Melhores Séries da Temporada 2019/2020

Watchmen, BoJack Horseman, Succession, Schitt’s Creek e Better Call Saul estão entre os destaques da TV nos últimos 12 meses.

Há 10 anos, o Previamente faz a maior e mais completa lista do mundo das séries. Não há nenhum meio de comunicação no Brasil atualmente que faça o que nós fazemos. Temos muito orgulho disso. São dois meses de um trabalho intenso e colaborativo para fazer o recorte mais preciso possível do que houve de melhor na TV no último ano. Anualmente, são mais de 500 séries roteirizadas produzidas e é necessário não apenas ser um profissional dedicado, mas ser um apaixonado pela arte televisiva para conseguir manter-se atualizado e poder participar de um listão como este.

Durante a temporada 2019/2020, vimos as séries limitadas/minisséries ocupando um espaço ainda maior na TV, os dramas regulares ressurgiram com uma força que não tinham há algum tempo, enquanto as comédias não registraram nenhum fenômeno grandioso como Fleabag, mas ainda assim entregaram trabalhos preciosos.

Para selecionar os destaques da temporada, montamos um júri com 21 pessoas entre profissionais da área, jornalistas, críticos, estudantes e aficionados por séries. A seleção foi realizada utilizando os mesmos critérios do Emmy Awards: entram as obras que foram exibidas em sua totalidade ou mais de 50% de sua temporada entre 1º de junho de 2019 até 31 de maio de 2020. Além disso, pelo quinto ano, os internautas (mais especificamente, o grupo Crônicas de Séries, no Facebook, que possui mais de 3,2 mil membros) puderam eleger suas séries de comédia e drama favoritas.

Para facilitar a sua leitura, também separamos as categorias individualmente — você pode lê-las clicando nas imagens correspondentes abaixo. Ou pode conferir o post completo, após as imagens, seguindo o texto nesta página.

 

Confira abaixo a lista completa com os melhores episódios, atrizes, atores e séries da TV na temporada 2019/2020.

MELHORES ATORES COADJUVANTES

Tony Shalhoub (The Marvelous Mrs. Maisel)

Poucas pessoas surtam tão hilariamente quanto Tony Shalhoub. Abe parece estar sempre no limite de sair do seu status quo, até porque nesta terceira temporada ele está desempregado, perdeu sua casa e teve de passar a viver com os ex-sogros da filha. Com isso, ele busca algum novo sentido para viver. Arrumar sua vida naturalmente não é tarefa tão fácil e tampouco ele passa por essa transição de maneira sutil. Os novos desafios do personagem fazem com que Shalhoub consiga trabalhar dentro de um cenário de adversidade e, para o choque de ninguém, ele não desaponta e entrega mais uma performance no ponto. Poucos possuem um timing cômico tão preciso quanto o de Shalhoub, da mesma forma como poucos conseguem dar conta de um roteiro tão cheio de diálogos e tiradas como é o de Amy Sherman-Palladino. Mais neurótico do que antes e melhor do que nunca, Shalhoub é um dos principais motivos de The Marvelous Mrs. Maisel continuar funcionando tão bem. — Rodrigo Ramos

Tom Pelphrey (Ozark)

Quem diria que um ator semidesconhecido seria capaz de se tornar um dos motivos para a crescida de qualidade que Ozark obteve na sua terceira temporada? Depois de um péssimo papel como vilão em outra série da Netflix, a horrível Punho de Ferro, Tom recebe a sua chance de brilhar como Ben, o irmão da protagonista Wendy (Laura Linney), e não a desperdiça. O transtorno bipolar do seu personagem faz com que Pelphrey percorra as mais diversas camadas emocionais que o personagem passa, seja em seus surtos ou então nos momentos doces e de preocupação que compartilha com sua irmã, seus sobrinhos e Rue (Julia Garner). Tudo na caracterização de Tom é intenso, bem pensando, transborda emoção e reação tanto em fracassar em lidar com a sua doença quanto em ser obrigado a se envolver com um lado criminoso de seus familiares e agregados, do qual ele desaprova mais e mais conforme a trama se desenvolve. O conflito entre sua doença mental e ser a bussola moral rende momentos perfeitos: como no surto na escola, a invasão da casa de Helen (Janet McTeer) e as cenas finais com Wendy. Elas vão do arrebatador, ao assustador e para o comovente, mostrando um personagem cheio de camadas, numa jornada de desespero, que agrega muita humanidade para uma série em crescimento. — Diego Quaglia

Mahershala Ali (Ramy)

É curioso pensar num ator duas vezes ganhador do Oscar como Mahershala Ali numa série tão minimalista, desconhecida e relativamente pequena quanto Ramy. Sendo a principal adição da série em sua segunda temporada, Mahershala interpreta o sheik Ali Malik, líder religioso que começa a se envolver na vida do protagonista. Mahershala interpreta o personagem com o mesmo cuidado e inteligência colocado em todas as produções em que passa. Percebendo muito bem como explorar a engraçada dinâmica desenvolvida com Ramy (Ramy Youssef), o ator usa a sua persona tranquila e magnética para construir todo o poder que o sheik emana em sua sabedoria e perspicácia, o que faz seus surpreendentes momentos de humor serem ainda mais fortes. A construção enigmática e fascinante do sheik fica ainda mais interessante em seus pequenos detalhes, e isso se dá especialmente porque é construído e interpretado por um grande ator do tamanho de Mahershala. — Diego Quaglia

Tony Dalton (Better Call Saul)

O Lalo Salamanca de Tony Dalton era apenas uma ameaça numa trama paralela à principal em Better Call Saul. Entretanto, nesta quinta temporada, é um dos responsáveis pela mescla dos diferentes caminhos que a série, até então, vinha percorrendo sem que eles exatamente se cruzassem. Enquanto poderia ser simplesmente um vilão maniqueísta numa série que vive de anti-heróis, Tony Dalton consegue dar ao seu personagem uma faceta que torna todas as situações um tanto quanto cômicas. Lalo é um personagem extremamente inteligente e perspicaz, mas é a maneira como Dalton demonstra isso que torna tão delicioso acompanhar o personagem nesta temporada.

O ator consegue fazer seu personagem trespassar uma aura de ameaça que é responsável por alguns dos principais momentos de tensão nesta quinta temporada. Simultaneamente, porém, consegue nesses mesmos momentos, com uma certa naturalidade, converter isso em um sorriso e uma postura de expressão que esbanjam um cinismo e sarcasmo inerentes ao personagem, que casam com toda sua caracterização e, por incrível que pareça, o tornam ainda mais ameaçador. É uma confiança que ele assim esbraveja e que definitivamente torna Lalo Salamanca na personificação perfeita de chaotic evil. Tony Dalton já estaria entre os melhores atores do ano apenas por um pulo/salto nesta temporada de Better Call Saul. Felizmente, há muito mais do ator que apenas isso, entregando um dos vilões mais divertidos de se acompanhar no universo da série e desta temporada da televisão. — Renan Santos

Jeremy Irons (Watchmen)

Jeremy Irons como Ozymandias/Adrian Veidit é um desses casos de casting perfeito. Quem melhor do que o ator que eternizou tipos cínicos, ambíguos, arrogantes e anormais entre os anos 80 e 90 para interpretar o personagem já envelhecido nesta adaptação? Ao cair de cabeça em todo o complexo de Deus ególatra de Ozymandias, Irons brilha intensamente entregando esse magnetismo esquisito que eternizou sua carreira. A presença de Irons é direcionada e dirigida de maneira muito inteligente, fazendo com que sua atuação carregue sua trama por um bom tempo como um verdadeiro “show de um homem só”. O exagero consciente e intencional que ele coloca em Adrian oferece o impacto que deve e que se contrasta muito bem com a maneira como ele se joga dentro do retrato da outra essência que habita o seu personagem: sua necessidade e prazer em se ver como uma espécie de salvador. E de forma também fantástica ele consegue percorrer um sentimento de desespero, de decepção, unindo uma interpretação que entende a complexidade do seu personagem e ainda é extremamente divertida, constantemente demonstrando esse sentimento como se Adrian visse a vida como um grande jogo e estivesse sempre esperando pela próxima rodada, entusiasmado, brincando com a realidade como se ela fosse o seu cercadinho pessoal, sem se importar com as consequências disso. — Diego Quaglia

Delroy Lindo (The Good Fight)

Que Delroy Lindo é um baita ator, isso não é novidade. Uma pena, no entanto, que poucos papéis façam jus ao seu talento tenham lhe sido oferecidos ao longo da carreira, sendo as principais parcerias com Spike Lee. The Good Fight permitiu que Lindo voltasse a ser relevante e com um papel que constantemente o tira da zona de conforto. Nesta quarta temporada, seu Adrian Boseman se vê numa situação de ter de lidar com os novos sócios (o escritório foi absorvido por outro, composto majoritariamente por pessoas brancas), o partido Democrata, ser chamado ao RH por ter usado “the N word”, se ver retratado de forma satírica em uma peça e ter de defender uma cliente negra enquanto ataca uma mulher transsexual. Adrian costuma ver a ironia das coisas e definitivamente sabe usar o privilégio de ter o poder nas mãos. Mesmo que lute contra o racismo no dia a dia, ser um homem negro não o exume também de ter preconceitos dentro de si, como é notório no episódio “The Gang Offends Everyone”, quando ele não entende que atacar diretamente uma mulher trans pelo próprio fato de ser transsexual é transfobia. Lindo traz complexidade para o personagem e não há como ver qualquer outra pessoa dando o peso que Adrian possui da mesma forma que o ator adiciona aqui. Expressivo, de uma tremenda presença e dono de um ar irônico, Lindo entrega mais uma atuação primorosa. — Rodrigo Ramos

Matthew Macfadyen (Succession)

Matthew Macfadyen é um rosto conhecido por muitos, ainda as pessoas não relacionem o rosto ao nome. O ator britânico que interpreta o Mr. Darcy no filme Orgulho & Preconceito, de 2005, também participou de filmes como Anna Karenina e de minisséries como The Pillars of the Earth e Howards End. Em Succession, Matthew interpreta Tom Wambsgans, o marido oportunista de Shiv Roy que também quer uma fatia do maior conglomerado de mídia do planeta que está sob o domínio da família Roy.

O crescimento do personagem é visível e muito bem vindo nesta segunda temporada. No primeiro ano da série, Tom é basicamente um acessório para a história de Shiv e dos Roy, e era usado mais como alívio cômico. Já no segundo, ele continua servindo este papel, mas passa a ser integrado à narrativa principal de forma essencial ao arco central da temporada. Mesmo que o público continue a rir dele, talvez até mais do que antes, também nos é mostrado momentos mais sóbrios e sérios, o que é bastante inesperado de um personagem que um dos seus momentos de maior destaque na primeira temporada foi engolir o próprio esperma. Desta vez, Tom alcança a façanha de fazer o público sentir uma ponta de compaixão por ele. No finale da temporada, de forma que está além da minha compreensão (já que é algo bastante destoante do tom que a série havia mostrado até então), é Tom que consegue extrair da série o único momento de ternura em meio a tanta podridão dos Roy e seus planos de continuar no poder até aqui.

Macfadyen faz um trabalho excepcional em mostrar várias camadas de Tom. Ele muda de malvado, pra covarde, pra compreensivo e gentil de forma ágil e sutil. O personagem realmente é todas essas coisas de modo bastante convincente. Tom é o personagem de Succession que demonstra um maior leque de emoções, principalmente na segunda temporada, ao ponto de que o ator consegue com sucesso se destacar em um elenco de alto nível sem dever nada a ninguém. — Régis Regi

Kieran Culkin (Sucession)

É tão óbvio o quanto Kieran Culkin parece adorar cada minuto que passa na pele de Roman Roy. Trata-se de um papel muito divertido de se fazer e consumir: uma pessoa terrível cuja consciência não sofre em nada por ser assim. É libertador. Na segunda temporada de Succession, Roman começa lidando com os efeitos do desastroso lançamento do foguete pelo qual estava responsável. Mas nem isso, uma derrota gigantesca numa arena pública, consegue lhe afetar tanto quanto uma simples palavra de seu pai. Ele segue seu caminho como o filho problema que ninguém coloca muita fé, em sua eterna briga de egos com Kendall, tentando a todos os custos agradar e impressionar Logan e, invariavelmente, falhando, e sendo ainda mais humilhado. Em “D.C.”, penúltimo episódio da temporada, Culkin brilha ao se ver em meio à uma situação de sequestro no oriente médio. Com seu jeito debochado e sua acidez típicas, fica claro que, pela primeira vez na vida, Roman realmente tem algo a temer, suas ações podem ter consequências reais e sua vida está na linha. É incrível ver sua virada no episódio final da temporada, quando, após o trauma, ele parece de alguma forma transformado. Ainda o mesmo Roman, com seu senso de humor e piadinhas rápidas, mas um olhar meio perdido e a vontade de fazer algo certo e realmente dar sua opinião, pela primeira vez. A performance de Culkin nos faz adorar esse homem imaturo e inconsequente, seu jeito aparentemente despreocupado e imprudente, e todas as coisas extremamente ultrajantes e sujas que ele diz, mas que, ao mesmo tempo, escondem um jovem adulto com uma autoestima baixa e autoconsciente de sua pouca importância no grande esquema das coisas. Roman é um dos elementos mais consistentemente divertidos de Succession, e isso não é pouca coisa, em uma série desse calibre. — Mariana Ramos

Menções honrosas: Tim Blake Nelson (Watchmen), Jonathan Banks (Better Call Saul), Mandy Patinkin (Homeland), Josh O’Connor (The Crown), William Jackson Harper (The Good Place).

MELHORES ATRIZES COADJUVANTES

Audra McDonald (The Good Fight)

Vinda do teatro, Audra McDonald é uma atriz completa. Já ganhou Emmy, Tony e Grammy! O convite para participar de The Good Fight a partir de sua segunda temporada foi um acerto e tanto do casal King (produtores executivos e principais roteiristas da série). Audra é mais do que capaz de encarar as nuances de sua personagem em meio a um elenco tão complexo e coeso. No ano atual da série, Audra brilha em uma trama própria de sua personagem, como também traz gravidade em plots paralelos, como no episódio “The Gang Offends Everyone”. Tudo sem perder o timing cômico do texto dos King. — Breno Costa

Toni Collette (Unbelievable)

É sempre uma delícia poder assistir Toni Collette. Como a detetive Grace Rasmussen, Toni traz um novo ritmo para Unbelievable. Desde sua apresentação, apenas ao fim do segundo episódio, é claro que ela está ali para mudar a dinâmica da investigação e da narrativa. Em suas cenas com Merritt Wever, ela forma um par perfeito, uma relação desconfortável entre duas mulheres muito diferentes na superfície, mas que, no fundo, compartilham de uma mesma missão e determinação. É elétrico vê-las juntas. Collette se destaca por conseguir transmitir o comprometimento da personagem apesar de seu estilo mais desafetado: ela tem seu próprio jeito de fazer as coisas, dita suas próprias regras. Mas, apesar de não ter o mesmo jeito mais cuidadoso e agradável da parceira, é claro o respeito que ela tem pelas vítimas que atende, e como consegue comandar atenção e respeito através dos menores gestos. É um papel delicioso e complexo que só uma atriz do calibre de Collette consegue preencher de modo a criar algo único e memorável. — Mariana Ramos

Alex Borstein (The Marvelous Mrs. Maisel)

Alex Borstein interpreta a empresária de Mrs. Maisel e na terceira temporada está dividida entre acompanhar a protagonista na antecipada turnê com o famoso cantor Shy Baldwin e sua mais nova cliente, a renomada comediante Sophie Lennon (Jane Lynch). Dar conta de entregar o texto surrealmente ágil da Amy Sherman-Palladino já é um talento por si só. Além disso, a atriz é dona de um timing cômico incrível e já era conhecida por dar voz à Lois Griffin de Family Guy. Mas é seguro dizer que Susie Myerson é cada vez mais uma personagem marcante em sua carreira.

Novamente, vemos Alex dar vida à personalidade sarcástica, rude e sem paciência de Susie. Com um resultado um tanto quanto inferior às temporadas anteriores, muito do mérito deste terceiro ano de The Marvelous Mrs. Maisel é da personagem de Borstein. A decisão de colocá-la para contracenar mais com Jane Lynch foi acertadíssima. Alex entrega uma performance que não deixa a desejar e não é à toa que ganhou por dois anos consecutivos o Emmy de atriz coadjuvante em comédia e, caso ganhe novamente esse ano, não nos surpreenderá. — Valeska Uchôa

Uzo Aduba (Mrs. America)

É muito bom ver Uzo Aduba sendo chamada para trabalhos após Orange is the New Black, ainda mais para um papel que rompe o perfil da personagem que a levou ao reconhecimento. Em Mrs. America, ela interpreta Shirley Chisholm, a primeira mulher negra a ser eleita para o Congresso norte-americano, a primeira mulher negra a concorrer à presidência e a primeira mulher a fazê-lo pelo Partido Democrata. Apesar de ser uma personagem que tem destaque significativo apenas no episódio destinado a ela, Uzo carrega consigo um carisma que a faz brilhar em toda cena que aparece, por menor que seja. O trabalho de construção da personagem, incluindo os trejeitos e modo de falar, é impecável e pode ser confirmado pelas imagens de arquivo que aparecem dentro da própria série. Mais importante que isso, Uzo dá um coração que bate forte para a personagem e permite que o espectador se conecte com as dores e fraquezas dela, se emocione com a força com que Shirley enfrentou os desafios e admire seus ideais políticos, cujas propostas ainda ressoam nos debates contemporâneos. — Rafael Bürger

Sarah Paulson (Mrs. America)

Sarah Paulson acumula uma carreira grandiosa na TV: começando em séries como Jack & Jill, Cupid, indo para a produção de Aaron Sorkin, Studio 60 on the Sunset Strip, o telefilme Game Change e ganhando reconhecimento em produções de Ryan Murphy como American Horror Story e The People v. O. J. Simpson, e mais recentemente encontra-se na minissérie Mrs. America. A atriz interpreta Alice, melhor amiga da protagonista Phyllis Schlafly (Cate Blanchett), que segue cegamente a protagonista em seus delírios conservadores e antifeministas. Personagem ficcional para ilustrar uma gama de seguidoras de Phyllis, Alice vai sofrendo uma jornada bastante surpreendente conforme a série vai a desenvolvendo. Sua personagem vai crescendo mais e mais passando por um momento de empatia e desconstrução visto de maneira bem inesperada e humana no episódio “Houston”, o que acaba levando a um final decisivo para a forma como a sua personagem vê a vida e a sua relação com a protagonista. Na minissérie, Paulson mostra mais uma vez que talento é o que não lhe falta, provando ser capaz de emocionar até mesmo declamando uma receita — Diego Quaglia

Sarah Snook (Succession)

Confesso que antes de Succession não conhecia nenhum trabalho anterior de Sarah Snook. À primeira vista, pelo menos pra mim, ela era uma atriz “nova” no meio de atores muito bons que eu já tinha acompanhado em outras obras. Contudo, a força da atuação de Snook, ao mesmo tempo tão simples e potente, logo chamou minha atenção. E na segunda temporada da série, a performance de Snook cresce junto com a importância de sua personagem na trama principal da série. Snook é tão boa que consegue manter o nível de atuação de igual para igual com Brian Cox, seu pai na série. Com certeza, a atriz merece figurar entre as melhores atuações do ano, pelo conjunto da obra e pela famosa cena do jantar no meio da temporada. — Breno Costa

Jean Smart (Watchmen)

A Laurie Blake/Juspeczyk, a antiga segunda Espectral, transpira cansaço e um cinismo seco pelo seu passado. A ganhadora do Emmy Jean Smart percebe e exerce esse cinismo com brilhantismo a série toda, à medida que vai transmitindo como todos os anos que teve de lidar com o absurdo do mundo de super-heróis afetou a própria personagem. E também consegue ser perfeita em momentos solitários em sua vida privada ao mostrar como as feridas do passado ainda a afetam, de forma bem melancólica. É impressionante como Smart tem pleno domínio de uma personagem bastante realista dentro de uma temática de fantasia, desconstruindo arquétipos e caricaturas para oferecer o retrato de uma mulher totalmente palpável e fascinante, encontrando o espírito mais sincero e puro presente na obra de Alan Moore. — Diego Quaglia

Rhea Seehorn (Better Call Saul)

O questionamento “o que teria acontecido a Kim Wexler?” de outras temporadas, aos poucos, deu lugar a “quem é Kim Wexler?” neste penúltimo ano de Better Call Saul. Enquanto dávamos atenção ao processo de transformação de Jimmy McGill em Saul Goodman, a personagem a seu lado passava por seu próprio processo. Subestimada por muitos, mas sempre uma força incontestável, Kim Wexler é a grande personagem desta quinta temporada da série, muito por conta de sua intérprete. Elogiar Rhea Seehorn é chover no molhado, porque por mais que o roteiro faça algo com a personagem, é a atriz que, ano após ano, a leva até onde é necessário, muitas vezes de maneira sutil. Afinal, sua Kim Wexler é cirúrgica, precisa, fatal, não brinca em serviço. E, por mais que se incomodasse com algumas atitudes de Jimmy, ela sempre fez parte de alguns dos planos mais meticulosos dele até aqui, e é a traição dessa confiança que traz à tona uma frustração: ela quer fazer parte dessa faceta de Jimmy que nós já conhecíamos. Não na sua forma caricata, mas na execução de planos que parecem impossíveis, mas cujo desafio mostra o talento dos dois e porque são tão bons juntos. A certeza disso vem em dois grandes momentos da temporada. O primeiro quando Kim é “avisada” sobre Jimmy por Howard e explode em risadas; o segundo é na inversão de papéis em um paralelo do fim desta temporada com a anterior. A pose de Saul Goodman e um sorriso que até podíamos considerar desconhecido, não tivesse aparecido mais cedo na temporada quando Kim descobre o podre sobre o passado da Mesa Verde. Rhea Seehorn, com toda a sutileza da que dispõe para desenvolver sua personagem, já nos tinha dado um vislumbre da verdadeira Kim Wexler. Preocupar-se com o destino/futuro da personagem é agora, também, se perguntar: Quem é Kim Wexler? — Renan Santos

Menções honrosas: Hiam Abbass (Ramy), Emily Meade (The Deuce), Helena Bonham Carter (The Crown), Margo Martindale (Mrs. America), J. Smith-Cameron (Succession).

MELHORES ATORES

Mark Ruffallo (I Know This Much Is True)

Me incomoda a obsessão de I Know This Much Is True a partir de dado momento, com o mistério da paternidade dos protagonistas da série, e é chocante o quão equivocada é a realidade quando nos revelada, porque tira muito de um personagem que tanto nos oferece em um trabalho simplesmente extraordinário de Mark Ruffalo. Primeiro, na forma de Dominick Birdsey, vivendo praticamente em sua versão do mito de Sísifo. É quase inacreditável como a tragédia assombra a vida de Dominick, mas é a maneira como Ruffalo representa a crise que vive esse homem de meia idade que faz o todo convincente. O sofrimento é sua normalidade, e o conformismo só não vem pelo desafio que ele aceitou enfrentar. A naturalidade da atuação, mesmo dentro de uma narrativa um tanto melodramática, é marca registrada das obras de Derek Cianfrance, e Mark Ruffalo é mais um a colher frutos em parceria com o realizador. Existe uma certa maturidade constituída por Ruffalo no personagem, que trespassa o desgaste de uma batalha, de um rolar de rocha morro acima só para que, no dia seguinte, tenha toda a subida de novo pela frente.

