Melhores Episódios da Década de 2010

BoJack Horseman, Fleabag, Atlanta, Breaking Bad e The Good Wife estão presentes na lista. 

Trazemos para você a lista definitiva do que houve de melhor na TV durante a década de 2010, entre episódios, atuações e séries.

Confira abaixo os melhores episódios da TV na década de 2010.

MELHORES EPISÓDIOS

10. Atlanta – S01E07: B.A.N.

Direção: Donald Glover | Roteiro: Donald Glover
Exibido originalmente em 11 de outubro de 2016.

Consolidando a primeira temporada de Atlanta como uma série que aposta em várias frentes para contar suas histórias que passam da dramédia até a comédia de absurdo (com a ousadia de nem sempre prezar pela ligação concisa entre um episódio e outro), Atlanta chegou ao sétimo episódio da primeira temporada com “B.A.N.” apostando na influência do humor de esquetes deste século para produzir um episódio baseado num programa jornalístico transmitido num canal de TV dedicado ao público negro. Através de um debate sobre sentido (ou a falta de) de músicas e mensagens em redes sociais, reportagens e comerciais que brincam com elementos estereotipados da cultura negra americana, o episódio faz piada com interpretações do politicamente correto e a tentativa de produzir manchetes através de declarações muitas vezes desprovidas de sentido.

Além do destaque para a interpretação de Bryan Tyler Henry (Papperboi) — que tem neste episódio o seu melhor momento na série –, Atlanta se consolida-se também no panteão das comédias com esquetes ao apresentar a história de Antoine Smiles (Niles Stewart), um homem negro na casa dos 30 anos e que afirma ser branco, um caso raro de “transracialidade” ao ponto de mudar seu nome para Harrison Booth. O personagem tenta comportar-se como branco ao tentar falar com a polícia para incriminar um negro sem motivo aparente, vestir roupas caqui, tinge o cabelo de loiro, usa franja e finge interesse em golfe e arte. Sendo tratado com deboche por Papperboi, mas com respeito pelos dois outros debatedores da mesa em uma entrevista posterior, Harrison Both acaba por perder toda a credibilidade para esses quando faz uma declaração contra a transexualidade. Escrito e dirigido por Donald Glover (vencedor do Emmy de direção de comédia pelo episódio), “B.A.N.” é um herdeiro direto de outros programas aclamados como Key and Peele e, especialmente, Chappelle’s Show. E assim como ambos, possui o potencial de influenciar toda uma nova geração da comédia negra americana. — Cristian Dutra

9. BoJack Horseman – S04E11: Time’s Arrow

Direção: Aaron Long | Roteiro: Kate Purdy
Exibido originalmente em 8 de setembro de 2017.

“Time’s Arrow” é o episódio que antecede o fim da quarta temporada de BoJack Horseman, que focou em mostrar raízes e frutos da família Horseman. Nele, vemos trechos da infância de Beatrice, mãe de BoJack, de sua relação com o pai, que constantemente a criticava, comportamento que ela depois replica com seu filho. E vale destacar como é linda a forma com que o episódio transita fluidamente entre passado e presente. Vemos também sua juventude quando conheceu o pai do BoJack e o fracasso do casamento dos dois. É incrível como em menos de meia hora, a série consegue aprofundar tanto a personalidade de Beatrice e os fatos que contribuíram para ela ter sido a péssima mãe que foi para o protagonista. No entanto, um grande feito da série e que o episódio exemplifica é nunca deixar de responsabilizar os personagens por suas escolhas. Quando conhecemos suas razões de ser, o objetivo é despertar a empatia e a compreensão e não arrumar desculpas para que ajam da forma como agem.

O fato de se tratar de uma animação, dá liberdade para a série ousar e usar de elementos que não caberiam tão bem em outros formatos e que enriquecem o episódio. Como por exemplo, o fato de que os rostos da maioria das pessoas (e animais rs) são vazios e sem detalhes em alusão às memórias embaçadas da Beatrice, enquanto o rosto da Henrietta parece coberto de propósito. “Time’s Arrow” é um belo exemplar de como essa comédia animada consegue trazer episódios dramáticos se valendo de seu texto e do nível de cuidado e detalhe com os quais a animação é feita. — Valeska Uchôa

8. Watchmen – S01E06: This Extraordinary Being

Direção: Stephen Williams | Roteiro: Damond Lindelof, Cord Jefferson
Exibido originalmente em 24 de novembro de 2019.

