Melhores Séries, Episódios, Atrizes e Atores da TV na Temporada 2017/2018

Atlanta, The Americans, The Good Fight, BoJack Horseman, The Handmaid’s Tale estão entre os destaques da tevê nos últimos 12 meses.

O Previamente, pelo oitavo ano consecutivo, volta a reconhecer o que houve de melhor na temporada da televisão estadunidense. Evidentemente, a quantidade de produções — entre minisséries, séries limitadas e regulares, de 10 minutos a mais de uma hora por episódio — vem, ano após anos, aumentando e fica mais árduo manter a grade atualizada com tantas ofertas. Entretanto, justamente pela enxurrada de obras é que se faz necessário fazer uma limpa no que merece o nosso precioso tempo.

Nesta janela de tempo, tivemos estreias expressivas, segundas temporadas que superam suas antecessoras, e séries que chegaram à sua conclusão em seu auge. Para decidir os destaques do ano, selecionamos um júri com 12 pessoas, entre profissionais da área, jornalistas, críticos, estudantes e aficionados por séries. A seleção foi realizada utilizando os mesmos critérios do Emmy Awards: entram as obras que foram exibidas em sua totalidade ou mais de 50% de sua temporada entre 1º de junho de 2017 até 31 de maio de 2018. E pelo terceiro ano, os internautas puderam puderam eleger suas séries de comédia e drama favoritas.

Confira abaixo a lista completa com os melhores episódios, atrizes, atores e séries da TV na temporada 2017/2018.

MELHORES ATORES COADJUVANTES

Tituss Burgess (Unbreakable Kimmy Schmidt)

O protagonista da grande promessa da próxima fall season, The Capist, está mais um a vez presente na lista de melhores do ano do Previamente. Tituss teve uma participação menor nesta primeira parte da quarta temporada se compararmos com a terceira, mas isso não o impediu de roubar a cena. Não teve paródia de “Lemonade”, mas teve ele interpretando uma reencenação de Kimmy em um documentário do ótimo serviço de streaming HouseFlix. O interessante desta primeira parte da última temporada é como a grande maioria do elenco está envolvido em enredos compartilhados e seu personagem não ficou à margem da narrativa ou limitado apenas em desenvolver a sua relação com o seu interesse amoroso. Esperamos ver mais de Tituss em seu futuro e pelo menos com emprego garantido depois que Unbreakable Kimmy Schmidt acabar. É o mínimo que ele merece.

https://vimeo.com/278324288

Scoot McNairy (Halt and Catch Fire)

Falemos então sobre Gordon Clark. Me disseram que ele foi classificado nessa lista como ator coadjuvante (terei de, logo mais, falar do “lead” da série, porém essas são cenas do próximo capítulo). Por vezes chato, por vezes problemático, Gordon era o pulso desse grupo de desajustados. Em sua loucura, problemas e ilusões ele fornecia um colchão de sentimentos e dúvidas que possibilitou a construção e tessitura de um universo tão rico quanto sua mente perturbada. E, como tal, não é de se espantar o alcance de sua trajetória no capítulo final de Halt and Catch Fire. Apesar de tudo, Scoot conseguiu manter até o último momento o brilho no olhar de um verdadeiro idealista, alguém que nunca esteve preparado para esse mundo, mas que nele foi jogado para catalisar grandes mudanças. “Who Needs a Guy” é uma ode a sua presença ausente, a força de alguém que ali estava mesmo que na dúvida de um introvertido. Sua marca é indelével. Ele me fez trocar o papel de parede do meu computador.

David Harbour (Stranger Things)

Muitas vezes, em histórias focada em crianças e adolescentes, os adultos não tem muito espaço, saindo como caricatos e pouco desenvolvidos, com os adultos sendo inúteis ou não acreditando nas crianças que geralmente estão certas. Stranger Things consegue subverter isso com o xerife Jim Hopper, um policial que, de primeira, parece preguiçoso e sem vontade, mas que se mostra um homem determinado e pragmático, liderando as pessoas toda vez que está em cena. Com a ajuda do roteiro, David Harbour agarra a chance para criar um personagem com muitas camadas. Ele consegue trazer o ar preguiçoso e grosso para o xerife, sem deixá-lo chato e também sabe demonstrar momentos de empatia e preocupação para com os outros. E ao juntá-lo com Millie Bobby Brown numa relação de pai e filha disfuncional, a série atingiu um dos únicos acertos de uma temporada que não fugiu muito do que a primeira já havia estabelecido. Mas todo mundo sabe que Harbour só está nesta lista por causa dessa dancinha.

Jeffrey Wright (Westworld)

Durante a primeira temporada de Westworld, Jeffrey Wright teve a oportunidade de atuar interpretando dois personagens: Arnold Weber, o co-criador do parque onde prazeres violentos possuem finais violentos, e Benard Lowe, chefe de programação do parque, que depois descobrimos ser também um anfitrião. No segundo ano da série, sem essas amarras misteriosas envolvendo a sua identidade, Wright se concentrou naquele que foi o guia para a confusão o entendimento do público. Obviamente, muito do que Wright fez foi demonstrar confusão, em uma expressão que muitas vezes resume o tom da série. Mas dentro do que o papel lhe oferecia, o ator soube demonstrar um tipo de sentimento que evolui, assim como a inteligência artificial. Wright entendeu essas nuances, assumindo que o personagem despertou para uma nova fase. Uma cena marcante é quando ele, ao ser interrogado por Charlotte Hale, chora com uma expressão que não condiz com esse sentimento. É uma atuação que entende essa necessidade de se expressar peculiarmente, e que também garantiu ao ator um lugar entre indicados ao Emmy de melhor ator e na de coadjuvantes na lista do Previamente, pois este é o seu lugar.

Brian Tyree Henry (Atlanta)

O segundo ano de Atlanta deu mais material para Brian Tyree Henry trabalhar, ganhando dois episódios solos (“The Barbershop”, nomeado pelo Emmy de melhor roteiro, e o excelente “Woods”, que deveria ter sido o indicado a melhor roteiro) e, mesmo nomeado para ator coadjuvante este ano, a sensação que dá é que ele é o protagonista de Atlanta, já que a presença de Donald Glover/Earn é menos sentida nesta temporada. Podemos ver Henry interpretando momentos mais dramáticos que ajudam a trazer empatia do público. E esses momentos são necessários já que Al é um personagem importante e muito da série gira em torno de sua fama e o registro de como essa fama ataca o rapper de todos os lados, das formas mais engraçadas e trágicas. Porém, o que faz dele ser um dos meus atores favoritos da atualidade na TV é como o ator sabe fazer Al reagir tão bem com as situações nonsenses em que se encontra. As expressões faciais por si só já dizem muito de Paper Boi e deveriam ser usados como memes pra qualquer situação.

Andre Braugher (Brooklyn Nine-Nine)

Ao interpretar o Capitão Ray Holt em Brooklyn Nine-Nine, Andre Braugher tem uma tarefa difícil. Ele é o personagem sério no meio do caos, o que segue as regras, o “chato” da turma. Explorar esse lado indiferente, frio e sem emoções humanas foram as saídas que fizeram com que ele seja, muitas vezes, o personagem mais interessante da série. No meio do exagerado e inverossímil, ele se destaca justamente por sua expressão impassível em qualquer situação, onde é impossível identificar se está no pior dia de sua vida ou se ganhou na loteria. Aos poucos, foi ganhando um lado cômico diferente, onde a qualidade da sua atuação foi essencial para que ficasse na medida certa. Braugher, que veio de papéis sérios em Homicide e The Wire, mostra seu grande talento para a comédia e nos deixa na torcida para que siga nesse segmento.

Noah Emmerich (The Americans)

Não deve ter sido fácil dividir uma série com Keri Russell e Matthew Rhys, mas Noah Emmerich mostrou o colosso de ator que pode ser ao moldar os últimos momentos do agente Stan Beeman na sexta temporada de The Americans. Sua trajetória até aqui foi de uma  sutileza e compreensão profunda da jornada do personagem e o que ela significa para os temas maiores da série, mas no sexto ano Emmerich pareceu aproveitar, possivelmente pela primeira vez, todo o espaço que The Americans lhe dá para respirar — que não é pouco. Sua genialidade está na forma como expressa a repressão sentimental de Stan, seu pesar ao perceber que o veneno da guerra que ele tem travado por tanto tempo, contra um inimigo que estava mais próximo do que ele jamais poderia imaginar, se espalhou para todos os cantos de sua vida íntima e familiar. Nenhum dos personagens de The Americans teve um final feliz, mas o de Stan talvez seja o que dói mais, porque testemunha o fracasso de uma tentativa honesta de construir uma vida fora dos limites amargos da Guerra Fria. Esse é o fracasso que Emmerich expressa em tons tão tocantes e empáticos, emergindo nessa última temporada, triunfal em sua interpretação, como uma figura que sempre foi trágica — nós só não estávamos olhando de perto o bastante.

