Parks and Recreation, Community, Fleabag, Veep e Master of None estão presentes na lista.
Trazemos para você a lista definitiva do que houve de melhor na TV durante a década de 2010, entre episódios, atuações e séries.
Confira abaixo as melhores séries (comédia) da década de 2010.
MELHORES SÉRIES (COMÉDIA)
10. The Good Place
The Good Place é a criação de Michael Schur (de Parks and Recreation, The Office, Brooklyn Nine-Nine) que mais destoa das irmãs. The Good Place tem um grupo reduzido de personagens e possui um enredo mais elaborado e seu desenvolvimento e suas reviravoltas constantemente surpreendem o espectador. Um plot interessante e bem desenvolvido nada seria sem personagens carismáticos, com os quais nos importamos e para quem torcemos. Acompanhamos esses personagens crescerem e amadurecerem e esse é um dos grandes trunfos da série. Foram construídos relacionamentos amorosos saudáveis cujo objetivo não é prender o espectador a todo custo apenas para saber se vão ficar juntos no final, mas sim como uma parte natural da vida (e pós-vida). A história partiu de um sistema que classificava as pessoas objetivamente para entender que não é uma tarefa tão trivial analisar se alguém é fundamentalmente bom ou ruim. Os seres humanos são complexos, cheios de nuances e, além disso, sofrem influência do meio em que vivem.
O humor da série é repleto de referências à cultura pop e em meio a isso ela faz críticas e comentários sarcásticos a diversos aspectos da sociedade e do modo de vida contemporâneo. Em sua reta final, The Good Place busca respostas sobre como criar um sistema melhor e mais justo para dividir os humanos em bons ou ruins e parece estar chegando à conclusão a que Michael chegou, o que importa é sempre tentar ser uma pessoa melhor do que no dia anterior. — Valeska Uchôa
9. Barry
Barry rapidamente se tornou uma das séries queridinhas do final desta década, em crítica, premiação e público. Criador, roteirista, diretor e protagonista Bill Hader é quem ajuda a série ser o que é. Inicialmente, ele vive uma espécie de caricatura de Dexter. Ele é um assassino profissional, porém aspirante a ator, que deseja pôr fim na carreira principal. Ele acaba criando vínculos emocionais, com seu professor, o pessoal da escola de atuação, e até se apaixona por uma de suas colegas. A série parodia o mundo assassino, tira casquinha de aspirantes a atores, mas também ganha densidade em seu segundo ano, colocando em pauta questões como violência doméstica, relacionamento abusivo e experiência pós-traumática, coisas que certamente não se esperava saindo da cabeça de Bill Hader. Além disso, nos proporcionou “ronny/lily”, um dos episódios mais surtados da TV na década. — Rodrigo Ramos
8. Atlanta
Após se destacar bastante em Community, Donald Glover resolveu se aventurar em trabalhos na TV e na música muito mais autorais, em que conseguiu mostrar que é um dos grandes talentos da sua geração. Assim, nasceu Atlanta, mas a série já provou ser muito mais do que o emprego de um grande astro de Hollywood. Com criatividade demais e linearidade de menos, Atlanta é uma pérola, dando voz à comunidade negra sem em momento algum cair no lugar comum ou no redundante. Com episódios antológicos como “B.A.N.” e “Teddy Perkins”, mesmo com apenas duas temporadas lançadas, Atlanta já se colocou como uma das melhores comédias da década, conseguindo ser moderna, inteligente e carismática, principalmente quando foge das tramas mais banais do seu protagonista. Assim, Atlanta mudou de patamar a carreira dos talentosíssimos Brian Tyree Henry, LaKeith Stanfield e Zazie Beetz, além de mostrar o brilhantismo dos roteiros de Donald Glover e da direção de Hiro Murai. Uma série imperdível, retrato do seu tempo e que só deve crescer em sua importância com o passar dos anos. — Diogo Pacheco
7. Master of None
Um dos melhores exemplos das dramédias modernas, Master of None, criada por Alan Young e Aziz Ansari, conta a simples história de Dev, um ator de comercial vivendo em Nova York. Na mesma pegada de outras séries do estilo, Master of None aparentemente não tem nada demais: apenas a vida de uma pessoa comum vivendo em uma cidade cosmopolita e suas questões. Contudo, Master of None consegue, melhor que grande parte das mesmas séries do gênero, passar uma realidade maior e discussões mais aprofundadas. Descendente de imigrantes, Dev lida com questões que a maioria dos millenials (claramente o público-alvo da série) já lidou ou vai lidar, como por exemplo a complexa relação entre a religião de seus pais e a sua própria (ou mesmo falta de). Além de tiradas e diálogos muito engraçados, Master of None encontra ainda espaço para discutir questões sérias em episódios emocionantes, como no impecável “Thanksgiving” da segunda temporada. Não à toa, as duas temporadas da série contam com 100% de aprovação no site Rotten Tomatoes e figura na lista de melhores comédias da década. — Breno Costa
