Halt and Catch Fire – 2ª temporada | Crítica

A evolução da internet sob a perspectiva feminina

Halt and Catch Fire season 2 posterExiste um triste mundo, habitado por séries aclamadas pela crítica e com audiência extremamente baixa. Infelizmente, Halt and Catch Fire é residente desse lugar, fazendo companhia a Hannibal, The Americans, Rectify e Masters of Sex. Além de ser ignorada pelo público, HACF é esquecida pelas principais premiações da área – alô alô Emmy e Globo de Ouro. A primeira temporada apresentou alta qualidade, mas demorou um pouco para pegar ritmo. Já neste ano, os objetivos foram logo declarados. Engrossou-se o teor de drama através de tensões constantes. O maior acerto foi focar na vida problemática dos protagonistas, sem deixar a computação de lado, enquanto o tema central se tornou ainda mais interessante.

Desde o piloto, o show nunca fez questão de explicar os termos de programação. Passando as informações sem mastigar. Quem é leigo no assunto pode ficar perdido, mas dificilmente não compreenderá os rumos da trama. Um dos méritos está aí.  A história agrada tanto as pessoas apaixonadas por computação, quanto aqueles que procuram bons roteiros e atuações convincentes. O maior trunfo da série é possui quatro fortes protagonistas. Todos são trabalhados de forma equilibrada, proporcionando espaço para cada um brilhar. Suas personalidades são escancaradas no segundo ciclo. Fazendo o público conhecer de perto, os fantasmas e medos, sempre de forma sútil. Engana-se quem pensa que eles são sobras do que foram Don Draper (Mad Men) e Walter White (Breaking Bad).

O salto temporal entre as temporadas demonstra como são rápidas as mudanças nesse meio – Cardiff Eletric é vendida e a Mutiny constrói uma clientela cativa. No ano passado, o foco foi dado à criação do computador portátil, enquanto neste, o holofote mira a utilização da internet, ainda buscando seu espaço na década de 80. Foi na Mutiny que a maioria dos plot twists aconteceram. Donna (Kerry Bishé) e Cameron (Mackenzie Davis) formam uma das melhores duplas da TV estadunidense – dois monstros na atuação. Ao longo da temporada, elas vão se conhecendo melhor e criando uma bela cumplicidade. Mesmo tendo personalidades totalmente opostas, as chefes da empresa aprendem a se respeitar. Cameron é extremamente impulsiva e teimosa, enquanto Donna é conciliadora e pé no chão. A ruiva teve um crescimento gigantesco e sua importância é facilmente notada. O poder da mulher em si esteve fortemente presente ao longo dos dez episódios. Assistimos a evolução da internet através da perspectiva feminina. Foi genial trabalharem com a ideia de chats e fóruns, as ferramentas que mais se aproximavam de uma rede social. Apesar de Cameron demorar a aceitar, estava nítido que elas focariam nessa área em específico. Os jogos podiam ser rentáveis, mas a ‘rede’ é a melhor chance de sucesso para a empresa. Halt and Catch Fire tem potencial para chegar aos dias atuais. Mas se nem a próxima temporada está garantida, imagina até a sexta ou sétima. A mudança para a Califórnia exige uma renovação, e as possibilidades para a história são infinitas. Nem se compara com o Texas na questão de oportunidades e infraestrutura. Afinal, estamos falando do estado onde se encontra o Vale do Silício.

Gordon (Scoot McNairy) foi o personagem mais inconstante. No bom sentido, eu diria. Ele passou por diversas situações inéditas. Todo o desenrolar de seu diagnóstico trouxe profundidade e expandiu o drama – Scoot entregou uma atuação muito bem trabalhada. A doença é degenerativa e pronto. Seu estado de saúde pode render futuramente, isso se houver uma renovação. A parte de ficar em casa enquanto a mulher trabalhava, não foi tratada como um problema do casal. Mesmo a série se passando em 1985, não mexeram com a situação do machismo. Mais um ponto para a série. As mulheres de HACF são totalmente estabelecidas e dificilmente têm suas posições questionadas. O elo fraco da força feminista é Sara Wheeler (Aleksa Palladino).

Wheeler é a personagem mais fraca de todo o seriado e sua postura de sonsa não ajuda em nada. Sua função foi a de coadjuvante de luxo, estando no elenco regular, mas não exerce importância. Serve como mais um relacionamento mal sucedido de Joe MacMillan (Lee Pace). Seu lado negro é tão poderoso que não conseguiu hibernar o ano inteiro. Por mais que Joe tente fazer o certo, ele é incapaz de manter isso por muito tempo. Sempre quando se envolve com finanças, sua ambição dobra de tamanho. Sua ida para a Califórnia promete criar mais tensões – sem falar no roubo do projeto do antivírus. A atuação magnifica de Pace é indispensável ao personagem, que não seria o mesmo sem ele.

Halt and Catch Fire tem potencial pra mais uma temporada? Não há dúvidas. Vai conseguir a renovação? Dificilmente. A série é um dos melhores dramas em exibição, mas o público não comprou a ideia – a vida tem dessas. Diferentemente de outras obras da AMC – lê-se Turn e Hell on WheelsHACF consegue se destacar e vai deixar um legado. Apesar do clima de despedida, a esperança é a última que morre. Netflix e Amazon estão aí para nos ajudar – que comecem as campanhas.

Imagens: AMC

Halt and Catch Fire – Season Two
EUA, 2015 – 10 episódios
Drama

Criado por:
Christopher Cantwell, Christopher C. Rogers
Elenco:
Lee Pace, Mackenzie Davis, Kerry Bishé, Scoot McNairy, Toby Huss, Aleksa Palladino, Mark O’Brian, James Cromwell

4.5 STARS

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=aBF38GXVzH4]

Por Mikael Melo

One thought on “Halt and Catch Fire – 2ª temporada | Crítica

  1. Halt And Catch Fire é magnifica a 3ª temporada ja esta confirmada e batendo à porta, mas ate agora ainda nao divulgaram uma data para este retorno tao aguardado por mim, posso dizer com certeza que é o 2º retorno mais aguardado por mim nessa Summer, atras apenas de Mr Robot.

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