MELHORES ATRIZES COADJUVANTES

Kerry Bishé (Halt and Catch Fire)

Kerry Bishé sempre foi a pérola escondida de Halt and Catch Fire, e, por isso, da televisão americana. Ouso dizer que a série em si só encontrou sua base e estabilidade para brilhar quando lhe retirou da sombra de ser apenas uma dona de casa e esposa e lhe forneceu material dramático, que expandia e brincava com tais papéis e, portanto, com o significado de ser não apenas a mulher de um gênio, mas, ela mesma, a visionária de um novo mundo. Nesta quarta e última temporada, vimos uma Donna cheia de conflitos e profundidade. Agora, sem o peso do sobrenome de seu ex-marido, Donna Emerson tem a chance de se destacar dentro do mundo dos negócios e criar um espaço para si, mas ainda assim se vê perdida. Suas aspirações elevaram a personagem ao protagonismo, mas, também, lhe isolaram de seus amigos, em especial o duro rompimento com Cameron (Mackenzie Davis), e de seus verdadeiros sonhos. No entanto, longe de ser uma peça de propaganda pró ou contra a possibilidade de uma mulher ter tudo, ela nos mostrou as dificuldades, prazeres e nuances de navegar a vida e recomeçar quando descobrimos que o desconhecido e o limbo são incógnitas a serem abraçadas e não temidas.

Thandie Newton (Westworld)

Indicada ao Emmy de melhor atriz coadjuvante pela segunda vez consecutiva, Thandie Newton não vai ter vida fácil na premiação, que mais uma vez concentra as grandes disputas no bloco feminino. No entanto, em Westworld, ela reinou absoluta nesta temporada, com momentos que vão da carga dramática ao puro fan service. É bem verdade que sua jornada não teve uma total regularidade. Após percorrer um longo caminho para encontrar sua filha, chegar ao Shogun World e passar alguns episódios em uma mesa, pouco restou para Newton, em termos evolutivos de sua personagem. Porém, verdade seja dita: toda vez que Marve Milay aparece, ela rouba a cena. Seja através da emotiva despedida, no episódio 10, ou em sua performance badass nos episódios 1 e 5. Não podemos esquecer também de seu encontro com Robert Ford, quando a atriz, através de olhares, expressa todo o seu sentimento. Thandie Newton merece um lugar de destaque nesta temporada.

Jodie Comer (Killing Eve)

Os fãs de My Mad Fat Diary já estão liberados para se vangloriar na internet pelo fato de terem conhecido Jodie Comer no início de sua carreira. A atriz britânica que já foi patricinha na década de 90 (My Mad Fat Diary), rainha de Inglaterra (The White Princess) e agora, acho justo assumir e admitir, que foi como assassina internacional em Killing Eve que a atriz conseguiu o maior destaque em sua carreira. Ela interpreta Vilanelle, uma assassina altamente treinada com um passado obscuro e motivações até então desconhecidas pelo público. Na série, vemos um jogo de gato e rato com Eve (personagem de Sandra Oh), que foi muito elogiado pela crítica, especialmente por conta da atuação das duas atrizes. Pra uma sociopata sem remorso, Vilanelle tem um ótimo senso de humor, o que é um dos motivos para a série ser considerada audaciosa, mostrando uma vilã pouco convencional. Se isso nos é de fato entregue, não sei dizer, mas posso afirmar que é certamente divertido ver a série tentando. Jodie é, sem dúvidas, uma das grandes revelações desta temporada e esperamos nos divertir com as vilanias de Vilanelle o mais breve possível na já garantida segunda temporada da série.

Rita Moreno (One Day at a Time)

Antes de ser a nossa querida Abuelita, Rita Moreno entrou para a história. Ela é uma das 12 pessoas no mundo que conseguiu a façanha de vencer os quatro maiores prêmios anuais de entretenimento americano: ganhou Oscar, um Emmy, um Grammy e um Tony. APENAS ISSO. Antes de todo o elenco de One Day at a Time ter nascido, ela já estava atuando — e ganhando prêmios por aí. E o melhor: ela mostra como ainda está em forma interpretando a cubana mais talentosa e autoconfiante da televisão de forma extraordinária. Um toque essencial para uma série já excelente, a atriz nos alegra e nos emociona mostrando para todos por que sua reputação a precede (e porque seus prêmios são merecidos). É um privilégio termos uma atriz latina de verdade, tão competente, em uma comédia tão inteligente quanto ODAAT.

Margo Martindale (The Americans)

Fossem eles o estoico Gabriel de Frank Langella ou a durona Claudia de Margo Martindale, os agentes designados pela KGB para “gerenciar” os protagonistas Philip e Elizabeth sempre tiveram um papel muito claro na dimensão dramática de The Americans — o de exemplificar o efeito psicológico que a história da União Soviética, seu sofrimento e sua cultura, tiveram em seu povo. Na sexta temporada, Martindale ressurgiu como a gigante da atuação que sempre foi, enterrando os dentes com gosto no material mais amplo que a série já lhe deu. Aqui, Claudia é guia cultural para a jovem Paige, consciência patriótica para Elizabeth, mas também um feroz e amargo retrato de si mesma, que Martindale pinta com pinceladas largas e gestos expansivos, mas nunca cartunescos. É possível entender e acreditar na Claudia de Martindale, porque a grande atriz (e o roteiro, para sermos justos) funda a personagem em sabores imediatamente identificáveis de ressentimento e anseio, mesmo que deixe claro que eles vêm de uma vivência que nunca poderemos compreender totalmente. Martindale é o enigma mais profundo, e ao mesmo tempo o elemento mais terreno, de The Americans — e, por isso, merece todos os Emmys que levou pelo caminho dessas seis temporadas.

Ann Dowd (The Handmaid’s Tale)

Mesmo tendo uma participação menor no contexto geral, Ann Dowd mostrou, novamente, ser uma atriz fora do sério em The Handmaid’s Tale. Tia Lydia é uma daquelas personagens difíceis de simpatizar, ainda mais pelo fato de não ser apresentado nenhum background dela, exceto por um breve diálogo entre ela e June, quando fala sobre sua irmã. Dowd é soberba, demonstrando o tom de ameaça ainda que na frase mais simpática possível. Nunca baixando sua guarda, Dowd proporciona o máximo de nuances para uma personagem que aparece pouco e abraça cada segundo em tela, se tornando marcante em cada cena. É uma coadjuvante de luxo e que certamente gostaríamos de ver mais no próximo ano. Afinal, um pouco menos de June e mais de Tia Lydia seria interessante, não acham?

Yvonne Strahovski (The Handmaid’s Tale)

A personagem mais interessante da segunda temporada de The Handmaid’s Tale, sem sombra de dúvidas, foi Serena. Já que a série optou por permanecer no status quo e manter a narrativa dentro de Gilead, era necessário explorar um pouco mais as pessoas que habitavam a casa onde mora June. Enquanto com outros coadjuvantes da residência ninguém se importa, Serena se tornou uma personagem tridimensional, ainda que difícil de se relacionar. As escolhas dela nem sempre são louváveis, mas há um estudo de caso por trás disso. Sua relação com June é uma espécie de amor e ódio, pois uma parte sua, a mulher independente que um dia fora, grita dentro de si e ela tenta ser mais do que a posição em que acabou se colocando ao criar o estado não-laico. Outra parte, aquela que ainda enxerga que as decisões tomadas são para um bem maior, busca punição quando percebe que está havendo uma espécie de rebelião dentro de si, focalizando sua frustração em June, mesmo que seja notável a aproximação delas. Simultaneamente, vemos o lado humano de Serena e também a faceta monstruosa — e há aqui uma tortura psicológica com ela mesma, seja pela prisão que vive, pelo bebê que quer ter, a relação degradada com o marido, a amizade com June e o antagonismo projetado nesta. Para essa gama de situações e emoções, Yvonne Strahovski extrai de si atuações irretocáveis ao longo da temporada, evoluindo em sua performance assim como o roteiro também evoluía seu papel em algo bem mais complexo do que a anfitriã má. A atriz é posta em momentos árduos, que exigem um arsenal cênico potente, mas ela entrega todas as vezes. Impressionante, do início ao fim.

