Sitcom termina engraçada, tocante e com dignidade, diferente da maioria das séries do gênero
A primeira temporada de Parks and Recreation passou longe de fazer o espectador se apaixonar pela série. Havia muitos problemas ali. A paixonite de Leslie Knope (Amy Poehler) por Mark Brendanawicz (Paul Schneider) não convencia, os coadjuvantes que hoje são tão importantes quanto a protagonista não tinham o mesmo carisma e relevância, enquanto a narrativa preocupava-se exclusivamente em conseguir criar um parque onde havia um buraco. Felizmente, logo na segunda temporada os criadores Greg Daniels e Michael Schur perceberam que tinham que expandir a ideia inicial e então Parks and Rec se tornou um seriado simpático, otimista e com personagens que adoramos.
Ao longo dos anos, a série se deparou com contratempos. Devido à audiência, nem sempre atraente para a NBC, ela correu o risco de ser cancelada diversas vezes. Isso fez com que Parks and Rec sempre conseguisse fechar o arco daquele ano de forma satisfatória.
Pawnee sempre fora o cenário e os personagens dificilmente saíam de lá. Tudo bem, afinal toda sitcom precisa ter um local reconhecível para os espectadores. Apesar disso, nas vezes em que saiu do lugar comum, ela se deu bem. Os personagens evoluíram, mas ficaram ali em Pawnee. Agora, com a última temporada definida, a série pode arriscar mais do que nunca e se livrar das amarras da cidade. É a hora de dizer adeus.
O final da temporada passada mostrava um salto temporal e agora estamos localizados em 2017. Foi a forma perfeita de a série fazer para deixar tudo pronto no gatilho para dar os desfechos que seus personagens merecem. Andy (Chris Pratt) agora apresenta um programa infantil; as carreiras políticas de Leslie e Ben (Adam Scott) vão muito bem enquanto a vida pessoal é bem agitada com os trigêmeos crescendo; April (Aubrey Plaza) finalmente está tomando a decisão de deixar o governo; Ron Swanson (Nick Offerman) largou o governo para abrir seu próprio negócio de construção; e Tom (Aziz Ansari) abriu seu próprio restaurante. Não há explicações sobre o que aconteceu neste meio tempo, está tudo ali daquele jeito e isso é um grande acerto da temporada – nada mastigadinho para o público.
Apesar de o último ano da série começar um pouco fora de ritmo, logo no terceiro episódio já se acerta o tom. Mesmo com cada personagem seguindo seu próprio caminho, Parks and Rec dá um jeito de juntá-los. O primeiro arco principal é a briga instaurada entre Ron e Leslie, o que desencadeia uma discussão entre os dois num dos melhores (ou seria o melhor?) episódios da série, intitulado “Ron and Leslie”. Ver os dois personagens discutindo a relação, relembrando o passado e provando um ao outro que aquela amizade é verdadeira. Neste episódio em questão, há momentos hilários (Leslie irritando Ron, obrigando-o a falar com ela, é de cair da cadeira de tanto rir) e outros mais afetuosos. Esse é o elemento chave da série. Além do otimismo, o que nos fascina em Parks and Rec é como ela consegue condensar momentos que beiram a vergonha alheia e ao absurdo juntamente com situações adoráveis, que transbordam afetuosidade. Ao longo das sete temporadas, foi se criando um elo entre os espectadores e os personagens. Estes, passo a passo, foram se tornando adorados pelo público não somente por serem engraçados, mas por demonstrarem que a amizade é um sentimento que deve ser valorizado. Ao final da temporada é isso que fica em evidência.
Em termos de roteiro, é claro, há muitos acertos. A temporada conseguiu alinhar bem as situações, desde o casamento de Donna (Retta), a busca do amor de Tom, a necessidade de April de decidir o que quer fazer da sua vida, as decisões de carreira política de Ben e Leslie, a própria briga e as pazes entre Ron e Leslie. As piadas estão afiadas, inclusive as que são feitas em relação ao ano em que estão – Game of Thrones, por exemplo, acabou se perdendo, contando com um crossover com Piratas do Caribe, em que Jack Sparrow casa com Daenerys. O sétimo ano retrata a maturidade dos personagens (ainda que continuem cometendo as mesmas gafes) e a série consegue perfeitamente dar o fim que cada um merece. Por mais que o tempo passe, no entanto, em sua essência, eles continuam os mesmos e o carinho que possuem um pelo outro permanece intacto.
O final da série, apesar de ser triste em sua despedida, é cheio de otimismo, sentimento que permeia toda a série, desde o início – alguém lembra de quando Leslie, lá na primeira temporada, se sentiu ultra orgulhosa de si mesma quando conseguiu ter seu próprio subcomitê dentro da secretaria de parques e recreação? O desfecho é feliz para todos, é claro, mas de uma forma nada convencional. No series finale, eles se encontram para mais uma ajudinha na secretaria onde trabalharam juntos. Enquanto o fazem, há flashforwards sobre como foi a vida deles no futuro, fazendo jus a personagens injustiçados, como é o caso de Jerry (Jim O’Heir) – ainda assim, seu futuro é engraçadíssimo. Os saltos temporais no último episódio de Parks and Rec funcionam muito melhor do que em How I Met Your Mother, até porque nunca fora intenção da série enganaram o público e entregar uma guinada duvidosa nos últimos minutos do programa. Parks and Rec se manteve verdadeiro consigo mesmo até o fim, terminando sua jornada com a moral lá no alto, já que o seriado não apresentava uma sequência de episódios tão marcantes desde a terceira temporada.
Parks and Rec termina com aquela sensação de dever cumprido, cheio de momentos engraçados, afetuosidade e otimismo. Vai fazer falta, mas se despede com dignidade e originalidade, proeza que poucas sitcoms conseguem.
Parks and Recreation: Season Seven
EUA, 2015 – 13 episódios
Comédia
Criado por:
Greg Daniels, Michael Schur
Elenco:
Amy Poehler, Nick Offerman, Aubrey Plaza, Chris Pratt, Aziz Ansari, Jim O’Heir, Retta
https://www.youtube.com/watch?v=_mNkmJElYZA