Entendo perfeitamente quem disser não gostar do trabalho do ator aqui, mas a verdade é que sintetizar em suas expressões o cansaço, o abatimento da vida sobre seu personagem, é algo que chega a ser assombroso em determinadas cenas. O contrário acontece também, quando em poucos casos o personagem, através de Ruffalo, se ilumina. Sempre acontece quando vê o amor de sua vida — clichê e meloso, como Derek Cianfrance gosta, mas sincero em Ruffalo. Por vezes acontece quando ele encontra algum momento de paz em seu irmão, Thomas Birdsey. Aí nos lembramos que em nenhum momento dos gêmeos juntos existe mais de um ator em cena, pois é Mark Ruffalo quem interpreta ambos. Assim, o inacreditável se torna o fato de estas não serem duas pessoas diferentes, pois Ruffalo assume uma forma completamente adversa ao entrar na persona de Thomas, e é inquietante vê-lo em um constante conflito com si próprio e com todos ao seu redor; acuado, confuso, flagelado. É impressionante a diferença e a entrega a ambos os personagens. Ainda mais como estes irmãos, como as duas personas vividas por Ruffalo, encontram paz um no outro sem, em nenhum momento, sequer coexistirem de verdade. Uma conexão que atormenta a um, pelo sentimento de culpa e responsabilidade, mas salva a outro, até onde é possível. Os condena, porém, a uma existência melancólica, e Mark Ruffalo sintetiza isso numa das atuações mais memoráveis do ano. — Renan Santos

Ted Danson (The Good Place)

Com uma carreira tão longa, diversificada e premiada, Ted Danson não tem nada a provar pra ninguém. The Good Place havia lhe dado novas dimensões para interpretar, contudo a temporada final da série definitivamente o põe em outro patamar, provando o quanto a comédia depende do seu desempenho em cena. Mesmo quando a narrativa falha, Danson está lá, presente de fato, honrando seu papel e segurando as pontas. Há gentileza na interpretação de Danson, de uma forma que torna Michael, o demônio, não apenas humano, mas o alicerce, a fundação da série. No finale (excelente, por sinal), Danson entrega uma performance não somente convincente, mas profunda, expressando emoções que se tornam palpáveis. Entre o lado cômico e o aspecto emocional, o ator vai além do que se espera de uma mera comédia. Arranca risadas, sim, mas também aquece os corações dos espectadores. — Rodrigo Ramos

Billy Porter (Pose)

O despertar de Pray Tell para o ativismo é um dos processos mais tocantes da segunda temporada de Pose. No primeiro episódio da leva, “Acting Up”, observamos enquanto a frustração e a tragédia pela qual o personagem passou no primeiro ano se transformam em revolta, e fome por transformação. No papel, Billy Porter acerta em cheio ao mostrar o local machucado do qual vem esse ímpeto — como alguém que viveu a mesma época que a série retrata, ele entende e comunica de forma profunda o quanto o fogo ativista vem não só de uma necessidade social, mas de uma necessidade pessoal.

Esses indivíduos precisam que as coisas mudem, porque estão sendo quebrados pela forma como as coisas são. Nos olhos de Porter, Pose encontra o melhor e mais direto argumento neste sentido, e esse processo ecoa por toda a temporada, com o ator encontrando novas modulações para a personalidade indefectível que construiu para Pray no primeiro ano. Através de tramas românticas e conflitos entre amigos, ele nunca perde a linha narrativa na qual o personagem foi colocado, se mostrando uma das rochas de coerência nas quais a série pode se apoiar quando ameaça se deixar levar por caprichos superficiais. — Caio Coletti

Will Arnett (BoJack Horseman)

Ao longo de seis temporadas, Will Arnett teve o seu maior desafio como dublador ao conseguir dar personalidade e profundidade a um cavalo humanoide. Por mais que as atitudes de seu personagem sejam altamente questionáveis (e condenáveis), Arnett sempre interpretou BoJack com muita honestidade, trazendo à tona as emoções mais complicadas de se emular. Mesmo com ações deploráveis, é difícil não compadecer das dores do personagem, dos seus traumas — afinal, parte de ser quem é vem do ambiente familiar e da própria indústria hollywoodiana. A interpretação de Arnett é cuidadosa, mas não manipulativa a ponto de lhe fazer torcer para que ele saia impune, e sim o bastante para que o espectador sinta empatia por sua figura. Além de todo lado dramático, Arnett consegue arrancar sorrisos a partir do sarcasmo do personagem assim como gargalhadas em outros momentos de pura comédia que a série entrega. É uma performance minuciosa e completa. Nestas seis temporadas de BoJack Horseman, não houve tarefa que Arnett não conseguisse executar. Entre os homens difíceis da TV, talvez Arnett tenha um lugar especial ao lado de grandes performances como as de Bryan Cranston, Jon Hamm e James Gandolfini. — Rodrigo Ramos

Paul Mescal (Normal People)

Neste que é praticamente seu primeiro papel no audiovisual, Paul Mescal impressiona pela sinceridade e vulnerabilidade de sua performance. Em suas mãos, e corpo, Connell ganha uma vida emocional singular, trazendo simpatia para um personagem que, feito por qualquer outra pessoa, poderia perder qualquer traço de identificação com o público por suas ações. A entrega do ator é essencial para traduzir as dores e dificuldades de comunicação que perseguem Connell: seus gestos, mãos, rosto, postura, juntos criam um discurso paralelo que faz transparecer a perturbação interna do personagem. Muitas vezes rígido, sem muito tato social, Connell pouco fala, ao menos com outras pessoas que não Marianne (com quem os poucos momentos de troca são um claro oásis), e quando o faz, conseguimos perceber o quão difícil é para ele articular verbalmente seus pensamentos e sentimentos, que saem, na maioria das vezes, entrecortados, como pequenas explosões. Suas escolhas em cena e seu domínio de uma técnica de atuação que prima pela corporalidade são fascinantes. Mal posso esperar para ver seus próximos trabalhos. — Mariana Ramos

Jeremy Strong (Succession)

Succession é um dos atuais hits da HBO e um fator que contribui para isso é a complexidade dos personagens e a competências dos atores em dar vida a eles. Jeremy Strong vive Kendall Roy, o filho que mais demonstra interesse em ser o próximo na sucessão e sonha desde o início da série em assumir o lugar do pai. Além disso, é o membro da família Roy que mais possui algum resquício de humanidade. O Kendall que encontramos no início da temporada está assustado, acuado e abatido. Ele vem de um evento conturbado em que passou por maus bocados e por isso se encontra em um estado vulnerável perfeito para que o pai se aproveite da situação. O caminho que Kendall percorre nesse segundo ano da série fica bem definido quando fazemos um paralelo entre suas duas declarações para a imprensa no primeiro e o no último episódios da temporada. Enquanto no primeiro, Kendall é obrigado a largar a reabilitação para passar uma mensagem tranquilizadora de que tudo estava bem entre ele e Logan, no último o vemos contrariar as ordens do pai, agir por conta própria e não assumir a posição de bode expiatório em meio ao escândalo na empresa.

Kendall passeia por uma enorme gama de emoções e estados e Jeremy Strong entrega todos eles com maestria. O ator nos presenteia com todas as camadas que o personagem possui. Desde o playboy que lida com as frustrações se entregando ao vício em substâncias químicas, passando pela pessoa vulnerável arrependida das consequências de péssimas decisões que tomou e chegando no executivo capaz de jogar o próprio pai aos urubus, demonstrando ter a habilidade que Logan tanto reclamava que ele não tinha, o instinto matador. E em meio a tantos talentos, não posso deixar de citar que Strong foi responsável por uma das melhores cenas cômicas da temporada, no auge do seus daddy issues, ao interpretar uma das melhores performances de rap branco da TV com a icônica “L to the OG”. Mal podemos esperar para acompanhar o desenrolar da sua última empreitada. — Valeska Uchôa

Bob Odenkirk (Better Call Saul)

Com Saul Goodman finalmente fora da caixa, Bob Odenkirk ganha mais oportunidades para mostrar o seu lado cômico e nos lembrar o quão divertida é sua interpretação. Afinal, o ator vem da comédia e é ali que ele, em tese, se sente mais confortável. Parece fácil. E, realmente, ele fornece diversão a beça nessa quinta temporada. Ao menos, até certo ponto. Mas Saul Goodman também traz as consequências de ser um advogado amigo do cartel. O personagem chega em um estágio o qual não há mais como voltar atrás. E esse impedimento fica bastante claro na performance de Odenkirk, que expressa com louvor a quebra de todo e qualquer nível de ética e moralidade que ainda habitava nele. Saul sempre fez seus trambiques, mas nunca fez mal a outra pessoa de fato. Aqui, ele chega ao corrompimento total, estando em uma posição de ter de defender um homem que ele sabe que cometeu um assassinato e vê-lo livre, enquanto simultaneamente se depara com a família da vítima sofrendo pela perda e a injustiça. Na cena em questão, você percebe algo morrendo dentro do seu eu verdadeiro, de Jimmy. Mais tarde na temporada, depois de participar de uma situação de quase-morte e passar dois dias e uma noite no deserto, tendo até de beber a própria urina, Odenkirk extrapola o que achávamos que ele era capaz de entregar como um ator. Jimmy é tomado pelo trauma e pelo medo, ficando visivelmente abalado e vivenciando uma espécie de estresse pós-traumático. São tantas camadas e nuances na performance de Odenkirk neste quinto ano que não dá para resumi-lo de outra maneira que não seja essa: gênio. — Rodrigo Ramos

Brian Cox (Succession)

“Family, Shioban! If you don’t understand that, then fuck off!”. Poucas coisas foram tão eficientes em nos entreter do que assistir Logan Roy perseguir e aterrorizar seus familiares e subordinados nesta temporada de Succession. E nada melhor, mais vibrante e, também, metalinguístico que um ator shakespeariano para dar vida a um personagem com tantas características do mais famoso escritor inglês.

Dono de uma presença titânica em tela, Brian Cox, 74 anos, com uma carreira que percorre mais de cinco décadas no teatro, cinema e TV, nos assombra e fascina ao tornar Logan Roy um dos personagens da televisão mais memoráveis dos últimos anos. Dando vida ao magnata das comunicações, Cox nos presenteia com uma interpretação corrosiva e brutal de um homem que abusa do poder que tem sobre a empresa e os filhos. Assim, distanciando-se do padrão que há tempos habita as produções dramáticas televisivas, o homem branco anti-herói, Logan Roy carrega características vilanescas, mas que apoiadas na maestria do trabalho de Cox, não se perdem em maniqueísmos. São as nuances do intérprete que permitem o espectador amar e odiar Logan.

Numa das sequências mais aterrorizantes da temporada, Brian Cox nos conduz pelo jogo de seu personagem, o “boar on the floor”, entregando um Logan Roy que é vingativo, assustador, violento e até mesmo paranoico. No entanto, o ator não brilha apenas em suas cenas de explosão, mas também nos momentos de sutileza, nas conversas do personagem com seus filhos, e, também, na cena de encerramento da temporada: o sorriso pretensioso, um misto de surpresa e orgulho. Com intensidade severa e capacidade de ir do grandioso ao íntimo que o ator mostra todo seu talento ao construir seu personagem. É por esse trabalho genial que, Brian Cox, you are our number one boy. — Geovana Rodrigues

Menções honrosas: Ramy Youssef (Ramy), Rami Malek (Mr. Robot), Eugene Levy (Schitt’s Creek), Sterling K. Brown (This is Us), Rufus Sewell (The Man in the High Castle).

MELHORES ATRIZES

Gaia Girace (My Brilliant Friend)

Na primeira temporada de My Brilliant Friend, Lila Cerullo era uma personagem fascinante por tudo o que percebia, e tudo o que escondia. Sua ambição única se manifestava em momentos raros, enterrados pela miserável monotonia do bairro onde ela e a melhor amiga Lenù passaram a infância e adolescência. Sabíamos o que ela queria mudar, mas só entendíamos o “como” pela metade — tal qual qualquer plano de adolescente, a libertação de Lila era só um sonho mal-(in)formado.