MELHORES ATORES

Lee Pace (Halt and Catch Fire)

Fácil dizer que Joe MacMillan é o Steve Jobs de Halt and Catch Fire. Lee Pace era, com certeza, o maior nome dentre o casting da série, muito amado pelo público como protagonista da breve porém deliciosa Pushing Daisies. Em Halt and Catch Fire o ator sai de uma certa zona de conforto, sendo o leading man belo e queridinho, para adentrar a mente de um personagem complicado e muitas vezes desagradável. Desde seu primeiro momento em tela, a extrema confiança que Joe MacMillan transpirava apresentava rachaduras, carregando frente a seu rosto uma máscara de poder, dureza e encanto que escondia a extrema insegurança de uma pessoa em constante busca de si e da aprovação dos outros. Nesta última temporada, Lee Pace nos entrega alguns dos momentos mais vulneráveis de seu personagem. Algo de novo e refrescante surge de sua relação com Haley e os momentos que ambos dividem em “Goodwill” são alguns dos mais tocantes dessa temporada. De todos os personagens, Joe talvez tenha sido o que mais teve altos e baixos, com certeza o que mais odiei e por mais tempo, e Lee Pace conseguiu mostrar toda sua versatilidade com esse personagem.  

Bill Hader (Barry)

A carreira de Bill Hader é extensa, provavelmente você já o viu em papéis secundários ou terciários em filmes protagonizados por grandes comediantes, ou fazendo pontas em diversas séries de comédia, dentre elas: 30 Rock, The Office, Portlandia, Unbreakable Kimmy Schmidt e muitas outras. O ator, que também roteiriza e dirige, é co-criador e protagonista de um dos mais aclamados cult hits de séries de comédia dos últimos anos, a série Documentary Now!, mas foi com Barry, estreia da HBO deste ano, que o ator atingiu um novo patamar em sua carreira. A série de comédia que conta a história de Barry, um ex-militar que ganha a vida como assassino profissional e que decide mudar de vida ao descobrir uma nova paixão, o teatro. Creio que seja razoável afirmar que Barry é o projeto que Bill Hader obteve mais destaque em sua carreira e como também difere de muito dos trabalhos do ator, mesmo a série se enquadrando como “comédia”, gênero que praticamente domina a carreira do ator, em muitos momentos da série acompanhamos o ator mergulhar nesse personagem extremamente complexo e que também, curiosamente e surpreendentemente, nos entrega grandes momentos dramáticos. Barry pode não ser uma série perfeita, mas demonstrou ser uma comédia envolvente neste processo tão interessante de nos mostrar Bill Hader criando, roteirizando, dirigindo e protagonizando um projeto para se desdobrar em uma luz pouco familiar para o seu público ao personificar um personagem que lida com temas pesados, como, por exemplo, o transtorno de estresse pós-traumático, o que é bastante inesperado… Pelo menos pra mim.

Bill Pullman (The Sinner)

Em The Sinner, série do USA Network, Bill Pullman vive o detetive Harry Ambrose, um experiente policial determinado a mergulhar profundamente no caso de Cora (Jessica Biel), que comete um assassinato brutal e sem aparente motivação. O que Pullman oferece de melhor em sua performance é a partilha de um segredo que somente o seu personagem e o público sabem existir. Ambrose não é um detetive tipicamente amargurado, preso a estereótipos simplistas. A atuação de Bill o coloca como uma pessoa real que trabalha duro em um caso extremamente complicado, e à noite precisa lidar com problemas cotidianos e traumas que, inclusive, o ajudam a lidar com o complicado assassinato cometido por Cora. Esta é, sem dúvidas, uma atuação que merece destaque na temporada.

https://www.dailymotion.com/video/x7tnz3y

Ted Danson (The Good Place)

Ted Danson tem uma das carreiras mais malucas da televisão americana. Aclamado e premiado por Cheers, passando por Damages e sua estranha vida no universo de CSI, ele claramente não é alguém com medo de desafios, ou que possa ser facilmente rotulado, ou parado. E não é diferente em The Good Place. Na série, sua interpretação como Michael é um maravilhoso misto de doçura, loucura e não sei mais o quê. Na segunda temporada, vemos um personagem em conflito entre sua lealdade com o Bad Place e sua amizade recém forjada, e por vezes frágil e mal calculada, com Eleanor e os demais. Vê-lo passar por crises de ansiedade, extrema depressão e a descoberta do que tem de mais humano em si é absolutamente delicioso. Aqui, mais uma vez, Danson nos mostra o porquê de sua aclamação e a potência de um ator estranhamente camaleônico, sempre Ted Danson, mas sempre com uma pitada de algo a mais surpreendente.  

Sterling K. Brown (This Is Us)

Descoberto pela indústria em The People v. O.J. Simpson, Sterling K. Brown começou a ter mais oportunidades a partir da série limitada. This Is Us, por mais melodramático que seja em algumas oportunidades, é uma série de valor e Brown é uma das pessoas que faz com que cada cena tenha um peso. Todos tentam, e no segundo ano temos atuações excelentes de Mandy Moore e (surpreendentemente) Justin Hartley, mas ainda é o já duas vezes vencedor do Emmy que chama a responsabilidade pra si. O ator tem uma riqueza de expressões e olhares, sendo belíssimo vê-lo brilhar, passando por um desfile de sensações. Muitas vezes, é ele quem dá o tom de sobriedade que a série necessita de vez em quando. Se ano passado a lista de ficou muito apertada para ele, na temporada 2017/2018 o ator conquistou nossos votantes, entre razões e emoções.

Donald Glover (Atlanta)

Donald Glover é o cara do momento. Além de ser showrunner, ator, diretor, roteirista, produtor, entre outras funções em Atlanta, o cantor também está em alta na carreira musical como o rapper Childish Gambino, ganhando notoriedade pelo fantástico clipe “This is America”, que virou meme rapidamente pela internet a fora. No cinema, Glover esteve em Han Solo: Uma História Star Wars e na TV, apresentou pela primeira vez o Saturday Night Live, recebendo uma indicação ao Emmy 2018 pela performance, assim como uma nomeação pelo trabalho em Atlanta. Ocupado desse jeito, tenho a teoria que Glover não teve tanto tempo para o segundo ano da série em que Earn ficou um tanto apagado e outros atores do elenco puderam brilhar em episódios solos como Alfred/Paper Boy, interpretado pelo ótimo Brian Tyree Henry, que roubou a cena e acabou saindo como o protagonista da temporada em muitos momentos. Claro que Glover ainda é uma presença forte quando o drama de Earn toma conta da série, pela atuação mais pé no chão que traz pro personagem que sofre pela instabilidade financeira. Porém, o maior destaque dele na temporada é quando interpretou outro personagem, Teddy Perkins, no episódio do mesmo nome, um estranho recluso com um rosto incomum que fez muitos fãs ficarem surpresos que era o próprio Donald no papel. E se você ainda não sabia, pois bem… Pode aclamar esse cara mais ainda.

Matthew Rhys (The Americans)

Não é qualquer ator que, após seis anos habitando um personagem, seria capaz de construir todo um novo universo para ele na temporada final de uma série. Sorte a nossa, portanto, que Matthew Rhys definitivamente não é “qualquer ator”, como vem provando temporada após temporada de The Americans, criando um Philip Jennings cheio de fúria, sensibilidade e fragilidade, cujas expressões são um confronto direto do estoicismo masculino que tantos anti-heróis televisivos quiseram nos vender nas últimas duas décadas de cultura pop. Conforme Philip se afasta do trabalho de espionagem e sente na pele as falhas do sonho americano pelo qual ele foi seduzido, Rhys explora novas profundidades desse homem cuja repulsa à própria violência é de quebrar o coração de quem o assiste. O remorso e a desesperada busca por algum senso de nobreza e princípios de Philip ficam invariavelmente estampados no rosto do ator, em sua postura, nas entrelinhas de suas platitudes sociais. Traído pela crueldade de duas culturas diferentes, Philip termina The Americans ferido e à deriva, e Rhys se certifica que nós, espectadores, sejamos tão incapazes de fugir dessa angústia existencial quanto ele.

MELHORES ATRIZES

Pamela Adlon (Better Things)

Pamela Adlon é a alma de Better Things. Além de atuar, ela também é roteirista e dirigiu todos os episódios desta temporada. O talento de Adlon se sobressai neste segundo ano, evidentemente mais confortável no papel e conta com novas vertentes dramáticas e cômicas dentro do seriado. Sam (Adlon) precisa encontrar forças para continuar lidando com as três filhas, a mãe, trabalho e a vida amorosa. É visível como a personagem encontra-se sobrecarregada e necessita de um cano de escape. Em meio à rispidez e saco cheio, Adlon acrescenta sensibilidade na retratação, fazendo um recorte palpável sobre o que é ser mulher hoje e suas responsabilidade. Nos momentos mais catárticos aos mais hilários (a cena da caminhonete, logo abaixo, é prova disso), Adlon segura as pontas e mostra-se um dos talentos mais promissores da indústria televisiva atualmente de forma mais ampla, indo além da carreira de atriz/dubladora.

