Saulo Adami | Previamente Entrevista

Escritor catarinense lança livro com 40 anos de pesquisa sobre a série Planeta dos Macacos, a mais completa obra relacionada à saga

Saulo Adami é um escritor catarinense de 50 anos, casado desde 2011 com a psicóloga Jeanine Wandratsch e residente de Curitiba (PR). Em seu currículo constam 78 livros de sua autoria, desde obras de poesia, contos, crônicas, romances e novelas, biografias de cidades (como o livro Fotos Antigas de Balneário Camboriú, de Sérgio Ulber, o qual Saulo foi o responsável pelos textos que constam nele), cinema e história. A maior conquista de sua carreira foi o lançamento recente do livro que é fruto de 40 anos de pesquisa, Homem não entende nada! Arquivos secretos do Planeta dos Macacos, considerado a obra mais completa sobre esse universo. O livro, inclusive, será lançado em Balneário Camboriú no próximo dia 8 de novembro, às 11h, durante a Feira do Livro do município.

Natural de Brusque, mas itajaiense de coração, Saulo é assumidamente fã da franquia e reuniu durante todos esses anos um acervo de mais de 200 ilustrações e fotografias, visitou estúdios, conheceu atores, produtores e diversas pessoas envolvidas com o mundo dos macacos que se tornou conhecido através dos filmes, séries de TV e literatura (livros e quadrinhos).

Como vocês bem sabem, o Previamente adora entretenimento, então fizemos questão de correr atrás e conseguimos uma entrevista com o escritor. Confira abaixo o que rolou no nossos bate-papo.

homem não entende nada livroComo surgiu a ideia de escrever sobre Planeta dos Macacos? 

Saulo Adami: Foram 40 anos de pesquisa. Comecei em 1975, eu tinha interesse em saber como era feita a série, maquiagens, roupas e em conhecer a cidade cinematográfica. Sou fã e curioso, então tentando responder essas dúvidas que eu tinha me tornei pesquisador. Em 1978 comecei a realmente fazer anotações para transformar essa minha pesquisa em livro. Em 1998 e 1999 conheci as pessoas que eu fui entrevistando ao longo desses anos, em uma viagem que fiz aos Estados Unidos. Essas pessoas participaram da série. Tive a oportunidade de passar pela sessão de maquiagem também. Tudo está documentado na obra, que tem 612 páginas e mais de 200 fotografias. É um grande making of de tudo que foi produzido sobre a serie.

A serie ainda está em produção. Você pensa em ir atualizando o seu livro com o tempo?

SA: Sim, é exatamente isso que quero. O próximo filme da franquia, Planeta dos Macacos – A Guerra (War of the Planet of the Apes) estreia em julho de 2017. As filmagens vão até abril do ano que vem. Penso em ir atualizando. Essa edição já conta com informações desse novo filme, e a ideia é a partir de agora a cada novo filme ir lançando nova edição. Se produz muita coisa sobre a série, por exemplo, em janeiro desse ano teve o lançamento do CD duplo com a trilha sonora da serie de TV de 1974. Nos Estados Unidos e na Europa se escreve muito sobre esse universo, tenho tudo que já foi lançado e colaborei com muitos autores, mas o meu livro é o mais completo, pois trata de toda a série, os outros livros normalmente abordam somente um lado desse assunto.

Você possui uma coleção extensa sobre a série…

SA: Sim, tenho mais de 1,8 mil itens. Tenho fragmentos da construção da cidade cinematográfica usada no primeiro e segundo filmes da série e em 14 episódios da serie de TV. Fui em 1999 no terreno onde ela foi construída e encontrei várias pedras, além da prótese de maquiagem também. Tenho autógrafos de cerca de 49 pessoas, entre atores, atrizes e técnicos envolvidos nas produções e cartas do diretor do segundo filme. Me correspondi durante seis anos com a atriz Kim Hunter, intérprete da Dra. Zira, que é uma chimpanzé que é psicóloga e veterinária especializada em humanos. A Kim faleceu em 2002. Conheci pessoalmente e fui até a casa do Booth Colman, que interpretou o Dr. Zaius na serie de TV, tenho autógrafo dele também. Ele faleceu em dezembro do ano passado, com 92 anos.

Como você analisa os filmes da série?

SA: Acredito que o de 2001, dirigido por Tim Burton, se perdeu no roteiro. Conquistou boa bilheteria (custou U$ 100 milhões e faturou U$ 500 milhões), mas decepcionou a crítica. Eu prefiro a franquia antiga, mas gosto muito dessa nova que está sendo produzida. Quem sabe agora, depois de tanto tempo, vamos realmente ver o livro no cinema. O livro é bem diferente de todos os filmes. Tem coisas que se assemelham, como a caçada humana e naves que encontram o planeta. O diferente é que o personagem principal volta para Paris 800 anos depois da partida e encontra a cidade dominada por macacos. Nos filmes ninguém voltou.

Quais foram os momentos mais marcantes nesses 40 anos?