No segundo ano de My Brilliant Friend, Lila Cerullo não é mais Lila Cerullo — é Lila Carracci. A potência da performance de Gaia Girace, toda olhares escusos e intensos, explode em proporções atômicas enquanto a Lila adolescente se confronta com o mundo adulto e as desilusões que ele traz, o caminho árduo que ele propõe, as corrupções que ele mostra. A jovem atriz traduz essa fragmentação fundamental na identidade de sua personagem com entrega e finesse, se desdobrando em emoções e realizações intelectuais gigantes que, para o choque do próprio espectador, não acontecem mais por trás de fachadas e ofuscações, mas diante dos nossos olhos. — Caio Coletti

Catherine O’Hara (Schitt’s Creek)

Schitt’s Creek é uma série como poucas outras. Ela consegue a proeza de fazer todos seus protagonistas brilharem de forma igualitária — ou quase, pois Moira Rose é indiscutivelmente uma das maiores ladras de cena que já vi na minha não tão curta vida de seriador. Catherine O’Hara não é nenhuma novata na televisão nem no cinema, sendo creditada em mais de 100 produções, além de ter na estante um Emmy, além de outras seis indicações. A atriz canadense consegue com maestria dar profundidade e diversas camadas a uma personagem que poderia facilmente ser interpretada de forma unidimensional e sem originalidade. Não me entenda mal, Moira Rose é uma péssima pessoa, uma amiga completamente autocentrada, uma mãe relapsa e uma esposa extremamente egoísta, e é isso que faz Moira ser de fato Moira. Porém, contudo, entretanto, os pequenos (mas ao mesmo tempo grandiosos) momentos em que Moira decide mostrar algum tipo de humanidade e empatia (mesmo sendo coisas mínimas, como colocar a mão no ombro do filho enquanto ele estou ouvindo uma serenata de seu interesse amoroso), são, pra mim, os melhores momentos da série.

É admirável ver a dedicação e o comprometimento de Catherine O’Hara à personagem. Tudo isso é visível desde o sotaque irreconhecível que a atriz criou, ou na forma que ela pronuncia “bebe”, ou no extenso e complexo vocabulário de Moira Rose usado em conversas casuais como se nada fosse. Por isso acho extremamente razoável dizer que mesmo quando a qualidade de Schitt’s Creek está abaixo das expectativas (o que é normal para uma série que durou seis temporadas), uma coisa é certa: a atuação de O’Hara como Moira Rose (e suas perucas, NÃO PODEMOS ESQUECER DAS PERUCAS!!!!) é talvez a maior (e única) constante em excelência durante cada um dos 80 episódios que compõem a série. — Régis Regi

Olivia Colman (The Crown)

É uma verdade universalmente reconhecida que Olivia Colman é uma das melhores atrizes na produção televisiva contemporânea (recentemente também reconhecida por seu trabalho em produções cinematográficas). Havia muita expectativa quando ela foi anunciada para substituir Claire Foy, que havia interpretado brilhantemente a Rainha Elizabeth II nas duas primeiras temporadas da série. Olivia nos ofereceu sua própria versão da personagem, mais velha e madura, nas vésperas de completar seu jubileu de 25 anos de reinado. Ainda assim é possível sentir uma continuidade do trabalho de Foy: o contraste entre a vulnerabilidade na intimidade com a postura altiva e distante na vida pública ainda está lá, e naturalmente ganha contornos de ironia conforme a personagem debocha pontualmente de sua própria condição. Um dos momentos brilhantes de Olivia é com certeza o episódio “Aberfan”. A narrativa trata do terrível acidente que soterrou parte de uma vila galesa pelo deslizamento de uma montanha de rejeitos de mineração, e da impressão de um distanciamento e apatia da rainha em relação ao sofrimento da população, em consequência de sua incapacidade de visivelmente se emocionar e chorar. A atriz faz uso de sua incrível habilidade de transmitir uma gama complexa de emoções pelo olhar, e domina o episódio até o clímax, onde o espectador percebe uma lágrima iminente. — Rafael Bürger

Merritt Wever (Unbelievable)

Silenciosamente, Merritt Wever se tornou uma das melhores atrizes atualmente na TV. Com passagens por The Wire (!), The Good Wife, New Girl, The Walking Dead e papeis premiados em Godless e Nurse Jackie, ela vem demonstrando a elasticidade do seu talento, intercalando papeis dramáticos e cômicos — este lado, inclusive, destacado em Run, exibido em 2020 na HBO. Várias séries e dois Emmys depois, é em Unbelievable que Wever consegue seu primeiro papel de protagonista. Nesta oportunidade, a atriz dá vida a Karen Duvall, uma detetive encarregada de desvendar quem é o responsável por uma série de estupros. A temática é extremamente pesada, mas a minissérie não é leviana ao tratar a história real, assim como as interpretações são conduzidas com respeito e competência. Wever trata o papel de maneira sóbria, contida, que dificilmente sai do tom. Há raros momentos em que ela levanta a voz (como no vídeo em destaque), mas é resultado da indignação com a falta de comprometimento e seriedade com que seus colegas levam o trabalho. E ela dá o devido peso ao caso, o peso que ele merece. A interpretação de Wever não é daquelas chamativas, com gritos, cenas de choro — e não que esses tipos não funcionem em várias ocasiões. É na fala mansa, na linguagem corporal, nos olhares empáticos e no silêncio eloquente que a atriz se prova em cena. Aqui, menos é mais. E Wever sabe a dose exata que precisa entregar. — Rodrigo Ramos

Cate Blanchett (Mrs. America)

Nada melhor para uma atriz gigante como a duas vezes ganhadora do Oscar Cate Blanchett do que ter um papel como Phyllis Schlafy como porta de entrada no mundo das séries. Interpretando uma advogada e ativista conservadora e antifeminista da vida real que acaba sendo o ponto central e linha ancore da minissérie Mrs. America, Blanchett tem um dos momentos mais interessantes da sua carreira por conseguir lidar e dar camadas a um tipo que ela já tem plena experiência e ligação durante muito tempo. Sua interpretação vai a extremos em momentos muito expansivos e minimalistas. Esse estilo de vilania fina e sofisticada não é novo dentro do repertório de interpretações de Blanchett, mas a atriz consegue encontrar caminhos para impressionar nos seus momentos mais desprezíveis e equilibrar isso com um nível de empatia que deixa a sua personagem longe de uma caricatura. — Diego Quaglia

Daisy Edgar-Jones (Normal People)

Daisy Edgar-Jones é uma pérola sem defeitos. No papel de Marianne Sheridan ela entrega uma performance cheia de nuances, fincada numa fragilidade extremamente palpável. Marianne é uma jovem sem amigos e que sobrevive diariamente em uma situação familiar completamente abusiva e sem amor. Apesar disso, ou talvez por causa disso, ela se acostuma a construir para sua proteção uma fachada de ironia, não conformidade e independência. Daisy consegue dar forma aos seus conflitos mais intensos, nos cativando com a sensibilidade de uma jovem que se lança completamente a um amor que começa em segredo e que leva, diversas vezes, a completa entrega de seu ser em momentos de vulnerabilidade emocional extrema. É incrível sua capacidade de adentrar rapidamente em momentos profundos, como seu rosto se transforma, transmitindo as mais minuciosas variações em seus pensamentos e sentimentos. Marianne é, sem dúvida, o cerne emocional da série, uma personagem complexa, cercada por traumas e inseguranças entranhados em si de forma quase implacável e auto-destrutiva. Edgar-Jones realiza um trabalho magistral em traduzir sua jornada de uma forma realista e tocante, nos levando com ela de seus momentos mais obscuros à suas conquistas e amadurecimento, como se estivéssemos ali com ela, vivendo e partilhando de suas dificuldades em sobreviver em um mundo muitas vezes cruel e sem sentido. — Mariana Ramos

Christine Baranski (The Good Fight)

Com 11 anos interpretando Diane Lockhart, seria possível que Christine Baranski entregaria neste ano seu melhor desempenho no papel? Definitivamente, não se espera pouco de uma atriz do calibre de Baranski, mas ela surpreende positivamente aqui, com Diane tornando-se — ainda que por um episódio apenas — uma viajante no tempo numa realidade alternativa e, posteriormente, uma detetive tentando desvendar o grande mistério da temporada: Memo 618. Com o seu foco voltado para brigar contra o establishment, Baranski tem a oportunidade de utilizar seus dotes cômicos mais do que o normal em outras temporadas em meio aos absurdos no caminho, ao mesmo tempo em que explora outras vertentes de Diane, demonstrando a determinação de fazer justiça. O trabalho de Baranski é tão competente que cada vez que cita “Memo 618” sua fala tem um peso único e muda completamente a atmosfera do quadro. Baranski também ganha a chance de aos 68 anos interpretar uma personagem que apesar da idade mostra-se sexualmente ativa, capaz de esbanjar sensualidade e, mesmo vestindo uma roupa de dominatrix com um chapéu de caubói e uma espingarda em mãos, não parece ridícula. É o tipo de representatividade que não se vê com frequência, mas a série oferece e Baranski executa como a realeza que é. Mais de uma década se passou, e Baranski continua encontrando novas maneiras de tornar sua performance nesta personagem fresca, divertida e impactante. — Rodrigo Ramos

Regina King (Watchmen)

Watchmen oferece à Regina King a possibilidade de testar sua capacidade de expandir seu poderio cênico. Na pele de Angela Abar/Sister Night, ela interpreta uma personagem bastante complexa, algo que nem sempre é recorrente em filmes e seriados de super-heróis (há boas exceções, mas não é regra geral). King encontra-se em situações das mais diversas, encarando seu passado, as perdas pelo caminho, os próprios segredos e o fardo do racismo, impregnado na sociedade e em sua história. A atriz se vira muito bem nas cenas de ação, vestindo um dos modelos mais estonteantes do audiovisual de super-heróis e saindo por cima na hora de surrar supremacistas brancos. No modo luta, ela assume outra faceta, externalizando a ira que habita dentro de si e o senso de justiça. Mesmo com a máscara tampando boa parte de seu resto, é possível ver no olhar de King suas emoções, inclusive o deboche e o falso ar de surpresa.

Se vestindo seu uniforme King já convence, quando ela se despe sua performance permanece intacta, quiçá fica ainda melhor. Diante dos acontecimentos das tramas, sua performance atinge várias nuances, pois o papel não exige apenas a parte física ou um momento dramático aqui e ali. A vencedora do Oscar e três vezes vencedora do Emmy passa credibilidade sendo mãe e esposa, policial e militar, usando o deboche e mandando “the fuck” como ninguém, se fazendo de desentendida e dando um pau em supremacistas brancos. King convence nos momentos em que Watchmen parece uma série de ação, nas situações mais dramáticas e permeadas pelo drama de se viver num país racista, até nas horas que estranha e temporariamente se transforma em uma comédia romântica. Tudo o que se pede de King, ela entrega. É uma performance completa e só uma rainha da atuação poderia executá-la com tamanha precisão. — Rodrigo Ramos

Menções honrosas: Laura Linney (Ozark), Kaitlyn Dever (Unbelievable), Rachel Brosnahan (The Marvelous Mrs. Maisel), Pamela Adlon (Better Things), Issa Rae (Insecure).

MELHORES EPISÓDIOS

The Good Fight — 4×01: The Gang Deals with Alternate Reality

Direção: Brooke Kennedy | Roteiro: Robert King, Michelle King
Exibido originalmente em 9 de abril de 2020.

The Good Fight nunca se conteve ao fazer críticas aos dois lados ideológicos da política, esquerda e direita. Em três temporadas da série, Michelle e Robert King já mostraram de que lado estão, mas nunca deixaram de apontar as hipocrisias até mesmo dos mais progressistas — afinal, esquerdomachos e feminismo branco são coisas que existem, e eles têm ciência disso. Dito isso, o episódio que abre a quarta temporada de The Good Fight é um excelente exercício narrativo e de análise política. Aqui, eles tentam imaginar como seria o mundo caso Hillary Clinton tivesse sido eleita a presidente dos Estados Unidos e não Donald Trump. Diane Lockhart é jogada nessa realidade alternativa, sendo a única a ter vivenciado a realidade em que Trump foi eleito. Baranski se delicia nesse episódio, exibindo o seu lado cômico, rindo mais do que a humanidade merece ouvir — pois ela é dona da melhor risada do planeta. Aparentemente, tudo parece perfeito, incluindo a descoberta do câncer e o maior escândalo do governo Clinton seria o valor gasto em corte de cabelo. Porém, aos poucos, o episódio alerta que não há realidade perfeita e, mesmo que uma pessoa mais progressista, especialmente sendo mulher, tivesse vencido as eleições em 2016, ainda assim o mundo não estaria livre de problemas. No episódio, o movimento #MeToo nunca decolou e pessoas como Harvey Weinstein (ele era um dos principais doadores do partido Democrata) não foram denunciadas e tiradas do seu local de poder.