Jessica Biel (The Sinner)

Em The Sinner, Jessica Biel interpreta Cora, uma mulher aparentemente normal, cuja vida chega a ser até entediante. Em uma manhã de domingo, durante um passeio na praia com a família, ela tem um surto e esfaqueia um rapaz, sem nenhum motivo aparente. A investigação do crime acaba revelando segredos do passado de Cora, em um emaranhado de memórias turvas e lembranças traumáticas. Biel estreou no cinema aos 12 anos, mas é aos 36 anos, na TV, que ela vive o seu melhor momento. Com uma atuação dramática, Biel mergulhou de cabeça nos traumas de sua personagem, vítima de abusos e repressão religiosa, que desembocaram em um sombrio ato que é objeto de investigação do detetive Harry Ambrose, e de nós, os espectadores. A entrega de Biel neste papel é digna de reconhecimento, não somente pela carga emocional, mas pelo caráter crível de sua interpretação.

https://vimeo.com/278263147

Rachel Brosnahan (The Marvelous Mrs. Maisel)

Rachel Brosnahan é um nome relativamente novo na indústria, com uma carreira claramente ascendente e que está no seu até então auge protagonizando The Marvelous Mrs. Maisel, mas a atriz claramente se esforçou muito fazendo pontas em Gossip Girl, CSI, sendo vilã de The Blacklist e até vilã de franquia de filme adolescente, Dezesseis Luas, para chegar ao momento que se encontra na carreira. A protagonista da curta e pouco conhecida, porém aclamada série de drama Manhattan da WGN, agora interpreta uma comediante de stand-up na década de 50 em Nova York, ou melhor dizer, está tentando se tornar uma. A interpretação de Rachel Brosnahan é, por falta de adjetivo melhor, magnética, ao ponto que se torna um desafio tirar os olhos da tela ou parar de maratonar a série de tão rapidamente encantados que ficamos com o carisma da personagem. A comédia é escrita e criada por Amy Sherman-Palladino, ou seja, podemos contar com o máximo de diálogos possíveis de serem encaixados nos oito episódios da primeira temporada, e Rachel não deixa nem um pouco a desejar, principalmente com seus grandes monólogos em seus shows de comédia, em que ela faz um trabalho tão impecável que nem as Gilmore Girls conseguem apontar defeitos. Se Brosnahan não era um nome familiar para você, prepare-se para não conseguir esquecê-lo depois de conferir o trabalho da atriz nesta série.

Claire Foy (The Crown)

Se em seu primeiro ano como a Rainha Elizabeth II, Claire Foy já foi acima da média, neste segundo ano evidentemente a atriz amadureceu, assim como a personagem. Foy é encantadora e passa a seriedade da figura que ostenta em cena. O papel é complicado e ela precisa demonstrar muito sem mostrar demais. Em seu rosto, por mais que as palavras não expressem, suas feições traduzem seus sentimentos melhor do que sílabas. Ainda há muita insegurança, seja como rainha ou na vida profissional, porém Foy não permite que a falta de conhecimento ou autoestima da personagem fique no caminho e, em muitos casos, é implacável em seus posicionamentos — e cada vez mais se aproxima da figura mais dura que se conheceu durante boa parte do período em frente à monarquia da atual rainha. O requinte britânico de Foy dá alma para uma figura que, por muitas vezes, se perde no imaginário das pessoas, sem que haja uma conexão entre a idealização e o fato de que ela também é uma pessoa acima de tudo — e Foy desenha com perfeição a vulnerabilidade de Elizabeth.

Christine Baranski (The Good Fight)

Se na primeira temporada da série, Diane Lockhart ainda parecia mais uma co-protagonista/coadjuvante ao lado de Lucca e Maia, o mesmo não acontece neste segundo ano. Aqui, Diane toma as rédeas do seu protagonismo. Então é a hora de Christine Baranski brilhar e nos lembrar o motivo pelo qual a personagem foi tão memorável em The Good Wife. Entrando numa espiral de loucura em meio à Era Trump, indo além das taças de vinho de Alicia Florrick e passando para substâncias ilícitas, Baranski balanceia com êxito entre a sua gostosa risada maléfica até os momentos de explosão emocional — ou a contensão deles, como na cena do tribunal em que ouve testemunhos de seu marido e da amante, em corte, sobre seus encontros e o relacionamento extra-conjugal. Baranski, no entanto, é uma atriz que não faz questão de se exibir. Sutileza, classe e um poderio cênico de dar inveja, a atriz explora nesta temporada o seu lado cômico (que já foi posto em prova ao longo de sua carreira, mais recentemente em The Big Bang Theory e na, agora, franquia Mamma Mia!) e o lado dramático em modos não testados previamente. Com novos desafios e mais tempo em tela, Baranski brilha em cada cena, fazendo com que The Good Fight seja não só revelante narrativamente, mas também por sua atuação incomparável.

Elisabeth Moss (The Handmaid’s Tale)

The Handmaid’s Tale se tornou, com tranquilidade, uma série para fazer com que mulheres brilhem na tela. Enquanto os atores não fazem mais do que a obrigação, elas são quem comandam, lá de baixo até o mais alto escalão das personagens femininas (e isto ficou evidente pela enxurrada de indicações para atrizes da série ao Emmy deste ano). Elisabeth Moss é a cara do seriado — quase que literalmente, já que a câmera persegue o rosto da atriz sempre que possível. O sofrimento para June permanece, e nisto Moss vai se superando, episódio a episódio. É um Emmy tape atrás do outro. Da dor física à psicológica, a Peggy de Mad Men desafia seu talento a todo momento, entregando cenas memoráveis. Se THT se viu refém da personagem, Moss assumiu a bronca e fez com que a série, mesmo nos momentos menos inspirados, ainda fosse marcante. Sendo o centro das atenções a quase todo momento, com o rosto sendo enquadrado de todos os ângulos, não há como fingir ou improvisar. Se titubear, a câmera está ali para flagrá-la no erro. Nota-se, portanto, que Moss é uma atriz que está acima das meras mortais de Hollywood e da TV. Ela é perfeita.

Keri Russell (The Americans)

Em certo momento de “Jennings, Elizabeth”, penúltimo episódio de The Americans, a personagem título do capítulo tem um confronto com sua filha, Paige — na cena, a postura, o tom de voz e o rosto de Keri Russell encontram maneiras verdadeiramente espantosas de falar ainda mais alto do que as palavras do roteiro, por si só uma peça penetrante e explosiva que aborda a oposição de moralidades entre mãe e filha como um microcosmo da cultura em que elas foram criadas. Essa capacidade de encapsular em determinados momentos a linha ascendente de tensão da série é o que fez de Russell a peça mais indissociável e mais moldadora de The Americans durante os seus seis anos, e é de cair o queixo como ela foi capaz de carregar esse peso narrativo e construir uma personagem inesquecivelmente complexa ao mesmo tempo. Elizabeth é aquela peça tão rara na história da televisão: uma anti-heroína real, alguém por quem somos capazes de sentir compaixão da forma mais complicada possível, cuja dor é tão verdadeira e válida quanto a crueldade. Abraçando os traços (tradicionalmente) vilanescos de Elizabeth e transformando-os em força, determinação, e, em última instância, um profundo arrependimento, Russell entregou a performance mais transformativa e indispensável da televisão americana nesta década, na melhor série produzida nela.

MELHORES EPISÓDIOS

The Good Fight
S02E13: Day 471

Direção: Robert King | Roteiro: Michelle King, Robert King
Exibido originalmente em 27 de maio de 2018.

The Good Fight se tornou, em sua segunda temporada, a série mais relevante politicamente da TV. Isto é um fato (not you, The Handmaid’s Tale). Em seu finale, a série voltou a brincar com o absurdo da realidade em que nos encontramos no mundo (e nos EUA, o maior foco do programa), com teorias da conspiração, parodiando a ala de direita conversadora e seu discurso que beira o ridículo e o irracional (a ideia de armar os advogados para protegê-los remete diretamente a sugestão de Trump em armar professores nos EUA para se protegerem de possíveis tiroteios em escolas), fake news, e muito mais. Mas a série não fica apenas na crítica social. Há bastante espaço para interpretações cômicas (obrigado, mundo, pela existência de Andrea Martin e Judith Light), e a série ainda consegue fazer com que todas as pontas deixadas ao longo da temporada sejam esclarecidas, resolvidas e façam sentido — evidencia-se que nada foi a toa. Mais um acerto da dupla Robert e Michelle King. Amém “The Good”-verso.

The Handmaid’s Tale
S02E01: June

Direção: Mike Barker | Roteiro: Bruce Miller
Exibido originalmente em 25 de abril de 2018.

