Mesmo com mais espaço para diversidade de gênero, sexualidade e raça, há grupos ainda menos representados na televisão.
A luta pela diversidade na televisão nunca foi tão forte como é agora, principalmente quando a questão é gênero, sexualidade e raça. Mas ainda há outros grupos que não recebem a devida atenção, como deficientes e idosos. Para o diretor da SAG-AFTRA – EEO & Diversity (Departamento do Sindicato dos Artistas que cuida da parte de descriminação), Adam Moore, o foco no antigo “padrão” (branco, heterossexual e jovem) dos personagens de televisão é ocasionado pelo medo de se arriscar, pois as empresas ainda acreditam que é este padrão que atinge a maioria de seu público, e que tal decisão não é feita com malícia, embora ainda incomode.
Porém, quem se arriscou, gerou bons resultados. Séries que estão se destacando e possuem personagens de diversificadas raças, gêneros e sexualidade são Underground da WGN, Fresh off the Boat e Black-ish da ABC, The Carmichael Show da NBC, Empire da FOX, Sense8 da Netflix, Transparent na Amazon, e na ABC o trio da famosa roteirista Shonda Rhimes, Grey’s Anatomy, How to Get Away With Murder e Scandal.
Em 8 de maio de 2015 foi ao ar pela Netflix a série Grace and Frankie, considerada a primeira série desde Golden Girls da NBC (1985-1992) que é centrada em personagens com mais de 60 anos. Segundo a criadora da série, Marta Kauffman, também conhecida pela famosa sitcom Friends, a ideia da série surgiu quando ela percebeu que não havia nenhuma outra que trouxesse duas senhoras de meia idade, que lidam com a idade, sexo e o medo da morte, de uma forma engraçada e esperançosa. “Decidi, então, junto ao Howard J. Morris, a apostar na ideia e deu mais do que certo”, comenta a criadora.
Adam Moore concorda que personagens mais velhos são, na maioria das vezes, invisíveis, especialmente do sexo feminino. Sobre a desigualdade de salários, ele afirma que “as mulheres geralmente ganham salários menores do que os atores masculinos e quando elas têm mais de 40, o salário fica ainda mais baixo. Para mulheres de cor ou com deficiência, com mais de 60 anos, as chances de trabalho são quase nulas”.
No entanto, Adam diz que continua otimista, pois a força do público está crescendo e, finalmente, chamando a atenção das grandes redes de televisão. “Todos querem ver um mundo ao qual não estão familiarizados. Esta é a energia do momento, e séries como Orange is The New Black e Sense8 provam isso”, finaliza o diretor. Já o ator e produtor Steven James Tingus, portador de uma rara doença que afeta suas funções motoras, salienta que em vários casos a idade é considerada quase uma deficiência quando o assunto é arrumar emprego, seja na área artística ou em outras.
Séries com atores deficientes são ainda mais difíceis de encontrar. De 2009 a 2015, a série de comédia e drama musical Glee tinha como um dos integrantes de sua equipe a atriz Lauren Potter, portadora da Síndrome de Down. Ela interpretava a personagem Becky, braço direito de Sue Sylvester, vivida por Jane Lynch. Já a série Switched at Birth da ABC tem como protagonistas as deficientes auditivas Katie Leclerc e Marlee Matlin. Antes disso, as duas já tiveram alguns papéis de destaque em suas carreiras. Neste inverno, a NFA irá lançar a série Speechless e traz como protagonista o ator Micah Fowler, que tem paralisia cerebral. A série gira em torno de uma criança com necessidades especiais.
A produtora e executiva de TV Loreen Arbus é uma ativista de longa data e em sua opinião personagens diversificados são raros hoje em dia. Ela cita um estudo da GLAAD (Aliança de Gays e Lésbicas Contra Difamação) que acompanhou 881 personagens regulares de séries de televisão. Destes 881, 84 eram pessoas com diversidades, representando apenas 0,09% — abaixo dos 1,4% levantados em 2014. Segundo Arbus, muito do que o roteirista e produtor de televisão e cinema Norman Lear, atualmente com 97 anos, representou em décadas, hoje em dia está desaparecido. Lear passou sua carreira lutando pela diversidade. Ainda esperançosa, a produtora comenta que “as coisas vão e vem em ciclos”. Atualmente ela está trabalhando em projetos específicos que trazem a proposta de repensar todo o processo de produção televisiva, incluindo a chance para diretores de elenco e artistas deficientes. Nos EUA, foram relatados 57 milhões de pessoas com deficiência (definida como uma condição que limita a uma ou mais atividades diárias).
A Netflix, além de apostar em séries com diversidade, recentemente adotou uma iniciativa para dar a deficientes visuais a oportunidade de assistir suas séries. Desde abril, a emissora oferece a função “English – Audio Description”, que narra o que acontece na tela para que os cegos entendam o contexto do que se passa. A descrição com áudio até agora está disponível apenas em inglês e para a série Demolidor, que foi escolhida por ter um protagonista cego. Mas a Netflix promete lançar em outros idiomas e também para outras séries. O previsto é que até dezembro House of Cards, Orange is the New Black e Unbreakable Kimmy Schmidt já tenham narração.
Com informações da Variety