6. Enlightened
A série co-criada e estrelada por Laura Dern e Mike White que estreou em 2011 e foi cancelada em sua segunda temporada em 2013 devido à baixa audiência é de longe uma das melhores produções do canal HBO. A dramédia que impressionou a crítica por destoar de tudo que a televisão tinha para oferecer no momento que esteve no ar é de fato bastante distinta. Enlightened conta história de Amy Jellicoe (Laura Dern), uma executiva de um alto cargo de uma multinacional, que tem um colapso nervoso no meio do expediente e passa seis meses em uma reabilitação no Havaí aprendendo uma abordagem de vida mais… iluminada. No primeiro episódio acompanhamos o retorno de Amy à sua vida depois da reabilitação, tentando colocar em prática toda a paz espiritual que cultivou durante seu tempo fora e percebendo que ser iluminada na vida real é muito, mas muito, mas muito difícil quando você tem que lidar com ser rebaixada de cargo no trabalho, com o ex-marido, com o amante, com colegas de trabalho maldosos e por último, mas não menos desafiador, voltar a morar com a sua mãe (que é interpretada por Diane Ladd, mãe de Laura Dern na vida real).
Apesar do título, poucos momentos de Enlightened são de fato iluminados. A série, muito pelos momentos de incômodo causados pela dificuldade da protagonista em ser iluminada em seu cotidiano, arranca algumas risadas, mas costuma tender bem mais pro drama do que pra comédia, e de alguma forma (não sei se necessariamente proposital) acaba conseguindo subverter ambos os gêneros, lembrando que em 2011, num contexto pré-dominação do streaming, os limites de gêneros narrativos ainda eram bastante demarcados. Mas onde Enlightened brilha de fato é em seus momentos mais íntimos e reflexivos, principalmente nos monólogos na voz sussurrada da Laura Dern, que em minha opinião, são os ápices da série. É muito interessante de acompanhar a jornada de Amy em querer ser uma pessoa melhor, sendo que a sua motivação no seu cerne é extremamente egoísta, porque além de querer ser vista e reconhecida como altruísta, ela só não quer ser quem ela era, custe o que custar.
Em seus 18 episódios (sendo todos eles escritos pelo co-criador, Mike White, que possui em seu currículo o roteiro de Escola de Rock, dirigido por Richard Linklater), Enlightened nos mostra uma série inerentemente humana, com personagens falhos, aprendendo repetidas vezes como estamos à mercê da vida e que para conseguir mudar, muitas vezes, só querer não é o suficiente. Até o momento que é. — Régis Regi
5. Community
A partir de roteiros intrincados, enredo bem organizado e humor criativo, a obra criada por Dan Harmon abordou as experiências de sete amigos matriculados numa afamada Universidade Comunitária. Um dos elementos mais interessantes de Community foi ter transformado um grupo de outsiders, que vão de um ex-atleta que não consegue entrar numa universidade de ponta e uma ex-rainha de baile colegial com tendências aditivas e problema de saúde mental, até um advogado sem licença e um idoso com tendências preconceituosas em o grupo “descolado” que todos invejam e querem estar. Conhecida em seu tempo como cult, anos após o seu final a série ficou conhecida por episódios extremamente inventivos, humor à frente do seu tempo e por lançar nomes importantes do atual cenário da TV como Dan Harmon, Donald Glover e Alison Brie. — Cristian Dutra
4. Parks and Recreation
Em sua primeira temporada, Parks and Recreation surgiu como um “The Office wannabe”. Quem diria que um ano depois, em sua segunda temporada, a criação de Greg Daniels e Michael Shur (que vieram de The Office) criaria uma identidade deliciosamente própria e se tornaria uma das grandes comédias já feitas na TV, até superando The Office e a gigante maioria das séries de comédia na minha modesta opinião durante sete hilárias e tão bonitas temporadas.
Mas o que torna Parks uma série tão especial e tão majestosa? Várias coisas. Mas a mais especial talvez seja que o coração da série está no lugar mais certo possível. Parks é uma comédia que emana humanidade. Em um tempo de séries de anti-heróis, protagonistas vilões e narrativas pessimistas sendo reconhecidas e consideradas de prestigio, as comédias do Michael Shur (The Good Place e Brooklyn Nine-Nine) são uma força que vão na direção contrária a isso e Parks é o melhor exemplo disso. Entre temporadas que vão da perfeição absoluta até um sentimento de inspiração sensacional, a série consegue nos conectar de tal maneira com aquele grupo de personagens tão engraçados quanto cômicos em suas estranhezas e suas relações afetivas, construídas de forma tão engraçada quanto calorosa.
