Comediante curitibana fala sobre a ida dos palcos para o YouTube, seu trabalho no Multishow e como é ser simpática em Curitiba.
A curitibana Bruna Louise pode ser lembrada por muitos como a amiga da youtuber Kéfera Buchmann, porém ela está na estrada há um bom tempo e, evidentemente, não depende da amizade para fazer a sua carreira decolar. A comediante faz teatro desde 2001, sendo formada em artes cênicas no Rio de Janeiro, mas em 2010 decidiu perseguir o stand up. Aparentemente, deu certo. Atualmente, ela tem um canal no YouTube (com mais de 832 mil inscritos), compõe o núcleo de humor do canal Multishow com dois programas (uma websérie especial de verão intitulada Humor Multishow e A Pergunta Que Não Quer Calar, ao lado de Didi Wagner, Paulinho Serra, Bento Ribeiro e Murilo Gun), além de estar em turnê no país com o espetáculo “Desbocada”, que passou por Santa Catarina no último final de semana, ocasião em que conversamos frente a frente com ela.
Previamente — Diferente da maioria dos curitibanos, você é bem humorada e simpática. Como você conseguiu se destacar dessa forma dos teus conterrâneos?
Bruna Louise — Pra mim sempre foi muito natural, sei lá. Eu gosto muito de Curitiba. Eu amo Curitiba. Sinto muita falta. Mas eu ainda me incomodo com essa demora pras pessoas se enturmarem. E lá eu sou muito esquisita. Eu sempre fui esquisita por essa característica de ser muito “ai meu deus”. Sempre tinham vários caras que achavam que eu dava mole e eu tipo “não querido, eu sou só simpática, não quero nada com você”. Porque em Curitiba você disse “oi”, e “hmmm quer me dar”. No resto do Brasil não. Por exemplo, no Rio, as pessoas conversam horrores. Até em São Paulo… Ok, São Paulo não é tão diferente, mas no Rio de Janeiro a galera conversa com todo mundo e daí lá eu não sou um ET.
Eu já vi muitas entrevistas tuas falando que no começo você teve muita dificuldade de se inserir no meio do stand up por ser mulher, desbocada e tudo mais. Mesmo você sendo mais conhecida, com programa no Multishow, quero saber se você ainda sofre preconceito.
Olha, o preconceito de ser mulher eu acho que consegui superar. Agora eu tenho o preconceito de ser youtuber. É um novo preconceito que tá surgindo. Porque tem gente que não sabe que eu faço stand up há muitos anos e tem gente que está começando a achar que eu sou uma youtuber que foi pro teatro, e não é, é o contrário. Eu trabalho com comédia há muitos anos, eu sou uma comediante que foi pro YouTube, eu caminhei ao contrário. E tem muito preconceito com isso.
Nas redes sociais, tem muita gente que aparece, hater mesmo, te xingando?
Não. É bem tranquilo. Acho que não tô famosa o suficiente pra ter hater. É bem pouco, na verdade. Por enquanto tá [tranquilo], daqui a pouco aparece.
Quanto a trabalhar no Multishow, queria saber como surgiu o convite.
Ah, sexo né, com a pessoa certa (risos).
Teste do sofá, o conhecido.
(risos) Na verdade, o diretor do Multishow me viu no [Programa do] Jô e achou minha entrevista sensacional. Me achou muito idiota e engraçada, daí falou “quem é essa retardada”. Daí descobriram meu telefone, eu fui lá. Ele gostou, a gente conversou e me propuseram um contrato. Aí com menos de um mês de canal triplicaram o meu contrato, menino, que era de um foi para três anos, aumentaram o meu salário, me deram um iate (risos).
O quanto tu participas da criação dos programas no Multishow? Tu já participas da parte do roteiro?
Parte do roteiro. Porque assim, eu tô em dois programas. Um programa, que é o Humor Multishow, é quase só improviso meu. Eu tô entrevistando as pessoas na rua, e eu monto a pergunta. Tem o roteiro, mas é muito improviso. A resposta também é o que vem na lata mesmo. O outro programa que estou fazendo [A Pergunta Que Não Quer Calar], como o programa tem bem mais roteirista a gente participa um pouco menos. Mas sempre quando vou fazer o personagem a gente dá uma mudadinha, dá aquela pirada.
Quais são as tuas influências?
Dercy Gonçalves. Muito forte e clara. Quero muito ser ela. Vou ser uma velha que nem ela.
Desbocada tu já és, só falta ficar velha.
(risos) Mas é uma coisa que eu garanto. Na verdade, eu sempre brinco. Não é só pelo óbvio da Dercy. Eu fiquei muito impressionada quando eu li a biografia dela. Eu achei incrível o fato de ela contar uma coisa que é muito triste te fazendo rir. Ela é uma pessoa que tá contando que ela apanhou do pai, do marido, que chamava ela de prostituta, e cê tá rindo. Cara, na época dela qualquer mulher no palco era vagabunda, puta, e ela era comediante, e ela só queria fazer humor. Por tudo isso que ela enfrentou, eu tenho até vergonha de dizer que eu sofro preconceito depois de ler a história dela. Pela pessoa que ela foi, é o que me inspira muito.