Episódios inteiramente passados em flashback (“Across the Sea”, de Lost) ou na dentro da cabeça de algum personagem (“Flashes Before Your Eyes”, de Lost e “International Assassin” e “The Most Powerful Man in the World”, de The Leftovers) sempre estiveram presentes na obra de Damon Lindelof. O sexto episódio da primeira temporada de Watchmen, contudo, faz o quase impossível: junta os dois conceitos. Passado quase inteiramente na mente da protagonista, Angela Abar (Regina King) e ao mesmo tempo um flashback das lembranças do avô da mesma, Will Reeves (Jovan Adepo, na versão mais nova), o episódio traz consigo o melhor dos dois conceitos. Esteticamente, o episódio, quase todo em preto e branco, conta com passagens de ambiente que simbolizam o pensamento entrecortado de Angela durante sua “viagem” no que parecem ser longos planos-sequência. Há um momento específico, por exemplo, em que Reeves e sua esposa, June (Danielle Deadwyler), conversam sobre um filme significativo para o primeiro, ao passo que a câmera coloca os dois em segundo plano e passa a focar a parede da sala, onde o filme começa a ser reproduzido, como em uma sala de cinema. Para além da estética impecável, o episódio conta com um dos mais importantes discursos visto esse ano na TV: o primeiro herói americano, que na história da série é aquele que impulsiona a criação do grupo de heróis que dá nome à série, é um homem negro. Um homem negro que só colocou a máscara pela primeira vez porque, embora policial, não conseguia o respeito necessário da população e dos colegas de profissão para fazer a justiça que tanto almejava. A importância da história no contexto histórico-social em que nos encontramos (não só nos EUA, mas aqui também no Brasil) e a estética impecável tornam esse episódio o melhor de 2019 e, com certeza, um dos melhores e mais relevantes da década. — Breno Costa

7. BoJack Horseman – S05E06: Free Churro

Direção: Amy Winfrey | Roteiro: Raphael Bob-Waksberg
Exibido originalmente em 14 de setembro de 2018.

Demorei uns 10 dos 26 minutos do sexto episódio da quinta temporada de BoJack Horseman, “Free Churro”, para sacar o que estava se passando na minha tela. Quando finalmente percebi, fiquei torcendo para aquilo nunca mais acabar. Mais do que um episódio que dá adeus a um de seus mais complexos personagens, “Free Churro” é uma aula de domínio narrativo. Poucos são os roteiristas em ação (ou aposentados) que teriam a maestria de segurar um episódio de quase meia hora baseado em um grande e ininterrupto monólogo, mas Raphael Bob-Waksberg, também criador e showrunner da série, conseguiu brilhantemente. O trabalho de voz de Will Arnett, cujo monólogo, dizem por aí, foi gravado todo de uma vez sem pausas, em “Free Churro” encontra seu momento mais inspirado. Mais do que isso, o episódio é uma homenagem a tudo que a série construiu até então: seria impossível esse episódio existir se a relação entre BoJack e sua mãe não tivesse sido bem trabalhada como foi desde a primeira temporada da série. — Breno Costa

6. Fleabag – S02E01: Episode 1

Direção: Harry Bradbeer | Roteiro: Phoebe Waller-Bridge
Exibido originalmente em 4 de março de 2019.

“This is a love story”. O 2×01 de Fleabag é daqueles episódios que eu queria ter escrito. E se algum dia conseguir escrever algo próximo em qualidade, eu me considerarei uma roteirista extremamente bem-sucedida. Pra começar que ele entra na minha categoria de episódios favorita, que é a de lockdown. Lockdown episode é aquele que se passa inteiro ou quase inteiro num ambiente restrito em que o mais comum é que o personagem fique literalmente preso. E aqui já começa a genialidade desse episódio em particular: é um lockdown em que ninguém está preso de fato. A qualquer momento é só levantar e sair daquele restaurante com a garçonete irritante. Mas ao mesmo tempo não é, porque quantas pessoas de fato já simplesmente saíram de uma reunião familiar? É uma prisão subjetiva que carrega o peso de incontáveis e implícitas normas sociais, da qual só é possível escapar nas pausas pra um cigarro (é por essas e outras que eu não paro de fumar).