A mensagem dos Kings não é a de que o mundo seria pior sem Trump na presidência. De forma alguma. Mas definitivamente a sociedade ainda enfrentaria problemas estruturais e que talvez não fossem prioridade ou entrassem em ponto de ebulição se houvesse uma pessoa mais progressista no comando. Afinal, os conservadores perderam e finalmente há uma mulher no poder. Como reclamar? Quando Obama era presidente, não haviam problemas no país? O racismo, a brutalidade policial, a misoginia e o diferente tratamento dado aos poderosos deixaram de existir durante os oito anos de mandato do primeiro presidente negro dos EUA? Não. Não deixa de ser uma forma de autocrítica dos Kings para o seu lado político, pois todos somos passíveis de críticas, mas nem todo mundo gosta de ouvir as verdades inconvenientes e incômodas. Os roteiristas dão conta de entregar um trabalho tão provocativo e profundo em meio de um episódio com alto nível de ironia e cheio de piadas, incluindo até momentos de surrealismo que (vou me detestar por citar isso como algo positivo) até fazem menção a Twin Peaks. Definitivamente, é um dos melhores episódios não só do ano, mas do Good-verse como um todo. — Rodrigo Ramos

BoJack Horseman — 6×16: Nice While It Lasted

Direção: Aaron Long | Roteiro: Raphael Bob-Waksberg
Exibido originalmente em 31 de janeiro de 2020.

O episódio derradeiro de BoJack Horseman é a antítese do penúltimo. Enquanto “The View From Halfway Down” é surrealista, barulhento, cheio de acontecimentos, easter eggs — e tem seu mérito nisso –, “Nice While It Lasted” resolve focar-se na despedida dos personagens, com um tom mais sereno, focado e sentimental. Comparo essa reta final com a de The Leftovers.

O começo do episódio, mostrando as consequências das atitudes de BoJack, até o encontro com Mr. Peanutbutter, é cheio de piadas e trocadilhos, numa vibe mais alto astral, como seria impossível não ser com o (not so) Sad Dog. Conforme o episódio discorre, o protagonista tem a oportunidade de ter uma última conversa com aqueles que fizeram parte de sua jornada: Todd, Princess Carolyn e Diane. Os diálogos são francos e vão lá no fundamento da relação desses personagens. Tirando Mr. Peanutbutter, as emoções dos personagens em relação a BoJack não são apenas positivas. Pelo contrário. As conversas põem em dúvida se BoJack um dia voltará a ter um relacionamento de fato com essas pessoas. Muita dor foi causada, majoritariamente por culpa dele, e não se pode concluir o que será dali em diante. Só o tempo realmente dirá o destino desses personagens, que agora vivem somente na imaginação do espectador. O roteiro é cirúrgico aos costurar tudo o que aconteceu ao longo da série até aqui, respeitando a jornada de cada um, não forçando uma espécie de final feliz ou outra conclusão que não fosse apenas natural diante do que foi construído. Até seu último segundo, BoJack Horseman honra sua humanidade e seu legado. — Rodrigo Ramos

Better Call Saul — 5×08: Bagman

Direção: Vince Gilligan | Roteiro: Gordon Smith
Exibido originalmente em 6 de abril de 2020.

O criador de Breaking Bad e co-criador de Better Call Saul, Vince Gilligan, retorna à série com “Bagman” para estabelecer mais uma vez o crescente nível que o seu spin–off ganhou ao dirigir esse episódio. Escrito por Gordon Smith, esse é um episódio que retoma várias referências e marcas da sua série–mãe: vemos um episódio que lembra “Fly” ou “4 Days Out” no sentido de isolar seus personagens num ambiente claustrofóbico e em uma jornada existencialista, mas que também remete um sentido narrativo que “Crawl Space” teve em Breaking Bad ao colocar Jimmy/Saul (Bob Odenkirk) em um ponto de colisão e mudança que ele daqui em diante nunca mais será o mesmo. O que também impressiona no episódio é o esmero estético, conseguindo avançar e contar a sua narrativa por meio da linguagem puramente audiovisual – as referências do clássico Lawrence da Arábia foram muito bem usadas nesse sentido –, construção de tensão e as brilhantes interpretações de Odenkirk e Jonathan Banks em seus melhores momentos na série toda, talvez, ao entrarem de cabeça na jornada infernal que os personagens passam física e internamente. — Diego Quaglia

Watchmen — 1×08: A God Walks into Abar

Direção: Nicole Kassell | Roteiro: Damon Lindelof, Jeff Jensen
Exibido originalmente em 8 de dezembro de 2019.

Um Deus entra num bar e… Watchmen segue bem a linha de outras séries de Damon Lindelof como Lost e principalmente The Leftovers ao investir em episódios individuais em que possa dar conta de focar em um número limitado de personagens e uma gama de temáticas expondo todo o surrealismo, estranheza e desenvolvendo as relações e o psicológico dessas figuras. “A God Walks into A Bar” deve ser um dos melhores exemplos disso. A diretora Nicole Kassell e o roteiro de Damon Lindelof e Jeff Jensen cercados de brincadeiras de montagem conseguem tanto tematicamente e visualmente ilustrarem uma estranha e trágica história de amor que marca relacionamento de Angela (Regina King) e o recém–descoberto Doutor Manhattan (Yahya Abdul–Mateen) enquanto vão fechando questões anteriores do universo e administrando interpretações excelentes de Regina e Yahya. — Diego Quaglia

Better Call Saul — 5×09: Bad Choice Road

Direção: Thomas Schnauz | Roteiro: Thomas Schnauz
Exibido originalmente em 13 de abril de 2020.

“Bagman” é um episódio cheio de adrenalina, daqueles de tirar o fôlego e que lembram diretamente alguns dos melhores momentos de Breaking Bad. O episódio seguinte, “Bad Choice Road”, contudo, lida com as consequências. Elas se manifestam de várias maneiras, sejam emocionais ou traduzidas em ações. E, neste sentido, o capítulo é Better Call Saul em toda sua essência e excelência.

O episódio é lapidado com esmero para mostrar os efeitos do trauma sofrido por Jimmy/Saul no deserto. Os eventos ocorridos lá e o estado emocional/psicológico em fragmentos de Jimmy reverberam nos outros personagens, a exemplo de Kim, Mike e Lalo, e automaticamente surte efeito narrativo. Pouco a pouco, “Bad Choice Road” vai subindo o tom e aposta alto em seus últimos 15 minutos. Quando percebe, o espectador foi jogado em uma rede de tensão inesperada, mas, de certa forma, inevitável. Em uma mera discussão de casal, o quadro rapidamente evolui para uma situação de ameaça iminente. Bob Odenkirk, Tony Dalton e, especialmente, Rhea Seehorn entregam performances que ultrapassam o limite pré-estabelecido do que é atuar. É insano o que eles alcança em cena aqui. Tudo respaldado por um roteiro feito com primor, em que cada pausa, olhar e linha contam. Mesmo sabendo conscientemente que Saul não irá morrer, o destino de Kim é incerto, e, por consequência, não há como evitar o sentimento de medo em não saber o que irá acontecer com ela. São os 15 minutos mais tensos e aterrorizantes da TV na temporada e, como um todo, o episódio coloca em definitivo Better Call Saul como uma das melhores séries da atualidade. — Rodrigo Ramos

Succession — 2×10: This Is Not For Tears

Direção: Mark Mylod | Roteiro: Jesse Armstrong
Exibido originalmente em 13 de outubro de 2019.

Nessa season finale épica, vemos o resultado das audiências no Congresso estadunidense pelas quais alguns dos membros da Waystar Royco foram submetidos após os escândalos da linha de cruzeiros da companhia terem vindo a público. O Conselho Administrativo da empresa precisa de uma cabeça, e Logan está disposto a oferecê-los uma em uma bandeja de prata. Para tanto, ele decide convocar a família e associados para um iate no sul da França, onde tomará sua decisão e fará todos lutarem para se salvar. Nesse cenário de extrema opulência, nada mais digno de Succession, vemos todos os dramas da temporada se fecharem, um a um, como nas melhores tragédias: um palco, um cenário — e a lancha ocasional que leva embora os “eliminados” desta pièce de résistance.

O casamento de Shiv e Tom chega a um impasse crucial, e surpreendentemente triste, após todos os abusos que ela comete com o marido, colocando-o em situações de humilhação seguidas frente à família e ao mundo. Greg percebe o quão dispensável é para os Roy (“enfeites de Greg”). Roman retorna de sua traumática jornada no oriente médio com possibilidades e um novo olhar para a vida. Connor e Willa, risos, totalmente derrotados e falidos, como já era de se esperar. Marcia notavelmente ausente. E Kendall, pobre Kendall. Sem um momento sequer de paz ou qualquer chance de felicidade, e a compreensão uma vez por todas que seu pai nunca lhe levou, ou levará, a sério, transformando-se, em seu minuto final, num herói, se é que pode-se usar tal palavra ao falar de Succession, bastante improvável. A escrita é, como de costume, irrepreensível. Todos os personagens, e seus respectivos atores, estão no ápice de suas performances. Brian Cox, como esse patriarca que mais parece um Rei Lear maligno, brincando consistentemente com o psicológico de todos que lhe cercam, se mostra novamente um monstro da televisão mundial, em toda a força, respeito e medo que comanda, bem como a pitada de sarcasmo que cercam todas as suas palavras e jogos. O leve sorriso que expressa ao ver, mais uma vez, Kendall se rebelando, denota perfeitamente a complexidade do personagem: um homem constantemente atrás de desafios e procurando um inimigo à altura, que só consegue enxergar o potencial de seu primogênito quando a prenunciada traição, selada por um beijo retirado diretamente do manual tático de Judas, ocorre frente ao mundo. Succession demonstra aqui, mais uma vez, e de novo e de novo, o que lhe faz uma tragédia familiar moderna de proporções heroicas: a magistralidade de uma história perfeitamente costurada, em seus mínimos detalhes, onde poder e amor se confundem na história de uma família completamente disfuncional, sem escrúpulos, assustadora e querida. — Mariana Ramos

BoJack Horseman — 6×15: The View From Halfway Down

Direção: Amy Winfrey | Roteiro: Alison Tafel
Exibido originalmente em 31 de janeiro de 2020.

BoJack Horseman é um programa existencialista. Em seis anos, ela questionou em diversas ocasiões qual é o sentido de tudo. Em seu penúltimo episódio, a série se dá licença para mergulhar no surrealismo e, imerso neste recurso narrativo, volta a questionar o propósito da vida e o valor que há na morte. No episódio, BoJack se reúne com várias pessoas que passaram por sua vida, sem entender o que está fazendo neste lugar ou ter memória sobre como chegou ali. Os personagem começam a discutir sobre o que mais gostaram e detestaram em suas vidas, questionam se o que fizeram valeu a pena, se a morte de cada um teve algum valor. O episódio vai, pouco a pouco, abraçando uma faceta mórbida e o mistério acerca do motivo de BoJack estar ali aumenta.

O surrealismo aqui é utilizado de maneira eficiente, auxiliando na execução narrativa de modo que não seria possível sem ele. Há a licença poética para contar uma história transcendental, mas que ao mesmo tempo traz todos os elementos para que o espectador consiga ligar os pontos — não é difícil supor o que acontece, mas o roteiro também não entrega tudo de bandeja. Uma das virtudes da série sempre foi trabalhar com os elementos de cenário para contar piadas ainda mais eficientes do que aquelas presentes nos diálogos. Aqui, a virtude oferta significado mais profundo (este episódio sim justifica ter uma análise no YouTube para entender os easter eggs), como, por exemplo, a escolha de oferecer de jantar aos personagens suas últimas refeições em vida — no caso de BoJack, são as pílulas que tomou antes de cair na piscina e a água com cloro contida nela.

Entre a vida e a morte de seu protagonista, a série reflete sobre o significado da vida, não apenas do personagem, mas a vida como um todo, minha e sua. O debate não é mecânico, enfadonho ou pretensioso — e seria muito fácil sê-lo. Como tudo o que BoJack Horseman se pretendeu a fazer, ela encara isso pelo viés humanista. Sim, a animação neste episódio em particular é um espetáculo a parte, mas o que garante a excelência dele é seu texto precioso. — Rodrigo Ramos

Watchmen — 1×06: This Extraordinary Being

Direção: Stephen Williams | Roteiro: Damon Lindelof, Cord Jefferson
Exibido originalmente em 24 de novembro de 2019.

