Previamente Entrevista | Sergio Lamarca

Cantor fala sobre novo EP, os desafios de se fazer cultura em SC e como seus pais e a Europa influenciaram sua música

Nascido no Rio de Janeiro, em 1985, Sergio Lamarca se mudou pra Itajaí aos cinco anos de idade. Erradicado catarinense, o cantor aprendeu a amar a música por conta dos pais, que tiveram grande influência em seus gostos e no caminho que ele escolheu trilhar, particularmente árduo por aqui. Ainda assim, o compositor não deixou se abater e sequer cogitou em deixar de seguir sua fome por novas composições e fazer aquilo que ama. Pode soar clichê, mas no meio da enxurrada de enlatados musicais, quem foge dessa onda precisa acreditar muito em si e Lamarca certamente crê que sua música pode ir muito longe.

Com seu segundo trabalho de estúdio recém-lançado, o EP flor&ser, o compositor tem divulgado o novo material em shows por Santa Catarina. Em julho, ele se apresentou no Teatro Municipal Bruno Nitz, em Balneário Camboriú, e no dia 9 de agosto, Sergio mostra suas composições na Associação da Haco, em Blumenau. Aproveitando esse momento importante para o músico, batemos um papo e descobrimos um pouco mais sobre ele.

Influência dos pais

Sergio Lamarca: Meus pais me influenciaram muito musicalmente e incentivaram desde novo. Lembro-me do meu primeiro pianinho e guitarra. Aos 8 anos ganhei um violão contra minha vontade. Meu pai escutava muito samba por ter nascido no Estácio, berço do samba e também clássicos do soul e black music. Minha mãe tinha coletâneas completas dos compositores da musica popular brasileira, que costumava ouvir desde que nasci. [Minha] mãe é dona de casa e [meu] pai engenheiro mecânico. Lembro ainda de músicas que só conheço porque minha mãe cantava enquanto cuidava da casa, muito bem por sinal. Escutava muitos discos diariamente. Meu pai costumava colocar música nos finais de semana. Isso foi minha base musical.

 

Os desafios de fazer música em Santa Catarina e a cultura no estado

SL: Quanto a cultura em Santa Catarina, vejo um amplo campo a se explorar. Quando percebi que a música que eu fazia não estava no foco do mercado atual e quando vi que os “nichos” que se interessariam por ela estavam espalhados em pequenos grupos, visualizei que aqui em Santa Catarina o estágio atual é de formação de público. Até mesmo tratando-se de outros meios em que a arte permeia, cinema, fotografia, ilustração, moda etc.

Ao me deparar com um cenário repleto e grandes artistas das mais diversas áreas, surgindo naturalmente, decidi realizar eventos que fizessem circular e mostrar uma nova maneira de encarar a arte. A flor&cidade surgiu como um movimento artístico onde o intuito é o dialogo entre diferentes plataformas/meios que a arte se emprega. Em 2013, realizamos 14 eventos oficias, uma feira estadual, três cursos de fotografia, um curso de grafite e arte urbana, um curso de stencil e introdução à arte urbana, uma aula epistemologia do curso de mestrado em educação da Univali [Universidade do Vale do Itajaí], diversas mostras de filmes de cunho educacionais em parceria com o projeto do Governos Federal Circuito Tela Verde/Sala Verde, entre outras ações.

Em 2014, foi iniciado o registro audiovisual de novos artistas do estado e foram realizados seis eventos oficiais, três festivais culturais de economia solidária e apoio a outros eventos ligados a arte. Com isso, vemos crescer o número de eventos culturais e novos artistas. Vejo que esse movimento artístico que está acontecendo no estado deve repercutir em âmbito nacional, como foi o clube da esquina na década de 60 em Minas Gerais ou a Tropicália.

Impacto que a viagem à Europa causou em sua musicalidade

SL: A Europa foi onde consegui me visualizar, aceitar a minha obra e a partir disso começar a registra-la e posteriormente a expor. Entendi que minhas limitações era o que definia a identidade da minha obra, seja ela em textos, música, poemas, etc. A bagagem cultural pesou muito. Tive a satisfação de imergir na música do Cabo Verde, com o grupo Mikubo, na cidade de Porto, em Portugal; conhecer a musica popular portuguesa e o Fado. Em Paris, o jazz da rua “Des Lombards”, onde tive a sorte enorme de conhecer e tocar com grandes revelações do jazz contemporâneo como: Cyrille Aimée, Tiss Rodrigues, Lou Tavano, Alexey Asantcheeff, China Moses, Tigran Hamasyan entre outros. Em Montreux, na Suíça, realizei o sonho de conhecer muitas lendas vivas do jazz, fiz workshop com Marcus Muller (contra-baixista). Na Itália, também tive grande experiência com a música em Perúgia, onde participei do Umbria Jazz Festival. Além de toda carga musical, a arte de todas as formas possíveis foi explorada. Busquei absorver em cada festival e cidade que passava a arquitetura, tipologia, design, moda, gastronomia e a cultura local. Conheci e convivi com grandes artistas das mais diversas áreas.

Produção do novo trabalho e como este se difere do seu antecessor

SL:flor&ser é o segundo trabalho que registro. Em 2012, havia produzido um disco instrumental chamado INTUIR, no qual grandes músicos do país participaram. Ele foi todo planejado e pré-produzido, trouxe uma ideia diferente de música instrumental. Já no disco flor&ser, eu exponho minhas canções da maneira mais pura, cantando e tocando ao vivo. Foi gravado e mixado sem edições pelo grande musico multi-instrumentista, ganhador do Grammy Europeu de 2008, Alegre Corrêa, em seu estúdio Clube55, em Florianópolis.

 

Como descreve sua própria música

SL: Hoje em dia até consigo falar sobre minha própria música. Vendo na raiz, ela é música popular, com letra muito delgada, cheia de duplos sentidos ou até mesmo triplos, geralmente sem refrão, como um texto. A letra se torna difícil de compreender de primeira, e isso faz com que ela se torne algo a se decifrar. Diria que é um pouco denso, mas tem funcionado em doses homeopáticas (risos). Não sigo formatos ou padrões quanto a composição da harmonia. Muitas vezes não sei os nomes dos acordes que faço, vou mais pelo lado da música descritiva, busco uma paisagem sonora. Minha melodia eu não gosto tanto quanto a de outros músicos que escuto, mas é o que sai naturalmente, meio que intuitivo e é o que busco reproduzir depois, exatamente o que recebo no momento que estou criando.

Por Rodrigo Ramos

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *