Cantor boêmio retorna após cinco anos sem lançar um álbum inédito
Meu carinho pelo samba se definhava a cada vez que eu ouvia os novos sambistas que, com suas falsas poses de malandros, matavam os clássicos de antigamente como Dicró, Martinho da Vila, Jorge Aragão, Dudu Nobre, Almir Guineto, o meu preferido Bezerra da Silva e o citado no título deste texto, Zeca Pagodinho. Minha esperança e minha paixão por esse típico estilo tupiniquim voltou quando na semana passada me deparei com o tocante disco Ser Humano, o mais recente trabalho de Zeca.
Após cinco anos sem lançar um álbum de inéditas, o sambista mais popular do Brasil voltou ao estúdio depois das tristes perdas do filho e do pai, em março e janeiro deste ano, respectivamente. De acordo com o jornal Folha de São Paulo, Zeca voltou aos trabalhos para não entrar em depressão e em luto fez um CD com músicas tocantes e com o peito cheio de amor em sambas que usam a identificação com quem já amou qualquer tipo de ser humano em qualquer tipo de humor.
A faixa de abertura do CD, “Metade do Seu Amor”, é uma boa porta de entrada para o que virá nos outros 48 minutos deste trabalho. Zeca seria um inimigo dos que prezam pela afinação impecável, mas seria o melhor amigo dos fãs de emoção, em músicas que não importa a velocidade e o compasso delas. Com uma introdução que lembra algo clássico, após alguns segundos de música o copo de cerveja já se encontra na mão, a roda de samba se abre e a diversão está garantida.
A religião e a fé nos bons humanos se encontram na faixa título do CD. “Ser Humano” mostra que, em meio a tantas falcatruas e falsidades, o Ser não pode ser desconsiderado e não podemos descartar os bons que vivem, sorriem e lutam por um mundo melhor para todos e não só para eles mesmos.
Faixa número quatro, a melhor do disco, intitulada “A Monalisa”, conta com a participação no mínimo inusitada do guitarrista Pepeu Gomes. A música composta pelos tradicionais compositores Adilson Bispo e Zé Roberto, faz Zeca se declarar para a mulher mais bela que se pode ter conhecimento, enquanto os riffs leves de Pepeu soam pela música contrastando aos cavacos e pandeiros da canção.
Com instrumentos tocados pelos grandes do grupo Fundo de Quintal, “Perdão, Palavra Bendita” realça ainda mais a entrega de Zeca Pagodinho à religião, nos ensinando a importância de perdoar e que perdão tem seis letras, para os que têm dúvida na língua portuguesa.
Outra participação interessante é a do comediante Nerso da Capitinga na faixa “Mané, Rala Peito”, que traz toda a malandragem dos altos dos morros cariocas com todo o linguajar brincalhão e cervejeiro típico do Zeca.
Entre fé, crenças, amores e malandragens, Zeca volta com inéditas sem dever nada a ninguém. Não ganha nenhum destes prêmios bobos da internet, pois o sambista não atrai o olhar dos novinhos clicadores de prêmios sem sentido algum. Por fim, deixo um último pedido ao querido mestre vivo do samba: não fique mais tanto tempo sem suas interpretações inéditas e cativantes.