O futuro era incerto, porém as possibilidades eram inúmeras para o destino de The Handmaid’s Tale em sua segunda temporada. Goste você ou não do rumo que a série tomou, é inegável que “June” é um dos episódios mais marcantes dos últimos 12 meses. Os primeiros 9 minutos são os mais apreensivos da TV no ano — por mais que a gente saiba no fundo que a protagonista não irá morrer, dá a ideia do quão bem dirigida é a sequência inicial. O episódio não fica mais leve nas cenas seguintes, mantendo o medo no ar, ao mesmo tempo que expande alguns conceitos não explorados na série anteriormente. Há momentos de flashback para acentuar o temor de como a vida normal se transformou no lugar onde hoje está aquele país, assim como há um duelo de atuação maravilhoso entre Elisabeth Moss e Ann Dowd. A parte técnica, como toda a série, é perfeita, desde as pausas, os movimentos da câmera, a trilha sonora, a fotografia, os enquadramentos, tudo. O episódio termina de maneira empoderadora, dando um pingo de esperança em um mundo extremamente sombrio — infelizmente a série não trilhou este caminho, porém isoladamente “June” é uma obra do nível da temporada que o antecedeu.

The Americans
S06E09: Jennings, Elizabeth

Direção: Chris Long | Roteiro: Joel Fields, Joe Weisberg
Exibido originalmente em 23 de maio de 2018.

Antes de terminar, The Americans precisava fazer as pazes com a anti-heroína em seu centro. “Jennings, Elizabeth” lança um olhar clínico e apaixonado sobre a personagem título, que curiosamente passa boa parte do episódio em silêncio, usando habilidades adquiridas em décadas de espionagem para fazer exatamente o oposto do que lhe foi ordenado. Enquanto Russell comunica o conflito de Elizabeth com os olhos, já que não pode comunicar com as palavras, The Americans revela um trecho de seu passado que só torna a dimensão trágica da vida que ela viveu mais aparente, e a realidade de sua persona mais compreensível. É o tipo de trabalho sólido e magistral sobre o qual Joel Fields e Joe Weisberg construíram The Americans como um todo, e é visível o quanto de consideração e talento é aplicado neste capítulo em especial. Dirigido com precisão técnica que não faz nada para apagar ou empalidecer a mão cheia de momentos intensamente emocionais do episódio. Mais até do que o finale, “Jennings, Elizabeth” é um castelo de cartas na melhor tradição de The Americans — e se despedir da marca particular de excelência que essa série trouxe para a TV dói ainda mais do que o esperado.

Atlanta
S02E06: Teddy Perkins

Direção: Hiro Murai | Roteiro: Donald Glover
Exibido originalmente em 5 de abril de 2018.

Considerado por muitos críticos o melhor episódio de 2018 até agora, “Teddy Perkins” é um episódio que consegue se destacar por ser diferente, em uma temporada que tentou ser experimental em quase todos os capítulos. É muito fácil conectar a história deste episódio com Michael Jackson, porém, o que chama atenção são os elementos de terror e suspense embutidos naquela situação bizarra. Também é fácil pensar no vencedor do Oscar Corra! ao ver o episódio, mas a inspiração é outra. A semelhança com O Que Aconteceu com Baby Jane?, para quem assistiu, é notável. A mansão, Perkins ressentido pela fama do irmão, o irmão usando uma cadeira de rodas… São muitas as referências para ser coincidência. Mas o que faz de “Teddy Perkins” uma surpresa é a atuação de Donald Glover, que interpreta o personagem do título. Glover faz um trabalho de voz e de fisionomia impressionante, deixando o personagem, não apenas excêntrico, mas medonho e assustador. Não é a toa que tememos pela vida de Darius por toda a meia hora, até porque o próprio personagem que é tão tranquilo e de boa, percebe o quão estranho é tudo aquilo. Por isso também é necessário reconhecer o trabalho de Lakeith Stanfield por conseguir passar esse medo. E como se estivesse rejeitando a ideia de você ser bom em algo através de sofrimento, Atlanta, através de Darius, solta uma das frases mais importantes da série: “Sabe, nem todas as grandes coisas vêm de grande dor. Às vezes é amor. Nem tudo é sacrifício.”

BoJack Horseman
S04E11: Time’s Arrow

Direção: Aaron Long | Roteiro: Kate Purdy
Exibido originalmente em 8 de setembro de 2017.

Após três temporadas onde a depressão de BoJack é estabelecida e explorada, o quarto ano prefere mergulhar no passado de Beatrice, mãe do protagonista, que agora sofre com demência e volta pra vida do filho para assombrá-lo. “Time’s Arrow” é o episódio que melhor trabalha tal passado — e como fazem isso bem! O capítulo é praticamente um flashback com o “porém” de ser ilustrado pelas lembranças vagas de Beatrice. Rostos vazios, cenas mudando inesperadamente, objetos desaparecendo e, o mais marcante, a face de Henrietta rabiscada em todas as aparições. São elementos que acrescentam e enriquecem a história, tornando tudo mais pessoal e triste.

A ideia de que a vida segue em ciclos e que momentos e ações se repetem em diferentes épocas é uma ideia conhecida e é isso que o episódio nos remete. A mãe de Beatrice caiu em depressão, impossibilitada de seguir em frente após a morte do filho; Beatrice, após uma infância dolorosa e uma relação sem amor, vira uma égua ranzinza, arrependida pelos rumos que a vida tomou, culpando o filho pelas frustrações; e BoJack, também resultado da infância, um cavalo que tem dificuldade de amar, necessidade de ser o centro das atenções e danifica relacionamentos importantes. O ciclo de infelicidade e abuso persegue os Horsemans por gerações. O episódio justifica o comportamento de Beatrice, conseguindo a simpatia de quem assiste, apesar de não passar a mão no tratamento maldoso que teve com o filho pela vida inteira. Ao final dessa meia hora fantástica, BoJack resolve ser bondoso com a mãe quando ela recobra a consciência, tentando acalmá-la em vez de jogar na cara todo o remorso que sente. Pela primeira vez, há esperança para o cavalo. Quem sabe, ele pode ser o primeiro Horseman a quebrar o ciclo e torcemos para que ele consiga.

The Good Fight
S02E10: Day 471

Direção: Kevin Rodney Sullivan | Roteiro: William Finkelstein
Exibido originalmente em 6 de maio de 2018.

O décimo episódio do segundo ano de The Good Fight está entre os roteiros mais redondos da temporada. Enquanto nas mãos de pessoas menos preparadas o episódio pudesse se tornar um verdadeiro caos pela enxurrada de informações, plots e personagens, a desordem aqui é orquestrada de maneira brilhante no roteiro de William Finkelstein, direção de Kevin Rodney Sullivan e edição de Erica Freed Marker. Velhos rostos aparecem na firma para novos casos; Lucca recebe uma enxurrada de balões; um dos sócios da firma é baleado; uma investigação policial e outra particular; uma proposta de fusão entre firmas; novidades na vida política de Colin; Diane abrindo mão do cano de escape e tentando lidar, sóbria, com a realidade. Parece muito para lidar em 48 minutos, mas tudo se desenvolve e se resolve com sagacidade e competência. O episódio é ágil, fazendo a transição perfeita entre um plot e outro sem parecer bagunçado ou incongruente, plots twists, com diálogos afiados e atuações acima da média (em especial, de Delroy Lindo, Alan Alda, Audra McDonald, além da excepcional Christine Baranski, irretocável neste ano). É um episódio que deixa o espectador sem fôlego, insere toques de dramaticidade, mas sem perder o humor cínico que permeia a temporada inteira.

The Americans
S06E10: START

Direção: Chris Long | Roteiro: Joel Fields, Joe Weisberg
Exibido originalmente em 30 de maio de 2018.

“Assim expira o mundo/ Não com uma explosão, mas com um sussurro”, avisa a muito repetida frase do poeta T.S. Eliot. The Americans foi fiel a si mesma até o final, e o epicamente emocional “START” era o único fim que essa história, da forma como ela foi contada, poderia ter. Seria fácil demais, atalho demais, matar os personagens como punição pela ambiguidade moral que apresentaram no decorrer da série — ao invés disso, os showrunners Joe Weisberg e Joel Fields escolheram deixá-los viver no mundo quebrado que eles não criaram, e nem tem o poder de mudar. Ainda mais magistralmente, Fields e Weisberg escolheram criar um finale fundado em compaixão, em misericórdia, daquela que Stan relutantemente concede aos vizinhos e amigos de anos a fio àquela que Philip e Elizabeth escolhem dispensar ao filho, Henry, mesmo que isso signifique uma separação definitiva da unidade familiar. É um tipo de atitude nobre e humana que só poderia ser tão agridoce assim em The Americans, uma série que buscou até o fim conciliar os efeitos destrutivos da guerra como instituição (e não dos lados ideológicos dela) em seus personagens. Com um título como “START”, o episódio final de The Americans nos comunica que essa conciliação não acabou só porque a série chegou ao fim, e provavelmente não vai acabar nunca. Só as melhores narrativas são capazes de reconhecer as próprias limitações da mídia em que se encontram e transformá-las em virtudes.