Episódios inteiramente passados em flashback (“Across the Sea”, de Lost) ou na dentro da cabeça de algum personagem (“Flashes Before Your Eyes”, de Lost e “International Assassin” e “The Most Powerful Man in the World”, de The Leftovers) sempre estiveram presentes na obra de Damon Lindelof. O sexto episódio da primeira temporada de Watchmen, contudo, faz o quase impossível: junta os dois conceitos. Passado quase inteiramente na mente da protagonista, Angela Abar (Regina King) e ao mesmo tempo um flashback das lembranças do avô da mesma, Will Reeves (Jovan Adepo, na versão mais nova), o episódio traz consigo o melhor dos dois conceitos. Esteticamente, o episódio, quase todo em preto e branco, conta com passagens de ambiente que simbolizam o pensamento entrecortado de Angela durante sua “viagem” no que parecem ser longos planos-sequência. Há um momento específico, por exemplo, em que Reeves e sua esposa, June (Danielle Deadwyler), conversam sobre um filme significativo para o primeiro, ao passo que a câmera coloca os dois em segundo plano e passa a focar a parede da sala, onde o filme começa a ser reproduzido, como em uma sala de cinema. Para além da estética impecável, o episódio conta com um dos mais importantes discursos visto esse ano na TV: o primeiro herói americano, que na história da série é aquele que impulsiona a criação do grupo de heróis que dá nome à série, é um homem negro. Um homem negro que só colocou a máscara pela primeira vez porque, embora policial, não conseguia o respeito necessário da população e dos colegas de profissão para fazer a justiça que tanto almejava. A importância da história no contexto histórico-social em que nos encontramos (não só nos EUA, mas aqui também no Brasil) e a estética impecável tornam esse episódio o melhor da temporada e, com certeza, um dos melhores e mais relevantes da última década. — Breno Costa

Menções honrosas: Succession – 2×05: Tern Haven, Mrs. America – 1×08: Houston, My Brilliant Friend – 2×08: The Blue Fairy, Ramy – 2×06: They, #blackAF – 1×05: Yo, between you and me, this is because of slavery.

MELHORES SÉRIES (COMÉDIA)

The Marvelous Mrs. Maisel (Amazon Prime Video) – Terceira Temporada

Sabemos que Jeff Bezos (ou seja, a Amazon) tem dinheiro de sobra — recentemente, ele quebrou o próprio recorde de homem mais rico do planeta, com fortuna avaliada em US$ 171,6 bilhões. Ainda assim, não deixa de chocar o fato de que The Marvelous Mrs. Maisel seja uma série com produção tão arrojada, criando uma ambientação de universo de nível HBO — e, para isso, sabemos, é preciso dinheiro. Como foi decidido que Mrs. Maisel merecia o investimento em primeiro lugar, nunca saberei. O que posso dizer é que cada centavo aqui vale a pena. Em termos de valor de produção, ela é impecável e neste terceiro ano nota-se um esforço ainda maior para atrair os olhos dos espectadores, desde o trabalho mais ousado de edição e câmeras, figurinos e design de produção primorosos. É satisfatório vermos séries com tamanho cuidado nesse sentido no ar.

Esses elementos contribuem, é claro, para que Mrs. Maisel seja o que é, mas esse universo de uma dona de casa que resolve ser uma comediante entre os anos 50 e 60 só funciona de verdade porque conta com um roteiro cômico afiado. Narrativamente, pode não ter a melhor rota e o final da temporada parece pôr sua protagonista de volta à estaca zero? Sim — apesar de que não é possível afirmar até vermos de fato. Contudo, o texto de Amy Sherman-Palladino é eficiente em inserir uma piada em cada diálogo. Aliás, seus diálogos são extremamente longos, rápidos e costumeiramente divertidos, de modo que ninguém em Hollywood hoje é capaz de escrever a não ser ela. Para dar conta deles, o elenco continua elevando o nível de atuação ao entregar cada linha de forma sublime. Infelizmente, a série não é tão progressista quanto gostaria (ás vezes tenta, mas nem sempre atinge as notas) e poderia ser. Contudo, a série se mantém como um divertimento com alto valor de produção. — Rodrigo Ramos

Schitt’s Creek (CBC/Pop TV) — Sexta Temporada

Após ser recusada por emissoras como HBO, ABC e Showtime, Schitt’s Creek foi adquirida pela emissora canadense CBC e o canal pago estadunidense Pop TV. Co-criada por pai e filho, Eugene e Daniel Levy, a série ficou debaixo do radar de muitos durante seus primeiros anos de exibição (seu debute foi em 2015), passando a ter notoriedade, especialmente nos EUA, depois de entrar no catálogo da Netflix. Daí em diante, foi impossível negar a gema que é a produção.

Apesar de não tem uma premissa muito original (inclusive muitos apontam ser parecida com Arrested Development, e de fato é!), Schitt’s Creek conta a história dos Rose, uma família extremamente rica que perde tudo e se vê obrigada a morar no único bem que lhes restou: uma cidade chamada Schitt’s Creek, que foi comprada pela família no passado como uma brincadeira (“Schitt” tem a mesma sonoridade de “shit”, que significa “merda” em inglês, caso não saibam). Mas o que difere Schitt’s Creek de Arrested Development, por exemplo, é a sua abordagem. Esta história de peixe fora d’água tem personagens detestavelmente adoráveis (ou adoravelmente detestáveis?) e nos apaixonamos por cada um deles. Assim como The Good Place e várias outras comédias atuais tentaram, Schitt’s Creek também tenta e é bem sucedida em consegue criar narrativas de autoaperfeiçoamento verdadeiramente genuínas dos personagens mais improváveis, e de forma extremamente orgânica, sutil e brilhante.

Schitt’s Creek é um fenômeno como poucos outros vistos na TV. O maior feito da série foi ao invés de diminuir ao longo da sua exibição, ela cresceu, ganhou tração e continuou crescendo, e terminou em sua sexta temporada, no que ouso chamar de seu ápice de sucesso, o que não é muito comum, já que podemos ver vários exemplos de séries esticadas ao máximo para darem retorno financeiro à emissora (oi, Big Little Lies e The Handmaid’s Tale). Hoje, seis temporadas depois, Schitt’s Creek mostrou o porquê Eugene Levy e Catherine O’Hara são considerados ícones da comédia e referências na indústria, revelou novos talentos como Annie Murphy e Daniel Levy (que já tem acordo garantido de três anos de desenvolvimento de novas séries com a ABC), e, principalmente, tornou-se um clássico cult, sem dúvida uma das melhores comédias dos últimos anos. — Régis Regi

What We Do In The Shadows (FX) — Segunda Temporada

Na série derivada do filme homônimo What We Do In the Shadows, acompanhamos a história dos quatro vampiros que dividem uma casa em Staten Island e compartilham conosco seu dia-a-dia em um falso documentário. O formato mockumentary não é exatamente uma novidade na TV, mas a série utiliza o recurso de forma bastante criativa. Um acerto acerca disso, ainda mais presente nessa segunda temporada, são as interações perigosas dos personagens principais com os membros da gravação, câmeras e outros técnicos da equipe do documentário.

A série é bem sucedida em brincar com esteriótipos advindos de outras obras que também contam com a presença de vampiros e demais seres sobrenaturais. Com a diferença de que aqui temos uma perspectiva mais íntima, o que torna tudo ainda mais bizarro e, consequentemente, engraçado. A combinação de elementos da vida moderna que não são do conhecimento desses seres que nasceram há centenas de anos rende muitas cenas engraçadas. Além disso, a relação dos vampiros com os vizinhos gera momentos que escalam muito rapidamente para situações completamente fora de controle. Trata-se de uma obra despretensiosa cuja genialidade reside no absurdo e no exagero, e que não falha em divertir. — Valeska Uchôa

Insecure (HBO) — Quarta Temporada

Quando a gente para e pensa um pouco sobre a trajetória de Insecure em seus quatro anos, fica mais do que claro que ela é uma série à frente do seu tempo. Issa Rae, a criadora e protagonista do show, vem ressignificando conceitos de representatividade, ao colocar um foco mais do que bem-vindo sob a vida de jovens adultos negros de Los Angeles. O diferencial aqui é que encaramos esses personagens como pessoas que não são definidas apenas pela cor da pele. Além dos preconceitos que eles precisam enfrentar – isso nunca é esquecido pelo excelente texto, que sempre acha um bom momento para tocar na ferida de forma inteligente e ácida –, existem vidas e dramas pessoais de pessoas comuns.

O quarto ano, que veio depois de uma longa pausa, só prova o quão madura é a visão que os roteiristas têm dos seus protagonistas. Abrimos a temporada com um flashforward sobre o fim da amizade entre Issa e Molly, para então acompanharmos o que fez com que tudo se desestruturasse de vez. Não faltam novos coadjuvantes interessantes e situações hilárias, porém o trunfo deste ano foi mesmo o pé no lado mais dramático da série. Entra na jogada um curioso destaque para o egoísmo com o qual costumamos tratar as relações que entendemos como “confortáveis demais para precisarem de um cuidado maior”, o que acaba sendo um prato cheio para Issa e Yvonne Orji brilharem em sequências de cortar o coração. No momento, a gente já comemora um quinto ano, depois da renovação pela HBO, mas não é exagero que muita gente tenha considerado o finale como um belíssimo final para Issa e Molly. Pelo menos por hora, temos a certeza de que Insecure ainda vai nos divertir e surpreender por um bom tempo. — Zé Guilherme

GLOW (Netflix) — Terceira Temporada

Quanto mais esquecida pela Netflix em seu catálogo, melhor GLOW parece ficar. Nesta terceira temporada a série entrega seu melhor ano com suas personagens longe de casa. Distante de seus entes queridos, é uma na outra que elas tentam encontrar uma família, o amor ou algum amparo emocional, em meio ao sucesso crescente que fazem em Las Vegas, e que rende uma extensão que faz GLOW, o show, perdurar por um ano na cidade. Durante esse tempo, vamos nos aprofundando na vida pessoal dessas personagens, mas é na união delas que GLOW triunfa — e sempre o fez, desde o princípio. Por mais que Alison Brie, Betty Gilpin e Marc Maron sejam os destaques óbvios (e merecidamente), é quando personagens como a Sheila de Gayle Rankin mostram sua força em suas narrativas pessoais que GLOW se sobressaí, porque mostra o quanto se importa com cada um de seus personagens, e como é bom acompanhar esse processo de crescimento. É dessa maneira que a série se potencializa e entrega narrativas catárticas envoltas na leveza do humor construído naturalmente através da relação dessas personagens, o que culmina em momentos como a troca de personas em “Freaky Tuesday” ou o hilário especial de Natal no finale desta temporada, sem deixar de lado, é claro, discursos veementes, como a sensibilidade em tratar a sexualidade das personagens, ou o impiedoso contragolpe de Debbie nos negócios, que rende o gancho para a temporada final da série. — Renan Santos

Better Things (FX) — Quarta Temporada

Há quatro anos Better Things aparece nesta lista anual como uma das melhores séries no ar. A constância não é por acaso. Apesar de ignorada pelas grandes premiações, o seriado co-criado, escrito, dirigido inteiramente, produzido e estrelado por Pamela Adlon continua, à sombra de outras produções mais badaladas, entregando um trabalho delicado, honesto, engraçado e tão real quanto a própria vida. Possivelmente já fiz o mesmo elogio nos anos anteriores, mas não deixou de ser verdadeiro. Aliás, Adlon vem amadurecendo como criadora ano após ano e os episódios parecem cada vez mais fluídos, criativos e capazes de aquecer o coração de qualquer um.

