na NDTV Record.
Rafael Mattos, estudante de Jornalismo, administrador do grupo Crônicas de Séries.
Rafaela Fagundes, sommelier de séries.
Régis Regi, bacharel em Cinema, roteirista.
Renan Santos, formado em Cinema, crítico e newsposter no site Cine Eterno.
Rodrigo Ramos, jornalista, repórter/assessor de comunicação na Prefeitura de Navegantes, editor do site Previamente, foi programador de cinema na Cineramabc Arthouse.
Tammy Spinosa, host e editora do SeriousCast e quase geógrafa.
Thiago Silva, host e editor do SeriousCast e amante da TV.
Valeska Uchôa, cientista da computação, ex-colaboradora do Série Maníacos e do falecido Lizt Blog.
Zé Guilherme, farmacêutico, mestre em Ciências Fisiológicas, já colaborou nos sites LoGGado e Cine Alerta.

Textos por Carissa Vieira, Diego Quaglia, Luiza Conde, Mariana Ramos, Renan Santos & Rodrigo Ramos

Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos

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