MELHORES SÉRIES (COMÉDIA)

Brooklyn Nine-Nine (FOX/NBC) – Quinta Temporada

Quando Brooklyn Nine-Nine ganhou o Globo de Ouro de melhor série cômica em 2014, muita gente torceu o nariz e achou a escolha prematura. A comédia sobre o cotidiano de uma delegacia de polícia em Nova York ainda estava em seu ano de estreia, apresentando seus personagens e tentando fazer Peralta, o protagonista, menos insuportável. Foi nas temporadas seguintes  — e graças ao ótimo desenvolvimento dos personagens — , que isso mudou. Jake evoluiu, os coadjuvantes foram ganhando destaque, a dinâmica de Holt com a equipe foi se acentuando e a série chegou a um amadurecimento com um humor irretocável. Ironicamente, ao atingir sua melhor forma, foi ignorada pelas premiações e até pela emissora, que a cancelou sem piedade. Ao fazer um humor de qualidade tratando de assuntos sérios como homossexualidade, bissexualidade, gênero e racismo, Brooklyn Nine-Nine é um ótimo exemplo de que não é preciso inventar a roda: basta fazer ela girar do jeito certo, com personagens bem construídos e piadas originais. Tratar assuntos sérios com respeito é um bônus que os fãs e a sociedade ganham.

Better Things (FX) – Segunda Temporada

É um desafio a segunda temporada superar a sua antecessora. Na temporada 2017/2018, isto aconteceu em alguns casos. Better Things é deles. Neste segundo ano, o salto na qualidade foi absurdo e mostra o amadurecimento de Pamela Adlon como realizadora. É evidente que a estrutura da série se assemelha com o que Louis C.K. (co-criador de Better Things) fez em Louie, porém dá para afirmar tranquilamente que ela já superou a obra do comediante stand-up. Diferente do primeiro ano, a segunda temporada consegue manter mais uma linha narrativa do que sua antecessora, deixando pra trás a impressão de esquetes coladas umas nas outras. Sam Fox (Adlon) continua passando por situações relacionáveis, fazendo reflexões sem pudor sobre relacionamentos, maternidade, dinâmica entre mãe e filha, entre outros tópicos. Há várias porradas que a vida proporciona, mas a série não deixa de apresentar também o lado positivo dela. O gosto que fica das experiências é agridoce, todavia o espectador se empanturra de saborear. Better Things é sensível, realista, honesta, engraçada e emocionante.

The Marvelous Mrs. Maisel (Amazon Prime Video) – Primeira Temporada

Amy Sherman-Palladino é um dos grandes nomes da televisão contemporânea. A criadora de Gilmore Girls conseguiu a proeza de fazer uma série para a extinta ABC Family ter aclamação da crítica especializada com a prematuramente cancelada Bunheads. Desta vez se aventurando com a Amazon, a talentosa roteirista conseguiu com The Marvelous Mrs. Maisel mais uma vez arrancar elogios da indústria. A comédia que é protagonizada por Rachel Brosnahan narra a história de Midge Maisel, uma mãe recém divorciada que descobre a paixão pelo stand-up em plena Nova York da década de 50. The Marvelous Mrs. Maisel estreou coincidentemente em novembro de 2017, pouco depois da explosão do movimento #MeToo, do qual de maneira irrefutável dialoga diretamente, se tornando um dos grandes marcos audiovisuais para o momento no qual faz parte, mesmo que sem querer já que os paralelos de situações sexistas e machistas enfrentados pela protagonista ressoam diretamente com as circunstâncias atuais não apenas exclusivas à indústria do entretenimento. Para além da relevância de seu tema e da qualidade de escrita, a série possui um elenco extremamente afiado, contando com nomes como Alex Borstein (Getting On), Tony Shalhoub (Monk) e a própria protagonista Rachel Brosnahan, que se mostrou uma excelente surpresa para todos nós.

One Day at a Time (Netflix) – Segunda Temporada

Uma das melhores séries da Netflix, One Day at a Time infelizmente não ganha a publicidade merecida pela plataforma. A sitcom conta a história da família Alvares, cubanos-americanos que vivem em Los Angeles. Em um formato meio clássico, ultrapassa a mesmice ao abordar assuntos como depressão, preconceito com imigrantes, machismo e homofobia. Mesmo com alguns personagens estereotipados (estou falando com você, Dr. Berkowitz), a comédia consegue equilibrar o exagero maravilhoso de Abuelita com momentos emocionantes e, acima de tudo, sensíveis. O humor inteligente pode ser visto em diversos momentos: no vizinho bonito e burro que só aparece para mostrar seus privilégios até a adolescente super engajada em causas sociais e problematizadora de todas as formas, algo incompreensível para a clássica avó cubana super protetora e religiosa. E isso que proporciona na série esse resultado tão legal, com uma ingenuidade das comédias antigas que foi atualizada e não se torna forçada. Uma comédia com gosto de comfort food.

https://vimeo.com/334796469

Dear White People (Netflix) – Segunda Temporada

Em mais um exemplo de série que se provou ser ainda melhor em sua segunda temporada, Dear White People vai se consolidando como uma das mais consistentes obras originais da Netflix (e, acredite, não há muitas). Num ano irretocável, o programa volta a falar de assuntos espinhosos e atuais, abordando-os de cabeça aberta. O racismo, obviamente, é centro das atenções, permeando cada episódio em alguma esfera — chegando ao ápice no excelente “Episode XVIII”, no debate caloroso entre Sam e Gabe. Entretanto, há também discussões sobre como o passado reflete e tem peso no presente; o poder da internet e das redes sociais; sexualidade; a extrema direita; a militância que se fecha; a busca pelo autoconhecimento e aceitação; como lidar com o luto; aborto; se é mais importante a vida profissional ou pessoal.

BoJack Horseman (Netflix) – Quarta Temporada

Posso assumir que você, leitor ou leitora, é fã de séries assim como eu e já se identificou com vários momentos e situações que nossos personagens favoritos vivenciaram. Nós sabemos que séries têm esse poder. E, pra mim, um desses momentos é a abertura do episódio de “Stupid Piece of S**t”, em que somos apresentados a voz interior de BoJack, uma voz que o critica e coloca para baixo o tempo todo, evidenciando muito bem como o cavalo se vê e como é a depressão para ele. E no caso de BoJack Horseman, esse é o poder da animação, de alcançar a realidade e nos deixar pensativo sobre o que estamos assistindo. É uma dramédia tão boa que consegue rivalizar com as de live-action.

A publicidade da quarta temporada foi toda em volta da pergunta “Where’s BoJack?” e, enquanto essa pergunta em si já foi respondida no segundo episódio, a ideia dos roteiristas foi afastar o protagonista dos outros personagens principais. E com o sumiço, algumas pessoas sentiram que outros plots, principalmente o do Mr. Peanutbutter concorrendo para governador, não mantiveram o padrão de qualidade que a animação nos acostumou nos primeiros três anos. Enquanto isso é relativo, a série não deixa de desenvolver as tramas individuais de Diane, Mr. Peanutbutter, Todd e a fan favorite Princess Carolyn, todos com a possibilidade de protagonizar tramas próprias, sem a interferência de BoJack, finalizando o ano em caminhos diferentes do que estavam no início.

Já BoJack, por estar afastado do seu círculo de amigos, lida com questões familiares com uma possível filha que o procura e o retorno da mãe, agora sofrendo de demência, para sua vida. E essa é de longe a melhor storyline da temporada, com BoJack precisando amadurecer e adquirir responsabilidade para cuidar de Hollyhock, enquanto a temporada volta no tempo para mostrar mais dos parentes do protagonista e apresentar um ciclo de abuso que vai de geração à geração, culminando no fantástico “Time’s Arrow”, um dos melhores episódios do ano passado e que também está nesta lista.

Atlanta (FX) – Segunda Temporada

A primeira temporada de Atlanta já havia demonstrado toda a sua excelência e ousadia, o que acabou gerando uma enorme expectativa para seu segundo ano — atingida, segundo parte da crítica e a maioria dos fãs. Com toda a criatividade de Donald Glover, vimos uma temporada com diversos pontos narrativos, o que enriqueceu o enredo. Cada personagem teve sua história contada de forma mais detida através dos episódios, a partir de determinados incidentes que possibilitaram a apresentação de camadas até então não reveladas, ou não tão aprofundadas na primeira temporada. O elemento surpresa foi um recurso muito bem utilizado, pois sempre tínhamos a emoção da incerteza a cada episódio, sem a previsibilidade do desfecho. A série continuou abordando os temas do racismo, da pobreza, da violência e da desigualdade social, principalmente. Através de situações banais, Glover consegue trabalhar as vivências cotidianas — e extraordinárias — de parcelas da população negra dos Estados Unidos, colaborando, para isso, o desempenho elogiável do elenco, como de costume. É uma viagem que vale a pena, com muitos toques surreais, envolvente na sua narrativa, o que demonstra a evolução de Glover como artista e assegura Atlanta como uma das séries mais originais da atualidade.