Se Veep é o retrato da política como um sistema destruidor e de agentes desprezíveis, Parks mostra como existem agentes transformadores ou bem-intencionados dentro delas, com todas as suas idiossincrasias se apoiando no otimismo inspirador e nunca ridículo da sua protagonista Leslie Knope (Amy Pohler, genial). É quase como um atestado do que superficialmente a Era Obama transmitia antes de chegarmos na Era Trump. Parks e as séries de Shur têm uma essência típica dos filmes de Frank Capra: são otimistas, esperançosos e focados no coração dos seus personagens, acreditando na bondade de todos ao seu redor, porém nunca caem no meloso, no ridículo ou no moralista. A amizade entre aqueles personagens é inspiradora, assim como os seus relacionamentos. A série acredita nas pessoas, no trabalho em grupo, na humanidade e que podemos fazer algo melhor para o mundo e para aqueles que estão em nossa volta. Ela é engraçada, cheia de esperança, com personagens cativantes, sacadas incríveis e o coração no lugar certo com um elenco perfeito que rende interpretações inspiradíssimas da já citada Amy Pohler e excelentes Nick Offerman (genial também), Adam Scott (perfeito), Audrey Plaza, Rashida Jones e por aí vai. — Diogo Quaglia
3. Veep
Com um texto ágil, inteligente, provocador e impagável, a nossa terceira melhor série de comédia da década conquistou muito prestígio e aclamação ao explorar os inescrupulosos bastidores da política com classe e irreverência. Enquanto séries de drama como House of Cards falharam ao retratar este mundo com fidelidade, foi Veep que chegou mais perto, visto que a política é realmente um grande circo e o remédio para isto é rir, mesmo que de forma tão crítica ao modus operandi dos nossos representantes políticos. Mesmo com uma protagonista que rouba completamente a cena e se destacou demais em todos os seus 65 episódios, Veep sempre foi capaz de distribuir bem o tempo de tela com todo o restante do elenco, que sempre esteve na medida certa, divertindo o público como poucas comédias são capazes. Com criatividade e ousadia, Veep conseguiu se manter no topo das comédias por sete temporadas, algo cada vez, mais raro neste mundo da televisão, fazendo jus à terceira posição entre as melhores séries da década de 2010. Uma metralhadora de piadas ácidas e implacáveis que nunca se acomodou e a cada temporada levou seus personagens a lugares inusitados e inexplorados. — Diogo Pacheco
2. BoJack Horseman
O primeiro ano de BoJack Horseman é irregular, como se a série não soubesse ainda qual era o fundamento da sua existência, apesar de clara ficar a intenção de brincar com os padrões de Hollywoo(d). Porém, a partir de sua segunda temporada, BoJack Horseman inicia uma escalada que até na primeira metade de sua derradeira temporada (ela será finalizada no dia 31 de janeiro de 2020) não teve mais quedas. Sem a pretensão de sê-lo, a animação acabou se tornando a melhor obra original da Netflix e elevou o patamar do gênero. É a primeira vez (ou a primeira em muito tempo) que uma animação adulta realmente se comporta como adulta num sentido bem amplo. Claro, há a liberdade de se falar de sexo, ter palavrões, mostrar o uso de drogas lícitas e ilícitas. Contudo, BoJack Horseman utiliza-os como elementos narrativos e não como vitrine só para mostrar que pode, diferente de outras animações.
BoJack Horseman se tornou uma série que critica com afinco não apenas Hollywoo(d), mas também comportamentos da sociedade, desde famosos que se candidatam a cargos políticos sem sequer entender coisa alguma da área até aborto, armas de fogo e como a sociedade odeia as mulheres. É incrível como ao longo dos anos a série (juntamente com os roteiristas) amadureceu tanto em temática e criatividade. O arco narrativo traz um típico homem difícil, ao estilo Mad Men, Breaking Bad, e The Wire. Entretanto, a própria série faz questão de condenar os comportamentos, ainda que o personagem principal sempre encontre uma maneira de escapar das verdadeiras consequências — ao menos, até ao fim da série, que ao tudo indica irá trazê-las. Mas, mesmo fugindo até onde conseguiu, é mais um modo de representar o que acontece com o homem lixo em Hollywoo(d), que costumeiramente ganha novas chances com o tempo — ou de imediato mesmo. Porém, independente das consequências maiores, a série mostra como o fato de BoJack ser uma pessoa tóxica — para si e para os outros — faz com que as pessoas o tratem diferente e ele acaba afastando aqueles de que gosta, alguns inclusive acabam tendo destinos até mesmo trágicos.