O episódio transcorre ao longo de um jantar. Assim são os episódios desse tipo, em que pouco de fato acontece. Muito, por outro lado, é dito sobre cada personagem ali. Presos sem escapatória uns aos outros, muito é dito e não dito sobre quem de fato são aquelas pessoas. É, logicamente, uma aula de diálogo, com espaço de sobra para pausas esquisitas, atropelamentos de fala e silêncios constrangedores. Mais do que isso, é um episódio que nega o caminho cínico (e previsível) da dramédia tradicional: tudo parece bem, mas no final BUM fica com esse drama muito dramático, profundo demais (a minha grande crítica, inclusive, à primeira temporada de Fleabag, que termina nesse tom). Na segunda, as coisas estão bem. Mesmo. Claro, haverá crises e momentos difíceis. Mas nem tudo precisa ser traumático e horrível para ser profundo. Tanto que esse episódio já estabelece a tônica do meu ponto favorito da temporada: todos os personagens são aprofundados e ganham mais camadas e complexidade, bem como se tornam mais profundas as relações que estabelecem entre si. A relação de Fleabag e Claire, que já era incrível, dá um salto nesse episódio e na temporada como um todo. Vamos da comédia ao drama de volta à comédia simultaneamente de forma orgânica e como um soco no estômago. Ou talvez esteja tudo lá ao mesmo tempo. Juro que a referência ao soco foi acidental. — Luiza Conde

5. The Leftovers – S03E08: The Book of Nora

Direção: Mimi Leder | Roteiro: Tom Perrota, Damon Lindelof, Tom Spezialy
Exibido originalmente em 4 de junho de 2017.

Quando The Leftovers chegou ao seu último episódio, era difícil adivinhar o que viria pela frente. Sendo uma série que desafiou o espectador do início ao fim, o series finale tinha várias possibilidades, porém Tom Perrota e Damon Lindelof apostaram em um episódio baseado na simplicidade, quase que em sua totalidade no imenso talento de seus protagonistas Carrie Coon e Justin Theroux. “The Book of Nora” deixa de dar tanta atenção para as suposições sobrenaturais para contar uma história de amor que sobreviveu aos anos. A jornada de Nora e Kevin é fascinante. Ambos sofreram de algum modo com a Partida Repentina. Danificados, se juntaram. Enquanto juntos, sabotavam o relacionamento, mantinham segredos um do outro, e em “G´Day Melbourne” colocaram para fora todo o ressentimento e raiva, e por fim se afastaram. Foi necessário perderem-se para notar o quanto um fazia diferença na vida do outro. Ela se escondeu do mundo. Ele passou anos à sua procura, até que o reencontro ocorreu e Kevin resolveu fingir que nada havia acontecido e que esta era a primeira vez. Contudo, o passado não nos deixa, por mais que queiramos.

De modo brilhante, a diretora Mimi Leder conduz um finale inesperado e com uma carga emocional gigantesca. Para aqueles que buscam algum tipo de resolução sobre a questão sobrenatural, da Partida Repentina, há também alguma resposta, porém isto não é Lost. A complexidade desses personagens é muito maior do que qualquer mistério e The Leftovers abdicou o rótulo lostiano para se focar no que mais importa, que são as histórias desses personagens. Aqui, Kevin e Nora completam seus arcos da maneira mais satisfatória possível. Não há nada inexplicável acontecendo, sejam dilúvios, sumiços repentinos, rituais ou visitas ao outro lado. É um episódio que baseia-se em um roteiro extremamente bem escrito (alguns dos diálogos estão facilmente entre os melhores da história da tevê) e atuações fenomenais de Coon e Theroux. Cada olhar, fala, hesitação, respirada, gole de uma bebida na xícara, expressão facial e até a linguagem corporal, são devidamente entregues com alma pela dupla, e tudo magistralmente dirigido por Leder. Durante os últimos minutos da série, com uma longa conversa, ela tem a sabedoria de deixar tudo ao natural, ao som ambiente, sem nenhuma trilha, colocando a câmera na cara desses dois monstros da atuação; Coon fantástica ao expressar emoções como poucos interpretes são capazes, e Theroux é posto em uma posição dificílima, que é reagir de acordo com tantas informações e sensações.

The Leftovers e “The Book of Nora”, por fim, estabelecem que há sim esperança, mesmo após tanta tristeza, dor e solidão. E o amor pode ser a chave para isso. Por mais batido que tal constatação possa soar, a série conduz para esse desfecho com primor e sem soar prepotente, sem criatividade ou clichê em nenhum dos 72 minutos de episódio. — Rodrigo Ramos

4. Mad Men – S04E07: The Suitcase

Direção: Jennifer Getzinger | Roteiro: Matthew Weiner
Exibido originalmente em 5 de setembro de 2010.

Existem episódios que conferem a grandes séries algo especial que refletem o sentimento que estamos vendo algo diferenciado. Algo grandioso. Toda grande série funciona assim e entra nessa barreira para se consolidar em algum momento. Mad Men teve alguns momentos assim previamente, porém, sem dúvidas “The Suitcase” é o maior deles. Por quê? Porque o conceito de um “bottle episode” de personagens juntos num só cenário durante a grande parte de um episódio pode render apenas um episódio preguiçoso ou que extrapola as possibilidades narrativas e artísticas de forma excelente. E aqui vemos a segunda opção em uma das melhores horas já feitas na história das séries de TV. Dirigido por Jennifer Getzinger e escrito pelo próprio showrunner da série Matthew Weiner, o episódio se foca em abordar o relacionamento dos protagonistas da série Peggy (Elisabeth Moss) e Don (Jon Hamm) enquanto eles trabalham juntos, sozinhos e isolados do mundo, aparentemente. Maravilhosamente bem escrito e dirigido, o episódio aproveita ao máximo a química dos dois atores e a dinâmica fascinante de dois grandes personagens oferecendo um estudo não apenas da forma que eles se relacionam mas sobre eles mesmos, extraindo ainda interpretações geniais tanto de Moss quanto de Hamm. É tudo tão bem desenvolvido que ficamos totalmente entregues em ver aqueles personagens passando um tempo juntos. É engraçado em alguns momentos, dolorosamente comovente e triste em outros, quebra expectativas e desenvolve com perfeição um dos relacionamentos mais complexos da história da TV oferecendo novas temáticas sobre a série e retomando questões antigas. É genial. Uma obra-prima. — Diogo Quaglia

3. The Americans – S06E10: START

Direção: Chris Long | Roteiro: Joel Fields, Joe Weisberg
Exibido originalmente em 30 de maio de 2018.

“Assim expira o mundo/ Não com uma explosão, mas com um sussurro”, avisa a muito repetida frase do poeta T.S. Eliot. The Americans foi fiel a si mesma até o final, e o epicamente emocional “START” era o único fim que essa história, da forma como ela foi contada, poderia ter. Seria fácil demais, atalho demais, matar os personagens como punição pela ambiguidade moral que apresentaram no decorrer da série — ao invés disso, os showrunners Joe Weisberg e Joel Fields escolheram deixá-los viver no mundo quebrado que eles não criaram, e nem tem o poder de mudar. Ainda mais magistralmente, Fields e Weisberg escolheram criar um finale fundado em compaixão, em misericórdia, daquela que Stan relutantemente concede aos vizinhos e amigos de anos a fio àquela que Philip e Elizabeth escolhem dispensar ao filho, Henry, mesmo que isso signifique uma separação definitiva da unidade familiar. É um tipo de atitude nobre e humana que só poderia ser tão agridoce assim em The Americans, uma série que buscou até o fim conciliar os efeitos destrutivos da guerra como instituição (e não dos lados ideológicos dela) em seus personagens. Com um título como “START”, o episódio final de The Americans nos comunica que essa conciliação não acabou só porque a série chegou ao fim, e provavelmente não vai acabar nunca. Só as melhores narrativas são capazes de reconhecer as próprias limitações da mídia em que se encontram e transformá-las em virtudes. — Caio Coletti

2. The Good Wife – S05E05: Hitting the Fan

Direção: James Whitmore | Roteiro: Robert King, Michelle King
Exibido originalmente em 27 de outubro de 2013.