The Good Place (NBC) – Segunda Temporada

Constantemente são elogiadas séries que: 1) conseguem evoluir seus personagens de maneira convincente, sem deixar de lado a personalidade que os define; e 2) conseguem se reinventar. The Good Place tem êxito nos dois itens. Enquanto a primeira temporada tinha um conceito que foi derrubado por terra em seu finale, num dos melhores plot twists já criados até então no cenário audiovisual mundial, a segunda temporada exibe um esforço contínuo para continuar numa onda de mudanças e surpresas, sem deixar que isso afete o desenvolvimento dos personagens ou as piadas. Ter liberdade criativa, o número de episódios que se deseja (12 por temporada, ao invés dos tradicionais 22) e tempo para desenvolver suas ideias não é algo tão comum na TV aberta dos EUA, mas a NBC apostou as fichas em Michael Schur (criador de Parks and Recreation, Broklyn Nine-Nine, e roteirista de The Office e Saturday Night Live) e acertou o pulo ao fazê-lo. Sem os típicos anti-heróis como protagonistas, The Good Place é um exemplo de comédia do bem, que não procura ofender, achando o seu humor na inteligência dos roteiros e consegue ser engraçadíssima dessa forma (dá vontade né, Danilo Gentili), passando mensagens positivas, além de ser um estudo psicológico riquíssimo sobre como os humanos funcionam e como o ambiente onde vivem tem tudo a ver sobre os adultos que se tornam, além de colocar em cheque questões como valores éticos e morais, mas sem ser pedante, chato ou brega. A série se desafia episódio a episódio, constantemente se renovando, indo em novas direções e em momento algum fica evidente para onde ela irá — entretanto, isto não é um defeito. Enquanto outras séries priorizam o conceito e a crítica social foda, The Good Place também o faz, mas de maneira mais sutil, charmosa, engraçada e criativa, isto sem contar os méritos de fazê-lo em plena TV aberta. Em meio a tanta negatividade e abordagens sombrias (nada contra, é apenas uma constatação), The Good Place parece a série certa, na hora certa, um verdadeiro alívio para quem quer uma comédia pura e sem contra-indicações.

MELHORES SÉRIES (DRAMA)

The Deuce (HBO) – Primeira Temporada

O que faz The Deuce ser tão prazerosa em assistir é como aquele universo já é bem estabelecido nos primeiros episódios, uma marca de David Simon e George Pelecanos, que se importam com o local onde a trama e os personagens estão inseridas. O retrato da Nova York dos anos 70 é incrível e a caminhada de Vincent (James Franco) pela Times Square no piloto é uma amostra do cuidado da direção de arte em trazer a sensação daquela época. Assim como em The Wire e Show Me a Hero, Simon e Pelecanos não têm pressa em avançar a trama do início da pornografia legalizada nos EUA. Enquanto isso seria uma jogada arriscada para muitas séries, The Deuce consegue se manter apenas com o retrato da época já citada e com as histórias individuais de personagens interessantes, sejam prostitutas, cafetões, mafiosos ou policiais, com destaque para Maggie Gyllenhaal — injustiçada pelo Emmy — , que interpreta a prostituta esperta e ambiciosa Candy. Todo mundo é humano e cruel ao mesmo tempo, e os diálogos parecem os mais reais possíveis. Esse é o tipo de coisa que traz credibilidade para The Deuce, tornando-se uma das melhores séries atuais logo no primeiro ano de vida.

Halt and Catch Fire (AMC) – Quarta Temporada

É uma honra falar sobre Halt and Catch Fire, uma das melhores séries dos últimos anos e também uma das mais negligenciadas por premiações (o único Emmy ao qual concorreu em suas quatro temporadas foi o de Outstanding Main Title Design, em 2015) e público. Série da AMC, Halt and Catch Fire sofreu, mais ou menos injustamente, com comparações recorrentes ao grande sucesso crítico do canal, Mad Men, que estava se despedindo quando HACF dava as caras. Outro drama de época, seguindo a tradição de um certo “quality tv” de uma narrativa centrada, mesmo que apenas inicialmente, em “homens difíceis”, em uma representação de um ambiente de trabalho que causa curiosidades, neste caso o mundo da tecnologia na década de 1980, os paralelos eram claros. No entanto, HACF conseguiu elevar seu material na criação de uma obra única, de cortante sensibilidade. Ao dar espaço para suas personagens femininas, criando mulheres extremamente complexas e também difíceis, a série ganhou um novo norte, mais vigoroso, humano e potente. Halt and Catch Fire nos presenteou com o drama de personagens que buscam compulsivamente pela nova grande ideia que mudará o mundo, e que, em sua última temporada, — o fim da jornada para uns, novo começo para outros — , se encontram mais perdidos do que nunca, sem mesmo saber o que procuram ou o porquê. Foi uma bela, emocionante e forte despedida (vejam os episódios “Who Needs a Guy”, “Goodwill” e “Ten of Swords”, 4×07, 4×8 e 4×10 respectivamente, que fecham a série de forma primorosa). Uma pena que, mais uma vez, tenha sido esquecida por quase todos.

Killing Eve (BBC America) – Primeira Temporada

Pheobe Waller Bridge já havia nos surpreendido com Fleabag, mas não satisfeita ela fez de novo com Killing Eve, série dramática da BBC America que teve sua estreia em abril de 2018. Ela nos narra a história de Eve (Sandra Oh), uma agente secreta do MI5 que é recrutada para rastrear uma assassina altamente treinada (Jodie Comer). Aclamada pela crítica, a série foi fortemente elogiada por entregar um jogo de perseguição extremamente envolvente e inovador. Os elogios não se limitam ao fato da produção ser protagonizada por duas mulheres. Isso é um encorajamento, mas está longe de ser o único atrativo da série ou o que a define. O humor ácido claramente característico de Fleabag é um diferencial e também se manifesta aqui, obviamente de forma diluída, porém extremamente e irreverentemente bem colocado, principalmente em momentos de tensão. Killing Eve merece toda atenção que vem recebido, ou até mais, por ter conseguido entregar uma temporada de estreia extraordinariamente coesa, competente e que visivelmente soube lidar com os recursos e possibilidades que estavam em seu alcance.

The Sinner (USA) – Primeira Temporada

The Sinner chegou sem muito alarde no catálogo da Netflix. Exibida originalmente pela USA Network, a então minissérie (uma segunda temporada será exibida em 2018) conta a história de Cora (Jessica Biel), uma jovem mãe de família comete um crime violento — e inexplicável — em público e se vê incapaz de explicar o motivo que a levou àquele estado de fúria. Obcecado em entender as profundezas da psique da mulher, o investigador Harry Ambrose (Bill Pullman) tenta a todo custo ajudá-la, desenterrando os momentos de violência que ela tenta manter no passado.

The Sinner se caracteriza como um drama, embora o ar de suspense esteja presenta a todo momento. Se o mistério fosse essencial para compreender os eventos dessa temporada, a percepção sobre a mesma seria diferente, uma vez que muitos dos desdobramentos estão dentro das memórias reprimidas de Cora e forma como organizamos nossas lembranças, e não há pistas. Porém, beneficiado pela entrega de seus protagonistas (em seus melhores papéis em suas respectivas carreiras), a narrativa mergulha de cabeça no passado da protagonista, através de idas e vindas, para que possamos forjar, aos poucos, uma conexão com o presente. O fator surpresa conta muito a favor de The Sinner. Através das ótimas atuações de Biel e Pullman, longe dos estereótipos e com uma trama intrigante, a série trouxe para o debate subtemas interessantes, como fanatismo religioso, casamento e drogas. A maratona é quase inevitável, pois cada passo em direção ao fim torna-se alvo de grande expectativa, embora o fim não seja tão importante quanto a jornada.

http://www.vimeo.com/279394691

The Crown (Netflix) – Segunda Temporada

Quando Downton Abbey chegou ao fim, não era de se esperar que outra série sobre aristocracia e privilégios de britânicos iria encantar o público. O sotaque e o design de produção normalmente não são o suficiente para criar tanta empatia assim, porém The Crown tem sucesso ao conseguir conectar-se com o público, fazendo com que sintamos os dramas da realeza da Coroa como se fossem os nossos. Cada episódio é uma história isolada, mas que também funcionam como uma narrativa em si. Passa-se por vários eventos históricos, o que torna um atrativo para quem gosta desse tipo de obra, mas vai além de um retrato de época. Vasculha-se a vida de pessoas que estão somente no imaginário popular e faz com que o espectador se importe com o “white people problem” de cada episódio, além de mostrar as consequências que uma vida pública traz à vida particular, e como as linhas entre o pessoal e o profissional são tênues. É belamente filmado, a produção é de encher os olhos e as atuações são impecáveis. Até aqui, o drama mais consistente da Netflix.

https://vimeo.com/279389726

The Handmaid’s Tale (Hulu) – Segunda Temporada

The Handmaid’s Tale perdeu uma enorme oportunidade em seu segundo ano. Ao invés de buscar uma forma de empoderar mulheres e se fortalecer como uma história de superação, onde os oprimidos conseguem vencer, ainda que em alguma escala, os opressores, o principal título do serviço de streaming Hulu deu um passo para trás. Há escolhas erradas, como aumentar o número de episódios (de 10 passou para 13) e permanecer em Gilead o tempo todo. É compreensível a permanência da narrativa na casa dos Waterford até certo ponto, porém, em vários momentos, a série deixa a sensação de coito interrompido. Ela oferece uma janela de esperança para as personagens, porém vai lá e acaba com elas em alguns pontos da temporada. Focalizar demais em June também pareceu ser um erro — não por falta de talento em Elisabeth Moss, porque ela entrega o máximo a cada cena. O universo, de fato, é rico e há muito o que expandir — torcemos para que o terceiro ano faça isso. Episódios mais despirocados e/ou centrados em outros personagens, secundários ou até terciários (como The Leftovers soube executar tão bem, enquanto ainda expandia a mitologia), desde que bem escritos (não é o caso de Eden e Nick, por exemplo). Apesar disso, a temporada não deixa de ter o seu valor. Pelo contrário. Há coisas positivas, como toda a parte técnica (especialmente a fotografia, excelente toda vez), as atuações estupendas, e os paralelos com a vida real, que continuam pertinentes, cada vez mais bizarros e assustadores. O melhor caso, talvez, seja o episódio 10, em que June reencontra sua filha, Hannah, depois de um longo período separadas e precisa deixá-la ir novamente; o capítulo veio logo depois do escândalo do Governo Trump em separar mais de 2 mil crianças de seus pais após estes tentarem cruzar a fronteira dos EUA ilegalmente, ou seja, caiu como uma luva. Pode ser difícil para alguns ver tamanho sofrimento na tela, mas, por enquanto, ele foi justificável e ainda contribui para a narrativa. Entretanto, THT precisa se decidir se quer ser lembrada como uma série de empoderamento e superação das mulheres e minorias ou como um torture porn vazio. A terceira temporada dará a resposta.

The Good Fight (CBS All Access) – Segunda Temporada

Há males que vêm para o bem. Prova disso é a existência de The Good Fight. É difícil imaginar os rumos que a série tomaria caso Hillary Clinton tivesse vencido as eleições presidenciais nos Estados Unidos em 2016. Por mais danoso e preocupante seja a eleição de Donald Trump, definitivamente The Good Fight seria um programa completamente diferente sob a presidência de democratas — portanto, há algo a ser grato na situação. Enquanto outras séries (cof, cof, The Handmaid’s Tale) insistem no terror e na violência para representar o medo da era republicana/conservadora, The Good Fight escolheu outro caminho. Com o humor cínico, por vezes sarcástico, abraçou o absurdo e incorporou de tal forma em sua narrativa, que às vezes é difícil separar o que é realidade e o que é ficção. Há várias menções diretas a acontecimentos de fato e outras suposições. Se por um momento pudesse soar apenas uma crítica vazia, a série transforma isso em algo a ser aproveitado para ditar o rumo de sua trama e de seus personagens, e o faz de maneira tão natural que é quase preferível que Diane Lockhart fosse aquela que lutasse pelos nossos direitos. Mesmo que pareça, à primeira vista, um produto da esquerda frustrada, muitas vezes The Good Fight apenas levanta questionamentos que não quer tomar partido, mas prefere que as pessoas tirem suas próprias conclusões, até porque não há nem de perto um consenso sobre o que é o certo e o errado — a exemplo do episódio em que traz um caso de assédio baseado naquele reportado envolvendo o ator/roteirista/diretor Aziz Ansari, de Master of None. Tomando partido ou não, The Good Fight incorpora (assim como The Good Wife já fez inúmeras vezes, e com êxito) questões do mundo real (fake news, armamento, parcialidade do sistema judiciário e força policial, entre outros) e de modo algum parece forçado ou gratuito. Quando a temporada chega ao fim, nota-se uma preocupação em toda a estruturação deste segundo ano para que não houvesse arestas. Além dessas questões, a série continua mesclando o bom humor e a tragédia de modo ímpar, fazendo rir mais que muita comédia por aí, contém alguns dos diálogos mais memoráveis da temporada, conta com um elenco que está cada dia melhor em cena, e ainda coloca a união e o poder das mulheres em evidência. The Good Fight pode não ser a série que você estava pedindo, mas é a série que nós precisávamos.

The Americans (FX) – Sexta Temporada

Durante a temporada final de The Americans, Philip Jennings encara os problemas financeiros da agência de viagens que tocou por décadas com a esposa, Elizabeth, como uma fachada para o trabalho de espionagem que faziam para a União Soviética — ao fim de alguns dias, ele vai até uma boate e se engaja em uma dança country tipicamente americana. Enquanto isso, Elizabeth lida com um novo informante, marido de uma pintora doente terminal, e apesar de dizer que “não entende” a mentalidade de alguém que se dedica à arte durante a vida, se apega a pedaços da cultura soviética que apresenta, com Claudia, para Paige — além disso, é ordenada a matar um casal soviético que desertaram e estão ajudando o FBI.

Essa não é uma sinopse justa da sexta temporada de The Americans, na verdade — não é nem mesmo um resumo das partes mais importantes dela. No entanto, é uma pequena demonstração das cruéis ironias dramáticas que formam a própria fundação da série e de seu último ano, além da inegável habilidade de um roteiro capaz de conjurar detalhes significativos e manter todas as bolas no ar ao mesmo tempo em um feito impossível de malabarismo. É assombrosa a forma como The Americans é capaz de não se perder de vista, de não desviar do seu caminho, de criar uma excelência técnica, narrativa e emocional que poucas vezes ou nunca se viu, de maneira tão impugnável, na televisão. Um sexto ano que veio em forma de rápido e imprevisível soco no estômago, com sua determinação adulta de explorar os cantos mais escuros de um mundo moralmente ambíguo que nos dá espaço para, todos nós, sermos vilões… E heróis também, ainda que heróis trágicos. Meses depois de seu fim, o status de The Americans como o conto definitivo do homem vs. o mundo que ele mesmo criou só se solidifica — e a saudade dos Jennings só cresce.

Melhores Séries (Comédia) segundo voto popular

Melhores Séries (Drama) segundo voto popular

O corpo de jurados citou, durante a eleição, 33 atores coadjuvantes, 39 atrizes coadjuvantes, 25 atores, 25 atrizes, 41 episódios, 31 séries de comédia e 21 séries de drama. Na lista final apareceram 21 séries ao todo: The Americans (7 menções), The Handmaid’s Tale (5), Halt and Catch Fire (4), The Good Fight (4), Atlanta (4), The Sinner (3), Westworld (2), Brooklyn Nine-Nine (2), Killing Eve (2), One Day at a Time (2), The Good Place (2), Better Things (2), The Marvelous Mrs. Maisel (2), The Crown (2), BoJack Horseman (2), Unbreakable Kimmy Schmidt (1), Stranger Things (1), Barry (1), This Is Us (1), Dear White People (1), The Deuce (1).

Fizeram parte do júri
Dierli Santos, jornalista, já colaborou nos sites Teleséries, Ligado em Série e Lugar de Mulher, trabalha com comunicação digital.
Mariana Ramos, roteirista, mestre em Cinema e Audiovisual pela UFF, host do podcast Maratonistas.
Mikael Melo, estudante de Jornalismo e estagiário na RIC Record.
Rafael Mattos, estudante de Jornalismo.
Regis Regi, bacharel em Cinema e Audiovisual pela UFF, host do podcast Maratonistas.
Leonardo Barreto, editor do site Quarta Parede.
Ana Bandeira, publicitária e colunista do site Ligado em Série.
Dana Rodrigues, editora do site Diário de Seriador.
Fillipe Queiroz, estudante de psicologia, aficionado em séries.
Cristal Bittencourt, publicitária pós graduada em comunicação estratégica, professora/palestrante sobre mídias sociais, fundadora do site Apaixonados por Séries e administradora do blog As Melhores Coisas de Salvador.
Ana Carolina Nicolau, editora do site Take 148, matemática e estudante de Jornalismo.
Rodrigo Ramos, jornalista, repórter do Jornal O Navegantes, editor do Previamente, e foi programador de cinema na Cineramabc Arthouse.

Também colaboraram
Caio Coletti, jornalista e colaborador do site UOL.
Luis Carlos, criador do grupo Crônicas de Séries

Textos por Dierli Santos, Rafael Mattos, Mariana Ramos, Caio Coletti, Régis Regi, Leonardo Barreto, Luis Carlos e Rodrigo Ramos.

Confira também as listas dos anos anteriores
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