Sequência finaliza a Fase 2 da Marvel nos cinemas com muita ação e bom humor
Quando Vingadores: Era de Ultron começa, dá até para ficar desnorteado com tanta informação em tela. É uma incrível sequência de cenas de ação, que parece mesmo ter sido retirada direto das páginas das HQs. Os primeiros minutos do longa-metragem são alucinantes e, mesmo em meio de muita pancadaria e efeitos especiais, o humor do filme anterior permanece intacto. Soturno? Pode até ser um pouco, mas a nova reunião dos super-heróis da Marvel continua sendo pura diversão, do jeito que já se antecipava.
A estrutura deste é semelhante ao anterior. Eles se unem para uma missão inicial, então algo acontece na trama para abalar a relação entre os Vingadores. Depois de um tempo, um acontecimento acaba unindo-os novamente para, então, derrotar a grande ameaça que promete destruir o planeta. É assim e vai ser sempre assim. Quem esperar algo diferente dos filmes da super-equipe da Marvel está se enganando. Não dá para esperar uma grande narrativa, cheia de nuances e com grande desenvolvimento de personagens. Esse tipo de demanda é destinada aos filmes solos, como acontece em Capitão América: O Soldado Invernal, e deve acontecer também em Capitão América: Guerra Civil, em 2016.
Apesar de não ter compromissos com uma grande narrativa, Vingadores: Era de Ultron ainda assim consegue desenvolver bem alguns personagens dentro do possível. Se Tony Stark/Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e Steve Rogers/Capitão América (Chris Evans) deveriam, em tese, ser os protagonistas, são outros que ganham mais espaço. Joss Whedon já havia provado que escolheu o melhor ator possível para interpretar Bruce Banner/Hulk (Mark Ruffalo) e esse fato se reitera. Dr. Banner tem uma boa participação e, ao lado de Natasha Romanoff/Viúva Negra (Scarlett Johansson), se tornam um dos destaques das tramas paralelas em relação ao grande tema do longa. É inédito ver a verdadeira fragilidade de Romanoff, e por isso mesmo é que Banner demora para crer na sinceridade dela. Os dois provam-se “monstros” diante de suas próprias óticas, e é nesse ponto que se identificam e se aproximam ainda mais.
Um personagem que parece inútil é Clint Barton/Gavião Arqueiro (Jeremy Reener). Afinal, ele é apenas um homem com arco e flecha diante de super-soldados e deuses. Whedon capta a ironia nisso e consegue ir mais longe com o personagem, tornando-o o principal destaque diante dos outros Vingadores. Perante super-heróis poderosos, Barton é o que ajuda a transformar tanto a equipe quanto a trama mais humana. Falando em humanidade, os gêmeos Pietro e Wanda Maximoff, o Mercúrio (Aaron Taylor-Johnson) e a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), tornam a película ainda mais interessante, justificando suas atitudes através do sofrimento que eles e seus pais passaram. Se Taylor-Johnson não é um Mercúrio tão bom quanto o de X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, Olsen consegue fazer muito com pouco, tendo uma interpretação marcante e que ajuda a ditar o clima da narrativa.
Como é de praxe em sequências, é normal que se espere um filme maior do que seu antecessor. Vingadores: Era de Ultron não decepciona nesse quesito. São tantas cenas de ação que é difícil dizer qual delas é a melhor. Não fiz as contas, mas acho que uns 70% de todo o longa-metragem consiste em pancadaria. Isso faz com que haja a impressão de que existe apenas uma história para justificar tantas cenas eletrizantes. Não acredito, porém, que seja o caso. Vamos relembrar aqui que a ideia da reunião dos Vingadores é de divertir o espectador de forma despretensiosa. Não é pretensão de Whedon fazer uma obra soturna. Vingadores: Era de Ultron, na verdade, respeita o espírito de aventura das HQs, transpondo com fidelidade esse conceito das páginas, tanto em termos de conteúdo quanto em identidade visual. A trama é bem esquematizada, com um plot consistente, diversas tramas paralelas, muita informação, ação desenfreada e, por um milagre, consegue ser coeso.
O longa-metragem, vale lembrar, gira em torno da apreensão de Tony Stark em proteger a Terra e seus colegas de super-grupo. Por conta disso é que ele, ao lado de Bruce Banner, tentam criar uma inteligência artificial capaz de proteger o planeta. No entanto, o tiro sai pela culatra e a joia do infinito dentro do cetro de Loki cria Ultron (James Spader). Diferente do que pretendido por Stark, o ser artificial nasce odiando-o e tudo o que ele representa, almejando assim que os Vingadores sejam extinguidos. Dá para entender o lado de Ultron, afinal ele tem razão de certa forma. Spader dá personalidade à criação, mas não chega a surpreender – diverte, no entanto, certa inocência por parte do personagem, que ainda está aprendendo sobre nós, e também como ele busca por humanidade e companhia. Talvez o ódio de Ultron seja, em parte, inveja dos seres humanos. Visão (Paul Bettany) consegue enxergar com clareza, tanto os pontos positivos quanto negativos das pessoas desse planeta e sabe que há beleza por trás de tudo, apesar dos apesares.
Vingadores: Era de Ultron consegue, por fim, ser aquilo que pretende ser: um filme fiel ao espírito das histórias em quadrinhos, assim como o seu antecessor, mas com muito mais de tudo o que há na fórmula. Funciona perfeitamente, divertindo do início ao fim (piadas não faltam, garanto). Além disso, consegue nortear bem a Fase 3 da Marvel nos cinemas, que deve iniciar com temática mais séria, a partir de Capitão América: Guerra Civil, no ano que vem. Mas não espere que o estúdio vá daqui pra frente apostar num tom mais sombrio em todos os seus filmes. Não vai acontecer. De um jeito ou de outro, a Marvel vai continuar se respeitando. Ela pode até criar entretenimento com seriedade, mas jamais perderá o tom de divertimento.
Avengers: Age of Ultron
EUA, 2015 – 141 min
Ação
Direção:
Joss Whedon
Roteiro:
Joss Whedon
Elenco:
Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Chris Evans, Scarlett Johansson, Jeremy Reener, Don Cheadle, Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Paul Bettany, Cobie Smulders, Anthony Mackie, Hayley Atwell, Idris Elba, Stellan Skarsgård, James Spader, Samuel L. Jackson, Linda Cardellini, Claudia Kim, Thomas Kretschmann, Andy Serkis, Julie Delpy