Sense8 – 1ª Temporada | Crítica

Os irmãos Wachowski retomam a boa forma criativa em série que faz mais sentido vista em maratona

Sense8 posterSense8 é o clássico tipo de produção “ame ou odeie”. Dificilmente a opinião de quem assistir ficará no meio termo. O principal motivo é a falta de explicação nos episódios iniciais. Somos jogados no meio da narrativa da série, sem informação alguma, sabendo tanto quanto os oito protagonistas. Mesmo que poucas perguntas tenham sido respondidas, a sensação de estar perdido vai se desfazendo ao longo das 12 partes. Indo contra a maré do gênero de ficção científica, o seriado não fez questão de investir a fundo em sua mitologia no primeiro momento, preferindo desenvolver bem os personagens e preparar o terreno. Engana-se quem pensa que os créditos são todos aos irmãos Andy e Lana Wachowski. J. Michael Straczynski também divide a responsabilidade pela idealização do projeto.

A série é praticamente um filme de 12 horas. Inclusive, o ideal é assistir todos os episódios em um curto espaço de tempo – fazendo a famosa maratona, ou o chamado binge-watching, assim denominado pelos americanos. Desse modo é muito mais fácil compreender a história. Por isso, Sense8 jamais funcionária no sistema comum de televisão. Os telespectadores não iriam obter respostas nas primeiras semanas, o que causaria a queda gradativa da audiência – inclusive se fosse exibida pela HBO ou Showtime. Investe-se na mitologia apenas no final da temporada, de forma breve. Sem o segundo ciclo não é possível tirar conclusões, mas ao que parece, o primeiro ano serviu para estabelecer os personagens e introduzir a narrativa dos sensates. O programa foi feito sob medida para o streaming, talvez sendo a que melhor funciona nesse formato.

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Apesar de não ser cara nos níveis da entediante Marco Polo, o programa tem uma logística de produção bem complicada. As gravações aconteceram em oito cidades diferentes, espalhadas por sete países. O trabalho de direção é extremamente complicado. É difícil saber como funcionou o cronograma das gravações. Apesar das dificuldades, o êxito nos cronogramas e na sala de edição são evidentes na tela. O trabalho dos Wachowski, se não é impecável, chega muito perto, funcionando como uma espécie de redenção para os irmãos. Desde a trilogia Matrix, nenhum projeto deles emplacou, sendo mal avaliados pela crítica e fracassos de bilheteria. Para coordenar um produto desse tipo é necessário muita sensibilidade, além de cuidados redobrados. Porém, Andy e Lana não fizeram isso sozinhos, e ao que tudo indica, a presença de Straczynski na parte criativa deu à dupla o equilíbrio que não encontravam desde o primeiro Matrix. O produtor foi convidado a participar do projeto devido a sua experiência com séries de TV – Straczynski criou e escreveu a maioria dos episódios de Babylon 5.

Nenhum dos oito protagonistas é interpretado por algum ator conhecido. Os nomes mais famosos do elenco são o Naveen Andrews (Jonas Maliki), devido ao seu papel em Lost, e Daryl Hannah (Angelica Turing), a Elle Driver de Kill Bill: Volume 1 e 2. Como já sabemos, rosto conhecido não é sinônimo de boa atuação, e (quase) todos os sensates provam isso. A química construída em cena é muito forte, mesmo que não contracenem juntos com muita frequência. Isoladamente, uns são mais interessantes que os outros, culpa do roteiro e não das representações. Através da excelente construção dos personagens, a série se sustentou em boa parte, apenas com as histórias individuais, intercaladas com as diversas interferências.

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Sense8 é mestre em momentos catárticos. Entre eles, estão a bem coreografada orgia envolvendo Nomi (Jamie Clayton), Will (Brian J. Smith), Lito (Miguel Ángel Silvestre) e o Wolfgang (Max Riemelt); os partos sob a perspectiva de Riley (Tuppence Middleton); a luta de Capheus (Alm Ameen) para recuperar os remédios de sua mãe, com a ajuda da “possessão” de Sun (Doona Bae); além, é claro, da belíssima cena em que todos cantam “What’s Up”, da banda 4 Non Blondes.

A repercussão foi gigantesca na internet, chegando perto da movimentação para a terceira temporada de Orange is the New Black. Só não houve uma rápida renovação porque o programa lida com diversos contratos com produtoras, já que é gravada em diversos países. Apesar do medo, Sense8 está renovada para um segundo ano. O que nos resta é esperar por 2016, acreditando que a qualidade será mantida.

Imagens: Netflix
Imagens: Netflix

Sense8: Season One
EUA, 2015 – 12 episódios
Drama/Ficção Científica

Criado por:
The Wachowski, J. Michael Straczynski
Elenco:
Alm Ameen, Doona Bae, Jamie Clayton, Tina Desai, Tuppence Middleton, Max Riemelt, Miguel Ángel Silvestre, Brian J. Smith, Naveen Andrews, Daryl Hannah

4 STARS

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Por Mikael Melo

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