SA: O que mais me marcou foi a solidariedade das pessoas. 453 pessoas colaboraram com o livro, principalmente Natalie Trundy, viúva do produtor da série Arthur P. Jacobs. Ela me levou até uma universidade da Califórnia, onde abriu arquivos da produtora de seu marido: 68 caixas sobre a produção dos filmes, roteiros, fotos, mapas de cenário, lista de contratações e pagamentos. Devo muito a ela. Ela fala seis idiomas, e inclusive foi voluntária de Madre Teresa de Calcutá, onde conheceu o sociólogo brasileiro Betinho (Herbert José de Sousa), que a ensinou a falar português. Conversei com ela em nosso idioma. Foi muito bacana. Quando cheguei na casa dela estava tocando Rita Lee.

SAULO ADAMI

Como foi lançar seu livro depois de tantos anos de pesquisa? 

SA: Esse foi o meu quinto livro sobre Planeta. O primeiro eu lancei em 1996, e nessa época ainda não tinha tanto acesso quanto gostaria. Eu sempre quis lançar um livro mais completo possível, em que eu pudesse colocar as minhas opiniões. Posso dizer que cheguei aonde eu queria. É a realização de um sonho, quero ir reeditando-o por muitos anos. Tem quem diga que vai acabar nesse terceiro filme [Planeta dos Macacos – A Guerra], mas eu já sei que vai existir um quarto. Eu aposto em novo filmes. Ou seja, ainda tem sete para sair. Cada um sai de três em três anos, então estou empregado pelos próximos 21 anos (risos). Até os meus 71 anos acredito que estarei escrevendo sobre Planeta.

E como foi a recepção dos fãs?

SA: Foi muito bacana. Quando lancei o primeiro não tive tanto tempo para ir ao encontro dos fãs, por isso que estou focando em ir lançar o livro em diversas cidades. Além de vender a obra, consigo encontrar com o pessoal. Todos com quem converso estão recebendo o livro com muita alegria e entusiasmo. Já lancei em Brusque, Rio de Janeiro, São Paulo e em Curitiba. Vou para mais algumas cidades nesse ano, como Santos e Guarapuava e novamente ao Rio de Janeiro. Ano que vem quero rodar de oito a dez estados.

Sua produção literária vai muito além de Planeta…

SA: Sim, comecei a escrever  em 1975. Já lancei 78 obras. Meu primeiro livro foi lançado em 1982 – Cicatrizes, poesia, contos e crônicas. Escrevo poesias, contos, crônicas, novelas, romances, biografias que contam histórias de cidades e famílias. Participei do Fotos Antigas de Balneário Camboriú, de Sérgio Ulber. Eu fui o responsável pelos textos que constam nele.

A literatura está sendo cada vez mais difundida, com os livros eletrônicos, por exemplo. O que você acha disso?

SA: Não aderi e nem pretendo, porque não temos segurança virtual. Não tem como garantir que a obra vai ficar segura, uma hora vai acabar vazando. Por exemplo, tem textos que são creditados a determinados autores e não são deles, o pessoal confunde, e eu não quero ter que passar por isso. Eu incentivo a literatura o máximo que consigo: lancei 18 autores e 12 deles estavam em seu primeiro livro.

Você acompanha alguma outra saga, como Harry Potter ou O Senhor dos Anéis?

SA: Não, a única que acompanho é Planeta. É questão de gosto. Já escrevi para muitas revistas sobre cinema, mas é sempre sobre Planeta. O [J.R.R.] Tolkien e a [J.K.] Rowling [autores de O Senhor dos Anéis e Harry Potter, respectivamente] são admiráveis, além também da autora do Frankenstein, Mary Shelley, também como Edgar Rice Burroughs, que escreveu Tarzan. Ele escreveu a história em um papel de embrulho e vendeu para um jornal, lançando-o através de folhetins. É incrível, ele revolucionou a história do cinema, além de que ele não tinha ideia de como era a África e mesmo assim ambientou sua obra lá. Eles criaram coisas do nada, não basta só ter imaginação, você precisa criar algo que ninguém nunca imaginou. Assim como Pierre Boulle, autor do Planeta: ele estava em um zoológico em Paris, viu gorilas na jaula e refletiu como seria se eles dominassem. Talvez muitas pessoas viram e refletiram sobre isso, mas só ele escreveu, é aí que vemos quem tem um dom para criar uma história, personagens e sustentar tudo isso.

Como você avalia essa nova geração de escritores? 

SA: A iniciativa deve vir de cada um, primeiro tem que ter dom. É muito mais fácil escrever em blogs do que escrever um livro. A leitura é essencial, pois inspira. Eu lembro que me esforçava muito para ir até a banca comprar um gibi, e hoje está tudo muito pronto. Antes a imaginação era muito importante, hoje está tudo direto pra consumir. Na minha época só existia cinema, hoje você assiste filme quando quiser. Acredito que está fácil demais, o acesso está muito simplificado. O escritor vive da imaginação, ele precisa dela. Falta se voltar para dentro, sonhar um pouco mais.

Você também foi jornalista. Como era o seu trabalho?

SA: Eu trabalhava em Brusque, datilografava em laudas, mandava para Blumenau num malote que ia chegar no outro dia de manhã. Uma pessoa revisaria, datilografava de novo para aí ir para o jornal. Eu escrevia hoje para sair daqui uns dois dias, e se precisava de fotógrafo demorava ainda mais. Hoje é muito mais fácil, o repórter consegue fazer tudo com o celular, a foto, mandar o texto, tudo mesmo. Antes tínhamos que ficar sentados esperando, hoje acontece muita coisa. O jornalista não pode dizer que não tem assunto, pois tem até demais.

Por Renata Rutes Henning

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