Cantora fala sobre rock brasileiro e os direitos das mulheres
Uma das personalidades mais fortes do Brasil e a principal figura do rock nacional nos últimos 10 anos pelo menos, Pitty emplaca hit atrás de hit, mesmo que suas letras sejam mais pensantes e sua sonoridade menos pegajosas do que a maioria dos singles das rádios. Desde as belíssimas “Equalize”e “Só Agora” até as mais pesadas como “Memórias” e “Anacrônico”, a baiana permanece relevante, como prova o ótimo SETEVIDAS, último álbum da cantora, lançado em 2014.
Para promover o disco, a cantora passou com sua turnê rapidamente por Santa Catarina na semana passada, quase três anos desde sua última vinda pra cá (em 2012, ela se apresentou em Joinville, com seu projeto paralelo Agridoce). Ela desembarcou em Brusque, na Fire Up, e, mesmo que rapidamente, trocou uma ideia com o Previamente sobre a atual situação do rock brasileiro e também sobre os direitos das mulheres. Confira a entrevista escrita na íntegra e também no vídeo.
Das 100 músicas mais tocadas nas rádios brasileiras em 2014, 76 eram nacionais e 59 eram sertanejas, sendo apenas duas de rock nacional, isso se a gente considerar que Jota Quest era rock mesmo, e você era a outra. Como você enxerga essa tomada maciça da música sertaneja e como você relaciona isso com o declínio pela preferência do rock nacional?
Pitty: Eu não vejo dessa forma não. Quantas vezes a gente não viu isso acontecer? Desde que, sabe, sei lá, quando você considera que o rock bombou no Brasil? Há muito tempo tinha Raul Seixas, Camisa de Vênus, desde os anos 80 que era uma coisa grande, que o rock tava na mídia grande. De lá pra cá, quantas vezes a gente viu isso acontecer? Acho que é parte. Tem outros ritmos que são muito mais populares. O rock tem uma coisa mais segmentada. Às vezes ele vira modinha, vem uma galera nada a ver que começa a curtir, e de repente descobre que não é, porque é mais do que música, é um estilo de vida. É outra coisa. Então eu entendo que seja dessa forma. O que eu acho é que quem faz rock e quem gosta de rock, continua gostando. Independente de estar na moda, na mídia. Foda-se, sabe. É bom que esteja, porque a gente consegue divulgar e gravar mais música, e fazer mais coisa.
As mulheres, mesmo estando aqui em 2015, ainda batalham bastante para conseguir os mesmos direitos que os homens, principalmente em questão de trabalho, que é comprovado que as mulheres em geral recebem menos do que os homens. Queria saber de ti, se você, como mulher, tendo o sucesso que tem, ainda hoje sofre algum tipo de preconceito?
P: Enfrentei e enfrento. Acabei de escrever um lance sobre isso, porque por mais que eu tenha consciência que eu tô mais protegida do que muitas mulheres, mas eu ainda sou mulher, então eu ainda passo. O que eu passo de coisas, eu penso naquelas que são menos privilegiadas, passeando na rua, tendo que sair pra trabalhar fora, tendo que enfrentar um monte de coisa que eu já passei. E continuo passando de outra forma. Eu me solidarizo e acho simpatia por aí, não é só pensar com o que acontece com você. Nessa questão das mulheres, eu consigo me colocar no lugar de várias outras diferentes de mim. A sororidade tá aí, em conseguir entender quem vive num contexto completamente diferente do meu. Eu posso apoiar uma mulher mesmo que ela faça coisas completamente diferentes de mim, que faça escolhas diferentes, [use] roupa diferente, ou cante uma música diferente. O apoio é maior do que isso, sabe, isso é muito pequeno diante do que significa você dar uma liberdade, tolerar a outra.
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