Da maneira descrita até aqui, parece que BoJack Horseman é um drama pesadíssimo, e por oras é. Ela trata de temas como assédio, depressão, solidão, divórcio, assexuais, maternidade, morte, relacionamentos tóxicos e abusivos (inclusive dentro da família), mas ela é igualmente brilhante no que faz dela uma das comédias mais inteligentes e engraçadas da década. Em boa parte de suas seis temporadas, os roteiristas da animação conseguem equilibrar o clima mais denso com as piadas, desde aquelas evidentes com os cenários, easter eggs e as versões humanoides de animais, até umas piadas tão idiotas (barris de lubrificante e robô sexual, só para citar duas) que é quase inacreditável que elas dividem espaço com temas tão pesados. E ainda assim faz sentido dentro da concepção do projeto.
BoJack Horseman é uma grande narrativa que, entre risadas e socos no estômago, destaca-se por dar valor aos personagens e suas jornadas. Ela é criativa, colorida, atual, bem escrita, conta com um trabalho estupendo do elenco de dubladores (Will Arnett não ter vencido até hoje um prêmio pela série é um crime) e, mesmo próxima de sua aposentadoria no início da próxima década, deixará um grande legado, não só para a animação, como também para a televisão, provando ser tão grande quanto os maiores dramas e comédias live-action dos últimos 10 anos. — Rodrigo Ramos
1. Fleabag
Fleabag foi a série que ganhou o coração de todo mundo em 2016 (inclusive entrou na lista daqui do Previamente), estreou depois de um hiato de três anos a sua segunda (magnífica) e última temporada, e acabou ganhando uma avalanche de indicações e prêmios, incluindo o Emmy de melhor comédia contra favoritas como Veep e The Marvelous Mrs. Maisel. Para quem (como eu) estava preocupado com o retorno, achando que temporadas tão redondas como a primeira de Fleabag não deveriam ser revisitadas, prepare-se para se surpreender com a capacidade de escrita e de atuação de Phoebe Waller-Bridge e todo o resto do elenco, que conseguem manter a qualidade e todo charme que nos fez gostar da série em primeiro lugar.
No segundo ano da série, por conta do casamento do seu pai com a sua madrinha, vemos Fleabag sendo obrigada a lidar com as consequências dos acontecimentos da primeira temporada e também os envolvidos, e além disso também nos é introduzido o personagem do padre que é o responsável pela cerimônia, interpretado por Andrew Scott (Sherlock), que ao passar tempo com a família, se apaixona por Fleabag. Nada ilustra melhor a série do que a temporada começando com a personagem limpando o nariz sangrando e quebrando a quarta parede nos alertando que aquela seria “uma história de amor”. Em outra curta temporada de apenas seis episódios e continuando com o tema de navegar em relações interpessoais e fazendo o melhor possível (ou ao menos tentar fazer o melhor possível), Fleabag nos leva para outra jornada com a sua personagem, e por mais que agora soe menos inovador, já que a conhecemos há alguns anos, acho que esse é justamente o motivo de nos impactar de forma mais profunda.
Um ponto que me sinto obrigado a destacar é a relação entre Fleabag e Claire. A dupla é sem dúvida a melhor interação entre irmãs que já vi em toda televisão, que na verdade, de certa forma, é a verdadeira história de amor narrada pela temporada. A confiança que Phoebe Waller-Bridge tem em sua narrativa e em suas personagens é não apenas admirável e tangível, mas também é algo que falta em muitas séries por aí (vale destacar o primeiro episódio da nova temporada, que é inteiro centrado é um jantar e todos os personagens estão o mais afiados possível). Se a primeira temporada já foi uma excelente surpresa e uma das melhores estreias do seu ano, a segunda temporada de Fleabag, ao meu ver, se consolidou como uma das melhores séries de comédia na história da televisão moderna. — Régis Regi
Menções honrosas: The Marvelous Mrs. Maisel, Brooklyn Nine-Nine, Insecure, The Comeback, Better Things.
Textos por Breno Costa, Caio Colletti, Carissa Vieira, Cristian Dutra, Diego Quaglia, Diogo Pacheco, Douglas Couto, Luiza Conde, Mariana Ramos, Régis Regi, Valeska Uchôa, Zé Guilherme, André Fellipe, Rafael Bürger, Leonardo Barreto & Rodrigo Ramos
Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos