Cópia Fiel | Review Retrô

O que é cópia e o que é original?

Cópia FielItália. Toscana. Um belo país, uma bela cidade. Uma coletiva com um escritor inglês. Ele está ali para divulgar seu mais novo livro e comenta sobre a tradução do seu livro. Isso casa com o próprio conceito do seu trabalho, inclusive. Nele, ele discute sobre onde vive a cópia original. Em que ponto algo se torna uma cópia? Será que o original realmente existe? Enquanto ele fala sobre o livro, uma francesa está sentada, assistindo o que o senhor fala. Ela parece interessada, no entanto o seu pequeno filho lhe impede de prestar inteiramente atenção. O garotinho está inquieto. A mãe, então, resolve sair dali antes do final.

A mulher francesa, algumas horas depois, recebe a visita do escritor em sua casa. Ele tem algumas horas na cidade e ela resolve levá-lo para um tour no vilarejo de Lucignano. Eles começam o passeio de carro e vão conversando sobre diversas coisas. Lá dentro, há vários livros dele e ele fica impressionado com a quantidade. Vários assuntos vêm à tona, em especial, a discussão sobre a autenticidade, do que é original e o que é cópia.  Em alguns momentos, a mulher se irrita e discorda de muitos pontos das fundamentações dele em sua obra.

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Eles partem para um café. Conversam, conversam. Tudo soa extremamente natural. Alguns diálogos, porém, deixam um ponto de inquietação para o espectador, que não sabe exatamente o que está acontecendo em determinado momento. A película começa a ficar mais intrigantes quando a senhora dona do café tira conclusões precipitadas sobre a francesa e o inglês. Os diálogos ficam ainda mais inspirados a partir deste momento. Há fervorosidade e sutileza na forma em que a direção conduz essa segunda metade, num verdadeiro jogo de reflexos e tapas na cara, no sentido figurado.

A química entre Juliette Binoche e William Shimell é incrível. A relação entre os dois em cena é extremamente crível. As nuances de comportamento e sentimento de ambos são perfeitamente executadas. Se Shimell se sai bem, Binoche então é um deleite. Este, talvez, seja o melhor papel da carreira da atriz. Sem exagero. Ela consegue transpor em seu rosto tudo o que sua personagem está sentido. Sendo a alegria temporária, a irritação, o olhar apaixonado não correspondido, o cansaço da rotina doméstica, o fascínio, a inquietação, o desânimo. Os traços do rosto típico francês da atriz dão um ar original ao longa. Na sua segunda parte, a câmera foca, sem aviso prévio, o rosto de Binoche e fica apenas nesse close, observando-a. São nestes momentos que vemos o talento da atriz e o espectador percebe a veracidade das emoções. É um verdadeiro jogo delas.

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O longa-metragem trabalha com emoções e diálogos inspirados, com um cenário belíssimo de fundo. Tudo faz com que esta obra se torne original, no meio de tantas cópias genéricas que temos por aí. Certamente não há nada parecido no mercado da forma com que foi realizado. Lembra um pouco, inevitavelmente, a trilogia do Antes (do Amanhecer, do Pôr do Sol e da Meia Noite)por ser um romance adulto e com tempo contado, mas é bem diferente dos filmes de Richard Linklater.

Cópia Fiel é um filme para adultos. Não espere obviedade aqui. Com muita sabedoria, o diretor iraniano Abbas Kiarostami faz deste trabalho uma obra inteligente, rara, que discute tanto a arte como o amor, entre outros assuntos, tudo de forma madura e criativa. A beleza de sua obra fica além do que as palavras podem descrever aqui e isso é o que chamamos de originalidade.

Fotos: Imovision
Fotos: Imovision

Copie Conforme
França / Itália / Bélgica, 2010 – 106 min
Drama

Direção:
Abbas Kiarostami
Roteiro:
Abbas Kiarostami
Elenco:
Juliette Binoche, William Shimell

4.5 STARS

http://www.youtube.com/watch?v=nM_8TPLMCOU

Por Rodrigo Ramos

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