Elton John em Curitiba | Crítica

Com setlist recheada de clássicos, o britânico mostra no palco como sobreviveu por mais de 50 anos na música. 

Em uma noite fria, Elton John (e, mais cedo, James Taylor) foi o responsável por aquecer os presentes na Pedreira Paulo Leminski na última sexta-feira (31), em Curitiba, ou “Curibita”, como disse ao cumprimentar o público pela primeira vez. Iniciando a passagem da turnê Wonderful Crazy Night Tour pelo Brasil, o britânico de 70 anos entregou um show impecável, como de costume, com pouco mais de duas horas de duração.

Subindo ao palco às 21h55, o cantor iniciou os trabalhos com duas faixas empolgantes, “The Bitch is Back” e “Bennie and the Jets”. Depois veio a leva de canções mais introspectivas e românticas. Mesmo quando o agito dava espaço para as baladas, o artista não deixava de encantar com seu talento — assim como o de sua banda, com integrantes há décadas ao seu lado, como é o caso do baterista Nigel Olsson, que está junto do cantor desde o início dos anos 70 (!).

A cada duas ou três faixas, Elton levantava de seu banco para agradecer pelos aplausos e apontar para o público, como se os espectadores fossem responsáveis pelo alto nível da performance. Ele não está errado, pois muitos encaram uma apresentação como uma troca entre o artista e o público, seja no teatro ou num show. Simpático, modesto e competente, o detentor de cinco prêmios Grammy se comporta como um verdadeiro gentleman e não quer que o holofote fique somente nele, apesar de que boa parte do êxito de sua apresentação se dá especialmente por causa do que ocorre no palco. Nem todo o público reagia com tanta empolgação, talvez pela característica do curitibano em ser mais reservado, e parte dos presentes deixava de aplaudi-lo e cantar junto. Não é um pecado nem demérito, mas apenas reforça o profissionalismo de Elton e sua banda, que não dependem de um barulho ensurdecedor da plateia para fazer uma performance digna de toda sua história.

Elton John em Curitiba (Foto - Divulgação_Pleno Fotografia) 02
Fotos: Divulgação/Pleno Fotografia

Fora as breves pausas para agradecer o público e tomar um gole d’água, o divo do pop não tagarelou e permaneceu focado na música. Com muito paetê vermelho em seu terno preto, passando pelos braços e formando uma rosa vermelha nas costas, John brilhou em todas as canções. Com sete décadas de vida e mais de 50 anos de carreira, ele demonstrou ainda estar no topo do seu jogo. Na primeira hora de concerto, ele e sua banda se exibiam, fazendo diversos solos, estendendo as canções. O cantor, inclusive, teve um momento exclusivamente para solar no piano, seu instrumento inseparável. Depois, os músicos começaram a ser mais objetivos nas performances, para dar tempo de tocar o repertório completo. Foram 21 faixas performadas, além do solo. Macaco velho, o britânico sabe o que fazer para agradar os fãs que levam anos para revê-lo: encher sua setlist de clássicos. Do último disco (o 32º da carreira), Wonderful Crazy Night, lançado em 2016, apenas uma canção esteve presente: “Looking Up”. Depois de deixar o palco pela primeira vez, retornou ainda para o bis com “Candle in the Wind” e “Crocodile Rock”. Destaque também para a emocionante performance de “Don’t Let the Sun Go Down on Me”, em que Elton homenageou o colega e amigo George Michael, falecido em dezembro, com quem ele a regravou em 1992.

É difícil prever se o veterano retornará ainda ao Brasil. Com 70 anos, é pouco provável que Elton queira fazer outra turnê mundial. Contudo, se esta for a última visita do sir em território brasileiro, foi uma despedida em alto nível feita por um dos maestros da música pop mundial. Mesmo com tanto tempo de estrada, John não demonstra cansaço e ainda mostra-se um apaixonado por sua obra e por fazer o que faz de melhor.

Um artista versátil e atemporal, John também foi transgressor ao se assumir bissexual em 1976 e, posteriormente, gay em 1988. Em tempos onde o radicalismo está em alta, e a homofobia ainda está fortemente presente em nossas vidas, é importante reconhecer como um artista abertamente homossexual há quase 30 anos conseguiu reunir pessoas de tantas tribos, dos mais novos aos mais velhos (a turma de cabelos grisalhos era maior do que a de adolescentes, cenário bem diferente do que geralmente se vê na Pedreira) e obrigou os homofóbicos a ter que lidar com o fato de que adoram um artista gay, que não esconde nenhum pouco isso.

A turnê do cantor, que iniciou em Curitiba, já passou também pelo Rio de Janeiro (Praça da Apoteose), no dia 1º de abril. Elton John e James Taylor se apresentam hoje (4), em Porto Alegre (Anfiteatro Beira-Rio), e terminam a turnê na quinta-feira (6), em São Paulo (Allianz Parque).

Ouça a playlist com todas as faixas performadas, em ordem, no concerto em Curitiba.

Por Rodrigo Ramos

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