Mantendo uma narrativa, mas sendo dividida em pequenos capítulos ou esquetes, Adlon aborda temas mundanos e que poucos criadores teriam interesse em falar sobre, como dor decorrente de síndrome do túnel do carpo, o vestido do trabalho da filha que não foi lavado, a crise de meia idade de uma mulher solteira nos 50 anos com três filhas, reuniões em família (talvez depois de Fleabag e Succession as pessoas tenham passado a apreciar conversas acaloradas, regadas de deboche e sarcasmo entre familiares), assistir TV na cama com as filhas, preparar uma sobremesa de madrugada, se reunir com as amigas para falar mal dos ex-maridos, o legado dos pais (no caso, os homens, não contabilizem as mães aqui) de merda, e por aí vai. Better Things não é uma série de grandes temas, ao menos não de modo explícito. Ela é mais modesta, contida, mas sua narrativa não é invalidada por isso, tampouco é menos relevante. Pelo contrário. Seu poder reside justamente em trazer situações cotidianas, comuns, pelos diálogos tão francos, e sua pretensão ser nada além de mostrar a beleza que habita na vida. — Rodrigo Ramos

Ramy (Hulu) — Segunda Temporada

Desde Louie dramédias semiautobiográficas de comediantes têm virado quase uma fórmula televisa moderna. Entre a tragédia e o riso da existência de todas essas séries, Ramy com certeza se consolida numa excelente segunda temporada como um dos melhores exemplares desse gênero. A série do comediante Ramy Youssef vai tratar dessa versão ficcional dele mesmo entrando em conflitos como ser humano, da sua masculinidade, sua religião como muçulmano nos Estados Unidos e por aí vai. A segunda temporada só reafirma a qualidade dela adicionando a ilustre presença de Mahershala Ali e tratando dos conflitos internos do próprio Ramy, além das suas relações no seu ciclo familiar e de amizades, não se resumindo apenas na temática religiosa num contexto moderno tão importante para série, mas desenvolvendo num olhar mais profundo e amplo a psique do personagem central nas suas jornadas cotidianas, intimistas e absurdas, que vão de uma tristeza profunda até momentos hilários. — Diego Quaglia

BoJack Horseman (Netflix) — Sexta Temporada

BoJack Horseman se encerra com seis temporadas. O timing é correto, pois a série não passava a impressão de que poderia continuar por tantos anos como Family Guy ou Simpsons. Sua narrativa era finita. Em uma escolha certeira (nem acredito que vou fazer esse elogio), a Netflix optou por finalizar a animação na sexta temporada. Desta maneira, Raphael Bob-Waksberg e sua equipe precisaram amarrar as pontas e concluir essa história. Assim como nas suas últimas quatro temporadas, a série definitivamente sabe para onde vai. Neste derradeiro ano, os personagens encontram-se todos insatisfeitos em certa escala, quiçá infelizes. Do lugar onde estão, eles decidem, cada um do jeito, fazer as pazes consigo e com os outros para seguirem em frente. Amadurecimento acaba sendo um dos temas desta temporada. De maneira sempre eficiente, BoJack Horseman aborda os problemas pessoais de seus personagens com cautela e propósito. Neste ano, vemos as dificuldades de querer ser uma mãe solteira e continuar no alto nível da carreira profissional, de vencer o vício, como a depressão é uma doença desgraçada, mas é possível viver com ela e ser feliz apesar dela, o poder do perdão — e a recusa de um pedido de perdão também.

Para o protagonista em questão, um ponto chave é se ele sofrerá as consequências do seus atos ou não. Afinal, BoJack causou danos a tantas vidas, incluindo sendo responsável pela morte de Sarah Lynn. Existe redenção para alguém assim? A série construiu uma narrativa que jamais exaltou como algo positivo as escolhas erradas de seu personagem principal e, felizmente, ele encontra sua punição — e não é a morte. Matar o protagonista seria uma resposta simplista para problemas complexos. É mais árduo para ele ter de se reconstruir, deixar de lado sua faceta autodestrutiva e nociva a terceiros, ter que começar novas relações e tentar reparar o estrago que causou do que simplesmente encontrar uma saída fácil como a morte. A última temporada é sacana em mostrar que o personagem finalmente mudou, mas seus pecados o alcançam e mesmo melhorado precisa pagar pelos erros, incluindo ter relações afetivas destruídas e que nunca terá de volta.

BoJack Horseman conecta com o espectador porque aborda temas contemporâneos importantes de modo que nenhum outro programa na TV faz atualmente. Em especial, todo o tratamento dado aos problemas psicológicos (incluindo vício, depressão e trauma) é esplendoroso. E quando quer fazer rir, caramba, a série é extremamente engraçada (“Surprise!”, o episódio em que Todd organiza um casamento surpresa para Pickles e Mr. Peanutbutter, é hilário). No fim, a narrativa se conclui de maneira mais do que satisfatória, deixando a sensação de que durou o tempo que precisava, e seus personagens tiveram o destino merecido, condizente com todo o caminho trilhado por eles. Com franqueza, humor ímpar, criatividade e, acima de tudo, humanidade, BoJack Horseman se despede como a melhor produção original da Netflix, sim, mas também como uma das grandes séries da década. — Rodrigo Ramos

Menções honrosas: The Good Place (NBC), High Fidelity (Hulu), Kidding (Showtime), Lodge 49 (AMC), Sex Education (Netflix).

MELHORES SÉRIES (DRAMA)

Unbelievable (Netflix)

Essa série limitada, com oito episódios, foi uma das maiores e melhores surpresas no catálogo da Netflix nos últimos tempos. Abordando um assunto extremamente difícil de forma cuidadosa e complexa, Unbelievable se destaca por um casting perfeito, atuações incríveis e profundamente tocantes das três mulheres que encabeçam a sua história, e uma narrativa muito bem amarrada. Baseado numa história real da jovem Marie Adler (Kaitlyn Dever) que após ser vítima de estupro e dar queixa do ocorrido para a polícia é completamente desacreditada, levada a retratar seu testemunho e tem sua vida arruinada pelos investigadores, sendo inclusive processada por ter fornecido um testemunho falso, a série começa focando na experiência traumática de Marie com a polícia. Vemos a jovem tendo que reviver à exaustão seu ataque por profissionais de diversas áreas, completamente destreinados. Conseguimos sentir a dor de Marie ao ser julgada pela forma como reage e ao ser acusada de mentir sobre o ataque por todos que lhe cercam.

Em paralelo, vemos duas policiais, anos depois, em um outro estado estadunidense, tendo que lidar com casos de estupro na região perpetrados pelo mesmo homem que atacara Marie anos antes, sua primeira vítima. Essa dupla estranha, formada pela determinada detetive Karen Duvall (Merritt Wever), uma mãe de família super zelosa, religiosa e que leva seu trabalho muito a sério, e a desbocada detetive Grace Rasmussen (Toni Collette), uma mulher extremamente independente, sem papas na língua e um afinco tão grande quando a outra pelo trabalho que realiza, é implacável em seu propósito: dar fim ao reinado de horror desse homem sem rosto. A série se destaca pelo cuidado em retratar a jornada de Marie, uma vítima repetidamente vitimizada por um sistema criminal que, ainda, trata o estupro com pouco ou nenhum cuidado, e utilizar seu outro núcleo narrativo para demonstrar como uma investigação do tipo merece ser feita, com cuidado pelas vítimas e afinco máximo em resolver tais crimes. A minissérie nunca cai no espetáculo do choque. Suas escolhas são deliberadas, tendem a utilizar os casos sem uma exploração visual gratuitamente excessiva e focam nessas mulheres em sua falibilidade, personagens complexas, nem sempre agradáveis, mas que sobrevivem e tentam mudar um sistema falho e injusto. — Mariana Ramos

Normal People (BBC Three/Hulu)

Apesar de saber do hype que cercava o livro homônimo que deu origem à série, tenho que dizer que não estava esperando muito, ou nada, dela. Que engano. Agora, tendo assistido Normal People (algumas vezes), a singularidade e qualidade da série ficaram muito claras para mim. Apesar de se encaixar na categoria de um “romance adolescente/jovem”, a série trata o tema com um cuidado e lirismo imensos, mesmo em seus pequenos detalhes. Suas câmeras bem próximas, planos longos que nos permitem compartilhar o processo mental dos personagens e suas dores e gestos mais sutis, o foco extremamente suave no rosto dos dois protagonistas, a trilha sonora impecável, tudo é perfeitamente colocado, com muito cuidado, sem grandes estardalhaços.

A química entre os dois atores no centro da trama Daisy Edgar-Jones, no papel de Marianne, e Paul Mescal, como Connell, é inegável, assim como o incrível talento desses jovens atores. Normal People é uma história visceral, se muito simples. Essa narrativa de amor tão real, em seus desencontros dolorosos e problemas de comunicação que parecem surgir do nada, mas que muito falam sobre nossa geração, nossos medos e ansiedades quanto à entrega romântica, faz refletir sobre os traumas que carregamos e como eles nos perseguem, sem que nem mesmo saibamos. A jornada dessa relação é muitas vezes difícil, machucando os personagens e o próprio espectador que logo forma laços de afeto e identificação com os protagonistas. É um caminho intenso, perfeitamente balanceado nos 12 episódios que tem o tamanho ideal: 30 minutos, para um drama, algo ainda muito pouco comum. Para mim, a série foi um presente inesperado e extremamente bem-vindo, e se destaca completamente dentro do cenário televisivo atual. — Mariana Ramos

Mrs. America (FX)

Apesar do enfoque e do buzz criado por Cate Blanchett na sua divulgação, Mrs. America é muito mais do que apenas uma minissérie construída para colocar um Emmy na prateleira de uma atriz consagrada pelos papeis no cinema. É uma produção criada e executada por mulheres, sobre mulheres que arregaçaram as mangas e se envolveram na política para defender os ideais em que acreditavam. Assim a narrativa acompanha oito anos na vida de algumas das mulheres que lideraram o movimento para que o ERA (Equal Rights Amendment, ou Emenda de Direitos Iguais) fosse aprovado pelo congresso norte-americano e do movimento de mulheres conservadoras que surgiu em resposta à elas. De um lado temos Margo Martindale, Rose Byrne (como um dos rostos mais icônicos da segunda onda feminista, Gloria Steinem), Uzo Aduba, Elizabeth Banks, Ari Graynor e Tracey Ullman. No outro lado, Cate Blanchett encarna Phyllis Schlafly, Sarah Paulson (como uma personagem criada especificamente para a série), Melanie Lynskey e Jeanne Tripplehorn, que tem um papel menor como a cunhada solteirona de Phyllis, mas não menos importante, pois é a partir dela que muitos dos discursos conversadores de Phyllis sobre o papel da mulher são colocados em contradição.

Em cada episódio, Dahvi Waller, roteirista e criadora da série, coloca em foco uma destas personagens, nos dando a oportunidade de adentrar no mundo íntimo de cada uma e explorando uma gama ampla de questões relacionadas e interseccionadas ao feminismo. Para além do retrato histórico, Mrs. America faz um comentário sobre o debate político atual, mostrando que muitas das questões debatidas pelas personagens nos anos 70 ainda são um campo em disputa, e que os métodos e discursos mudaram muito pouco. Ao final da série não há catarse, afinal a história é a história, e seus personagens não necessariamente enxergam onde erraram pelo caminho ou fazem algum tipo de declaração que parece acabar com todas as injustiças. No entanto, não podemos dizer que a série nos entrega um final niilista. A reflexão gerada nos acompanha por tempos e nos motiva a continuar lutando e manter a porta aberta para que a luta por igualdade continue pelas próximas gerações, até que ela não seja mais necessária. — Rafael Bürger

The Good Fight (CBS All Access) — Quarta Temporada

O grande defeito da quarta temporada de The Good Fight é que ela acaba cedo demais. Programada para ter 10 episódios, ela foi reduzida a sete por conta da pandemia do coronavírus que encerrou as filmagens do quarto ano mais cedo. É notável que algumas tramas poderiam ir mais longe do que foram ao final dos episódios exibidos — Cush Jumbo e Delroy Lindo deveriam sair da série, mas não tiveram suas despedidas efetivadas por conta da redução. Dito isso, é quase um milagre que a temporada consiga ser concluída de maneira satisfatória, ainda mais dadas as circunstâncias. Iniciando com um episódio de realidade alternativa, ele dá o tom da temporada, que segue com o tema: os ricos e poderosos são o câncer da sociedade. E isso é tratado aqui a partir de um mistério que carrega a temporada: Memo 618. Isto faz com que The Good Fight se torne um thriller conspiratório excitante e surpreendente.