“Isso nunca foi pessoal”. “Não tô nem aí”. Esse episódio está na lista de melhores da década simplesmente porque ele consiste em 44 minutos da mais pura perfeição televisiva (vocês lembram quando 44 minutos eram suficientes antes dos prestige dramas acabarem com nossos sonhos?). Da trilha crescente, ao ritmo cada vez mais frenético, passando por algumas das cenas de baixaria e barraco mais deliciosas já vistas (porque tudo é sim muito pessoal), “Hitting the Fan” é o clímax de uma das construções mais geniais que eu já testemunhei em narrativas seriadas, e que se inicia muito antes no episódio 4×14 (“Red Team, Blue Team”), numa semente de insatisfação plantada que vai crescendo episódio a episódio até desembocar em “Hitting the Fan”, em que Alicia e Cary finalmente saem da firma para fundar a sua própria, carregando diversos colegas e roubando alguns clientes essenciais. Como diria Will para Alicia na cena digna dos melhores melodramas em que ele varre tudo o que há em cima da mesa: “Você é horrível e nem sabe que é horrível”. E, ao mesmo tempo, não é bem assim, porque a saída de Alicia e companhia só acontece porque eles são explorados e usados o tempo todo por sócios que fazem muito menos e ganham muito mais. Mais do que isso, Will e Diane estão em vias de desfazer sua sociedade e precisam se unir agora para evitar que a Lockhart/Gardner vire pó por uma dupla de advogados que lembra muito eles próprios. E ainda tem os clientes (de uns, de outros, quem sabe?) que continuam batendo à porta. É um episódio que faz malabarismo com maestria com as 20 bolas que joga no ar (entre tramas, conflitos de personagens e a destreza de conseguir gerar empatia com todos os lados), e serve de ápice para várias tramas maiores e menores que vinham sendo construídas nesse início de quinta temporada, durante a quarta ou mesmo ao longo de toda a série (olá, Chumhum). E ainda é o propulsor de uma espiral do Will que culminará na sua morte dez episódios depois. Em suma, uma carta de amor à narrativa seriada executada com brilhantismo poucas vezes alcançado (talvez pelos próprios King no 2×10 de The Good Fight). Daqueles que a gente assiste mil vezes e de vez em quando ainda dá vontade de assistir de novo. — Luiza Conde

1. Breaking Bad – S05E14: Ozymandias

Direção: Rian Johnson | Roteiro: Moira Walley-Beckett
Exibido originalmente em 15 de setembro de 2013.

Faltando apenas três episódios para o fim da série, Ozymandias marca a ruptura total da série com suas narrativas. Os cinco primeiros minutos nos lembram de tudo como era no início, da relação de implicância entre Walt e Jesse, mas também como Walt era uma pessoa completamente diferente. Quando ele realmente pensava em sua família, a priorizava, e não havia mudado o seu mindset para chefe do crime organizado. Aí mesmo Rian Johnson e Moira Walley-Beckett, respectivamente diretor e roteirista do episódio, colocam em cena tudo o que será fundamental nos outros 40 minutos de episódio, servindo como uma espécie de foreshadowing (o foco nas facas não é gratuito, afinal, e é engraçado como o filme mais recente de Johnson se chama Knives Out – ou Entre Facas e Segredos, no Brasil – que pode ser, intencionalmente ou não, referência ao seu melhor trabalho televisivo).

Da calmaria pré-título, o episódio retorna com tiroteio. A partir daí, é tensão lá no alto até o último minuto. O episódio não teria tanto poder caso a série como um todo, em especial a última temporada, não tivesse sido concebida com tanto cuidado. Por isso a entrega emocional e o limite que cada personagem extrapola aqui encaixam tão bem. Neste episódio, Bryan Cranston é oferecido pelo roteiro afiadíssimo as ferramentas para poder usar toda a gama da sua capacidade como ator, mostrando medo, fragilidade, raiva, rancor, soberba, desespero, maldade, até o despertar da humanidade que ainda habita nele. Não só ele, mas Anna Gunn também é premiada com um texto primoroso para que Skyler brilhe, contando a verdade ao filho sobre o pai e tudo o que sabe, o confronto final com Walt (provavelmente o ponto crítico em que Walt revela a faceta do homem que se tornou) e a catártica cena no telefone. Desculpem o clichê, mas o episódio é mesmo uma montanha-russa de emoções. O passeio no brinquedo vale o ingresso e toda a espera na fila que houve até chegar nele. E após seis anos de sua exibição, “Ozymandias” ainda prova-se uma obra-prima, um marco único na TV, que nem mesmo épicos multimilionários com dragões conseguiram, quiçá chegaram perto. Conceito, qualidade e coesão. — Rodrigo Ramos

Menções honrosas: The Leftovers – S02E08: International Assassin, Sherlock – S02E03: The Reichenbach Fall, Penny Dreadful – S03E04: A Blade of Grass, Fleabag – S02E04: Episode 4, Game of Thrones – S03E09: The Rains of Castamere.

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Textos por Breno Costa, Caio Colletti, Carissa Vieira, Cristian Dutra, Diego Quaglia, Diogo Pacheco, Douglas Couto, Luiza Conde, Mariana Ramos, Régis Regi, Valeska Uchôa, Zé Guilherme, André Fellipe, Rafael Bürger, Leonardo Barreto & Rodrigo Ramos

Produção, edição e redação final por Rodrigo Ramos

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