Baseada na obra de David Ives, peça coloca os personagens em contato direto com a plateia.
Em meio à diversidade de gêneros teatrais e de horários da décima edição do Itajaí em Cartaz, o espetáculo Quase Tudo no Timing lotou o palco do Teatro Municipal de Itajaí na quarta-feira (8). Cada vez que o público parecia se acostumar com a narrativa, uma campainha soava e tudo mudava de lugar.
A peça é dividida em três esquetes cômicas baseadas no livro Tudo no Timing, de David Ives. Entre uma cena e outra, os atores Leandro Magalhães, Adriano Magalhães e Marcelo Marquetti interagem como se estivessem nos bastidores do espetáculo, usando improvisos, recursos metalinguísticos e quebrando a quarta parede – quando o personagem fala diretamente com quem está assistindo.
Com um viés de crítica social e política, a comédia usa o tom irônico para falar do governo atual e suas decisões, principalmente relacionadas ao Ministério da Cultura. O diretor da peça, Daniel Olivetto, diz que é função dos artistas trazer uma piada nova para cada apresentação, deve ser algo combinado entre os atores, uma surpresa para ele e para o público ao mesmo tempo. “O detalhe mais importante é que eu não posso saber qual será a mudança no roteiro”, enfatiza Daniel.
“Quanto mais ensaiamos, mais o grupo ganha em entrosamento”, comenta Adriano Magalhães. Encenar o espetáculo em escolas os ajudou a conhecer melhor o público e encontrar o tempo certo para o texto. Apesar de ter entrado na companhia Sua Cia de Teatro depois, ele formou intimidade em cena com Marcelo e Leandro no decorrer do tempo e da prática.
A produtora cultural e organizadora do evento, Karoline Gonçalves, considera a gratuidade do Itajaí em Cartaz capaz de trazer pessoas que nunca iriam ao teatro e, assim, formar uma plateia pagante para espetáculos futuros. Em sua percepção, muitos acham que o teatro ainda é algo elitizado, caro e pouco acessível para todos. “Chama bastante atenção quando divulgamos essa grande quantidade de espetáculos gratuitos, em horários alternativos e para todas as idades”, completa Karoline.
Apesar de achar que os produtores culturais divulgam bem, a atriz e repórter da RIC Record, Bruna Froehner, acredita que falta interesse da população. “Uma parte dos cidadãos é acomodada, prefere ficar no conforto de casa. A maioria da plateia aqui é de gente envolvida com o próprio teatro, são as mesmas carinhas de sempre”. Como comunicadora, Bruna reconhece que os jornalistas, em suas pautas, têm que mostrar para os espectadores a importância do acesso à cultura e a valorização da arte.