A temporada concilia os diálogos espirituosos e a ironia necessária para lidar com o caos do mundo com os grandes temas, que incluem discutir o que a América deve para os afro-americanos por conta de anos de escravidão (as reparações), entra em uma discussão espinhosa, mas necessária e certeira sobre transsexuais (J.K. Rowling não deve ter curtido o episódio, no entanto), a hipocrisia que há no lado progressista da política, além do fato de trazer o passe que os ricos possuem, já que sempre encontram uma maneira de não lidar com as consequências de seus crimes. Surpreendentemente, os Kings mantêm a capacidade de antecipar as discussões do momento em seus episódios. Na semana do seu não-intencional-finale que gira em torno dos crimes e o mistério acerca da morte de Jeffrey Epistein, a Netflix lançou uma minissérie documental sobre ele, vazaram informações de que ele teria sido morto (e não cometido suicídio), e recentemente uma ex-namorada dele foi presa por ajudá-lo na exploração de menores. Mesmo o papo do Memo 618, algo que ajudaria os poderosos a não responderem por seus maus-feitos, é extremamente relevante. Prova disso é o fato de, em paralelo à série, o Departamento de Justiça dos EUA ter arquivado o processo criminal contra Michael Flynn, ex-assessor de Trump, mesmo após ele ter se declarado culpado por ter mentido ao FBI.

Definitivamente, os Kings têm um sexto sentido de que não sabemos, ou apenas prestam atenção no que acontece no mundo. Não há dúvidas de que The Good Fight é a série mais relevante do Governo Trump e ainda tenho esperança de que mais pessoas consigam enxergar isso. A cada ano que passa, os Kings se desafiam e seu elenco, e continuam surpreendendo e se superando. Aliás, seu finale improvisado tem uma das cenas mais chocantes e surtadas do ano. Quem tem essa coragem, honestamente? Enquanto o público em geral e as premiações não reconhecem a genialidade de The Good Fight, felizmente fazemos o nosso trabalho de exaltar mais uma temporada irretocável da série. — Rodrigo Ramos

My Brilliant Friend (HBO/RAI) — Segunda Temporada

Não há série mais ricamente observada no ar atualmente do que My Brilliant Friend. Partindo de um texto que já é enormemente revelador sobre a experiência humana comum e sobre o ponto de vista único de seus personagens (e o que ele nos tem para ensinar), a produção da HBO/RAI expande o impacto da obra de Elena Ferrante com imagens detalhadamente texturizadas, sensivelmente escolhidas, minuciosamente pensadas para nos ajudar a mergulhar nas sensações e, portanto, entender as escolhas de suas protagonistas. É uma série que, atenta à forma como Lila e Lenù veem o mundo a sua volta, reconhece o poder do audiovisual de distorcer a realidade para representar justamente essas visões.

Na segunda temporada, batizada de The Story of a New Name a exemplo do segundo livro da tetralogia napolitana de Ferrante, essas distorções são mais intensas, e se sucedem mais rápido do que nunca. My Brilliant Friend vê o confronto entre as mudanças da vida adulta e as emoções à flor da pele e a incerteza identitária do final da adolescência, e transforma essa colisão em uma peça de arte cheia de imagens inesquecíveis, vibrantemente social, mas também fabulosamente pessoal. Ela emociona não por ser tecnicamente impecável (embora seja), mas por entender a que tipo de história, e a que tipo de olhar, essa excelência merece servir. — Caio Coletti

Better Call Saul (AMC) — Quinta Temporada

Finalmente recebemos o Saul Goodman de Breaking Bad, ao menos no nome, após o gancho que havia encerrado a temporada passada. Este quinto ano demorou mais que o normal para retornar – foi mais de um ano de espera –, mas trouxe consigo um questionamento bastante válido: o spin-off já pode ser considerado melhor que a obra original? A comparação é polêmica, e prefiro deixar cada um tirar suas próprias conclusões. Contudo, é verdade que Better Call Saul têm suas peculiaridades que a tornam uma obra completamente independente e autossuficiente, capaz até de “plantar” memórias sobre personagens que sequer existiram em Breaking Bad, mas que pareciam estar conosco desde sempre, sinais do quão bem amarradas estão ambas as narrativas. Mesmo sendo refém de um futuro já conhecido, a série consegue seguir construindo sua história utilizando das melhores ferramentas que já conhecíamos, mas aperfeiçoadas. O que nos entrega uma narrativa que abusa, de forma positiva, da estética para brincar com seu texto e que, independentemente do que já sabemos que acontecerá, se mostra capaz de estabelecer momentos de tensão completamente funcionais e envolventes, e totalmente hábeis de nos surpreender. Nesta penúltima temporada, as tramas paralelas passaram a se aproximar, e até se conectar, e denotam, sem perder o humor característico da série, o quanto importam os personagens centrais criados para ela. Nem sei quanto tempo ainda falta para a despedida, mas já bate a tristeza só de saber que ela se aproxima. — Renan Santos

Succession (HBO) — Segunda Temporada

Se o mote da desumanização das relações sociais (notadamente as familiares) do topo da elite social se consolida como crítica na primeira temporada de Succession, a segunda temporada da série da HBO criada por Jesse Armstrong (principal roteirista da cínica The Thick of It) afirma-se no gosto da crítica e do público após episódios inventivos, punchlines criativas e o aprofundamento das relações totalmente disfuncionais da família Roy.

Lidando com a eterna possibilidade de sucessão do líder empresarial e pai de família, Logan Roy, na segunda temporada vemos alianças, crises e novas abordagens dos filhos para tentarem serem sucessores do pai — ou minimamente relevantes para ele. Através de diálogos depreciativos que invocam a desumanização dos demais como forma de dar luz pelo tom de cômico aos problemas e defeitos de seus pares, o drama invoca outras tropes consolidadas na comédia para desenvolver suas histórias como episódios temáticos de viagens, jantares ofensivos e bottle episodes no melhor estilo Seinfeld ou Community. Ao continuar abordando situações que se tornaram comuns nas principais famílias donas dos meios de comunicação mundo afora (CPIs, discussões públicas entre herdeiros e apoio à pautas políticas polêmicas), criticando a desumanização das elites no capitalismo e representando realisticamente disputas familiares internas, Succession garante-se como uma das séries mais relevantes dos últimos anos. — Cristian Dutra

Watchmen (HBO)

Cercada de incertezas sobre se era uma boa ideia fazer uma sequência de uma das maiores HQs de todos os tempos, Watchmen veio com o pedigree HBO e um elenco de dar inveja, com vencedores do Oscar, Emmy e Globo de Ouro atados ao projeto. Após seu lançamento, no entanto, não restou dúvidas de que a ideia era certeira. Com o espírito do trabalho de Alan Moore intacto, a minissérie não só presta homenagem à graphic novel, como expande seus horizontes, inclusive superando o material original ao conseguir fazer um comentário político-social acurado e necessário aos tempos de hoje, levando em conta também algo que Moore deixara passar batido: o peso do racismo na construção da América.

Se há alguém em Hollywood capaz de pegar uma obra original aclamada, adaptá-la para as telas e alavancá-la a um nível superior é Damon Lindelof. The Leftovers, co-criada por ele, tem elementos importantes alterados na primeira temporada em relação ao livro em que se baseia, e é definitivamente nas temporadas sucessoras que a série alcança voo, a ponto de se tornar uma das produções mais memoráveis da década passada.

Em Watchmen, Lindelof (com a ajuda de uma sala de roteiro diversa) serve de espelho da nossa sociedade e tenta fazer um resgate histórico para nos lembrar como costumeiramente repetimos o passado, o que infelizmente significa que aprendemos pouco com a história, quiçá nem mesmo a conhecemos de fato. Sem nem saber o que viria pela frente em 2020, Watchmen aborda como os excessos policiais cometidos até hoje são reflexo de problemas originados pelo racismo estrutural que fundamentaram o país (ou o continente, pode escolher, afinal no Brasil não é diferente). Subversivo em várias maneiras, Watchmen não se contenta com respostas fáceis, mostrando que traumas sobrevivem a gerações, que o ódio contra as pessoas de cor está presente em todas as camadas da sociedade (especialmente nos setores do poder), que toda ação traz consequências. A série ainda consegue fazer uma espécie de reticom da HQ original para elevar o conteúdo próprio e dos quadrinhos, explora o conceito de tempo e espaço de forma mais objetiva e eficiente do que muitas séries e filmes recentes, e conta com personagens (inéditos ou não) complexos e com propósito.

Watchmen é excelência televisiva. É daquelas experiências únicas que não teremos outra parecida no futuro. É incômoda, é audaciosa, é brilhante. — Rodrigo Ramos

Menções honrosas: Undone (Amazon Prime Video), Mindhunter (Netflix), Euphoria (HBO), The Plot Against America (HBO), The Crown (Netflix).

ELEIÇÃO DO PÚBLICO

Melhores Séries (Comédia)

#1 BoJack Horseman (Netflix)
#2 Better Things (FX)
#3 What We Do In The Shadows (FX)
#4 Insecure (HBO)
#5 Curb Your Enthusiasm (HBO)

Melhores Séries (Drama)

#1 Watchmen (HBO)
#2 Better Call Saul (AMC)
#3 Succession (HBO)
#4 My Brilliant Friend (HBO/RAI)
#5 Dark (Netflix)

O corpo de jurados citou, durante a eleição, 54 atores coadjuvantes, 49 atrizes coadjuvantes, 40 atores, 37 atrizes, 72 episódios, 41 séries de comédia e 36 séries de drama. Na lista final apareceram 21 séries ao todo: Succession (7), Watchmen (6), Better Call Saul (6), The Good Fight (5), Mrs. America (4), BoJack Horseman (4), The Marvelous Mrs. Maisel (3), Unbelievable (3), Normal People (3), Ramy (2), Schitt’s Creek (2), My Brilliant Friend (2), Ozark (1), Pose (1), The Good Place (1), I Know This Much is True (1), The Crown (1), GLOW (1), Insecure (1), What We Do In The Shadows (1) e Better Things (1).

Fizeram parte do júri
Angelo Bruno, estudante de Letras — Licenciatura em Português.
Breno Costa, roteirista.
Caio Coletti, jornalista e colaborador do site UOL.
Dana Rodrigues, editora do site Diário de Seriador.
Diego Quaglia, cineasta, roteirista e crítico de cinema e audiovisual.
Diogo Pacheco, colaborador do Série Maníacos.
Fillipe Queiroz, estudante de Psicologia, aficionado em séries.
Geovana Rodrigues, sommelier de séries.
Gustavo Marques, produtor de conteúdo e entusiasta de televisão.
Juliano Cavalcante, bacharel em Economia, escreve sobre seriados na internet desde 2005.
Leonardo Barreto, editor do Quarta Parede Pop.
Luis Carlos, administrador do grupo Crônicas de Séries e da página Cultura em Frames.
Mariana Ramos, roteirista, mestre em Cinema e Audiovisual, host do podcast Maratonistas.
Mikael Melo, jornalista, produtor de Jornalismo na NDTV Record.
Rafael Bürger, bacharel em Imagem e Som pela UFSCar e cineclubista.
Rafael Mattos, estudante de Jornalismo, administrador do grupo Crônicas de Séries.
Rafaela Fagundes, sommelier de séries.
Régis Regi, bacharel em Cinema, roteirista, host do podcast Maratonistas.
Renan Santos, formado em Cinema, crítico e newsposter no site Cine Eterno.
Rodrigo Ramos, jornalista, editor do site Previamente, repórter da Huna Comunicação Para o Bem.
Valeska Uchôa, cientista da computação, ex-colaboradora do Série Maníacos e do falecido Lizt Blog.

Também colaboraram
Cristian Dutra, administrador do grupo Crônicas de Séries.
Zé Guilherme, farmacêutico, mestre em Fisiologia, já colaborou nos sites LoGGado e Cine Alerta.

Confira também as listas anteriores
Melhores Séries da Década de 2010
Melhores Séries da Temporada 2018/2019
Melhores Séries da Temporada 2017/2018
Melhores Séries da Temporada 2016/2017
Melhores Séries da Temporada 2015/2016
Melhores Séries da Temporada 2014/2015
Melhores Séries da Temporada 2013/2014
Melhores Séries da Temporada 2012/2013
Melhores Séries da Temporada 2011/2012
Melhores Séries da Temporada 2010/2011

Textos por Breno Costa, Caio Coletti, Cristian Dutra, Diego Quaglia, Mariana Ramos, Rafael Bürger, Régis Regi, Renan Santos, Rodrigo Ramos, Valeska Uchôa & Zé Guilherme

Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos

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